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terça-feira, 23 de julho de 2013

Nascemos todos bissexuais?

Ruth de Aquino
06/08/2012

A tese não é nada nova. Mas, como morreu na semana passada um dos arautos da bissexualidade, o escritor americano Gore Vidal, que se gabava de ter dormido com mais de mil homens e mulheres antes dos 25 anos (!), pensei em voltar ao tema. Vidal, polemista brilhante, provocador, extraordinário pensador, um daqueles intelectuais que não conseguimos enquadrar numa ideologia ou categoria, dizia que todos nós somos inerentemente bissexuais.

Por muito tempo, tive a mesma convicção. Lembro de discussões intermináveis com amigos muito machos ou com amigas extremamente femininas – eu insistia na visão de que éramos “empurrados” para escolher uma opção sexual mais cômoda, confortável, aceita, que seria a heterossexualidade. A meu ver, a bissexualidade latente e platônica era uma realidade universal.

Imaginem. Achava estar sendo progressista e hoje esse meu discurso seria apedrejado por homossexuais. Não se pode mais falar em “opção” e sim “orientação”. Não se pode mais falar em escolha. Os gays costumam achar esse discurso reacionário e até ofensivo. E os heteros consideram essa história de bissexualidade uma balela diversionista. “Não existem bissexuais”, proclamam. “Isso é uma invenção ou um disfarce”, afirmam.

Os/As bissexuais seriam anarquistas?

Eu achava, já na adolescência, homens e mulheres atraentes (ou não). Na minha concepção de vida, qualquer pessoa desreprimida poderia se sentir atraída e ser conquistada tanto por uns quanto pelas outras. Realizando ou não seus desejos. O preconceito e o estigma eram bem mais fortes que hoje. Eu achava mais fácil para a mulher assumir – bem antes de ler o quanto as lésbicas foram discriminadas até pelo universo homossexual masculino.

Claro que vários teóricos levantaram a bandeira de uma sexualidade livre de amarras. O Relatório Kinsey há mais de 60 anos mencionou “gradações de bissexualidade”. Alfred Kinsey não via os seres humanos como exclusivamente heterossexuais ou exclusivamente homossexuais. “Não somos carneiros ou cabras”.

Em 1996 escrevi uma reportagem para a Playboy intitulada “Duas vezes mulher“, sobre a onda “lesbian chic” – uma moda entre meninas anônimas e celebridades belas, que incluía amassos públicos e exibidos. Não ficava claro se eram insinuações moderninhas ou a expressão de uma atração real e transgressora. Entrevistei psicanalistas e sexólogas sobre os amores e tesões entre mulheres – se eram diferentes dos amores entre homens e qual era o grau de aceitação pela sociedade.

Hoje, quando tantos casais homossexuais adotam filhos, o ano de 1996 parece pré-história.

Ao ler os textos sobre Gore Vidal, lembrei de um teste que elaborei para mulheres descobrirem seu “teor gay”…

É uma brincadeira. Uma provocação bem-humorada. Não tem nenhum valor científico. Mas o exercício do teste e o resultado podem ser reveladores.

1. Na rua ou na praia, você repara mais nas mulheres do que nos homens?

2. Você gosta de ver revistas com mulheres seminuas ou nuas?

3. Você já se virou para observar uma mulher por trás?

4. Você manteria uma amiga atraente em sua cama se ela estivesse a fim de você?

5. Você curte (ou curtiria) assistir a vídeos eróticos com mulheres bonitas transando?

6. Você já achou alguma mulher gostosa?

7. Você já teve fantasias sexuais com mulheres?

8. Você se excita quando vê modelos ou atrizes se beijando na boca?

9. Você gostava de brincar de médica e enfermeira (ou de salva-vidas e afogada) com sua prima ou sua melhor amiga?

10. Você toparia transar com outra mulher, “para satisfazer seu marido ou namorado”?

Resultado

Se você tiver respondido SIM a até três perguntas, você é uma heterossexual convicta e nunca fantasiou nada com outra mulher.

Se tiver respondido SIM a entre quatro e sete perguntas, gosta de mulheres no íntimo mas não sabe ou tem medo de admitir.

Se tiver respondido SIM a mais de sete perguntas, você gosta de outras mulheres e sabe muito bem disso.


Disponível em http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/08/06/nascemos-todos-bissexuais/. Acesso em 23 jul 2013.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Filhos? Não, obrigada

Paola Emilia Cicerone

É raro alguém perguntar o que levou um homem ou uma mulher a ter filhos. Em contrapartida, é comum escutar: “Não tem filhos? Por quê?”. E, em geral, o principal alvo das indagações são as mulheres. Talvez algo como “não tive tempo”, “não sou casada” ou “não encontrei o homem certo, no momento certo” fossem boas respostas, mas há algo mais em jogo. É como se – ainda hoje, apesar de todas as transformações sociais dos últimos anos – continuasse necessário explicar à sociedade essa escolha (às vezes mais, às vezes menos consciente). Ao serem questionadas, as mulheres percebem na curiosidade alheia a pressão e as críticas disfarçadas, como se a opção de não terem sido mães as fizesse pessoas especialmente egoístas ou fosse sinal de algum “grande problema” em relação à sua feminilidade.

“Em nossas pesquisas promovemos a discussão do tema em grupos de mulheres sem filhos, em diversas cidades italianas, e muitas das participantes admitiram que se sentiam julgadas, às vezes até severamente, por parentes ou conhecidos, estigmatizadas como se fossem cidadãs de segunda categoria”, conta Maria Letizia Tanturri, professora de demografia da Universidade de Pavia, que participou de um importante projeto de pesquisa coordenado por várias universidades. “É como se, de certa forma, a maternidade fosse a garantia de nos tornarmos pessoas melhores, mais sensíveis”, observa. Ela lembra que, em 2007, uma senadora democrata da Califórnia, Barbara Boxer, atacou a secretária de Estado Condoleezza Rice: “Como não tem filhos nem família, a senhora não pagará nenhum preço pessoal pelo envio de mais 20 mil soldados americanos ao Iraque”. As palavras podem ser entendidas como uma variante de algo como: “Quem não tem filhos não pode entender o que só nós, seres humanos privilegiados pela graça de ter filhos, conseguimos compreender”.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan com 6 mil mulheres com idade entre 50 e 60 anos revelou que ter ou não ter filhos não tem efeito relevante no bem-estar psicológico nessa faixa etária – o que, de certa forma, contradiz a ideia de que é preciso criar os filhos para ter com quem contar no futuro. “Os aspectos mais importantes para uma maturidade feliz são a presença de um companheiro e de um círculo de relações sociais significativas”, salienta a socióloga Amy Pienta, coautora da pesquisa publicada no periódico científico International Journal of Aging and Human Development. Assim – e considerando todo o risco, trabalho e preocupação que significa ter filhos –, seria melhor não tê-los? Depende. O único dado certo é que hoje existe uma liberdade maior de escolha: é possível ser mulher de forma plena e prescindir da maternidade.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/filhos__nao_obrigada.html. Acesso em 04 jun 2013.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Homofobia: a dimensão de poder na estigmatização da diferença

Rita C. C. Rodrigues
Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3187, 23 mar. 2012 

Resumo: Este trabalho problematiza os desencadeadores das dinâmicas de violência física e simbólica manifestas sobre as homossexualidades e esboça uma análise política acerca das distintas formas de recepção dos gêneros fora da norma. Para tanto, propõe um quadro analítico que conjugue as dimensões do político de maneira contextualizada. Em uma primeira abordagem busquei compreender os motivadores dessa violência específica (homofobia), unicamente a partir do exame da diferença nos modos de recepção social às transgressões de “papel social” (gênero) e de orientação sexual (sexo). Ali, observava que a “bicha”, adotando a expressão social de gênero feminino, via sobre si incidir “o desdobramento do estigma do passivo sexual”. Incorporando o gênero historicamente construído e representado como inferior e desprezível, estaria, comparativamente à “lésbica” masculinizada, menos exposta às antagonizações mais visíveis. Sua infração aos sistemas de sexo e de gênero, portadora de uma valoração inferiorizante, desencadearia sanções circunscritas à inexpressividade social (pária), vale dizer, ao ridículo. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Intolerância à diversidade sexual

Gustavo Venturi
Teoria e Debate nº 78 - julho/agosto 2008

Resumo: Acaba de sair do forno a mais recente pesquisa social do Núcleo de Opinião Pública (NOP), intitulada Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, Intolerância e respeito às diferenças sexuais nos espaços público e privado – uma realização da Fundação Perseu Abramo, em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung. Com dados coletados em junho,de 2008, a pesquisa percorreu processo de elaboração semelhante ao de estudos anteriores do NOP, tendo sido convidados pela FPA para definir quais seriam as prioridades a investigar entidades e pesquisadores dedicados ao combate e ao estudo da estigmatização e da discriminação dos indivíduos e grupos com identidades sexuais que fogem à heteronormatividade – lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).