Resumo: O que é o transexual senão um objeto simbólico
intrigante. Com sua aparência sedutora, é parte integrante do imaginário
coletivo, em que os profissionais cuidadores ligados a transexualidade o vejam
somente pela via natural, ou seja, biológica-genital como ponto central, e
fazem, a partir de uma visão particularizada, usando-o como símbolo, o que o
transforma em sintema. Hoje a transexualidade está tematizada, como fruto da
acumulação e da onipresença, e não diz respeito somente à difusão quantitativa,
mas também ao fato de o saber público – o conjunto de conhecimentos, opiniões e
atitudes difundidas pela comunicação de massa – transformar em caráter
particular, já que o aspecto visual do ser transexual tem enorme importância,
pois a visibilidade (que é a qualidade de ser visível) é posto como único
atributo. O que se percebe, então, é que a tematização continua alimentando o
espaço na mídia e a economia: a abordagem do tema mais confunde do que
esclarece. Identidade de gênero e orientação sexual quase se funde. As ciências
sociais, que deveria se preocupar com a compreensão dos casos particulares e
não com a formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais,
também não dá conta da temática. E o tema não é novo. Já no século XVI
(Renascença), o médico Mato Lusitano pesquisou sobre casos de partos estranhos,
transexuais e mudanças de sexo e isto lhe valeu a perseguição da Inquisição.
Sabe-se que os transexuais são minoria dentro de um segmento maior, e ainda
enfrentam problemas, como constatou a Fundação Perseu Abramo sobre a existência
ou não de preconceito contra essa população no Brasil. Enquanto isso, mídia e
militantes persistem com discursos racionais, em vão, pois Dichter (1970)
afirma que “a racionalidade é um fetiche (...) nossa cultura não nos permite
admitir a verdadeira irracionalidade como uma explicação de nossa conduta. E,
no entanto, a maioria dos sistemas religiosos e políticos, assim como aspectos
da conduta humana, tais como a lealdade, o amor e o afeto, são todos
irracionais”. O artigo finaliza propondo que, agora sob o manto da
neurociência, o conhecimento sobre a transexualidade no século XXI vai
tematizar novos corpus dentro do humanismo pela inserção social e político. E
para isso será preciso um novo olhar: para os microssinais e nanossinais, pois,
a transexualidade não existe abaixo da linha do umbigo. O artigo, como capítulo, faz parte do livro "Minorias Sexuais: Direitos e Preconceitos", organizado pela
professora Tereza Rodrigues Vieira e lançado pelo Editora
Consulex (http://www.consulex.com.br/item.asp?id=1339)
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