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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

As mutações na cultura, no narcisismo e na clínica: o que muda e o que faz falar os pacientes limítrofes?

Natasha Mello Helsinger
Cad. Psicanál.-CPRJ, Rio de Janeiro, v. 36, n. 31, p. 69-93, jul./dez. 2014


Resumo: Investigaremos a questão narcísica nos estados limítrofes de analisabilidade (GREEN, 1975), situando-os no contexto da cultura do narcisismo (LASCH, 1979). Apresentaremos algumas transformações vividas pelo estatuto do narcisismo na obra freudiana, contemplando-o em sua dimensão constituinte, como também, patogênica. Em seguida, partiremos das propostas greenianas, para articular o narcisismo de morte à patologia limítrofe que, por sua vez, é caracterizada pela fragilidade narcísica e pelo desinvestimento objetal. Poderemos compreender, assim, de que formas as mutações na cultura e nas experiências narcísicas podem produzir e exigir mutações na clínica.




quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sãosimonense muda de sexo e dá exemplo de superação

Regis Martins
 21/12/2013 

Léo Moreira Sá nasceu com o nome de batismo de Lourdes Helena, na cidade de São Simão, onde, pelo menos, até os 7 anos de idade, teve uma infância feliz. Caçula de uma família de nove irmãos, foi criado(a) por uma mãe carinhosa e um pai rigoroso, mas responsável.

“São Simão era e, acredito que seja até hoje, uma cidade pacata e muito quente, e eu vivia de shorts sem camiseta, correndo pelo mato, pelas ruas, brincando com os moleques de bola, de pipa, de pega-pega”, conta.

A então menina Lourdes também passava as férias em Ribeirão Preto, na casa da avó Noêmia, que fazia lindas colchas de crochê, deliciosas compotas de frutas e um licor de jabuticaba fantástico. “Ribeirão era a cidade grande que me fascinava. Preparou-me para conhecer a metrópole dos meus sonhos, São Paulo. Tenho muitas saudades desse tempo”, conta.

Mas, logo em seguida, a pequena Lourdes se deu conta de que a natureza também prega peças. “Meus problemas começaram quando eu tive que ir pra escola de uniforme feminino. Aquela criança feliz se transformou em um infeliz garoto de saias”, lembra.

Traumas

Antes de se mudar de São Simão para São Bernardo do Campo, Lourdes - ou Lou, como era chamada pela família - sofreria abusos que a traumatizariam.

Tempos depois, envolvida com movimentos sociais e trabalhistas no ABC, decidiu estudar ciências sociais na USP. Nesta mesma época conheceu as amigas da banda Mercenárias, uma das mais originais do underground paulistano. Ouviu o grupo no lendário bar Napalm, quando o multi-instrumentista Edgard Scandurra [guitarrista do Ira!] ainda tocava bateria - dali alguns meses o substituiria nas baquetas.

“Aprendi a tocar bateria ouvindo uma fita cassete de um show das Mercenárias com o Edgar. Acho que as minhas dificuldades criaram um estilo esquisito, que, no diálogo com o baixo pesado da Sandra [Coutinho], marcaram o som da banda de forma única”, lembra.

Estrearam no mercado fonográfico em 1985 com “Cadê as Armas” e em 1987 lançaram “Trashland”. Longe das rádios comerciais, a banda acabaria no final da década de 1980.

Foi quando Lou se envolveu na cena clubber paulistana e também com drogas pesadas. Abriu um café e logo em seguida uma casa noturna, Circus, que teve um sucesso fulminante, mas faliu. “Eu já estava cheirando toda a cocaína possível quando conheci a [travesti] Gabi. A partir daí pareciam que as festas não acabavam nunca mais. Durou de 1995 a 2004”, conta.

‘Tive muito tempo para refletir’

Preso em 2004 por tráfico, Lou sairia da cadeia cinco anos depois. “Na prisão tive muito tempo pra refletir sobre o caminho que eu havia tomado. E paradoxalmente foi naquele universo inóspito que eu me senti livre pra assumir a minha transexualidade”, diz.

Quando saiu, entrou em um programa da prefeitura de São Paulo que oferecia um salário mínimo pra pessoas LGTBs se qualificarem. Fez uma oficina de teatro e acabou na companhia Os Satyros. Lá, se tornou técnico de iluminação.

Em seguida, trabalhou nas peças “Hipóteses para o amor e a verdade” e “Cabaret Stravaganza”, que venceu prêmio Shell 2012 de melhor iluminação. Com o dinheiro do prêmio, fez sua primeira mastectomia - cirurgia que retira as glândulas mamárias e dá a formatação do tórax masculino. Léo assumiria o lugar de Lou definitivamente.

Vida de transexual vira peça teatral

A história do sãosimonense ganhou os palcos de São Paulo com a peça “Lou &Leo”, dirigida por Nelson Baskerville e com ele no papel principal.

“A peça nasceu da necessidade de contar minha história, com o objetivo de trazer para o debate público a questão da transexualidade, como dissidência de uma cultura que marginaliza todas as expressões que não se encaixam nas normas de gênero”, afirma o ator/iluminador, que sonha em trazer o espetáculo para a região onde nasceu. “Seria uma emoção estonteante falar sobre a minha história onde tudo começou. Infelizmente, não vou a São Simão ou Ribeirão há mais de 20 anos. A vida em São Paulo é muito intensa”, afirma.


Disponível em http://www.jornalacidade.com.br/lazerecultura/NOT,2,2,911015,Saosimonense+muda+de+sexo+e+da+exemplo+de+superacao.aspx. Acesso em 26 fev 2014.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Há fórmula para manter a mente saudável?

Joel Rennó Junior
30.dezembro.2013

Diversos livros de autoajuda e matérias divulgadas pela imprensa vivem dando orientações e dicas para manter a mente saudável, mas até que ponto isso é factível e depende apenas do nosso esforço e dedicação aos propalados ensinamentos divulgados? Recebo muitos pacientes em grande sofrimento e sentimento de culpa por não conseguirem, apesar do enorme esforço, gerenciar melhor as situações de estresse ou conflito psicológico, mesmo dedicando-se aos ensinamentos dos mestres da autoajuda. Até que ponto tudo depende só do nosso próprio esforço e determinação?

Hoje sabemos que o meio ambiente hostil, com traumas ou lesões de diversas origens, pode levar ao “silenciamento” ou desligamento de alguns genes do cromossomo e isso ser responsável por algumas doenças mentais. É o que denominamos de “epigenética”, área de estudos em franca ebulição na psiquiatria atual.

Traumas ou situações adversas sofridos até dentro do ambiente uterino, durante a gravidez, podem ser responsáveis por doenças mentais no futuro. Entre os principais traumas temos a negligência, a rejeição materna, quadros infecciosos, desnutricionais e até de violência na gravidez.

 Mulheres com histórico de abuso físico e sexual na infância e adolescência têm um risco muito aumentado de transtornos mentais como transtorno bipolar, depressão e até transtorno de personalidade borderline – é bom frisarmos que as mulheres, em geral, têm um risco duas a três vezes maior para alguns transtornos mentais quando comparadas aos homens e prometo voltar, no futuro, nesse tema da maior prevalência de transtornos mentais no sexo feminino. Portanto, apesar da grande plasticidade do nosso cérebro, sempre refazendo suas conexões sinápticas entre os neurônios, alguns traumas, infelizmente, podem ter um impacto psíquico muito mais significativo em determinados indivíduos vulneráveis.

A capacidade de gerenciar o nível de estresse hostil do dia a dia é algo a ser desenvolvido ao longo da vida e depende de vários fatores. Cada ser humano tem a sua própria capacidade de resiliência. Há diferenças genéticas na forma como as pessoas lidam com a dor ou sofrimento e até conseguem tirar grandes aprendizados e lições de superação, levando a um crescimento psíquico importante. Portanto, temos capacidades de resiliência com limites diferentes.

 Algumas características de personalidade podem ajudar ou prejudicar o ser humano. Pessoas mais inflexíveis, insensíveis, com baixa tolerância à frustração e à dor ou com baixa autoestima têm uma tendência maior a terem transtornos psíquicos.

Saber lidar com as diferentes fases ou transições de nossas vidas, com ressignificações das experiências de vida, também contribui para diminuir a chance de um transtorno mental.

 A dança dos hormônios também pode aumentar a vulnerabilidade de algumas mulheres aos sintomas psíquicos em determinados períodos de transição como o pré-menstrual, o pós parto e a perimenopausa (período que antecede a menopausa em cerca de 5 anos e é caracterizado por grande flutuação dos níveis hormonais). A psicoterapia também é um instrumento valioso na elaboração de traumas, conflitos e na correção de distorções cognitivas ou comportamentos patológicos e que predispõem aos transtornos mentais. 

O desenvolvimento da identidade e unidade do ser humano é outro ganho da psicoterapia, ou seja, ela ajuda na capacidade do ser humano em se conhecer melhor.

Não desqualifico o papel de hábitos e comportamentos de vida saudáveis e construtivos (alimentação correta, atividades físicas regulares, atividades de lazer, atitudes altruístas ou de generosidade e religiosidade) na prevenção do estresse em muitos casos. Mas, é fundamental que as pessoas entendam que as vulnerabilidades biológicas podem ser diferentes e tais medidas podem não funcionar para todos.

 Portanto, manter a mente saudável é uma grande conquista de cada ser humano e que precisa ser analisada dentro do contexto de vida de cada pessoa, sem regras ou imposições inócuas que podem levar à discriminação injusta de alguns indivíduos pela sociedade. Todos podemos aprender com o sofrimento, mas cada um dentro de suas condições biológicas e vivências históricas – além das sequelas individuais geradas por consequências distintas causadas pelas situações estressoras.

É fácil, em saúde mental, ficar dando dicas ou receitas de bolo e até alguns desses gurus da mídia que eu conheço vivem tomando antidepressivos e ansiolíticos, o que contradiz e desmoraliza, parcialmente, seus ensinamentos generalizados de autoajuda.


Disponível em http://blogs.estadao.com.br/mentes-femininas/. Acesso em 10 fev 2014.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

'São agressões que deixam traumas', diz transexual vítima de homofobia

G1 
17/03/2012

Os casos de discriminação contra homossexuais são cada vez mais comuns. Em 2011, São Carlos, no interior de São Paulo, foram registradas 26 casos de pessoas que foram vítimas de agressão verbal e física. Não há uma lei federal para combater esse tipo de crime. No estado, o que existem são punições mais brandas, como multas.

Uma transexual, que não quis se identificar, disse que desde criança sofre com sua opção sexual. Ela contou que já sofreu várias agressões na escola e, hoje em dia, vive com medo. “De a pessoa te empurrar, querer jogar objetos em você, te dar soco. São agressões que as pessoas acham que não te machucam, mas machucam e deixam traumas”, disse.

A advogada Carla Tavares Collaneri disse que uma lei nacional seria um importante instrumento de conscientização. “Hoje no âmbito nacional, nós não temos ainda uma lei criminalizando a homofobia, o que nós temos é um projeto de lei complementar. E, no estado de São Paulo, nós temos uma lei prevendo algumas punições como pena de multa, advertência, mas não criminalizando a conduta homofóbica”, explicou.

Parada LGBT

Transformar a discriminação contra homossexuais em crime é hoje a principal bandeira levantada pela ONG Visibilidade LGBT. Por isso, o tema da 4ª Parada do Orgulho LGBT(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de São Carlos será “Contra a discriminação e impunidade, homofobia também é crime”.

O evento ocorrerá neste domingo (18), a partir das 14h, saindo da Avenida São Carlos, próximo ao Terminal Rodoviário, e seguindo até a Praça do Mercado. As apresentações e shows começam às 17h.

Phamela Godoy, presidente da ONG Visibilidade LGBT, acredita que a Parada é um evento já aceito pela população sãocarlense. “A população de São Carlos quer mais cidadania para todos os habitantes da cidade, inclusive os LGBTs”.


Disponível em http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2012/03/sao-agressoes-que-deixam-traumas-diz-transexual-vitima-de-homofobia.html. Acesso em 15 ago 2013.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gay conta ter gasto mais de R$ 60 mil para tentar 'conversão' à heterossexualidade

Karen Millington
23 de setembro, 2012

O processo durou 17 anos e Toscano hoje milita contra tratamentos que atendem por com nomes como ''conversão'' ou ''terapia reparadora'', voltados para gays que querem mudar sua orientação sexual.

Tais práticas contam com o apoio de Igrejas fundamentalistas cristãs. E alguns dos que se submeteram a elas asseguram sua eficácia e se definem como ex-gays.

Mas Toscano, de 47 anos, afirma que não só estes processos não funcionam como também causam danos psicológicos.

Ele é de uma tradicional família ítalo-americanda do Estado de Nova York. Cristão devoto e evangélico, Toscano teve dificuldades em aceitar o que via como um conflito entre sua orientação sexual e sua fé.

'Desespero terrível'

''Eu estava fazendo algo errado pelo qual eu seria punido na outra vida. E por isso sentia muito medo e um desespero terrível'', afirma, em entrevista à BBC.

Como um adolescente que cresceu nos Estados Unidos da década de 80, Toscano viveu em uma época em que o termo ''gay'' era um sinônimo de Aids. Até 1973, psiquiatras americanos classificavam homossexuais como sendo insanos.

''Eu somei dois mais dois e cheguei ao que me parecia ser uma equação lógica, a de dizer 'isto é errado, é ruim, eu preciso consertar isso'. E 17 anos depois eu finalmente acordei e retomei a razão'', afirma.

Os anos de tratamento são uma lembrança dolorosa. Após ter entrado em depressão depois de uma entrevista à rádio pública dos Estados Unidos na qual relatou os processos a que se submeteu, ele agora evita entrar em pormenores.

Experiência traumática

Mas ele relata que um dos incidentes mais sombrios ocorreu durante seu internamento por dois anos no centro Love in Action (Amor em Ação), hoje rebatizado como Restoration Path (Caminho da Restauração), na cidade de Memphis, no Estado americano do Tennessee.

Lá, ele foi instruído a registrar todos os encontros homossexuais que já havia tido. Em seguida, pediram que ele relatasse o mais constrangedor destes encontros para sua família.

Tais terapias não se limitam, no entanto, aos Estados Unidos. Toscano visitou a Inglaterra na década de 90 a fim de se submeter a um exorcismo. Ele já tinha se submetido a dois exorcismos fracassados nos Estados Unidos.

De acordo com Peterson, esse tipo de prática ''é danosa psicologicamente especialmente para os jovens. Se você acredita nisso, você fará qualquer coisa para rasgar a sua alma''.

Nos Estados Unidos, já estão sendo tomadas medidas para proibir parcialmente as terapias de conversões para gays no Estado da Califórnia. E o governador Jerry Brown está avaliando um projeto de lei que torna ilegal a terapia reparadora para crianças. Se aprovada, será a primeira medida nesse sentido tomada no país.

Toscano tem um blog e um canal de YouTube e usa sua experiência como ator de teatro realizando apresentações nas quais procura consicentizar pessoas sobre os danos causados aos que se submetem a tratamentos para suprimir ou mudar suas orientações sexuais.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120923_gay_convertao.shtml>. Acesso em 23 set 2012.