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terça-feira, 11 de março de 2014

Mais atenção com o cérebro feminino

Cilene Pereira 
edição:  2308 - 14.Fev.14

A Associação Americana para Acidente Vascular Cerebral (AVC) deu um passo histórico na última semana. Pela primeira vez, a entidade veio a público para divulgar regras de prevenção à enfermidade destinadas às mulheres. A iniciativa foi adotada para alertar médicos e a sociedade sobre a necessidade de se dispensar mais atenção ao problema entre a população feminina. A percepção é a de que, à semelhança do que ocorre com as doenças cardíacas, há entre as pessoas – especialistas ou não – o senso equivocado de que mulheres têm menos AVC do que homens. “Porém, há uma diferença de cerca de 55 mil mulheres a mais do que o total de homens atingidos a cada ano”, disse à ISTOÉ a médica Louise McCullough, da Universidade de Connecticut (EUA), e uma das responsáveis pelas recomendações.

Entre as orientações está a de considerar indivíduos de risco mulheres que tiveram pré-eclampsia (hipertensão na gravidez) e as submetidas a estresse intenso (leia mais no quadro). Boa parte dos riscos específicos femininos advém de oscilações hormonais ou de doenças mais incidentes entre elas. “A depressão, por exemplo, mais comum em mulheres, aumenta a chance de AVC”, explica a neurologista Sheila Martins, de Porto Alegre, integrante da Organização Mundial de AVC e do comitê internacional que prepara campanhas anuais sobre o problema. Neste ano, no Brasil o tema será justamente AVC em mulheres. “Reforçaremos que, se não houver prevenção, uma em cada cinco mulheres terá um AVC ao longo da vida.”

Os médicos também chamam a atenção para o fato de que o índice de mortalidade entre elas é maior. “Sessenta por cento das mortes são em mulheres”, afirmou a americana Louise. E, em geral, elas apresentam uma pior qualidade de vida após o acidente do que os homens. Na última semana, cientistas da Wake Forest Baptist Medical Center apresentaram estudo mostrando que um ano depois elas manifestavam maior dificuldade de mobilidade e índices maiores de dor, ansiedade e depressão. Parte das sequelas é resultado do tratamento muitas vezes deficiente que recebem. “Há vários casos em que elas não chegam a tempo ao hospital para começar o tratamento”, conta o médico Salomón Rojas, coordenador da UTI Neurológica do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. O especialista se refere principalmente à administração de trombolíticos até quatro horas e meia após o início dos sintomas. “Mas muitos não valorizam os sintomas”, lamenta.

A empresária Vanessa Nogueira, 31 anos, passou por isso. Aos 28 anos, fumante e usuária de anticoncepcional, ela sofreu um AVC. No hospital, teve que insistir muito para que o médico que a atendeu na emergência – um pneumologista – chamasse uma neurologista. “Sabia que estava tendo um AVC. Dizia isso, mas o médico não acreditava”, conta. Confirmado o diagnóstico, ela foi tratada. Hoje, voltou à vida normal. Anda e dirige novamente e parou de fumar.

Com o esforço dos especialistas, espera-se que casos como esse sejam cada vez mais raros. “As informações que estão sendo divulgadas devem ser conhecidas, além dos neurologistas, pelos clínicos gerais, geriatras e ginecologistas, com o intuito de reduzir o risco em mulheres”, diz o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Eleita atleta paraolímpica revelação do ano passado, a paulista Verônica Hipólito, 17 anos, superou as sequelas do AVC que sofreu em 2011 graças a um atendimento correto, na hora e depois. “Agora me preparo para o Mundial de Atletismo, no ano que vem, e para a Olimpíada”, conta. “Quero chegar a ser uma das melhores do mundo.”

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Disponível em http://www.istoe.com.br/reportagens/348132_MAIS+ATENCAO+COM+O+CEREBRO+FEMININO. Acesso em 04 mar 2014.