Catarina Rabello
25th March 2008
A transexualidade se instala devido à impossibilidade da
pessoa aceitar as suas características sexuais de nascimento. Há alguns anos
atrás dizia-se transexualismo, porém, o sufixo "ismo" relacionando o
termo a uma doença tem sido evitado. Em alguns países, como na França, a
transexualidade tem sido considerada uma variação da identidade de gênero, não
estando mais necessariamente associada à idéia de patologia mental. Na
classificação médica a transexualidade é reconhecida como disforia de gênero, a
partir da qual o paciente identifica-se com o gênero oposto e deseja
irremediavelmente habitar um corpo do sexo oposto ao seu. Neste caso, o
paciente requer atendimento por equipe especializada multidisciplinar para
submeter-se a protocolos de avaliação e candidatar-se a tratamentos para a
mudança de sexo. Caso a sua avaliação não indique impedimentos de ordem clínica
ou psíquica, pode iniciar a sua participação em uma extensa e prolongada
programação de intervenções médico-cirúrgicas, terapia hormonal e mudança de
sexo através da cirurgia genital e outras que complementam os caracteres
sexuais secundários, além de poder tratar das questões psicológicas através da
psicoterapia. Este tratamento tem sido oferecido pelo SUS em grandes centros
médico-acadêmicos, como no Hospital das Clínicas em São Paulo.
A transexualidade é diagnosticada como disforia de gênero
quando o conflito de identidade de gênero surge desde a infância e permanece
como desejo irreconciliável de pertencer ao gênero oposto até a fase adulta,
quando o paciente pode optar finalmente por um tratamento para a adequação do
sexo. O transexual masculino assume uma identidade feminina em todos os seus
comportamentos, reações e desejos, não suportando em seu corpo e em sua maneira
de ser quaisquer características que o identifiquem como homem. Pode mudar o
registro do nome próprio, o que já está previsto no código civil e pode alterar
inclusive o padrão vocal submetendo-se a intervenções cirúrgicas e
fonoaudiológicas para mudar a voz. O transexual feminino vive as mesmas
questões, ou seja, quer livrar-se das características sexuais femininas para
viver livremente a sua identidade masculina, com todos os padrões físicos e de
comportamento que lhe são atribuídos no contexto sócio-cultural.
As causas da transexualidade ainda provocam polêmica entre
os cientistas de várias áreas, mas há estudos que demonstram a influência
fatores genéticos e hormonais atuando desde a formação do sistema nervoso
central na fase embrionária. Estudos psicanalíticos associam a transexualidade
aos conflitos que se estruturam nas fases pré-edípica e edípica do
desenvolvimento psíquico, período que abrange desde o nascimento até por volta
dos cinco anos de idade e desempenha um papel essencial na construção da identidade, no estabelecimento
da autoimagem e na estruturação das idealizações inconscientes.
As dificuldades decorrentes da transexualidade no
adolescente podem gerar problemas de adaptação e integração psicossocial. Se o
adolescente não sentir-se aceito no
ambiente social e familiar ou não sentir-se à vontade para compartilhar os seus
conflitos com uma pessoa que possa ouvi-lo e orientá-lo adequadamente, pode
desenvolver inibições na sua conduta e na capacidade de expressar-se. Neste caso, a falta de sintonia corpo/mente
pode levá-lo a reprimir-se constantemente numa tentativa de esconder os seus
problemas, o que pode levar a um isolamento crescente, timidez e evitação da
convivência social e afetiva. O isolamento crescente pode favorecer o
desenvolvimento de sintomas diversos e o surgimento de defesas patológicas que
podem prejudicar o seu contato com o mundo e interferir no seu desenvolvimento
global.
A avaliação psíquica cuidadosa e a psicoterapia
psicanalítica podem ajudar o paciente a lidar melhor com os seus conflitos de
identidade, discriminar as fontes de suas dificuldades, analisar os seus
desejos, medos e defesas e colaborar para a elaboração de questões reprimidas
inconscientes, em busca do auto-conhecimento, do desenvolvimento pleno de seus
recursos afetivo-emocionais e da prevenção de danos ligados aos desafios
psicossociais que possa enfrentar.
Disponível em
http://psicatarina.blogspot.com.br/2008/03/transexualismo-um-distrbio-de.html?m=1.
Acesso em 11 ago 2013.