Virgula
19 de Junho de 2013
Aparentemente eles são um casal comum se não fosse por um
detalhe: ambos são transgêneros, ou seja, o rapaz nasceu menina e a moça nasceu
menino. Katie Hill, de 19 anos, nasceu, e viveu suas 15 primeiras primaveras
como Luke; já Arin Andrews, de 17 anos, veio ao mundo como Esmerald e chegou a
ganhar concursos de beleza e se destacar no balé durante sua infância. Na
adolescência, já como transgêneros, os dois se apaixonaram e iniciaram um
relacionamento.
Ambos lutavam com sua sexualidade quando crianças e
iniciaram terapia hormonal ainda muito jovens, mais tarde, quando frequentavam
um grupo de apoio aos trans, em Tulsa, Oklahoma, EUA, se conheceram e se
apaixonaram.
“Tudo o que vi foi um cara bonito. Nós somos perfeitos um
para o outro, porque ambos tivemos os mesmos problemas na infância. Ambos
vestimos o mesmo manequim e ainda podemos trocar nossas roupas velhas, que
nossas mães insistiam em comprar e odiávamos”, contou Katie em entrevista ao
“Daily Mail”.
Segundo ela, os dois são tão convincentes em suas novas
identidades, que ninguém sequer percebe que são transgêneros. “Secretamente nos
sentimos tão bem com isso, pois é a maneira como sempre quisemos ser vistos”,
explica.
O casal, em sua luta diária por ter as formas que sua
personalidade pede, passa ainda passa por tratamentos com hormônios: Arin
ingerindo testosterona para ganhar formas mais masculinas e Katie tomando doses
de estrogênio, que lhe renderam seios naturais, sem implante de silicone.
Conforme o jornal britânico, Katie é considerada uma mulher,
legalmente, desde seus 15 anos, e acredita que nasceu naturalmente com altos
níveis de estrogênio, já que desde o pré-primário tinha pequenos seios, mesmo
tendo o corpo bem esguio. Ela, inclusive, ganhou uma cirurgia de mudança de
sexo, quando fez 18 anos, depois de um doador anônimo ficar comovido com sua
história.
“Desde os três anos eu sabia que, no fundo, eu queria ser
uma menina. Tudo o que eu queria era brincar com bonecas. Eu odiava meu corpo de
menino e nunca me senti bem nele. Mantive meus sentimentos em segredo total até
crescer. Agora eu e Arin podemos compartilhar nossos problemas”, diz.
Arin se lembra de uma experiência semelhante, e diz que
sabia que era um menino desde o seu primeiro dia de escola, aos cinco anos. “Os
professores separaram as meninas e os meninos em filas para uma brincadeira. Eu
não entendi porque me pediram para ficar com as meninas. Coisas femininas nunca
me interessaram, mas eu estava preocupado com o que as pessoas pensariam se eu
dissesse que queria ser um menino, então mantive isso em segredo”, confessa.
Ainda criança, a mãe de Arin, Denise, incentivou a criança a
fazer balé, mas o amor secreto de Arin era pilotar motos, fazer triatlo e
escalada. “Mamãe e papai argumentavam que motocross entrava em confronto com a
minha agenda de dança”, lembra ele, que aos 11 anos conseguiu fazer sua mãe
desistir de vê-lo como uma bailarina.
Denise Andrews hoje apoia o filho e o ajuda com as doses de
testosterona, além de ter ajudado a pagar a cirurgia de remoção de mamas,
depois de o garoto passar anos se apertando em faixas e cintas para esconder os
seios e sofrendo bullying na escola.
“Eu parecia uma menina bonita, mas agia e andava como um
menino. Todo mundo começou a me chamar de lésbica. Era muito humilhante. Eu não
me sentia gay. Comecei a ter pensamentos suicidas e disse aos meus pais que me
sentia confuso, mas eu nem sabia que existiam pessoas transexuais. Eles
disseram ‘ok’ eu ser gay, mas me colocaram na terapia por causa da depressão”,
lembra.
A história de Katie é bastante semelhante, ela também passou
por momentos de depressão, pensando em acabar com a própria vida, e só
descobriu o que era um transexual após uma busca na internet, tentando entender
o que se passava com ela, deparou-se com a palavra na tela.
A aceitação da condição dos dois foi um processo lento para
a família, mas hoje, até a avó de Katie, Judy, entende que a neta “nasceu no
corpo errado”.
O casal afirma estar expondo sua história ao mundo para ajudar
a aumentar a conscientização sobre as questões trans. “Mais precisa ser feito
para que as pessoas saibam sobre as questões trans”, disse Katie. “Nós dois
passamos anos no deserto. Me senti muito sozinha. Nossos pais não sabem como
ajudar, porque nenhum de nós sabia que era trans. Ninguém deveria passar pelo
que passamos”, completa.
“Minha vida mudou quando conheci Katie, percebi que não
estava sozinho”, finaliza Arin, apaixonado.
Disponível em
http://virgula.uol.com.br/inacreditavel/curiosidades/apos-nascer-com-sexo-trocados-casal-transgenero-se-apaixona-em-terapia.
Acesso em 29 jun 2013.