Ruth de Aquino
06/08/2012
A tese não é nada nova. Mas, como morreu na semana passada
um dos arautos da bissexualidade, o escritor americano Gore Vidal, que se
gabava de ter dormido com mais de mil homens e mulheres antes dos 25 anos (!),
pensei em voltar ao tema. Vidal, polemista brilhante, provocador,
extraordinário pensador, um daqueles intelectuais que não conseguimos enquadrar
numa ideologia ou categoria, dizia que todos nós somos inerentemente
bissexuais.
Por muito tempo, tive a mesma convicção. Lembro de
discussões intermináveis com amigos muito machos ou com amigas extremamente
femininas – eu insistia na visão de que éramos “empurrados” para escolher uma
opção sexual mais cômoda, confortável, aceita, que seria a heterossexualidade.
A meu ver, a bissexualidade latente e platônica era uma realidade universal.
Imaginem. Achava estar sendo progressista e hoje esse meu
discurso seria apedrejado por homossexuais. Não se pode mais falar em “opção” e
sim “orientação”. Não se pode mais falar em escolha. Os gays costumam achar
esse discurso reacionário e até ofensivo. E os heteros consideram essa história
de bissexualidade uma balela diversionista. “Não existem bissexuais”,
proclamam. “Isso é uma invenção ou um disfarce”, afirmam.
Os/As bissexuais seriam anarquistas?
Eu achava, já na adolescência, homens e mulheres atraentes
(ou não). Na minha concepção de vida, qualquer pessoa desreprimida poderia se
sentir atraída e ser conquistada tanto por uns quanto pelas outras. Realizando
ou não seus desejos. O preconceito e o estigma eram bem mais fortes que hoje.
Eu achava mais fácil para a mulher assumir – bem antes de ler o quanto as
lésbicas foram discriminadas até pelo universo homossexual masculino.
Claro que vários teóricos levantaram a bandeira de uma
sexualidade livre de amarras. O Relatório Kinsey há mais de 60 anos mencionou
“gradações de bissexualidade”. Alfred Kinsey não via os seres humanos como
exclusivamente heterossexuais ou exclusivamente homossexuais. “Não somos
carneiros ou cabras”.
Em 1996 escrevi uma reportagem para a Playboy intitulada
“Duas vezes mulher“, sobre a onda “lesbian chic” – uma moda entre meninas
anônimas e celebridades belas, que incluía amassos públicos e exibidos. Não
ficava claro se eram insinuações moderninhas ou a expressão de uma atração real
e transgressora. Entrevistei psicanalistas e sexólogas sobre os amores e tesões
entre mulheres – se eram diferentes dos amores entre homens e qual era o grau
de aceitação pela sociedade.
Hoje, quando tantos casais homossexuais adotam filhos, o ano
de 1996 parece pré-história.
Ao ler os textos sobre Gore Vidal, lembrei de um teste que
elaborei para mulheres descobrirem seu “teor gay”…
É uma brincadeira. Uma provocação bem-humorada. Não tem
nenhum valor científico. Mas o exercício do teste e o resultado podem ser
reveladores.
1. Na rua ou na praia, você repara mais nas mulheres do que
nos homens?
2. Você gosta de ver revistas com mulheres seminuas ou nuas?
3. Você já se virou para observar uma mulher por trás?
4. Você manteria uma amiga atraente em sua cama se ela
estivesse a fim de você?
5. Você curte (ou curtiria) assistir a vídeos eróticos com
mulheres bonitas transando?
6. Você já achou alguma mulher gostosa?
7. Você já teve fantasias sexuais com mulheres?
8. Você se excita quando vê modelos ou atrizes se beijando
na boca?
9. Você gostava de brincar de médica e enfermeira (ou de
salva-vidas e afogada) com sua prima ou sua melhor amiga?
10. Você toparia transar com outra mulher, “para satisfazer
seu marido ou namorado”?
Resultado
Se você tiver respondido SIM a até três perguntas, você é
uma heterossexual convicta e nunca fantasiou nada com outra mulher.
Se tiver respondido SIM a entre quatro e sete perguntas,
gosta de mulheres no íntimo mas não sabe ou tem medo de admitir.
Se tiver respondido SIM a mais de sete perguntas, você gosta
de outras mulheres e sabe muito bem disso.
Disponível em
http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/08/06/nascemos-todos-bissexuais/.
Acesso em 23 jul 2013.