Jade Curvello
Pedro Pimenta
19 de setembro de 2012
Descrito tradicionalmente pela medicina como patologia
psiquiátrica, a transexualidade é considerada uma desordem mental, ou ainda um
transtorno da identidade sexual. No entanto, os tempos mudaram, as ideias
evoluíram e sua abordagem como transtorno mental está relacionada a normas
sociais e culturais. Diante disso, a tendência atual é considerar a
transexualidade uma condição de gênero, e não um distúrbio.
Assunto polêmico na área científica, a cirurgia de
readequação de sexo é uma alternativa encontrada para necessidades psíquicas e
físicas. Entretanto, questões éticas e até religiosas costumam impor limites à
realização do procedimento. Seu custo e tempo de espera acabam por desmotivar
alguns candidatos à readequação. Regularizada no Brasil em 2002, a
transgenitalização não é apenas o procedimento cirúrgico, mas um processo
complexo que inclui o tratamento psicológico antes e depois da cirurgia.
Segundo os especialistas da área, a cirurgia acontece em
média na razão de nove homens para uma mulher, dado explicado pela maior
divulgação de casos de mulheres trans – homens que fazem a operação. O fato
ocorre porque há uma “maior viabilidade técnica” na realização da operação
neste caso.
O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj e
médico do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico do Estado do Rio de
Janeiro, Miguel Chalub, explica que “é necessária uma observação médica durante
dois anos antes de se implementar a cirurgia. Não se trata propriamente de tratamento
pré-cirúrgico, pois as pessoas não são ‘doentes’. O que se procura é
prepará-las para a cirurgia e a nova identidade”.
Nesta linha, também pensa a doutora em Saúde Coletiva pela
Uerj, Daniela Murta, cuja tese de doutorado se baseia na despatologização da
transexualidade. Segundo ela, o fato da pessoa se identificar como transexual
não torna obrigatório o atendimento psicológico, e o auxílio será feito somente
para a reflexão daquilo que lhe causa sofrimento.
A pesquisadora explica que essa mudança na forma de
abordagem ocasionaria transformações na sociedade e na vida da população
transexual. “Essas pessoas não precisariam depender de um diagnóstico para
acessar os serviços de saúde e se autodeterminar, também não conviveriam com o
estigma de ser portador de um transtorno”, analisa.
Daniela também conta que a transexualidade é vivida de forma
singular por cada paciente, e que a desistência é causada por diversos motivos.
“As causas podem ser desde a percepção de que um determinado procedimento não é
mais um desejo dessas pessoas, e até mesmo uma questão clínica que inviabiliza
a realização de uma cirurgia”.
Apesar de estar disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
desde 2008, o processo de transgenitalização ainda enfrenta dificuldades de
execução, como, por exemplo, estar disponível somente para mulheres trans, e
principalmente o que diz respeito à demora em sua realização. Há pessoas que
esperam anos na fila de atendimento, o que ocasiona, por vezes, uma migração
para o serviço privado ou até mesmo no exterior.
A doutora em Saúde Coletiva atenta para outra questão e
encerra: “muitas vezes as pessoas acabam não realizando o procedimento por
razões que estão relacionadas a uma incerteza diagnóstica dos profissionais,
que acabam por vetar a realização da cirurgia”.
Disponível em
http://www.folhadointerior.com.br/v2/page/noticiasdtl.asp?t=OS+DILEMAS+DA+TRANSEXUALIDADE&id=50501#.UF2pMsbBe-Q.facebook.
Acesso em 25 jul 2013.