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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Candidatos apostam em apelidos eróticos e bizarros como marketing

André Miranda
31/08/2012

Nestes tempos em que o marketing define nossas vidas, ser candidato a um cargo público é mais ou menos como vender um produto. O bom candidato precisa fazer com que o eleitor realmente acredite nele: em sua imagem, em seu discurso e, também, em seu nome. Maria Raimunda Soares Alcantara sabe bem disso. Aos 52 anos, solteira, ela adotou um nome mais simpático para tentar ser vereadora em Cachoeira do Arari, no Pará. Candidata pelo Partido Trabalhista Cristão, ela é a Maria Gostosa.

Por sorte, nenhum dos nove Pirocas destas eleições mora perto de Maria Gostosa. Sim, há nove Pirocas na campanha, muitos orgulhosos dos sobrenomes herdados. Só que em Pontalina (GO) há um postulante a vereador cujo nome é Sebastião José Amador. Tião, como a gente espera que ele seja chamado pelos parentes, achou seu nome sem graça. Adotou, então, um apelido. Ele é simplesmente o Piroca.

Mas poderia ser pior. Sempre pode ser. Uma candidata a vereadora em Santa Maria de Jetibá (ES) assina Rola Italiana. A gente torce para que ela nunca explique a origem do “italiana”. Aliás, o site de dados Eleições 2012 lista cinco candidatos que usam o nome Rolla e 17, Rola, incluindo as variantes Róla e Rôla e Vandão do Rala e Rola. Fora Pau Doce, Marcio do Pau Preto e Pau Vestido.

‘Eu não fumo, mas também não podemos discriminar quem fuma’

Em seus vídeos de campanha, o candidato a vereador no Rio pelo PSDB Miguel Fernández y Fernández apela para uma tática arriscada. Ele aparece numa mesa de bar, num ambiente fechado, tomando uma cervejinha ao lado de amigos fumantes. E ainda diz: “Temos que acabar com essa história do politicamente correto”. Hein?

Crise de identidade heroica

Em Piracicaba (SP), um candidato a vereador do PP tem se apoiado na imagem de um conhecido super-herói. Ele é chamado Geraldo Wolverine. O nome já é um tanto bizarro, mas é sempre possível que o sujeito tenha sido um grande nerd na escola e tenha ficado conhecido em Piracicaba pelo apelido de infância. Mas Geraldo achou que o nome não era suficiente. Ele deixou as costeletas crescerem, cortou o cabelo como o herói e ainda fica dando gritos raivosos. Só que há um problema de crise de identidade nisso. Num de seus vídeos que está na web, ele diz: “Quem poderá nos defender?” Geraldo, amigão, o Chapolin Colorado não é exatamente um tipo que passa confiança para o eleitorado.

Sambistas se unem em programa de Eduardo Paes

A turma da campanha do prefeito Eduardo Paes (PMDB) à reeleição não perdoou a entrevista dada por Marcelo Freixo (PSOL) na semana passada. No “RJTV”, Freixo criticara enredos de escola de samba sem um suposto valor cultural. Ontem, no programa de Paes, uma dúzia de sambistas, como Dudu Nobre, Monarco e a Velha Guarda da Portela, gravou um clipe em que canta seu apoio à recondução de Paes ao cargo.

Cesar Maia quer exclusividade sobre o laranja

O ex-prefeito Cesar Maia, candidato a vereador no Rio pelo DEM, parece estar orgulhoso de ter “lançado” uma moda. Em seu Twitter, ele postou ontem a seguinte frase: “Cor laranja. Agora muita gente está usando na campanha”. Em seguida, Cesar publicou um link para um artigo sobre o extensivo uso de material na cor laranja na campanha de José Serra (PSDB), candidato a prefeito em São Paulo. Cesar, como todo carioca sabe, sempre adorou laranja.

Disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/candidatos-apostam-em-apelidos-eroticos-bizarros-como-marketing-5960181. Acesso em 30 ago 2014.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Morador de Niterói inspira projeto de lei que pode ajudar transexuais

Thalita Pessoa
12/11/2013 

Um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional pode dar fim a constrangimentos enfrentados por transgêneros e travestis. De autoria dos deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Erika Kokay (PT-DF), a proposta, que visa a dar mecanismos jurídicos para o reconhecimento da identidade de gênero, recebeu o nome do primeiro transgênero homem do Brasil, João W. Nery, um morador de Niterói que nasceu com o nome de Joana.

Hoje com 63 anos, Nery vive no Bairro de Fátima, de onde acompanha os esforços pelo fim da classificação de transexualismo como patologia.

— Realizei minha transição da década de 70, em plena ditadura, quando era impensável ter qualquer respaldo jurídico que me garantisse o direito de tornar meu corpo compatível com meu gênero, que não está condicionado à minha genitália — diz Nery, que, para ter documentos que o reconhecessem como homem, fez, na época, um segundo registro civil.

Com o subterfúgio, Nery passou da condição de incompreendido à de criminoso, sob a acusação de falsidade ideológica.

— Ao fazer um novo registro, eu, um professor de Psicologia com diversas especializações, virei analfabeto. Fui pedreiro, pintor e massagista. Adotava qualquer profissão que dispensasse o diploma de ensino superior para poder ganhar a vida — conta.

Ele não foi à noite de autógrafos de seu primeiro livro devido ao risco de ser preso. Somente no lançamento de sua segunda obra, a autobiografia “Viagem solitária”, publicada pela editora Leya em 2011, teve tranquilidade para contar sua história. E, a partir daí, voltou a militar pela causa dos transgêneros.

O projeto de lei que homenageia Nery tem como objetivo permitir às pessoas a retificação de registros civis, possibilitando mudanças de nome, sexo e foto na documentação pessoal. Além disso, visa a regulamentar intervenções cirúrgicas e tratamentos com hormônios.

O reconhecimento da identidade de gênero independentemente de intervenções no corpo é outra meta da iniciativa.


Disponível em http://oglobo.globo.com/rio/bairros/morador-de-niteroi-inspira-projeto-de-lei-que-pode-ajudar-transexuais-10753280#ixzz2kRXM2Uok. Acesso 31 jul 2014.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Malta é o 22º Estado europeu a permitir o casamento gay

O Globo
14/04/14

A república de Malta adotou nesta segunda-feira uma lei que permite as uniões civis e a adoção de crianças por casais homossexuais. A lei foi aprovada no Parlamento maltês com 37 votos a favor e nenhum contra. Os 30 membros da oposição se abstiveram da votação.

O líder da oposição, Simon Busuttil, justificou a atuação de seus correligionários afirmando que seu partido não se posicionou contra o casamento gay, mas mantém reservas quanto a adoção por parte dos casais homossexuais. Anteriormente, homossexuais solteiros já podiam adotar crianças, mas a nova legislação estende esse direito aos casais.

O bispo Charles Scicluna, com passagem pelo Vaticano durante o papado de Bento XVI, afirmou que embora a lei tenha argumentos válidos, ela não atende aos principais interesses das crianças.

A notícia foi celebrada por cerca de mil manifestantes reunidos na Praça de São Jorge, no centro de Valeta, capital da ilha mediterrânea, que tem o catolicismo como religião oficial, e legalizou o divórcio há pouco mais de dois anos.

Com a nova lei, Malta se torna o 22º Estado europeu a reconhecer as uniões entre pessoas do mesmo sexo, e o 10º a permitir a adoção por parte de casais homossexuais.


Disponível em http://oglobo.globo.com/mundo/malta-o-22-estado-europeu-permitir-casamento-gay-12195395. Acesso em 17 abr 2014.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Suprema Corte da Índia reconhece transexuais como terceiro gênero

Reuters
15/04/14 

A Suprema Corte da Índia reconheceu, nesta terça-feira, a existência de um terceiro gênero, que não é masculino nem feminino, em uma decisão que permitirá que milhares de pessoas transgênero e eunucos tenham seus direitos reconhecidos. “O reconhecimento dos transgênero como terceiro gênero não é uma questão social ou médica, mas de direitos humanos”, declarou o juiz K.S. Radhakrishnan ao emitir sua decisão.

O tribunal encarregou os governos estatais e federal de identificar os transgênero como um terceiro gênero neutro, que deve ter garantido o acesso aos mesmos programas sociais que outros grupos minoritários na Índia. “Os transgênero são cidadãos deste país e têm direito à educação e a todos os outros direitos", declarou Radhakrishnan. As pessoas transgênero e os eunucos vivem à margem da sociedade indiana, tradicionalmente conservadora, e com frequência são obrigados a recorrer à prostituição, à mendicância e ou a empregos muito precários para sobreviver.

Na Índia, grande parte deles forma a comunidade dos “hijras”, que são encarados com uma mistura de temor e respeito. O recurso à Suprema Corte havia sido apresentado em 2012 por um grupo de pessoas, entre elas o conhecido eunuco e ativista Laxmi Narayan Tripathi, para exigir direitos igualitários para a população transgênero aos olhos da lei. Tripathi acolheu com satisfação a decisão, e lembrou que os transgênero sofrem discriminação no país, tradicionalmente conservador.

- Hoje, pela primeira vez, me sinto muito orgulhoso de ser indiano - declarou Tripathi aos jornalistas reunidos em frente ao tribunal em Nova Délhi.

O reconhecimento de um terceiro gênero é raro no mundo. Antes da Índia, a Alta Corte da Austrália também decidiu, no início de abril, que uma pessoa pode ser reconhecida pelo Estado como pertencente a um “gênero neutro”. Já Alemanha e Nepal autorizam seus cidadãos a escrever um X no campo “sexo” do passaporte.


Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/suprema-corte-da-india-reconhece-transexuais-como-terceiro-genero-12200778. Acesso em 16 abr 2014.

domingo, 30 de março de 2014

Justiça concede dupla maternidade a casal de mulheres homossexuais em Recife

Leticia Lins
14/03/14

O Juiz da 1ª Vara da Família de Recife, Clicério Bezerra da Silva, concedeu dupla maternidade a um casal de mulheres homossexuais que tem um relacionamento há 10 anos, e que acaba de ter filhos gêmeos. Os bebês, que nasceram no dia 6 de fevereiro desde ano, terão duas mães e quatro avós maternos. A decisão havia sido proferida no final do mês passado, mas só foi divulgada nesta sexta-feira pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco.

Os nomes das mulheres não foram revelados porque o processo correu em segredo de justiça, segundo a assessoria de imprensa do TJ-PE. Os bebês foram gerados por inseminação artificial. A gestação foi no útero de uma das mulheres.

“Em um mundo onde incontáveis pequenos seres humanos são privados de despertar sentimentos nobres, como o amor, o afeto, agraciados são aqueles aos quais é permitida uma convivência saudável, verdadeira, edificante, experimentada no cotidiano da família. Há que se ressignificar a realidade social e traçar novos paradigmas”, justificou o magistrado, no processo.

Segundo o TJ-PE, é o segundo caso de dupla maternidade no estado. Na sentença, o juiz lembra que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece a existência de mais de um tipo de entidade familiar e que estendeu os mesmos direitos e deveres das uniões estáveis aos que mantêm relação homoafetiva.

Clicério Bezerra da Silva foi o mesmo juiz que, em 2012, concedeu aos empresários Mailton Albuquerque e Wilson Albuquerque, então com 35 e 40 anos, respectivamente, a primeira sentença autorizando dupla paternidade no país. Os dois, que vivem em Recife, recorreram à inseminação artificial para formar a família. Contaram com doação de óvulo de anônima – conforme determina a lei – e com a barriga solidária de uma prima, que atuou como voluntária para a gestação de Maria Tereza,a primeira filha do casal. Na certidão de nascimento da menina, hoje com dois anos, só constam os nomes dos pais. A prima que ajudou o casal até hoje permanece no anonimato.

Na sentença, juiz destacou o amor, o respeito mútuo e elogiou a iniciativa dos homens que formam o casal, considerando que eles tiveram atitude muito “macha” ao ousar reivindicar a primeira paternidade dupla no país, em sociedade preconceituosa. Hoje o casal dedica grande parte do tempo a Maria Tereza, dispensa babás nos dias de folga e até montou infra estrutura no local de trabalho para que os dois fiquem mais perto da menina.

- Ela vai ser uma menina muito feliz, porque é fruto do nosso amor - afirmou Mailton, que é pai biológico da menina.

Em 2012, ao anunciar a vitória na justiça, ele disse que o próximo passo do casal seria ter mais um filho, tendo Wilson como pai. Os dois empresários não medem palavras para definir o amor que vivem: afirmam que a maior certeza que teem, é que querem ficar juntos até o fim da vida. E agora os dois se preparam para realizar o segundo sonho: Teo, filho biológico de Wilson, nasce em junho. Os dois filhos do casal têm a mesma mãe biológica, segundo Mailson informou ao GLOBO.

Os dois possuem uma loja que fornece equipamentos médicos e hospitalares. Mailson é enfermeiro, e logo após o nascimento de Tereza, passou em um concurso para atuar na Prefeitura, onde é lotado no Samu. Ele já entrou na burocracia municipal com pedido de licença paternidade com direitos maternos. Ou seja, quer ficar em casa por seis meses, para cuidar do segundo filho do casal. Se concedido o direito, ele será o primeiro servidor público no país a gozar da regalia naquelas condições.


Disponível em http://oglobo.globo.com/pais/justica-concede-dupla-maternidade-casal-de-mulheres-homossexuais-em-recife-11880507. Acesso em 23 mar 2014.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Walcyr Carrasco revela bastidores da negociação sigilosa para exibir o beijo gay de ‘Amor à vida’

Zean Bravo
09/02/14

Foi na noite de Natal, acompanhado de sua família, “bem classe média”, que Walcyr Carrasco percebeu de vez a existência de uma torcida para que Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) ficassem juntos em “Amor à vida”. Meses antes, o autor já havia decidido quebrar um tabu com o folhetim que marcou a sua estreia no horário nobre da Globo: levar ao ar um beijo de amor entre dois homens no último capítulo. Exibido no dia 31, o desfecho da trama mostrou o tal carinho entre o sushiman e o vilão regenerado, personagens alçados ao posto de casal principal da novela.

O beijo que entrou para a história das telenovelas brasileiras foi resultado de um romance muito bem pensado pelo autor para angariar a aceitação do público. Félix e Niko estão entre os destaques de um novelão de 221 capítulos marcado por muitas reviravoltas e personagens que mudaram radicalmente de comportamento. Ao longo dos últimos meses, Walcyr, de 62 anos, vivenciou a rotina de escrever — sempre tarde da noite, como prefere — o programa mais visto e comentado da TV.

‘Gravamos várias versões do beijo gay: uma conservadora, uma moderada e uma agressiva. Foi assim que me expressei para explicar o que queria. Numa linguagem de investimento financeiro. Na vida bancária, sempre opto pelo moderado, e na novela foi assim também’

Jornalista, autor de novelas e peças de teatro, com 60 livros lançados, ele chegou a dormir em cima do teclado ao criar histórias de “Amor à vida” “praticamente dopado” por remédios para aliviar a dor que sentiu após a extração e o implante de cinco dentes, em meados do ano passado. Dizendo-se de luto pelo fim da novela, Walcyr fazia a primeira refeição do dia às 15h30 quando recebeu, na semana passada, a Revista da TV em seu apartamento carioca — ele vive entre Rio e São Paulo.

O autor detesta acordar cedo e mostra sua face “gente como a gente” ao comentar o alto custo de vida das duas cidades onde vive. Ele ainda não se desligou do recente trabalho. Domingo passado, jantou com Mateus Solano e sua mulher, a atriz Paula Braun, também do elenco da novela, num restaurante do Leblon. O ator era um dos poucos que já sabiam sobre o beijo, planejado sob total sigilo.

‘Félix não foi autobiográfico. O meu pai me amava e sempre me incentivou’, diz Walcyr

Nesta entrevista, parte da série com autores de novelas iniciada pela Revista da TV em janeiro, o criador de tramas como “O cravo e a rosa” (2000), “Caras & bocas” (2009), em reprise atualmente nas tardes da Globo, e da mais recente versão de “Gabriela” (2012), conta detalhes sobre a aprovação e a gravação da cena do beijo. Ele esclarece boatos, como a fama de ser vingativo com atores que não seguem à risca o texto que escreve. E comenta ainda os sucessos e os percalços da carreira como autor de novelas, iniciada com a “Cortina de vidro”, exibida pelo SBT em 1989.

Por que deixou o beijo para o final da novela?
Sempre quis deixar para o último capítulo porque sabia que seria uma bomba, algo que iria surpreender a sociedade.

Como surgiu a iniciativa de exibir a cena?
A imaginação de todo mundo é maior do que a realidade. Não tive nenhum problema em relação ao beijo. Eu tinha uma história e, há quatro meses, fui ao diretor-geral de entretenimento (Manoel Martins) e falei: “Acho que está na hora desse beijo acontecer porque a história está pedindo”. Naquele momento, o casal Félix e Niko ainda não tinha acontecido com força. Mas a questão da família estava presente entre Niko e Eron. O beijo poderia ter sido entre o Thiago e o Marcello Antony. Eu propus um beijo de despedida entre o casal, algo do dia a dia, de pessoas que estão juntas e dão um beijo quando um deles vai trabalhar.

Já imaginava que o beijo seria aprovado quando foi conversar com a direção da emissora?
É importante dizer que essa não é uma decisão que se toma sozinho. Isso afeta toda a estrutura da Globo. Mas a emissora vive um processo de atualização neste momento de sua história e está buscando uma sintonia fina com a sociedade. Dois dias depois, o Manoel me respondeu com um OK, caso a cena fosse feita dessa forma que falei.

A novela abordou diferentes formações familiares. Por que escolheu mostrar o casal gay nesse contexto?
Brinco muito que o movimento LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e travestis) busca cada vez mais a família, o casamento. Todos os valores que, de certa forma, compõem a vida da sociedade. Por isso propus o beijo dentro de um contexto familiar.

A emissora fez algum tipo de pedido?
A postura da emissora era de manter sigilo e respeito. E a minha também.

Essa história de que você recebeu carta branca da emissora para decidir se teria ou não beijo é verdade?
Hoje em dia há uma grande parcela da imprensa extremamente fantasiosa e reacionária. Principalmente a feita na internet, que cria um movimento de especulação em cima das novelas. E que não é do bem. Essa história de carta branca nunca existiu. Foi uma invenção. O que houve é fruto de uma decisão que eu, como autor, levei para a empresa. Mas se falasse com a imprensa naquele momento sobre isso, a especulação teria sido ainda mais absurda.

Como conseguiram manter o sigilo?
Quase ninguém sabia que haveria o beijo. Combinei pessoalmente com o Mauro Mendonça Filho (diretor-geral): “Quando aparecer tal sinal no texto, será o beijo”. Quem quer que tenha tido acesso ao capítulo não notou. O código foi uma linha de asteriscos.

Quantas versões do beijo foram gravadas?
Gravamos várias versões: uma conservadora, uma moderada e uma agressiva. Foi assim que me expressei para explicar o que queria. Numa linguagem de investimento financeiro. Na vida bancária, sempre opto pelo moderado, e na novela foi assim também. Achava que não poderia ser a versão conservadora, que era pouco mais do que um selinho, nem a agressiva. Por um simples fato. Eles estavam se despedindo, não indo para a cama. Esse outro beijo (de língua) é dado quando você está indo para a cama. Não era a situação. Foi gravado, sim, até para a gente ter opções. Mas sabia que não seria esse. Nem sei dizer quantas vezes eles gravaram porque fizeram em vários ângulos. Tinha: opção A, com meio corpo, A só com rosto, e por aí vai...

Quis ver a cena antes?
Claro. Até para discutir qual seria o beijo que representaria a situação que a gente queria. A decisão foi unânime. Eu queria um beijo tradicional, mas de amor. Era essencial. Era um momento do casal que não pressupunha um beijo mais intenso. Acho que o amor promove aceitação, e a novela falava disso. Mas a gente também precisava da aceitação do público.

Quando foi a escolha?
No dia do último capítulo. Tenho horror de acordar cedo, mas tinha que ver o quanto antes porque a cena precisava ser editada. Acordei às 8h, saí de casa um caco. Mauro, que dirigiu a cena, e o Wolf (Maya, diretor de núcleo) estavam presentes. Vimos juntos e levamos nossa opção à direção. É um assunto sério. Quando você faz uma coisa pioneira, tudo tem que estar de acordo com a emissora. O Manoel Martins é o diretor de entretenimento e tinha que participar. Ele fechou com o que a gente tinha fechado.

Existia entre vocês a sensação de que fariam História?
Eu tinha o sentimento de que ia fazer História. Sei que daqui a 50 anos em qualquer livro sobre a TV brasileira, vai ter esse beijo. Tenho uma relação mais próxima com o Mateus, gosto muito dele como pessoa também. Quando falei para ele, em segredo, disse que entraria para a história da TV.

Quando conversou com o Mateus já havia decidido que Niko ficaria com Félix?
Sim, mas já tem um tempinho que contei a ele. A história estava em branco quando comecei a ver a questão do beijo, mas foi tomando outros rumos. Niko tinha se separado do Eron. Naquele instante o Félix tinha ficado pobre e começado a se redimir.

Você construiu o romance de Félix e Niko para torná-los o casal principal da trama?
A estrutura do romance deles é a de um namoro hetero de novela. Eles se conhecem, brigam sempre no final do papo. De repente, Eron faz uma fofoca para separar os dois. Niko, que cuida de duas criancinhas com todo amor, acredita que Félix está com outro, sofre. Tudo proporcionou um desfecho natural. As pessoas já viam o romance com tranquilidade.

Quando percebeu que tinha acertado?
Tive certeza absoluta de que estava no caminho certo na noite de Natal, em família. A gente faz um Natal bem classe média, com amigo secreto... E, de repente, na sala, a discussão das mulheres era Félix e Niko. A minha sobrinha Andrea disse: “Vocês têm noção de que há 4 ou 5 anos a gente não estaria discutindo isso?”. E eles não estavam falando da novela porque eu estava lá. Não conto nada da trama nem para a família.

Como define os rumos da história?
Sento e assisto à novela todas as noites, como se fosse o público. E desenvolvo um diálogo com os atores através do que vejo. Danielle Winits, por exemplo, foi hábil. Viu por onde iria brilhar e brilhou. Acho que o beijo aconteceu porque tínhamos dois astros nos papéis. Tanto que, ao procurar a mulher para fazer a Amarilys, pensei na Danielle. Ela faria bem o que chamo de “bruxa de bicha”, ela tem essa cara.

Costuma levar em consideração o que é dito na web?
Eu não me acostumei com isso. O autor não pode dar ouvido ao que falam. A internet ainda não expressa a opinião da totalidade da população brasileira. Mas dá para acompanhar a repercussão de uma cena. Durante a novela, a Amarilys estourava na internet quando aparecia. Mesmo que sejam tuítes contrários, é sinal de que a personagem pegou.

E as cobranças de que muitas das tramas de “Amor à vida” não eram verossímeis?
No Twitter, as pessoas escrevem: “Essa novela só tem maldade, e as coisas não dão certo”. Como se a TV fosse a culpada. E a literatura? Do que se trata? Da alma humana, das contradições, dos desencontros... A novela tem vilões e histórias de amor que não dão certo, como na literatura. Só o Pequeno Príncipe é bonzinho o tempo todo.

Muitos acusaram o texto da novela de ser didático em alguns momentos...
A novela se passa num hospital, e achei que tinha que trazer mensagens sociais, como a doação de órgãos. Mas não se pode confundir a novela com uma aula ou um documentário.

Por que abordar temas variados, como alcoolismo e o vírus HIV, sem aprofundar essas discussões?
Não dava para explorar todos os temas. Eu quis tocar neles, falar que existem e, talvez, causar um ponto de curiosidade.

“Amor à vida” foi esticada e terminou com 221 capítulos. Foi sofrido?
Não tenho problema com isso. Adoro escrever, seja o que for. Seja livro, um texto para teatro... E adoro escrever novela. “Caras & bocas” teve 232 capítulos. “Morde & assopra” foi a única que não foi aumentada e teve 180. O projeto inicial de “O cravo e a rosa” era de 90 capítulos e acabou com 221. Lembro que tive que criar um hotel para ter um cenário para botar mais personagens.

Como é o seu processo de criação?
Tenho uma velocidade muito grande para escrever. Sento para criar o capítulo à noite, após a exibição da novela. Escrevo em 4 horas, no máximo. Não gosto de acordar cedo. Durante o dia penso na novela. Preciso de um período de calmaria. Não faço escaleta. O meu método de trabalho é o caos. Tive agora quatro colaboradores. O capítulo vai montado, mas deixo uns buracos de cenas para eles escreverem.

É verdade que não tolera ator que altera seu texto?
Eu odeio (diz, com ênfase nesta palavra) ator que usa caco. É uma prova de que ele não é bom, que não consegue botar intenção naquilo que está escrito e precisa usar muletas, falar do seu jeito. Se um ator diz o texto sempre do jeito dele, faz tudo sempre igual.

O que faz com os atores que usam cacos?
Eu deixo de me interessar pelo personagem. Houve um caso em que parei de escrever para o ator, que virou quase um figurante.

Você matou a personagem da Marina Ruy Barbosa porque ela não cortou o cabelo?
Neste caso, não tinha o que fazer. Foi o caso de uma atriz que subverteu a trama. A personagem da Marina morreu porque não tive alternativa. Ela tinha uma doença fatal. Para se curar, teria que mostrar as consequências físicas do tratamento. Já tinha dito que ela estava perdendo cabelo em cena.

Voltaria a trabalhar com a Marina?
Não devemos dizer nunca. As pessoas mudam, se transformam. Com atores que apoiaram seus personagens em cacos, não voltei a trabalhar.

Voltando ao início de sua carreira. Como lidou quando a sua parceria com Walter Avancini, inciada em “Xica da Silva”, foi interrompida com a morte do diretor durante “A padroeira” (2001)?
Ele era meu grande parceiro. Na época de “Xica”, a gente se falava todos os dias ao telefone. Sua morte foi um choque e perdi o passo. A novela não foi um fracasso, mas deu menos audiência para a época.

Como foi a experiência de substituir Benedito Ruy Barbosa nos últimos capítulos de “Esperança”, em 2002?
Peguei a novela na sexta e tinha que escrever o capítulo de terça. Era uma trama a que eu não assistia todos os dias. Fiz do meu jeito e acho que Benedito tem uma mágoa grande.

Quais os maiores problemas que enfrentou durante “Amor à vida”?
Tive um problema nos dentes durante a novela, sentia muita dor. Tomava remédio de duas em duas horas e cheguei a dormir em cima do teclado.

Qual é a sua novela preferida?
Sou contra ter novelas ou livros preferidos. A gente é educado para ser sempre o melhor. E você começa a botar a sua vida para disputar com ela mesma. Depois de uma certa idade, você não é o mais bonito da festa, nem o mais bem vestido. Tem que aprender que não é necessário ser o melhor. Nem o melhor autor do Brasil. Cada trabalho dá uma satisfação.

Como lida com o sucesso?
Certas coisas se tornam um vício na vida. E o sucesso não pode virar isso. Aprendi olhando pessoas que entram nessa.

O que pode adiantar da sua próxima novela?
Será uma comédia de época para o horário das 18h. Da próxima vez, quero ter menos personagens para não ficar em dívida com ninguém. Eliane Giardini e José Wilker são grande atores e mereciam mais em “Amor à vida”. Não quero mais ficar em dívida. Grande atores terão papéis para seu tamanho.

Disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/walcyr-carrasco-revela-bastidores-da-negociacao-sigilosa-para-exibir-beijo-gay-de-amor-vida-11540390. Acesso em 23 mar 2014.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Parlamento de Uganda aprova lei contra uso de minissaias

O Globo
20/12/13

O Parlamento de Uganda aprovou projetos de leis controversos que foram amplamente criticados por grupos de direitos humanos. O primeiro proíbe o uso de minissaias e de materiais sexualmente sugestivos. O segundo endurece a punição contra atos homossexuais, incluindo pena de prisão perpétua para reincidentes.

A lei antipornografia pode banir materiais que mostram peitos, coxas e nádegas ou que mostrem qualquer comportamento erótico, segundo o jornal local “Monitor”. Já o projeto de lei contra a homossexualidade pune com pena de prisão quem não denunciar os gays.

O presidente Yoweri Museveni ainda tem que assinar ambas as propostas para se tornar lei. Ativistas de direitos humanos criticaram o projeto antigay, dizem que é um reflexo da intolerância e da discriminação que a comunidade homossexual enfrenta no país.

- Eu sou oficialmente ilegal - protestou o ativista gay Frank Mugisha após a votação no Parlamento nesta sexta-feira.

O projeto de lei contra atos homossexuais foi condenado por líderes mundiais quando começou a ser debatido em 2009. O presidente dos EUA, Barack Obama, classificou-o de “odioso”, e alguns países doadores têm sugerido que poderiam cortar a ajuda a Uganda caso não respeite os direitos dos gays.

Disponível em http://oglobo.globo.com/mundo/parlamento-de-uganda-aprova-lei-contra-uso-de-minissaias-11122455. Acesso em 04 mar 2014.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Cirurgia desenvolvida na Unesp devolve a ereção a quem retirou a próstata

Extra
17/10/2013

Ainda em fase experimental de estudo, uma técnica cirúrgica desenvolvida na Universidade Estadual Paulista (Unesp) já é vista como esperança de cura para impotência sexual provocada pela prostatectomia (retirada da próstata). O método, que já beneficiou dez pacientes, será apresentado no Congresso Brasileiro de Urologia, no mês que vem, e no encontro anual da American Society for Peripheral Nerve, em janeiro de 2014, no Havaí.

De inédito, a técnica — batizada de reinervação peniana por enxertos femoro-penianas — traz o emprego da chamada neurorrafia término-lateral, que permite a reativação eficaz de nervos responsáveis pela ereção. Com frequência, essas estruturas acabam sendo lesadas nas cirurgias de retirada da próstata, por passarem por trás da glândula, bem junto à membrana que a recobre.

A prostatectomia é realizada em casos de câncer ou adenoma de próstata, embora esta última raramente provoque disfunção erétil.

Segundo o urologista José Carlos Souza Trindade, professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, dos dez homens beneficiados pela nova técnica, quatro já recuperaram a ereção peniana de forma efetiva. Participaram do estudo pacientes entre 45 e 70 anos, que tinham extraído a próstata há, pelo menos, dois anos e que fracassaram no uso de outros métodos contra impotência.

— Pelos resultados, já demonstramos que a técnica funciona. Vamos pegar mais casos para ter um valor estatístico maior do sucesso dela. A operação também renova o psicológico do paciente. É como uma luz no fim do túnel.

Disponível em http://oglobo.globo.com/saude/cirurgia-desenvolvida-na-unesp-devolve-erecao-quem-retirou-prostata-10396735#ixzz2odU5PZj6. Acesso em 10 fev 2014.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Travesti Musa vira celebridade e lidera projetos sociais na Baixada

Elenilce Bottari
23/11/13

Em outubro passado, o carioca Ricardo Muniz tornou-se síndico-geral do Parque Valdariosa 2, um dos três blocos do conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, construído no bairro de mesmo nome, em Queimados, na Baixada Fluminense. Favorito de quatro candidatos, ele recebeu 385 votos. O segundo colocado teve 37. Mais do que um prêmio por sua atuação na comunidade, foi a volta por cima de um guerreiro que, desde criança, lutou contra toda a sorte de preconceito. Ricardo, de 48 anos, nasceu menino, mas hoje vive como uma mulher.

Ele é o terceiro filho de uma família de nove irmãos, quatro homens e cinco mulheres. Nascido e criado na Pavuna, aos 15 anos, começou a estudar para realizar o sonho de sua mãe, que queria vê-lo militar da Aeronáutica, onde serviu por quase dez anos até se tornar cabo. Satisfeito o sonho materno, um dia ele saiu de casa, pela manhã, trajando a farda que tanto orgulhava a mãe, mas, quando voltou, no mesmo dia, depois de pedir baixa no quartel, já era outra pessoa: Musa Pandia, com muito prazer.

— Um amigo me indicou uma moça no Centro que podia montar meu corpo no mesmo dia. Coloquei uma prótese. Quando voltei para casa, foi um choque. Minha mãe com o tempo aceitou, mas meu pai, não. Meu irmão mais velho dizia que se tivesse um irmão homossexual matava. Até hoje, ele não fala comigo — conta a travesti, que aprendeu no quartel a enfrentar animosidades e a se impor pelo respeito.

— O comandante na fila perguntava se eu era homossexual. Eu negava sempre. Dizia: “Não senhor, não senhor, não senhor” — lembra Musa, rindo e acrescentando que “ninguém acreditava mesmo”.

— Minha família sempre foi muito conservadora e tentou mudar meu jeito, mas a gente já nasce como é. E eu detestava coisas de menino. Quando ganhava roupa, eu cortava para transformar em short e colete. Apanhava, mas fazia. Meu irmão não deixava eu brincar com as bonecas das minhas irmãs. Mas eu dizia para mim mesmo que um dia iria trabalhar e ter tudo que queria.

De enfermeira a cabeleireira

Depois do flash-back, que explica em parte como é e também um pouco de seu estilo de vida, Musa mostra o apartamento de 36 metros quadrados, com 60% do espaço ocupados por bonecas, bichos de pelúcia e outros artigos femininos.

Quando deixou a Aeronáutica, ela — agora, adquiriu o direito de ser chamada como gosta — tinha a intenção de trabalhar na Itália, mas desistiu quando soube que lá poderia se perder num mundo de drogas e bebidas. O nome de guerra, Musa, veio depois que ganhou um concurso de transformista em Copacabana.
— Eu era muito nova e parecia mesmo uma menininha. Acabei ganhando — diz.

Entre os vários cursos profissionalizantes que fez, o de auxiliar de enfermagem garantiu-lhe um estágio no Hospital Salgado Filho:
— Eu estava lá quando surgiu aquela história horrorosa do enfermeiro que matava pacientes para a máfia das funerárias. Fiquei tão chocada que desisti. Então abri um salão de cabeleireiro na Pavuna, mas depois de alguns anos decidi fechar por falta de segurança.

Mais uma volta no tempo para lembrar a história do auxiliar de enfermagem Edson Isidoro Guimarães, que em 1999 foi preso acusado da morte de mais de uma centena de pacientes, durante os plantões no Salgado Filho. Musa já viu muita coisa.

Com a morte da irmã, há dois anos, ela decidiu sair da Pavuna e acabou indo parar em Queimados, no apartamento que sua tia tinha conquistado através do programa Minha Casa Minha Vida.

— Eu não conhecia ninguém e, assim que cheguei, foi complicado. As pessoas queriam me taxar, né? “Tem um veado aqui e vai esculachar o condomínio”. Passei um mês sem sair de casa. Comecei a trabalhar como cabeleireira e, aos poucos, fui ganhando a confiança da vizinhança. Quando surgiu uma vaga de porteiro, tudo mudou — recorda-se de quando virou porteira.

Piso de cerâmica e água quitada

Moradora do térreo, Musa decidiu colocar piso de cerâmica na portaria do prédio. Depois, para não ficar sem água, quitou a conta com a concessionária, que estava atrasada. Foi o bastante para, há pouco mais de um mês, ser convencida pelos vizinhos a entrar na disputa para síndico (a).
— Foi em 14 de outubro. O salão estava lotado. Eu ganhei a maioria esmagadora dos votos. Pensei “Musa, você conquistou o pessoal.”

Sem entender nada de condomínios, Musa leu dois livros para estudar suas novas funções. Em um pouco mais de um mês de trabalho, ela renegociou os débitos de R$ 53 mil de luz e R$ 18 mil de água, deixados pela administração anterior. Também construiu um abrigo para o ponto de ônibus que serve aos moradores e mudou o parque das crianças para um ponto mais seguro do condomínio.

Hoje, suas metas são segurança e saneamento. E vem lutando para impedir a venda de drogas no conjunto. Já instalou câmeras de segurança e passa o dia monitorando o movimento, através de dois monitores do circuito interno. Segundo ela, tudo no “diálogo”, mas, quando a crise é grande, admite, fala mais alto o “cabo Ricardo”.

— Não adianta ficar brigando que eles não obedecem. Eu converso uma, duas vezes. Se não funcionar, eu chamo a polícia. E vou junto para que eles saibam que fui eu que chamei, sim, porque não respeitaram o acordo.

Diferentemente de quando chegou, sem ter coragem para sair de casa, hoje, por onde passa, Musa é saudada pelos moradores e pelas crianças. Tem sempre um gaiato cantando o sucesso do MC Bola: “Ela não anda, ela desfila. Ela é top, capa de revista. É a mais-mais, ela arrasa no look. Tira foto no espelho pra postar no Facebook...”
— É sempre assim — conta a moradora Cláudia Cristina da Hora, uma das muitas fãs de Musa.

Segundo ela, a síndica já chegou trazendo benefícios para os moradores:
— A gente quer que os outros prédios tenham um piso como o que ela instalou no edifício dela, sem nem ser síndica. Aliás, ainda antes de ser síndica, o prédio dela era o único que tinha água. Por atraso do condomínio, os outros prédios estavam com a água cortada.

A maior queixa dos moradores é com o esgotamento sanitário:
— O problema é que a manilha só vem até a entrada do condomínio, e os canos internos são insuficientes e não dão vazão. Todo dia, tem entupimento, e a água volta para os apartamentos do primeiro piso. Já reclamamos com a Odebrecht, que diz já ter acabado o contrato e que a gente tem que pagar para trocar o encanamento. Mas muitos moradores aqui não têm como pagar — explica Musa, que vem buscando parcerias para melhorar a vida dos moradores.

— Nós conseguimos um ônibus do Sesc que vai trazer para cá cursos profissionalizantes. Precisamos também de lazer para os jovens. É preciso ocupá-los. Se eles continuarem sem nada para fazer, não vai dar certo, não teremos como controlar o uso de drogas — observa, com a autoridade que a experiência de vida lhe deu.

Entre os parceiros, está agora o Projeto Valdariosa, da Caixa Econômica Federal, que pretende fazer um estudo sobre o conjunto habitacional e seu entorno para produzir um plano de desenvolvimento local. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos moradores de unidades construídas pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. Com apoio da prefeitura de Queimados, o projeto é executado por meio de uma parceria entre o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Metrópole Projetos Urbanos (MPU).

— O objetivo é implantar ações capazes de garantir sua sustentabilidade e governabilidade e estabelecer a reaplicabilidade em outros conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida. O projeto é participativo no sentido de encontrar soluções de baixo para cima. Assim, a população e os síndicos são os protagonistas do processo — explicou o sociólogo Paulo Magalhães, do Iets, coordenador do projeto de desenvolvimento sustentável do conjunto Valdariosa. Segundo ele, o trabalho vem sendo desenvolvido de forma compartilhada e está focado em ações de trabalho, renda e governança.

Coração solitário

Construído em 2010, o conjunto fica no bairro Parque Valdariosa, em Queimados, e tem 1.500 apartamentos, divididos em três blocos: cada um conta com 25 edifícios de cinco andares. Desde outubro, a equipe do Projeto Valdariosa entrevista moradores, lideranças comunitárias e gestores locais e reúne dados estatísticos. As informações vão gerar um Diagnóstico Participativo, com perfil dos residentes e um panorama do conjunto e do bairro.

— O diagnóstico é o primeiro passo para a construção de um Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável e uma agenda local — explica Magalhães.

Para Musa, a integração entre o conjunto e o entorno é fundamental para garantir a qualidade de vida e a segurança dos moradores:
— Outra reforma que estamos providenciando é a do muro. Não adianta fechar a murada que os moradores derrubam, porque não tem passagem para eles atravessarem para o outro lado da Dutra. Então, depois de uma conversa com eles, decidimos colocar portões dos dois lados, para a Dutra e para ir à padaria. Eu vou dar uma chave para cada condômino.

— O que faz a Musa fazer tanto sucesso aqui é o fato de ela respeitar os moradores. Por isso, todos respeitam ela — arrisca outro morador.

Com tantas missões a cumprir, a vida afetiva de Musa ficou de lado.
— Não tenho namorado e nem tempo para namorar. Nunca saí com ninguém do condomínio. Isso porque aprendi no quartel a nunca misturar as coisas. É a regra — prega.

O que restou da época de shows ficou na parede da sala do apartamento de Musa, que tem uma decoração psicodélica, cheia de luzes e cores.
— É o meu canto. Adoro minhas bonecas.


Disponível em http://oglobo.globo.com/rio/travesti-musa-vira-celebridade-lidera-projetos-sociais-na-baixada-10866074#ixzz2lZ9c5Wa2. Acesso em 29 dez 2013.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nova orientação para psicólogos prega que adolescência agora vai até os 25 anos

O Globo
24/09/13

Uma nova orientação para psicólogos americanos prega que a adolescência agora vai até os 25 anos, e não apenas até os 18 anos como estava previsto.

- A ideia de que de repente, aos 18 anos, a pessoa já é adulta não é bem verdade - disse à BBC a psicóloga infantil Laverne Antrobus, que trabalha na Clínica Tavistock, em Londres. - Minha experiência com jovens é de que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.

A mudança serve para ajudar a garantir que quando os jovens atingem a idade de 18 anos não caiam nas lacunas no sistema de saúde e educação - nem criança, nem adulto - e acompanha os acontecimentos em nossa compreensão de maturidade emocional, desenvolvimento hormonal e atividade cerebral.

Há três estágios da adolescência: dos 12 aos 14, dos 15 aos 17 e dos 18 em diante. A neurociência tem mostrado que o desenvolvimento cognitivo de uma pessoa jovem continua em um estágio mais tardio e que, sua maturidade emocional, a autoimagem e o julgamento são afetados até que o córtex pré-frontal seja totalmente desenvolvido.

O professor de sociologia Frank Furedi, da Universidade de Kent, defende que já há um grande número de jovens infantilizados e que a medida só vai fazer com que homens e mulheres fiquem ainda mais tempo na casa dos pais.

- Frequentemente se apontam as razões econômicas para este fenômeno, mas não é bem por causa disso - diz . - Houve uma perda da aspiração por independência. Quando eu fui para a universidade, se fosse visto com meus pais decretaria minha morte social. Agora parece que esta é a regra.

Furedi acredita que esta cultura da infantilização intensificou o sentimento de dependência passiva, que pode levar a dificuldades na condução dos relacionamentos maduros. E não acredita que o mundo virou um lugar mais difícil para se viver.

- Acho que o mundo não ficou mais cruel, nós seguramos nossas crianças por muito tempo. Com 11, 12, 13 anos não deixamos que saiam sozinhos. Com 14, 15, os isolamos da experiência da vida real. Tratamos os estudantes universitários da mesma maneira que tratamos alunos da escola, então eu acho que é esse tipo de efeito cumulativo de infantilização que é responsável por isso.

Disponível em http://oglobo.globo.com/saude/nova-orientacao-para-psicologos-prega-que-adolescencia-agora-vai-ate-os-25-anos-10127417. Acesso em 27 set 2013.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Empresa dá crachá em branco para transexual

Maíra Amorim
Publicado:17/12/12

Na segunda-feira passada, a física Roberta Nunes deu um passo importante no que imagina que poderá facilitar sua inserção no mercado de trabalho: fez a cirurgia de mudança de sexo. Com especialização em engenharia, Roberta já trabalhou em duas grandes empresas de telecomunicações. Mas não obteve o direito de usar seu nome social, o feminino, no trabalho, o que levanta uma questão: a iniciativa privada lida bem com a questão da diversidade sexual no trabalho?

A última empresa que a contratou, a Claro, inicialmente aceitou que em seu crachá constasse Roberta Nunes e não seu nome de nascença. Mas o RH acabou voltando atrás e pediu que o nome feminino ficasse abreviado, com o masculino aparecendo abaixo. Como a transexual não aceitou, a solução foi dar a ela um crachá em branco, usado por consultores e visitantes.

Empresa diz que respeita diversidade

— Fiquei três anos usando o crachá em branco. Inicialmente eu tentei brigar, mas depois desisti, pois era o meu ganha-pão e eu precisava do dinheiro. Preferi evitar retaliações — contou Roberta em entrevista ao Boa Chance na sexta-feira anterior à cirurgia.

Roberta queria juntar dinheiro para pagar a operação, que custou cerca de R$ 30 mil. Depois de três anos na fila de espera do SUS, ela desistiu de aguardar, já que a previsão era de que sua vez ainda poderia demorar seis anos.
— Devo prezar pela minha qualidade de vida. Fazer a cirurgia aos 36 anos seria esperar demais — diz ela, que tem 30 anos e, desde os 20 anos, quando iniciou sua transição de gênero, planejava a mudança de sexo.

Consultada sobre o caso, a Claro divulgou nota, por meio da assessoria, em que diz: “A Claro informa que respeita a orientação de gênero de todos os seus colaboradores”. Para Roberta, faltou habilidade para tratar o tema. Problema que, segundo ela, acontece na iniciativa privada de modo geral.
— Faltam políticas para garantir a inclusão dos transexuais. No serviço público, existem mais iniciativas para proteger os direitos — diz Roberta.

É a portaria 233, de 2010, que assegura ao servidor público, na esfera da administração federal, o uso do nome social adotado por travestis e transexuais. Na inciativa privada, não há nada igual.
— Então, a transexual fica presa à boa vontade e à sensibilidade do patrão ou do RH — diz Bárbara Aires, diretora da Astra Rio (Associação das Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro).

Bárbara, que também é produtora da TV Globo, usa seu nome social no crachá. Mas sabe que é uma exceção.
— Governo e ONGs devem se juntar para fazer ações de sensibilização junto às empresas. É preciso desfazer a imagem de que lugar de transexual é só nas esquinas. Elas também podem ocupar lugar de destaque nas empresas.

Após cirurgia, volta a todo o vapor

Para Bárbara, assim como ela, Roberta ultrapassou uma barreira ao ser contratada. O nome no crachá poderia ser um segundo passo, mas Roberta não pode alcançá-lo porque foi demitida em setembro. A dispensa ocorreu quando ela mudou de equipe e deixou de dar plantões em home office. Roberta admite que o novo gerente não simpatizava com ela — tanto que não lhe passava tarefas — mas não sabe exatamente o que motivou a demissão:
— Disseram que, por quatro meses, tentaram readequar minhas funções, mas que não havia vaga no meu perfil.

No início de 2013, depois do repouso exigido pela cirurgia, Roberta dará entrada na mudança de nome e de gênero. Espera, assim, ter mais facilidade no mercado de trabalho:
— Pretendo voltar a todo vapor e buscar um cargo de nível gerencial.

Disponível em http://oglobo.globo.com/emprego/empresa-da-cracha-em-branco-para-transexual-7070699. Acesso em 19 dez 2012.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pesquisa revela que mercado ainda percebe discriminação sexual na contratação

Amanda Moura
3/08/12

Pesquisa realizada pela Trabalhando.com Brasil indica que ainda existe preconceito na hora de contratar um homossexual. Dos 400 entrevistados — homossexuais ou não —, 54% acreditam que o preconceito existe, apesar de não ser assumido; 22% dizem que a discriminação depende do tipo de área e vaga desejada e apenas 3% pensam que esse problema não existe mais. Participaram, anonimamente, representantes de 30 empresas, de médio e grande portes.

— Noto que profissionais homossexuais são, sim, contratados. Porém, dificilmente alcançam cargos de diretoria. Em áreas e empresas onde há mais competição e, por consequência, maiores salários, essas pessoas sofrem ainda mais para alcançar um patamar elevado — afirma Eliana Dutra, coach e diretora da Pro-Fit, empresa de coaching e treinamento profissional.

Renato Grinberg, diretor geral da Trabalhando.com Brasil, defende veementemente que a orientação sexual do candidato não pode ser levada em conta no momento da entrevista, bem como outros aspectos de sua intimidade.

— Em países como os Estados Unidos, por exemplo, fazer qualquer tipo de pergunta que não seja de cunho profissional no momento da entrevista, como perguntar a idade, o estado civil e se a pessoa tem filhos, é proibido por lei. O que é de fato relevante na contratação são suas competências, não o que ele faz nas horas vagas ou com quem se relaciona — explica Grinberg. Julyana Felícia, gerente de RH da MegaMatte, ressalta que a lei federal brasileira também trata do assunto:

— A nossa legislação é clara quanto a proibição de diferença de salário, exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Apesar disso, o assunto ainda é um tabu no mundo corporativo e a contratação do homossexual pode ser influenciada pelo perfil que a empresa busca. Em algumas corporações com foco em atendimento ao público, noto maior quantidade de colaboradores homossexuais, por serem geralmente vistos como muito simpáticos e atenciosos.

O levantamento mostra também que 21% dos consultados têm notado que, com o passar dos anos, o preconceito vem diminuindo. Ylana Miller, sócia-diretora da Yluminarh e professora do Ibmec, acredita que essa regressão vem acontecendo, sim, mas lentamente.

— Ainda há muitos sistemas organizacionais onde o preconceito é velado e o discurso é bem diferente da ação. Divulgam crenças e valores não preconceituosos, mas na prática não é o que vemos, tanto em relação a orientação sexual, como a religião e ao nível socioeconômico — diz Ylana.

Este ano, pela primeira vez, todas as corporações listadas no ranking das 100 melhores empresas da Fortune possuem políticas contra a discriminação, o que inclui a orientação sexual. “Não é surpreendente para mim que os lugares que são classificados como os melhores para trabalhar sejam também os que respeitam e valorizam os seus funcionários. A evolução é claramente no sentido da igualdade no local de trabalho", disse Michael Cole-Schwartz, gerente de comunicações da “Human Rights Campaign”, uma organização que defende lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros americanos, em entrevista para à CNN Money.

Disponível em http://oglobo.globo.com/emprego/pesquisa-revela-que-mercado-ainda-percebe-discriminacao-sexual-na-contratacao-5676727. Acesso em 08 dez 2012.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pesquisa mostra que 99% dos brasileiros têm preconceito contra homossexuais

O Globo
Publicada em 07/02/2009 às 20h42m


Só 1% dos brasileiros maiores de 16 anos não têm preconceito contra homossexuais. Entre 26% e 29% - mais de um quarto da população- assumem não gostar de gays, lésbicas, travestis ou transexuais. Os demais até disfarçam, mas 99% caíram na malha fina de uma pesquisa nacional feita pelas fundações Perseu Abramo, ligada ao PT, e Rosa Luxemburgo.

O que mais chama a atenção na pesquisa é a quantidade de brasileiros que admitiu preconceito contra homossexuais

O governo federal usará o levantamento para planejar novas políticas, e alerta que já detectou um desdobramento sombrio de tanto preconceito: a intolerância. A cada três dias de 2008, foi pelo menos um crime de ódio por orientação sexual no país, segundo o programa federal Brasil Sem Homofobia. Dentro de instituições públicas, principalmente nas polícias, a intolerância tem sido detectada. Além da violência física, o preconceito tem criado barreiras na educação e na saúde públicas.

- O que mais chama a atenção na pesquisa é a quantidade de brasileiros que admitiu preconceito contra homossexuais. Em duas pesquisas anteriores, 4% admitiram ter preconceito contra negros (2003) e também 4% contra idosos (2006) - disse o professor de sociologia da USP Gustavo Venturi, coordenador das três pesquisas.

A pesquisa sobre homofobia, que ouviu 2.014 brasileiros em 150 cidades, fez um retrato do preconceito em três dimensões: o assumido, o disfarçado e o "dos outros". Entre os preconceituosos assumidos, 16% admitiram ter forte preconceito, ao ponto de considerarem os homossexuais como "doentes", "safados" ou "sem caráter".


Disponível em <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/02/07/pesquisa-mostra-que-99-dos-brasileiros-tem-preconceito-contra-homossexuais-754312558.asp>. Acesso em 06 fev 2010.