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domingo, 4 de maio de 2014

Homens falam se teriam relação com uma transexual

Patricia Zwipp
23 de abril de 2014

Será que os homens topariam se relacionar com um transexual, que fez cirurgia de readequação sexual (conhecida popularmente como cirurgia de troca de sexo), como as modelos Roberta Close e Lea T e a ex-BBB Ariadna? Os entrevistados pelo Terra foram unânimes na resposta: “não”. No entanto, um deles até admitiu certa possibilidade. “Se descobrisse depois de me envolver e estivesse apaixonado, continuaria”, opinou o analista de projetos Roberto Costa*, de 32 anos.

Todos garantiram que preconceito não está em jogo. “Apesar de respeitar muito a opção sexual dos outros, não conseguiria me relacionar com transexual. Apesar de operada, a pessoa para mim continuaria sendo um homem”, comentou o publicitário Caio Sanches*, 41 anos. “Não seria igual a uma mulher de verdade. Não tenho nada contra transexuais, mas não me relacionaria”, explicou o contador Douglas Arruda*, 25 anos. “Não é preconceito, mas não é o natural, homens devem ficar com mulheres e mulheres com homens, não tem meio termo”, acrescentou o aposentado Mário Santos*, de 69 anos.  

Quando o assunto é se envolver primeiro e descobrir a mudança de sexo depois, a maioria disse que se separaria, alegando que essa situação deve ser esclarecida antes do envolvimento amoroso. “Eu me separaria não só pelo fato de ser transexual, mas sim porque uma questão como essa não pode ser omitida e me sentiria enganado”, garantiu o engenheiro Claudio Souza*, de 35 anos.

Não saber da readequação sexual realmente incomoda os entrevistados. Todos se sentiriam constrangidos ou desconfortáveis caso alguém descobrisse que já ficaram com uma pessoa que mudou de sexo, sem que soubessem da condição. “Ficaria incomodado, pois não seria algo que aconteceu com o meu consentimento”, declarou Claudio. O contador Douglas, apesar de não gostar dessa situação, declarou que não tentaria desmenti-la e “falaria que peguei mesmo” para acabar logo com o assunto.

Será que é possível identificar uma transexual operada? Essa questão dividiu a opinião dos participantes. Claudio e Roberto acham que não notariam a diferença, enquanto Douglas e Mário acreditam que poderiam diferenciar. Já Caio não tem tanta certeza: “Acho que, na maioria dos casos, identificaria. Mas, com o avanço da medicina, não descarto a hipótese de passar despercebido.”


Disponível em http://mulher.terra.com.br/vida-a-dois/homens-falam-se-teriam-relacao-com-uma-transexual,bfd5fd8d05a85410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html. Acesso em 02 mai 2014.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Assexuais vivem bem sem sexo, mas podem ter um relacionamento

Yannik D´Elboux
14/04/2014

Para uma pequena parcela da população, o sexo é uma prática completamente sem sentido. As pessoas chamadas assexuais, apesar de não terem nenhuma anormalidade, não sentem interesse em fazer sexo.

Como o conceito de assexualidade ainda é recente, muitos nunca ouviram falar desse termo e com frequência julgam a indiferença ao sexo como problema. "Sou normal, não tenho traumas nem doenças que me impeçam de fazer sexo, simplesmente não sinto vontade", explica Claudia Mayumi Kawabata, 33 anos, que trabalha como orçamentista em uma gráfica em São Paulo (SP).

Assim como outras pessoas na mesma situação, Claudia percebia que não era igual a maioria, porém não sabia a razão. "Sempre me achei diferente, pois, além de não sentir atração sexual, também não sinto atração estética", conta.

Ela só foi descobrir o que significava assexualidade em 2011, o que lhe deu liberdade para se aceitar. Desde 2013, Claudia é uma das moderadoras da comunidade A2 na internet, grupo que reúne mais de 700 usuários e busca divulgar a existência da assexualidade, além de promover a troca de experiências sobre o assunto.

Ainda não se tem ideia da quantidade existente de pessoas assexuais. "Por ser uma sexualidade praticamente desconhecida, não temos números confiáveis, nem no Brasil nem no mundo", afirma a pedagoga e pesquisadora Elisabete Regina Baptista de Oliveira, que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre assexualidade pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). "A única pista que temos é de que 1% da população não tem interesse por sexo", acrescenta.

Segundo Elisabete, esse número provém de dois estudos realizados nas décadas de 1940/1950 e 1990 nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, porém não representa um bom retrato da realidade, já que muitas pessoas que poderiam se identificar como assexuais não conhecem esse conceito.

Sem desejo

A ginecologista e sexóloga Sylvia Maria Oliveira Cunha Cavalcanti, presidente da comissão de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma que a assexualidade costuma ser bastante rara. "Não é uma coisa muito comum porque o ser humano é o mais sensualizado de todos os animais. O sexo para nós não se restringe à reprodução, é uma forma de comunicação, de expressar os sentimentos".

Para a médica, o desinteresse sexual pode surgir por diversos motivos, desde aspectos biológicos, como alterações hormonais, até psicossociais, como uma educação repressora, decepção com o parceiro, experiências negativas, entre outros. Porém, para alguns não há uma causa. "Existem pessoas que realmente não se interessam, o sexo é algo absolutamente sem nenhum valor para elas", diz Sylvia.

A ausência de desejo pode significar um problema, sobretudo naqueles que antes possuíam ímpeto sexual. Nos assexuais, segundo Elisabete Oliveira, o desinteresse é uma característica permanente ao longo da vida desde a puberdade. "Trata-se de perspectiva: a falta de desejo pode ser vista como um transtorno ou como mais uma cor no arco-íris da diversidade sexual", analisa a pesquisadora.

Para a ginecologista e sexóloga, o desinteresse nos assexuais não precisa de tratamento se não estiver causando nenhum incômodo ou estresse. "Se não é um problema para a pessoa, se ela estiver satisfeita assim, não há o que fazer, não tem o que ser tratado. Não ter vontade também é um direito da pessoa", diz Sylvia Maria.

Românticos e arromânticos

Apesar de não sentirem atração sexual, os assexuais podem ou não ter interesse no relacionamento amoroso. Aqueles que desejam parceria amorosa costumam ser chamados de românticos e os que não se interessam por esse envolvimento de arromânticos.

"Não foi a falta de interesse por sexo a minha principal fonte de questionamentos na adolescência, mas, sim, a minha falta de interesse amoroso", conta Saulo Albert, 20 anos, estudante de Direito, de Vitória da Conquista (BA), que se identifica como assexual arromântico.

Saulo, também um dos moderadores da comunidade A2, diz que nunca teve vontade de namorar ou se relacionar sexualmente. Esse comportamento geralmente não é bem visto em um mundo no qual o amor e o sexo estão por toda parte, das músicas às novelas. "Passamos a aceitar que a vida com um parceiro amoroso é a grande fórmula da felicidade", critica Saulo.

O estudante baiano acredita que, assim como as pessoas, os caminhos para a felicidade também são diferentes. "Eu me sinto amado e acolhido pelas pessoas ao meu redor, por isso o amor [romântico] não é um sentimento que me faz falta. Isso, para mim, é mais do que suficiente", declara.

Mesmo sem vontade, alguns assexuais acabam tendo relações sexuais quando namoram para poder satisfazer o parceiro. Foi o caso de Claudia Mayumi, assexual romântica, que já morou com um namorado por dois anos e tem uma filha de 13 anos. "Antes de saber que era 'assex', tentei ter uma vida sexual ativa, mas isso me deixava mal. Depois de cada relação sexual entrava em conflito comigo mesma, pois tinha de fingir para agradar a outra pessoa", revela.

Para Claudia, a vida flui melhor quando ela está só. "Sou feliz sem sexo. Quando estou sozinha, me sinto completa; quando estou em algum relacionamento, eu me sinto frustrada e vazia", constata.

Não sonhar com o casamento não significa viver de forma isolada ou preferir a solidão. "Os assexuais dão muita importância aos seus relacionamentos em família e com os amigos, diferentemente de pessoas não assexuais que priorizam seus relacionamentos amorosos acima de todas as coisas", diz a pesquisadora Elisabete Oliveira.


Disponível em http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2014/04/14/assexuais-vivem-bem-sem-sexo-mas-podem-ter-um-relacionamento.htm. Acesso em 14 abr 2014.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Cavalheirismo gera falsas expectativas em relacionamentos

Mente Cérebro
março de 2014

O homem pagar sozinho a conta do restaurante depois de um jantar romântico, ajudar a mulher a carregar as compras ou abrir a porta do carro para que ela entre são atitudes consideradas exemplos de cavalheirismo. Mais precisamente chamado de sexismo benevolente por estudiosos das relações de gênero, esse comportamento é sustentado pela crença patriarcal de que a mulher é mais frágil e menos capaz. Por isso deve ser protegida, ajudada ou, como uma espécie de compensação, privilegiada com pequenas delicadezas.

Valorizadas em culturas sexistas, atitudes cavalheirescas costumam ser interpretadas não como opressão, mas como gentileza e até mesmo sinal de interesse e afeto pela mulher. Um artigo publicado no European Journal of Social Psychology, no entanto, esclarece que esse comportamento, na verdade, prejudica a relação saudável entre os gêneros. Se por um lado o sexismo benevolente favorece as primeiras aproximações, por outro aumenta as chances de frustração no relacionamento, afirmam os autores, psicólogos da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, que analisaram a percepção de 2.700 mulheres sobre cavalheirismo.

Eles observaram que aquelas que se sentiam mais lisonjeadas pelas deferências masculinas se mostraram mais insatisfeitas com o comportamento do parceiro em situações de conflito um ano depois, quando foram novamente entrevistadas. “Expectativas sobre como cada gênero deve se comportar são contrariadas pela realidade da vida a dois. É como se os problemas que invariavelmente surgem com a convivência não condissessem com o ideal do que é ser amada”, diz um dos autores, Matthew Hammond.

Outra pesquisa, da Universidade Estadual da Califórnia, analisou a percepção de ambos os sexos sobre o costume de o homem assumir as despesas no primeiro encontro. Cerca de 17 mil adultos jovens heterossexuais responderam a um questionário on-line elaborado pela psicóloga Janet Lever. De acordo com ela, 64% dos homens afirmaram esperar que sua parceira dividisse a conta, enquanto 44% das mulheres confessaram sentir-se incomodadas em pagar sua parte. A maioria dos entrevistados concordou que esse tipo de situação gerava constrangimento. Segundo Janet, a melhor estratégia nesse caso – como em tantas outras questões que surgem no relacionamento, frisa – é conversar sobre o assunto francamente.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/cavalheirismo_gera_falsas_expectativas_em_relacionamentos.html. Acesso em 15 mar 2014.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Machismo: pesquisa mostra que brasileiros ainda querem uma 'Amélia'

Danielle Barg
06 de Dezembro de 2013

O machismo no Brasil é um tema que volta e meia está no topo das discussões: quando se pensa que avançamos neste aspecto, logo aparece alguma novidade para provar o contrário. E enquanto muita gente pensa que alguns conceitos ficaram lá no século passado, uma pesquisa vem trazendo dados preocupantes dentro deste cenário.

O instituto Avon apresentou esta semana os resultados do estudo Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher. O tema machismo foi abordado em diversas questões, uma vez que o comportamento representa um tipo de violência.

Ficou comprovado que muitos deles ainda esperam da mulher o papel de Amélia: servil e pouco ousada. Entre os destaques, estão dados como: 85% dos homens consideram inaceitável que a mulher fique bêbada; 69% não querem que a mulher saia com amigos (as) sem o marido e 46% não gostam que mulheres usem roupas justas e decotadas.

Quando o assunto são as tarefas domésticas, 43% acham que quem deve cuidar da casa é a mulher, enquanto que 89% dos entrevistados consideram inaceitável que a mulher não mantenha a casa em ordem. No campo da sexualidade, 47% deles concordam que o homem precisa mais de sexo do que a mulher.

O Terra conversou com alguns homens para confrontar os dados do estudo.

Álcool, roupas e liberdade

Sair com as amigas, para muitas mulheres, é sinônimo de liberdade e de algumas horas de descontração – longe das obrigações envolvendo trabalho, filhos e casa. Embora alguns homens tenham dificuldade em admitir, o ciúme e o instinto de ‘propriedade’ está presente em muitos relacionamentos.

O gestor ambiental Marcos Flavio, 28, discorda. “Dentro de uma razoabilidade moral, não sendo ridículo, nem expondo a intimidade, creio que uma roupa decotada, combinando, seja sim bonito”, analisa.

Já quando o assunto é o álcool, rejeitado por 85% dos homens da pesquisa, as opiniões são divergentes. Diego Rodrigues, 28, executivo, acredita que é aceitável uma mulher ficar bêbada, mas com uma ressalva. “Desde que não seja uma coisa frequente, ou em situações em que não convém.”

O gestor operacional Robson Leandro da Silva discorda. “E daí que a mulher ficou bêbada? Se fosse o contrário (mulheres achando inaceitável homens bêbados) diriam que é frescura”.

Síndrome de Amélia

O estigma da Amélia, 'que era mulher de verdade’, vem sendo rejeitado ao longo dos anos por muitas mulheres, que hoje em dia têm enorme representatividade no mercado de trabalho. Os homens mais abertos à esta mudança de padrão aceitaram a virada, porém, como comprova a pesquisa, existem muitos que ainda preferem se acomodar no papel de marido provedor – que simplesmente é servido e não assume papéis na vida doméstica.

Com relação ao número de 43% que acham que quem deve cuidar da casa é a mulher, Diego acredita o dado pode estar relacionado às habilidades femininas. "Acho que mulher tem mais bom gosto para cuidar da casa no que diz respeito a móveis, louças, organização.”

Para Matheus, o segredo é o equilíbrio. “Os casais atuais dividem as tarefas e compartilham as coisas boas e ruins de cuidar da casa”, afirma, embora também acredite que “as mulheres são muito mais preocupadas com isso que os homens.”

Robson é contra o número da pesquisa. “Essa divisão não deve existir. Se você divide a casa com alguém, deve dividir as tarefas. A menos que um dos dois tenha por hobby, por exemplo, cozinhar. O que não acredito que aconteça com a questão da limpeza. Felizmente, as mulheres trabalham hoje e não devem assumir as funções de doméstica”, observa.

Sexo

Os hormônios masculinos geralmente são os ‘culpados’ pela aparente maior necessidade de sexo deles. E pelo visto eles concordam, já que 47% pensam desta forma, segundo a pesquisa.

C.R.S., 33, contato comercial, que prefere não se identificar, a informação procede. “O homem é mais sexual do que a mulher. Os homens admitem e as mulheres mais convencionais também. Mas não é palavra, é comportamento, pelo menos sob minha visão.”
Violência doméstica

Os números da violência propriamente dita, revelados pelo estudo, também não são animadores. Entre os mais alarmantes, estão o de que 16% já foram violentos com a companheira, atual ou ex; 56% dos homens já cometerem algum tipo de agressão com a companheira, entre eles, xingamentos (53%), empurrões (19%), tapas (8%).

Além disso, 35% disseram desconhecer a lei Maria da Penha, enquanto que 48% deles não apoia a mulher a buscar a Delegacia de Mulher caso o homem a obrigue a fazer sexo sem vontade.

A pesquisa lembra ainda que a cada 4 minutos uma mulher é vítima de agressão no Brasil e até 70% delas sofrem violência ao longo da vida.


Disponível em http://mulher.terra.com.br/comportamento/machismo-pesquisa-mostra-que-brasileiros-ainda-querem-uma-amelia,77bb0eefc99b2410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html. Acesso em 15 dez 2013.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Renata Bastos: “é muito difícil homem assumir relação com travesti”

Iran Giusti
26/09/2013

Quem circula nas baladas mais disputadas da noite paulistana já se deparou com a sua figura imponente nas portas das casas noturnas. Com 1,77m – turbinados, invariavelmente, por um bom salto - a transgênero Renata Bastos exerce com rigor o poder de decidir quem entra ou não nesses lugares. Aliás, ela nem se incomoda com a fama de antipática que a profissão hostess costuma levar.

"Quando sou boa, sou ótima. Quando sou má, sou melhor ainda”, brinca Renata, usando a famosa frase da atriz Mae West para responder a pergunta sobre como lida com os clientes inconvenientes, adeptos da famosa ‘carteirada’.

Mas é preciso entender que a aspereza e a antipatia fazem parte do personagem que Renata encarna no trabalho, mas não da sua vida fora dele. A paulistana da Vila Madalena, de 31 anos, conta sua intensa história para a reportagem do iGay com fala pausada, gestos delicados e um jeito doce.

Aos 14 anos, ela decidiu que já era hora de trocar as roupas de menino pelas de menina. E, sem medo, usou peças femininas num passeio pela Avenida Paulista. Mas a percepção de que era uma garota no corpo de um garoto veio muito antes do que isso.

“Com seis anos, percebi que gostava de um menino, mas uma amiguinha me falou que era errado. Aos nove anos, me apaixonei novamente e dessa vez escrevi uma cartinha pra ele que não entreguei, mas minha mãe achou. Falei que não era minha porque ela reagiu mal”, conta Renata. “Foi só aos 13 anos, quando a minha mãe faleceu, que eu consegui me libertar e me assumir”, acrescenta a hostess, com franqueza.

O medo da minha família não era eu ser uma travesti, era a marginalização do mundo, a prostituição, a violência

Mesmo tendo crescido numa família com tios de cabeça aberta e envolvidos no universo da moda, Renata enfrentou preconceito dentro de casa por se travestir. “O medo da minha família não era eu ser uma travesti, era a marginalização do mundo, a prostituição, a violência”, explica ela.

A situação mudou quando ela começou a se envolver com o universo da moda, trabalhando como modelo, aos 15 anos. “Os jornalistas André Fischer e Erika Palomino me chamaram para trabalhos, me mostraram que a estética andrógina era uma boa para mim. Com bons amigos, meu pai ficou mais tranquilo, entendeu que eu era uma mulher, ele me viu como Renata”.

É uma situação louca. Porque o mesmo menino que me chamava de veado na escola, pedia para ficar comigo a noite, queria sexo oral

Me chama de veado, mas quer sair comigo

Hoje, a aceitação na família é melhor e a relação com o pai é de amizade e cumplicidade. Mas no terreno do amor, Renata ainda não se acertou. “É muito difícil um homem assumir uma relação com uma travesti. Eles têm dificuldade de entender a questão do andrógeno. Eu até fiquei mais feminina por conta disso. Porque muitos me falavam: ‘ela é Renata e não tem peito?’”, avalia a paulistana, que tem planos de implantar silicone nos seios, mas não de fazer a cirurgia de mudança de sexo, pelo menos por enquanto.

Renata enfrenta essa relação complicada com os homens desde a adolescência. “É uma situação louca. Porque o mesmo menino que me chamava de veado na escola, pedia para ficar comigo a noite, queria sexo oral”, relata a hostess, que confessa o desejo de formar uma família. “Quero ter casa, filho, cachorro e fazer churrasco no fim de semana. E com isso, acabo forçando a barra em algumas relações, o que me coloca em situações não tão legais”.

Segundo Renata, muitos homens só percebem que ela é transgênero na hora de ir para cama. “Fui para casa com um cara que conheci em uma festa de hip-hop, mas quando ele mexeu na minha calcinha, e percebeu que eu era travesti, saiu logo pegando o celular, carteira e relógio. Ele achou que eu ia roubá-lo”, lamenta ela, questionando em seguida. “O quê vou fazer nesta situação? Me apresentar e dizer: Oi sou a Renata Bastos e sou transexual?”.

Curiosamente, Renata diz que é muito assediada por lésbicas. “Eu acho bom, é um sinal de que deu tudo certo, que estou feminina. Elas sabem que eu sou travesti, mas tem essa curiosidade. É como o Ney Matogrosso , ele mexe com a libido do homem, da mulher, do gay, de todo mundo”, brinca a hostess, dizendo ainda que não se incomoda com os gracejos, pelo contrário. “No dia em que eu passar na obra e não receber uma cantada, eu vou ficar chateada”.

Meu papel de ativista é viver meu dia a dia e mostrar que é possível ser transexual e ter uma vida, uma carreira

Meu ativismo é existir

Além do trabalhar como hostess e modelo, Renata ainda atua com produção moda e, esporadicamente, como atriz. Ela já participou de filmes como “Carandiru” (2003) e “Crime Delicado” (2005).

Diante de todas as atividades, será que sobra espaço para o ativismo no movimento LGBT? Renata responde a pergunta mais uma vez de forma franca: “Meu papel de ativista é viver meu dia a dia e mostrar que é possível ser transexual e ter uma vida, uma carreira”.


Disponível em http://igay.ig.com.br/2013-09-26/renata-bastos-e-muito-dificil-homem-assumir-relacao-com-travesti.html. Acesso em 14 out 2013.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ecce homo

Jorge Forbes

"Não se fazem mais homens como antigamente”, reclama a velha senhora na soleira de sua porta, ao ver chegar o amigo da sua neta, encostando o carro. Arrumado demais, combinado demais, manso demais, indeciso demais, enfim – ela não quer confessar, mas caraminhola baixinho – o moço lhe parece feminino demais.

A velha senhora tem alguma razão em observar que os homens, hoje, não são feitos da mesma maneira da qual ela estava habituada. Intuitivamente, ela nota – mesmo que não aceite – que a identidade humana é maleável, que muda conforme o tempo, abraçando o relevo da paisagem de sua época.

Estamos assistindo a uma mudança de um período no qual o laço social que era vertical, gerando estruturas piramidais – o que provocava o estabelecimento de relações hierárquicas e padronizadas – passa a uma nova situação, na qual as relações humanas são horizontais e múltiplas, em tudo, muito diferentes dos modelos estáveis anteriores. No que toca à identidade masculina, ela passou de uma inflexibilidade poderosa, coerente com a verticalidade disciplinar do mundo de ontem, para uma participação interativa flexível, exigência do tempo presente. Traduzindo em miúdos: um homem era visto, caricaturado e admirado como alguém forte e firme em suas decisões – sem frescuras, sem dúvidas, sem titubeios – inflexível em sua vontade pétrea, como se elogiava barrocamente. Agora, nesses novos tempos, mais importante que dar ordens é convencer e seduzir; melhor que ser sempre igual, é mostrar-se criativo, respondendo diferentemente, conforme o aspecto de cada situação.

Para as novas exigências, a carapaça do típico macho envelheceu, se despregou do seu corpo, caiu, e ele se vê tão perdido quanto cobra trocando de pele, ou siri que ficou nu e tem medo de ser catado. Reage atordoado procurando novas formas de ser e aparecer que lhe devolvam a segurança perdida; hipertrofia os traços machistas em academias fabricantes de abdomens tanquinhos, ao mesmo tempo em que vai perdendo a vergonha de confessar seu interesse no melhor creme, na cirurgia plástica, na mais atraente e chocante combinação de roupa.

Para as novas exigências, a carapaça do típico macho envelheceu, se despregou do seu corpo, caiu, e ele se vê tão perdido quanto cobra trocando de pele 

Pobres homens, a pós-modernidade não lhes é em nada tranquila. Enquanto as mulheres nadam de braçadas, pois o detalhe, a singularidade, o inusitado – características próprias à horizontalidade despadronizada – são a sua praia, os homens sofrem, se angustiam, por se verem sem a bússola do dever bem definido que lhes orientava tão corretamente e, tanto quanto aquela velha senhora, também desconfiam de sua própria sexualidade. Buscam os mais diversos consolos, alguns bem engraçados e paradoxais, como os grupos do Bolinha: confrarias das mais diversas, mais comuns as de vinho e as de comida, que, sob o manto disfarçador do refinamento do gosto, escondem a mais básica vontade de perguntarem uns para os outros como cada qual está se virando diante dessa verdadeira revolução. Isso, quando não contratam treinamentos supostamente disciplinadores e eficientes de tropas de elite, que tentam loucamente instalar em suas empresas, onde gostam de se travestir em generais incontestados, fazendo que os funcionários incomodados “peçam para sair”, tal como aprenderam naquele filme de sucesso.

Pouco a pouco, ficará claro para a maioria que a masculinidade não se baseia em nenhum grupo de iguais – sejam eles confrarias ou exércitos –, mas, tudo ao contrário, na possibilidade de suportar a expectativa da diferença, aquela representada pelo enigma de uma mulher frente a um homem. De nada vai lhe adiantar querer calá-la – ou calá-lo, o enigma – com alguma resposta pronta do gênero de bolsas ou perfumes de marcas supostamente exclusivas – mas em algo tão singelo, quão difícil: sabendo fazê-la rir, sonhar, se surpreender. Ecce Homo.

Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/62/artigo209144-1.asp. Acesso em 25 ago 2013.

domingo, 21 de julho de 2013

TJ-RS reconhece direito a bens em união homoafetiva

Jomar Martins
9 de abril de 2012

Se há prova robusta de que o relacionamento entre duas mulheres era visto como união estável, nos moldes do artigo 1.723 do Código Civil, e que ambas concorreram para a formação do patrimônio, não há por que negar a uma delas o direito sucessório, em caso de morte da companheira. Com este entendimento, a 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento à apelação de uma mulher em litígio com a mãe da companheira que morreu. A segunda instância reformou a sentença que não reconheceu a união estável. A primeira instância entendeu que a relação era apenas de ‘‘parceria civil’’ — o que não geraria direito aos bens deixados de herança.

Respaldados pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Adin nº 4.277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, em 5 de maio de 2011, os desembargadores foram unânimes em declarar a existência de união estável homoafetiva entre ambas, com os respectivos desdobramentos legais. Para as regras que tutelam o direito sucessório entre companheiros, foi aplicado o artigo 1.790, inciso III, do Código de Processo Civil. A decisão é do dia 22 de março.

O caso é originário da Comarca de Porto Alegre e tramita sob segredo de justiça. Conforme o acórdão, L.S.C. e R. de. O. viveram juntas entre julho de 1983 e fevereiro de 2008, quando a segunda morreu. A primeira teve de ir à Justiça na Justiça para pedir os direitos de sucessão sobre o imóvel em que habitava conjuntamente com ela. A ação pedia reconhecimento e dissolução de união estável, cumulada com petição de herança, movida contra o espólio de R. de O., representada pela mãe.

O juiz de Direito Marco Aurélio Martins Xavier, ao proferir a sentença, entendeu que relação era de parceria civil. Em consequência, declarou como propriedade de L.S.C. a fração ideal de 50% do imóvel que lhes servia de moradia. Para ele, a partilha deve respeitar esta proporção, inclusive no que toca às duas construções efetivadas sobre o terreno.

Inconformada com a decisão, L.S.C. interpôs Apelação no Tribunal de Justiça. Afirmou que a legislação não proíbe a união homoafetiva e que cabe ao julgador, diante da lacuna da lei, fixar os efeitos jurídicos decorrentes. Alegou que a sentença feriu o artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, que dispõe sobre o princípio da dignidade humana. Mencionou também o artigo 226, parágrafo 3º, da Carta Magna, que reconhece a união estável entre homem e mulher como entidade familiar. Disse que tal artigo deve ser aplicado às uniões homoafetivas constituídas com o intuito de família, pois o Direito tem de acompanhar a evolução da própria sociedade.

Por fim, garantiu ter sido plenamente demonstrado que a união havida com R. de O. foi pública, contínua, duradoura e com o intuito de constituir família, somente cessando em razão da morte. A procuradora de Justiça com assento na 8ª; Câmara Cível, Noara Bernardy Lisboa, opinou pelo provimento da ação.

O desembargador Ricardo Moreira Lins Pastl, que relatou a matéria no colegiado, acatou a apelação. Registrou que o Pleno do STF, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, reconheceu a proteção jurídica da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Com a decisão, o artigo 1.723 do Código Civil passou a ser interpretado conforme a mudança constitucional. Logo, foi excluído do dispositivo legal qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. Em suma, este reconhecimento deve ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva.

Segundo o relator, a decisão do STF superou a compreensão da sentença, de que era juridicamente impossível a união estável entre duas pessoas do mesmo sexo, tese que ainda vigorava na corte. ‘‘Deste modo, e considerando que, na espécie, o conjunto probatório constante dos autos é robusto no sentido da presença dos elementos caracterizadores de um relacionamento estável, nos moldes do artigo 1.723 do Código Civil (...), não há dúvida de que deve ser emprestado à aludida relação tratamento equivalente ao que a lei confere à união estável havida entre homem e mulher, inclusive no que se refere aos direitos sucessórios’’, destacou.

Ao finalizar o voto, o relator, citando o parecer da procuradora de Justiça, disse que a questão sucessória entre companheiros deve considerar o aplicado no artigo 1.790, inciso III, do Código de Processo Civil.

Os desembargadores Rui Portanova (presidente do colegiado) e Luiz Felipe Brasil Santos votaram no mesmo sentido do relator.

Acórdão: http://s.conjur.com.br/dl/acordao-tj-rs-reconhece-uniao-estavel.pdf


Disponível em http://www.conjur.com.br/2012-abr-09/tj-rs-reconhece-direitos-sucessorios-uniao-estavel-duas-mulheres. Acesso em 09 jul 2013.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Depois de anos, britânica descobre que seu namorado, na verdade, é mulher

Virgula
4 de Outubro de 2011

Parece confuso, e na verdade é, mas Nicole Lindsay descobriu que seu namorado, com quem esteve junto por anos, na verdade é uma mulher! Ela sonhava em casar e ter filhos com o homem, mas na realidade ele é Samantha Brooks, uma lésbica acusada de crimes sexuais.

A história dos dois, ou melhor, das duas, começou em 2001, quando Nicole tinha apenas 14 anos. Elas se conheceram pela internet e mantiveram um relacionamento à distância até 2006, quando se encontraram pela primeira vez e começaram a namorar, mas se viam apenas aos finais de semana.

O relacionamento durou até 2007, quando Samantha, que até então era Lee, mandou uma carta avisando à namorada que estava na prisão por ter batido num pedófilo. Porém, a verdadeira história já era outra: estava presa sob acusação de crimes sexuais contra uma menina de 14 anos.

Depois que foi solta, em 2010 Samantha entrou em contato novamente com Nicole e elas voltaram a se relacionar, apesar de Nicole e sua família acharem estranho o fato de seu namorado não ter barba ou pomo de Adão.

Outro fator que a intrigava, mas não incomodava, é que o homem não se sentia confortável em ficar nu na frente da amada, pois afirmava sofrer de câncer nos testículos. Samantha também usava bandagens em volta do peito e afirmava que isso era para esconder marcas deixadas por um parceiro anterior.

A verdade só veio à tona em setembro deste ano, quando Samantha foi presa novamente, em Londres, e Nicole foi chamada à delegacia para depor.

Nicole, que afirma ter feito sexo com “o parceiro” por anos, diz saber que ele estava escondendo algo. Segundo relatos, durante as relações sexuais, a falsa homem usava um porta-rolo de papel higiênico de madeira como pênis.

Para deixar a história ainda mais bizarra, Nicole é mãe de duas crianças, mas, obviamente, não são filhas de Lee, ou melhor, Samantha.


Disponível em http://virgula.uol.com.br/inacreditavel/depois-de-anos-britanica-descobre-que-seu-namorado-na-verdade-e-mulher. Acesso em 09 jul 2013.

sábado, 13 de julho de 2013

Módulos de amor especializados

Mente Cérebro

Os neurocientistas Andreas Bartels e Semir Zeki, da University College de Londres, pediram a milhares de estudantes ingleses que se manifestassem caso se sentissem “verdadeira, enlouquecida e profundamente” apaixonados. Resultado: receberam cerca de 70 respostas, sendo três quartos delas de mulheres. Pediram então aos colaboradores que apresentassem uma breve descrição do relacionamento que viviam, fizeram em seguida entrevistas e, finalmente, selecionaram 11 voluntárias e 6 voluntários de várias culturas e etnias, de 11 nacionalidades diferentes.

Surpreendentemente, nenhum dos participantes acabara de se apaixonar, todos estavam em uma relação mais longa, de dois anos em média – e extremamente satisfatória. Mas a seleção tinha funcionado: ao responderem a um questionário psicológico do amor já aplicado a centenas de apaixonados, os voluntários atingiram “valores de amor” bastante altos. Para maior garantia, foi aplicado um teste psicológico suplementar que, à semelhança de um detector de mentiras, se fundamentava na medição da resistência da pele. Quase todos os voluntários suaram diante da foto do parceiro.

Os apaixonados foram submetidos à tomografia de ressonância magnética funcional, procedimento que torna visível a atividade de várias áreas cerebrais em determinado momento, com alta resolução espacial. “É verdade que o desconfortável tubo do escâner não é exatamente propício à produção de sentimentos amorosos; ainda assim, mostramos ao voluntário uma foto da pessoa amada, pedindo que relaxasse pensando nela e todos relataram, apesar das condições desfavoráveis, sentir claramente o próprio afeto”, diz Andreas Bartels.

Como medida de controle, os voluntários observaram fotos de três colegas do mesmo sexo e idade de seus parceiros, e os neurocientistas compararam a atividade cerebral nas duas situações distintas. Quatro áreas diferentes, bem pequenas, se iluminavam apenas quando os participantes pensavam carinhosamente nos parceiros. Todas elas se localizavam espelhadas nas duas metades do cérebro no sistema límbico, que controla as emoções. Não foram encontradas diferenças significativas de atividade no córtex óptico entre a reação às fotos do parceiro e às de colegas. Ao que parece, o “cérebro visual” apenas transmite a informação objetiva ao “cérebro emotivo”.

A imagem da atividade no sistema límbico, porém, diferenciava-se claramente de modelos antes encontrados em estudos de emoções positivas. No caso das quatro áreas ativadas, trata-se, então, efetivamente de algo como “módulos de amor especializados”. Provavelmente, cada um deles tem uma função específica. Assim, drogas estimulantes como a cocaína, por exemplo, ativam áreas bem mais extensas do cérebro, incluindo os quatro módulos do amor. É possível pensar que o amor seja compreendido não apenas do ponto de vista psicológico, mas também pelo enfoque neurológico.

Além disso, essas zonas neuronais distinguem o amor da pura excitação sexual. O desejo estimula regiões do hipotálamo que em outras experiências ficam inativas. Por outro lado, o amor sensual parece ativar o núcleo caudado e o putâmen, áreas onde estão dois dos módulos do amor. É possível considerar que eles tragam o elemento erótico para o amor romântico.

O terceiro módulo do amor está localizado no córtex cingular anterior, estrutura que nos ajuda a reconhecer os próprios sentimentos e os do parceiro – capacidade certamente essencial para manter um relacionamento amoroso. O quarto módulo, por fim, é uma parte da ínsula situada no interior do diencéfalo que tem diversas funções. Talvez a principal seja identificar “pessoas interessantes”, já que sua atividade aumenta quanto mais atraentes forem os rostos apresentados. Aparentemente, essa estrutura integra a percepção visual ao mundo emocional. Além disso, parece receber informações da região estomacal: talvez o “frio” na barriga faça uma “parada” na ínsula antes de encontrar o caminho até a consciência.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/modulos_de_amor_especializados.html. Acesso em 09 jul 2013.

domingo, 30 de junho de 2013

Juiz reconhece e dissolve união homoafetiva

Consultor Jurídico
27 de março de 2012

O juiz Genil Anacleto Rodrigues Filho, da 26ª Vara Cível de Belo Horizonte, reconheceu e dissolveu uma união homoafetiva já desfeita, entre duas mulheres, para poder determinar a partilha de bens entre elas. Mesmo após o fim da união entre as duas mulheres, com base em depoimentos de testemunhas e sob o entendimento de que os homossexuais "possuem direito de receber igual proteção tanto das leis como da ordem político-jurídica instituída e que é inaceitável qualquer forma de discriminação”, o juiz determinou a partilha de um imóvel adquirido durante o período em que as duas estiveram juntas.

Na ação, uma das mulher pretendia ter reconhecida e dissolvida a união, de fato já desfeita, para requerer os bens a que acreditava ter direito. Alegou que estabeleceu uma relação homoafetiva com a outra de julho de 1995 até 2002. Naquele período, afirmou que adquiriu com a companheira um apartamento, onde residiam, e ainda um veículo Ford Pampa. Pretendia receber o automóvel e quase R$ 32 mil, referentes ao imóvel, mais a quantia de sua valorização.

Já a outra mulher negou a existência do relacionamento estável e afirmou que inexistia “a figura jurídica da união estável homoafetiva”. Negou compartilhar os mesmos objetivos da outra mulher, alegando que a relação delas “não era pública, não foi duradoura e não foi estabelecida com o objetivo de constituição de família”.

Reconheceu que utilizou o nome da outra para aquisição do imóvel “apenas por conveniência”, mas que o bem foi adquirido com recursos próprios, sendo que a entrada do imóvel foi paga com recursos seus oriundos de uma rescisão trabalhista, e o financiamento foi quitado através de débito em conta.

O juiz Genil Anacleto destacou diversas jurisprudências, com destaque para julgamento recente do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu “inexistir impossibilidade” de se reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Citando documentos e os depoimentos de testemunhas colhidos em audiência no fórum de Pará de Minas, o juiz concluiu que as "testemunhas ouvidas foram uníssonas" em afirmar que, de fato, as mulheres tiveram um relacionamento homoafetivo e viveram cerca de cinco anos em união estável.

Comprovada a união estável, o juiz considerou o regime de comunhão parcial de bens para, com base nos comprovantes de depósitos apresentados pela mulher que entrou com a ação, reconhecer-lhe o direito a 8,69% do valor do imóvel, correspondente a prestações do imóvel pagas conjuntamente durante a convivência.

Quanto ao veículo, considerou comprovado que foi adquirido a partir da venda de outro comprado antes da união, não reconhecendo, portanto, o direito de partilha desse bem. Cabe recurso.

Disponível em http://www.conjur.com.br/2012-mar-27/juiz-reconhece-uniao-homoafetiva-desfeita-divisao-bens. Acesso em 22 jun 2013.

terça-feira, 25 de junho de 2013

As dificuldades atuais do relacionamento afetivo

Carlos Messa

São heroicas as tentativas de manter um casamento satisfatório atualmente. Nem sempre esses valores são compatíveis ou ao menos consistentes com o modelo que, como um arquétipo, ainda define nosso horizonte relacional e parental. Sonhamos com a cultura francesa, mas copiamos a norte-americana. Fantasiamos a harmonia ainda utópica nas relações afetivo-sexuais e nestas, brigamos por uma igualdade pouco entendida. Oscilamos entre a fraternidade (romântica) francesa e a objetividade dos valores individuais da cultura norte-americana.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade apresentam inúmeros pontos de dificuldade de compreensão, contradições e ambivalências mesmo nos âmbitos social e econômico. Quando adentramos à microssociedade (família), vemos que esses ideais estão ainda distantes.

Superficialmente nossa sociedade vive, sim, sob uma boa dose de liberdade, significativos avanços quanto à igualdade e uma imensa dúvida quanto ao significado, amplitude e real valor da fraternidade. Esse quadro colore, também, uma grande parte dos casamentos.

Liberdade

O casamento que conhecemos passou a ter a chancela legal do Estado por volta de 1750 na Europa e ganhou um grande impulso com os ideais da Revolução Francesa (1789). Ele esteve em vigor por cerca de 200 anos, período em que nós, individualmente, passamos a ter liberdade de escolher nosso par. O "amor" - a livre escolha - foi o ponto de partida das uniões afetivo-sexuais duradouras apenas depois de 1800 porque a liberdade individual, antes desse período, se fazia acontecer, em boa parte, após o casamento. Não é puro acaso a coincidência de datas entre o dístico da revolução francesa (Liberté, Egalité, Fraternité), e a liberdade da escolha do cônjuge. A liberdade se propagou com bastante rapidez estimulada pela revolução francesa e, a partir dela, os jovens foram aos poucos fazendo suas escolhas, possivelmente ainda dentro dos padrões paternos, mas já acobertadas pelo amor.

A escolha de um cônjuge sempre se fez por interesse e isso é visto em qualquer âmbito e época, desde os animais irracionais entre os quais a fêmea escolhe o macho pelos indicadores de que é capaz de produzir filhos sadios (fortes), passando pela futura esposa-padrão do século passado que escolhia para marido um homem bem-sucedido e, ainda hoje, quando a busca é por homens inteligentes, estáveis, maduros ou equilibrados. Da mesma forma, o homem sempre buscou uma mulher que pudesse ser "boa mãe", mesmo que de maneira inconsciente. A diferença que ocorreu nos diversos momentos da história recente foi a alternância entre o interesse do indivíduo e o interesse de seus responsáveis. A elite econômica (e cultural) europeia, antes de 1800, estabelecia contratos quanto aos pares que se casariam com seus filhos, em função dos interesses familiares (predominantemente econômicos). Nesse período também na classe social mais elevada, o casamento acontecia cedo, ainda na adolescência, quando a dependência dos pais era praticamente total. A rebeldia adolescente só veio a acontecer recentemente, na época pós-industrial e com o advento da universalização da educação formal.

Naturalmente essa descrição é generalista já que cada cultura e cada família mantêm intramuros os seus costumes. No oriente, o costume de pais estabelecerem acordos para o casamento dos filhos foi comum até 1950 e ainda pode ser encontrado. No Brasil, no século XXI, nas capitais metropolitanas de melhor nível econômico e cultural, ainda há pais que impedem, dificultando a qualquer preço, o casamento de suas filhas adultas, graduadas no nível superior, com um pretendente não aprovado por eles.

Naturalmente, um casamento que se realizava por um acordo prévio de terceiros, com objetivos econômico-sociais estava propenso a não gerar intimidade, compromisso, parceria (ao menos inicialmente) e, por isso, a nova possibilidade de, com liberdade individual, escolher o cônjuge, fez com que surgisse uma expectativa ingênua: se o par for escolhido em função do amor, a felicidade estará garantida.

Pelos duzentos anos que se seguiram, as pessoas que puderam escolher seus cônjuges por amor acreditaram nessa possibilidade e a esmagadora maioria delas se desencantou logo cedo ou pouco mais tarde. O casamento enfrentou então sua grande crise, continua nessa crise há mais de 50 anos e vem sofrendo mudanças em todo esse período.

Na primeira metade do século passado surgiram sinais importantes de que tomávamos consciência desse engano. Em 1936, Wilhelm Reich publicou A Revolução Sexual que se insurgia contra alguns dos pilares do casamento, que nesse livro ele chamava de burguês. Depois disso, inúmeros livros, artigos, pesquisas e conversas em bares afirmavam que o casamento havia falido. Era uma afirmação bombástica que buscava causar impacto, porém com o tempo vemos que é apenas ridícula, pois não há como afirmar que a união de duas pessoas, uma de cada um dos sexos, está falida. O que havia de errado era a expectativa de que, com a liberdade conquistada, ao escolher o par por amor, a felicidade seria consequência obrigatória. Não é. O relacionamento de boa qualidade se constrói; a felicidade acontece mais frequentemente quando vamos buscá-la.

Perceber que escolhemos alguém por amor e que, apesar disso, nossos sonhos se derreteram tão rápido quanto a neve nos trópicos nos causa profundo impacto. O mais frequente é culpar o outro; há também somatizações variadas, dores no peito, acessos de ira, pânico, depressão, insônia além das eventuais infelizes tentativas de suicídio. Também é frequente o caminho mais fácil: trocar de parceiro. Neste caso, é alta a probabilidade de se encontrar diante do mesmo problema algum tempo depois.

Troca de papéis

A CPFL promoveu, em 2009, um Café Filosófico com o psicanalista Contardo Calligaris, que discorreu sobre a mudança dos papéis dos gêneros através do tempo. Ele fala que por muitas décadas o homem viveu fechado em seus ternos representando o papel do macho provedor. Estava muito à vontade com um modelo de relacionamento onde os homens desejam e as mulheres são desejadas. Só quando o desejo das mulheres entrou em cena é que o homem descobriu que, embaixo do seu terno, tinha um corpo desejável. Assista à palestra, na íntegra, pelo site www.cpflcultura.com.br. Procure por O corpo masculino ou A crise do macho.

Igualdade

A igualdade de direitos inscrita na Declaração Universal dos Direitos do Homem se replicou na Constituição de inúmeros países. Efetivamente ela ainda caminha claudicante já que o poder continua a atuar marginal (acima) das regras sociais, fazendo com que a igualdade exista, sim, porém seus limites sejam bem delineados (o que está se tornando mais visível a cada dia).

No âmbito do relacionamento afetivo, a igualdade acabou por penetrar nos papéis de cada membro do casal e praticamente implodi-los ainda no século passado e, hoje, mais do que nunca, confunde o relacionamento familiar. Pior: a igualdade de direitos bem como uma certa equalização de poderes é confundida frequentemente com a igualdade absoluta entre os gêneros. Não somos iguais fisicamente, intelectualmente nem emocionalmente. Talvez boa parte das diferenças se deva à formação, aos papéis sociais, etc., mas independentemente da causa, somos diferentes. No casamento antigo, essa diferença era aceita e isso era bom no aspecto do relacionamento afetivo, apesar de admitirmos hoje ser incorreto no aspecto social (domínio do homem sobre a mulher). A aceitação das diferenças individuais expandidas para os diferentes papéis, facilitava a aceitação do outro - seu par - (aceitação genuína e não a tolerância). A clara distribuição de atividades, direitos e poderes entre os papéis era internalizada pelos filhos em um modelo de sociedade, na qual eles viriam a se incorporar e nela interagir (sem essa internalização, hoje), sem um modelo, as crianças não definem limites para si, tornam-se adolescentes perdidos e adultos egocentrados, deprimidos ou ansiosos.

Intracasal, superficialmente, nos incomodamos desde o "terceiro turno" do trabalho feminino, que todos aceitam formalmente não ser adequado (não deveria ser feminino), passando pelo desconforto das tarefas que a mulher rejeita como suas (lavar louça, roupas etc.) e que alguns poucos homens assumem, quase nunca de bom grado.

Igualdade entre homens e mulheres?

Há incontáveis pontos onde o balanço contábil dessa igualdade não fecha:
A começar pelo já citado acima e mais discutido ponto: o terceiro turno de trabalho feminino;
A entrada da mulher no mercado de trabalho pode ser vista sob o ângulo da redução do nível de emprego em 50%. O resultado foi a queda dos salários. Poucas décadas atrás a boa educação formal era oferecida pelo Estado e os serviços de saúde públicos eram, no mínimo, aceitáveis. Hoje, o rendimento masculino não é suficiente para a manutenção de uma família de 4 pessoas (escolas particulares e seguro-saúde). O trabalho (rendimento) feminino tornou-se, então, indispensável. O sentimento entre os dois gêneros é de insatisfação;
O homem continua se sentindo responsável pelo sustento da família. A mulher também continua sentindo que o responsável pelo sustento da família é o homem. Dois exemplos:
A mulher que tem mais sucesso profissional que o marido, sente-se mal por "não estar sendo cuidada" por ele! Sente-se mal também ao pagar despesas de lazer (cinema, restaurante, viagens);
Algumas mulheres podem sentir que deveriam ficar com os filhos por alguns anos ao invés de retornar ao trabalho;
Entre a classe A assalariada há um novo conceito bastante interessante: a mulher considera que o básico do orçamento doméstico deve ser coberto pelo homem; a mulher supriria o adicional ou o supérfluo. Com isso restaria de seus ganhos um pouco para as suas coisas;
Muitos homens continuam a sentir que a mulher tem obrigações conjugais (sexo);
Muitas mulheres começam a cobrar que o marido cumpra suas obrigações conjugais (sexo);
Frequentemente ambos sentem-se cobrados, insuficientes e impotentes diante da realidade;
Negar-se ao outro deixa de ser apenas uma vingança, mas frequentemente reflete apenas um profundo desencanto;

Fraternidade

Trocamos a "guerra conjugal" pela guerra entre os gêneros. Se no antigo casamento havia a queixa feminina frequente ante as regalias masculinas (e podemos incluir aí o direito a eventuais escapadas sexuais), hoje a queixa é mútua, mas não contra o marido ou a esposa e, sim, contra o homem ou a mulher. Não nos sentimos mais "no mesmo barco".

No casamento antigo, no qual os papéis estavam bem definidos pelo pai institucional, podíamos culpar o outro, o indivíduo, por não cumprir o seu papel. Hoje, não há definição de papéis, o que a princípio parece bom, mas nos sentimos sem rumo. Com isso, sequer podemos culpar a "outra parte" do relacionamento. Surge a angústia. Ficamos sós e não sabemos onde nos refugiar. Não há mais o porto-seguro. Não há mais aquele irmão que, apesar das brigas, continuaria sendo sempre o irmão.

Homens e mulheres mudaram. Mulheres expostas à concorrência do mercado de trabalho se tornaram mais agressivas, objetivas e lógicas. Descobrem o prazer do sexo-pelo-sexo (sem a afetividade). Muitas já percebem a armadilha da hipervalorização da beleza, que a torna condição sine qua non ou, pior, seu único atributo. Os homens se tornaram capazes de discriminar mais suas emoções, deixando de se sentirem apenas bem com sua capacidade de prover o lar, assumindo também que desejam ser queridos e que são também (pasmem), românticos. O lado B é que já se percebem sendo usados e reagem a isso. Já se torna evidente uma dificuldade em optar pelo casamento e, no limite, isso é disfarçado através do "morar junto". Cresceu no final do século passado e se amplia rapidamente a atitude masculina de se negar sexualmente à mulher (inconcebível anteriormente). A decepção masculina com a mulher, rara e que ocorria quase apenas depois dos sessenta anos, surge cada vez mais cedo.

O conceito de comunhão universal de bens, no casamento, faliu apesar de ainda existir; a comunhão parcial, que define a equivalência dentro dos diferentes papéis e atividades dos dois gêneros em um casal, é automaticamente assumida pelo Estado nos casos de união informal.

As mulheres expostas à concorrência do mercado de trabalho se tornaram mais agressivas, objetivas e lógicas e os homens se tornaram capazes de discriminar mais suas emoções
Por outro lado, é crescente o número das pessoas que valorizam suas emoções e estas apontam para a busca de um relacionamento que contenha alguns atributos do conceito de fraternidade: sentir-se relativo ao outro (pertinens); prazer em oferecer, contribuir, em fazer o outro feliz; sentir-se parte de um conjunto maior (família) o que implica que, ao fazer ao outro se faz também a si mesmo (proteção, felicidade, etc.). O pragmatismo obviamente lentifica esse movimento.

Não se justifica apoiar questões da natureza emocional do ser humano sobre nossas habilidades racionais já que somos mais que racionais; nossas emoções existem e não representam um conjunto de aspectos negativos ou prejudiciais à nossa natureza. Ao contrário, nos permitem, por exemplo, conviver com contradições e nos levam a superar nossa natureza animal, assumindo os aparentemente utópicos valores humanos. A formação de um casal e a reprodução são exemplos de utopias que só têm apoio no âmbito emocional já que desde a invenção da imprensa ou, mais precisamente, apenas cinquenta anos depois do surgimento dela, foi impresso o primeiro livro que citava a loucura que é casar e, mais ainda, ter filhos (O Elogio da Loucura, Erasmo de Rotterdan).

A melhor resposta às questões acima foi do poeta Vinícius de Morais que reconhece as emoções e, no Soneto do Amor Eterno, expõe nossa capacidade de conciliar uma contradição (no nível racional) e alcançar o equilíbrio na ambivalência (emocional):
(...que)
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja  imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/55/artigo178042-1.asp. Acesso em 22 jun 2013.