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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Criança pode escolher ser menino ou menina? Veja o que os especialistas dizem

Anelise Zanoni
16/08/2010

Assim que veio ao mundo, Shiloh foi recebida por flashes. Estampou capa de revistas, teve o semblante comparado com os pais e desfilou, ao lado da mãe, modelitos de vestidos e sapatinhos de boneca.

Primeira filha biológica dos atores Angelina Jolie e Brad Pitt, a menina se transformou agora no centro de um polêmico debate: aos quatro anos, quer ser um menino.

O desejo de usar calça jeans masculina, camisetões e bermudas — justificado pela famosa mãe como um gosto próprio da pequena, que, segundo ela, "pensa que é como os irmãos" — foi acatado. Hoje, Shiloh é confundida com o irmão mais novo quando está na rua, porque teve o cabelo cortado e se veste como um guri.

— Alimentar essa vontade da criança pode revelar a perturbação da identidade sexual dos próprios pais. O transtorno de gênero pode afetar diversas áreas da vida da menina e trazer problemas futuros, como quadros de depressão e dificuldade de interação social — explica o psicanalista gaúcho Roberto Barberena Graña, especializado em crianças e adolescentes.

As possíveis consequências na vida de uma criança que vive um gênero oposto ao seu (masculino ou feminino) são explicadas por questões sociais. Desde que nascem, ou quando estão na barriga da mãe, os bebês são inseridos em uma categoria definida: menino ou menina. É quando todos o classificam de acordo com a biologia e passam a comprar roupas com cor relacionada ao sexo e brinquedos diferenciados. A criança fica acostumada com esses conceitos e é tratada de acordo com o gênero que tem. Mas, quando decide ser diferente e assumir outro gênero, uma série de mudanças ocorre a sua volta.

— A distinção entre homem e mulher é básica para a compreensão de nós mesmos enquanto seres humanos. Ela regula o modo como os indivíduos são tratados, os papéis que desempenham na sociedade e as expectativas sobre o modo de se comportar e se sentir — afirma a professora de Educação da Universidade de Londres Carrie Paechter, autora do livro Meninos e Meninas (Artmed, 192 páginas).

Ela explica que, nos anos iniciais, a família é a base para o desenvolvimento da compreensão infantil do que homens e mulheres, meninos e meninas fazem e de como essas atividades podem variar de acordo com o sexo de cada um. Crianças menores demonstram tendência à generalizações e tiram conclusões sobre o masculino e o feminino a partir daquilo que enxergam — é possível que Shiloh, por exemplo, veja com encanto o mundo que cerca os irmãos.´

Os pais, entretanto, não precisam se preocupar se o filho gosta de brincar com bonecas ou se a menina prefere se divertir com carrinhos ou espadas. A preferência só se torna preocupante se for corriqueira, obsessiva, diz Graña.

— Os pais participam mais ou menos ativamente na produção do transtorno. O comportamento compulsivo deve ser bem observado, e o incentivo leva à construção de um problema maior, ligado ao lado social e ao desenvolvimento da criança. Se os padrões puderem ser analisados precocemente, é possível corrigi-los — afirma Graña.

Pulando de um lado para outro

Sexo é trabalho da genética, gênero se constrói. Para que os dois andem em harmonia na vida de uma criança, é preciso ter identidade de homem ou de mulher e perceber os símbolos e significados do que é masculino e feminino.

Só que, quando sexo e gênero se contrapõem para a criança, uma série de desafios surge, principalmente na vida dos pais.

Para o psicanalista Roberto Barberena Graña, autor do livro Transtornos da Identidade de Gênero na Infância (Editora Casa do Psicólogo, 282 páginas), o caso de Shiloh, por exemplo, pode estar ocorrendo devido a uma a distorção na matriz familiar do gênero. Ou seja, uma lacuna na identidade sexual do pai ou da mãe (ou dos dois) ou nas gerações passadas da família pode contribuir para o desejo da menina de ser e se vestir como um guri.

— Ela vive, com certeza, um momento pré-transexual, o que poderá evoluir para o transexualismo adulto — explica o especialista.

É importante dar liberdade para a criança escolher suas roupas e brinquedos. Entretanto, segundo Graña, quando há compulsão por algo do sexo oposto, há transtorno, que pode afetar áreas do desenvolvimento e trazer dificuldade de interação social, estado de retraimento, quadros de depressão, tentativa de suicídio infantil (ligada principalmente a acidentes domésticos), psicose, problemas na sala de aula, agitação e hiperatividade.

Para evitar os reflexos, ele indica a busca de um profissional para fazer uma avaliação mais precisa. Quanto mais cedo, melhor.

— Aos dois ou três anos, os pais já podem observar algum transtorno e buscar ajuda. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor a evolução clínica. O ideal é não esperar até a puberdade — avalia o especialista.

Os sinais mais comuns são o desejo compulsivo e repetitivo por atividades, brinquedos e roupas do sexo oposto. Meninos que desejam sempre vestir as roupas da mãe ou das irmãs, que se encantam por maquiagens, gurias que não querem saber das bonecas ou que preferem usar cuecas e brigam para não usar as roupas de menina, merecem ser observadas com mais atenção, diz o psicanalista.


Disponível em http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/donna/noticia/2010/08/crianca-pode-escolher-ser-menino-ou-menina-veja-o-que-os-especialistas-dizem-3004697.html. Acesso em 28 out 2013.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Documentário conta drama de gêmeo criado como menina após perder pênis

BBC BRASIL
24/11/2010 - 07h59

Os gêmeos Bruce e Brian Reimer nasceram como meninos perfeitos, mas após sete meses, começaram a apresentar dificuldades para urinar.

Sob orientação médica, os pais, Janet e Ron, levaram os dois a um hospital para serem circuncidados.

Na manhã seguinte, eles receberam uma ligação telefônica devastadora -- Bruce tinha sido envolvido em um acidente.

Os médicos usaram uma agulha cauterizadora em vez de um bisturi. O equipamento elétrico apresentou problemas, e a elevação súbita da corrente elétrica queimou completamente o pênis de Bruce.

A operação de Brian foi cancelada, e o casal levou os gêmeos de volta para casa.

Psicólogo

Vários meses se passaram, e eles não tinham ideia do que fazer até que um dia encontraram um homem que mudaria suas vidas e as vidas de seus filhos para sempre.

John Money era um psicólogo especializado em mudança de sexo. Ele acreditava que não era tanto a biologia que determinava se somos homens ou mulheres, mas a maneira como somos criados.

"Estávamos assistindo a TV", lembra Janet. "O doutor Money estava lá, muito carismático, e parecia muito inteligente e muito confiante no que estava falando."

Janet escreveu para Money, e poucas semanas depois ela levou Bruce para vê-lo em Baltimore, nos Estados Unidos.

Para o psicólogo, o caso representava uma experiência ideal. Ali estava uma criança a qual ele acreditava que poderia ser criada como sendo do sexo oposto e que trazia até mesmo seu grupo de controle com ele -- um gêmeo idêntico.

Se funcionasse, a experiência daria uma evidência irrefutável de que a criação pode se sobrepor à biologia, e Money genuinamente acreditava que Bruce tinha uma chance melhor de levar uma vida feliz como mulher do que como um homem sem pênis.

Então, quando Bruce tinha 17 meses de idade, se transformou em Brenda. Quatro meses depois, no dia 3 de julho de 1967, o primeiro passo cirúrgico para a mudança foi tomado, com a castração.

Segredo

Money enfatizou que, se quisessem garantir que a mudança de sexo funcionasse, os pais nunca deveriam contar a Brenda ou ao seu irmão gêmeo que ela havia nascido como menino.

A partir de então, eles passaram a ter uma filha, e todos os anos eles visitavam Money para acompanhar o progresso dos gêmeos, no que se tornou conhecido como o "caso John/Joan". A identidade de Brenda foi mantida em segredo.

"A mãe afirmou que sua filha era muito mais arrumada do que seu irmão e, em contraste com ele, não gostava de ficar suja", registrou Money em uma das primeiras consultas.

Mas em contraste, ele também observou: "A menina tinha muitos traços de menina moleque, como uma energia física abundante, um alto nível de atividade, teimosia e era frequentemente a figura dominante num grupo de meninas".

Em 1975, as crianças tinham 9 anos, e Money publicou um artigo detalhando suas observações. A experiência, segundo ele, tinha sido um sucesso total.

"Ninguém mais sabe que ela é a criança cujo caso eles leram nos noticiários na época do acidente", afirmou.

"O comportamento dela é tão normalmente o de uma garotinha ativa e tão claramente diferente, por comparação, do comportamento de menino de seu irmão gêmeo, que não dá margem para as conjecturas de outros."

Suicida

No entanto, na época em que Brenda chegou à puberdade, aos 13 anos, ela sentia impulsos suicidas.

"Eu podia ver que Brenda não era feliz como menina", lembrou Janet. "Ela era muito rebelde. Ela era muito masculina e eu não conseguia convencê-la a fazer nada feminino. Brenda quase não tinha amigos enquanto crescia. Todos a ridicularizavam, a chamavam de mulher das cavernas. Ela era uma garota muito solitária."

Ao observar a tristeza da filha, os pais de Brenda pararam com as consultas com John Money. Logo depois, eles fizeram algo que Money tinha pedido para que não fizessem: contaram a ela que Brenda tinha nascido como um menino.

Semanas depois, Brenda escolheu se transformar em David. Ele passou por uma cirurgia de reconstrução do pênis e até se casou. Ele não podia ter filhos, mas adorou ser o padrasto dos três filhos de sua esposa.

Mas, o que David não sabia, era que seu caso tinha sido imortalizado como "John/Joan", em artigos médicos e acadêmicos a respeito de mudança de sexo e que o "sucesso" da teoria de Money estava afetando outros pacientes com problemas semelhantes aos deles.

"Ele não tinha como saber que seu caso tinha ido parar em uma ampla série de livros de teoria médica e psicológica e que estava estabelecendo os protocolos sobre como tratar hermafroditas e pessoas que tinham perdido o pênis", disse John Colapinto, um jornalista do "The New York Times", que descobriu a história de David.

"Ele mal conseguia acreditar que (sua história) estava sendo divulgada por aí como um caso bem sucedido e que estava afetando outras pessoas como ele."

Depressão

Quando passou dos 30 anos, David entrou em depressão. Ele perdeu o emprego e se separou da esposa.

Na primavera de 2002 seu irmão morreu devido a uma overdose de drogas.

Dois anos depois, no dia 4 de maio de 2004, quando David estava com 38 anos, os pais, Janet e Ron Reimer, receberam uma visita da polícia que os informou que seu filho tinha cometido suicídio.

"Eles pediram que nos sentássemos e falaram que tinham notícias ruins, que David estava morto. Eu apenas chorei", conta Janet.

Casos como o "John/Joan", quando ocorre um acidente, são muito raros. Mas decisões ainda estão sendo tomadas sobre como criar uma criança, como menino ou menina, se ela sofre do que atualmente é conhecido como Distúrbio do Desenvolvimento Sexual.

"Agora temos equipes multidisciplinares, que funcionam bem, em todo o país, então a decisão será tomada por uma ampla série de profissionais", explicou Polly Carmichael, do Hospital Great Ormond Street, de Londres.

"Os pais ficarão muito mais envolvidos em termos do processo da tomada de decisão", acrescentou.

Carmichael afirma que, segundo sua experiência, estas decisões tem sido mais bem sucedidas para ajudar as crianças a levar uma vida feliz quando crescerem.

"Fico constantemente surpresa como, com apoio, estas crianças são capazes de enfrentar e lidar (com o problema)", disse.


Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/bbc/835267-documentario-conta-drama-de-gemeo-criado-como-menina-apos-perder-penis.shtml>. Acesso em 24 nov 2010.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Belga morre por eutanásia após cirurgia de mudança de sexo

France Presse
01/10/2013

Um belga de 44 anos morreu por eutanásia nesta segunda-feira (30) após alegar transtornos físicos e psicológicos "insuportáveis" depois de realizar um procedimento cirúrgico para mudança de sexo. Nathan Verhelst morreu em um hospital de Bruxelas, na presença de vários amigos, depois de uma longa batalha para conseguir a aprovação do procedimento.

Wim Distlemans, médico do hospital universitário VUB que acompanhou o procedimento, disse que Nathan morreu tranquilamente. De acordo a imprensa da Bélgica, ele afirmou que as condições para a realização da eutanásia existiam, já que "havia claramente sofrimento físico e psicológico insuportáveis", explicou ao jornal "Het Laaste Nieuws".

Nathan nasceu menina, em uma família com três meninos, e se chamava Nancy. Ele foi rejeitado por seus pais, que desejavam mais um menino, segundo o jornal que o entrevistou antes de sua morte.

A publicação afirma que o belga sonhava desde a adolescência poder se tornar homem, e realizou três cirurgias (tratamento hormonal, remoção dos seios e mudança de sexo) entre 2009 e junho de 2012, mas sem que se sentisse satisfeito: seus seios continuavam grandes e o pênis que foi criado "fracassou", explicou.

"Eu havia preparado uma festa para comemorar o meu novo nascimento, mas na primeira vez que me vi no espelho, tive aversão pelo meu novo corpo", contou Nathan. "Tive momentos felizes, mas, no geral, sofri", resumiu, considerando que "44 anos é muito tempo na terra".

Avaliação

"Para recorrer à eutanásia, a pessoa deve apresentar um problema grave e incurável que lhe cause sofrimento" pode ser "psíquico ou físico", explica Jacqueline Herremans, membro da Comissão Nacional sobre a eutanásia.

"Um primeiro médico avalia o caráter grave e incurável do problema (...) Outro médico, um psiquiatra, especialista na patologia em questão, analisa o pedido para determinar se é, por exemplo, uma depressão passageira", acrescentou à RTL.

Desde 2002 a Bélgica autoriza mortes por eutanásia, mas o debate sobre a prática não terminou, já que o Parlamento belga deve considerar a sua extensão para os menores "capazes de discernimento" e adultos com doenças incapacitantes com o Alzheimer.

A grande maioria dos belgas aprova essas mudanças, de acordo com uma pesquisa publicada quarta-feira no jornal "La Libre Belgique".


Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/10/belga-morre-por-eutanasia-apos-cirurgia-de-mudanca-de-sexo.html. Acesso em 02 out 2013.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Por que meninos usam roupa azul e meninas, rosa?

Clarice Reichstul
28/05/2012

Até o século 19, as roupas infantis geralmente eram brancas, afinal poderiam ser usadas por todos os filhos da família e resistiam a diversas lavagens. E as roupas eram poucas e caras. Mesmo o corte costumava ser unissex, meninos e meninas de até quatro anos usavam vestidos, cabelos compridos e sapatos do estilo boneca.

Nos Estados Unidos, era costume a associação de rosa para meninos e azul para meninas. Dizia-se que a cor rosa era mais forte e a azul, delicada. Por volta da 2ª Guerra Mundial, a moda de usar as cores para marcar diferença entre meninos e meninas pegou e, curiosamente, se inverteu. O interessante é que adotamos um costume dos norte-americanos que nos custa mais caro. Afinal, se em uma família o primeiro filho é menino, compra-se enxoval azul, e, se nasce uma menina depois, lá se vão os pais gastar com enxoval rosa.

Depois dos quatro anos, a criança começa a escolher a roupa. Mas é justo nesse primeiro período da infância que se estabelece essa separação que levamos para o resto da vida, com os carimbos rosa-menina e azul-menino. Nos anos 60 e 70, houve uma rebelião contra essa divisão e passou a valer uma moda infantil unissex, roupas que serviam para meninos e meninas. Mas, em meados da década de 80, o jogo mudou de novo.

Acho que podemos nos inspirar na revolução dos anos 60 e 70 e exigir mais roupas unissex, de criança mesmo, coloridas, mas sem essa preocupação tão grande com o que é de menino e o que é de menina, não? Roupa boa de brincar, correr, pular. Menos regras desnecessárias nas nossas vidas, por favor!


Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/1094761-por-que-meninos-usam-roupa-azul-e-meninas-rosa.shtml. Acesso em 22 jun 2013.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Saiba como falar sobre sexo em cada idade na faixa de 0 a 17 anos

Luna D'Alama
09/06/2013

A dificuldade de pais e professores em falar sobre sexo começa muitas vezes na própria vida e acaba se estendendo aos filhos e alunos. As dúvidas, de ambos os lados, surgem logo na primeira infância das crianças, que querem saber de tudo. E os adultos se questionam: "Preciso falar alguma coisa? Devo tomar iniciativa para introduzir um assunto? Como responder a uma pergunta, o que dizer e até onde ir?"

O problema não para por aí, e só aumenta, com a chegada da adolescência e da iniciação sexual, entre os 15 e 17 anos, em média.

Para esclarecer assuntos ainda considerados tabus e ajudar os mais velhos a falar sobre sexo e sexualidade com crianças e adolescentes, a sexóloga Laura Muller, que participa do programa Altas Horas, na Globo, escreveu seu quarto livro, "Educação sexual em 8 lições", que será lançado no dia 18 em São Paulo.

"Me baseei em ações e palestras que fiz para pais e professores. Eles reclamavam de que não havia uma bibliografia clara e simples, e não conseguiam lidar com o tema. A maior dificuldade é falar: as pessoas têm medo de que uma conversa estimule o sexo, ou receio de dizer algo errado. Mas ninguém tem todas as respostas", destaca a especialista, que reconhece que também não sabe tudo.

Segundo Laura, o mais importante é apresentar limites e possibilidades aos mais jovens. Quando uma criança de até 5 anos, por exemplo, pergunta de onde veio, como entrou na barriga da mãe ou se os pais namoram pelados, o casal deve explicar o que se passa, usando a linguagem infantil e deixando claro que essas coisas pertencem ao mundo dos adultos e farão parte da vida dos filhos no futuro.

"O mais importante é não ter medo de lidar com o tema, não é fácil mesmo. Nós, adultos, não tivemos educação sexual na adolescência, por isso é preciso buscar informações de qualidade onde for possível, atualizar-se e não ter vergonha de ultrapassar essa barreira", diz a autora.

Dúvidas ao longo do tempo

A sexóloga explica que, na primeira infância, as perguntas sobre sexo costumam ser "O que é?", "Como é feito?" e outras curiosidades simples, ainda bastante distantes da prática.

Até os 5 anos, os pais se preocupam mais se as crianças estão tocando as partes íntimas, e se fazem isso na frente dos outros, afirma Laura. O importante, nesse caso, é explicar para o menor que isso não pode ser feito o tempo todo, que ele está na fase de brincar e se divertir, acrescenta a especialista.

"A partir do momento em que a criança se aproxima da adolescência, surgem questões mais elaboradas, sobre as mudanças do corpo, sobre como se faz sexo, como usar camisinha, como evitar a gravidez e doenças sexualmente transmissíveis (DST), além de dúvidas sobre masturbação, desejo, excitação, sexo oral ou anal, e orgasmo", enumera Laura.

Com esse "empurrão" hormonal, vem também a primeira menstruação e a primeira ejaculação espontânea. Em média, isso ocorre aos 12 anos, mas entre 9 e 16 ainda é considerado um período normal.

De acordo com a sexóloga, os adolescentes em geral vivem quatro grandes dilemas nessa difícil fase de transição: sexual (fazer ou não, e como), profissional (qual carreira seguir), existencial (quem eu sou, do que gosto e qual é o meu grupo) e tóxico (como lidar com álcool, cigarro e drogas).

“A maior dificuldade é falar: as pessoas têm medo de que uma conversa estimule o sexo, ou receio de dizer algo errado. Mas ninguém tem todas as respostas"
Laura Muller,
sexóloga

"A casa deve ser um complemento da escola, um porto seguro, e os pais precisam estar abertos ao diálogo, apoiar uma educação sexual de qualidade, conversar sobre prática, prazer, afeto e diversidade", aponta Laura.

Os limites, segundo a sexóloga, vão até o ponto em que algo não fere a pessoa e seu parceiro tanto física quanto emocionalmente. Além disso, não se deve fazer nada só para agradar ao outro, nem se sentir pressionado pelo companheiro ou por colegas.

"O jovem vai estar pronto para o sexo quando estiver bem informado e amadurecido. É preciso se perguntar: 'Estou pronto? Quero mesmo?'", ressalta.

E não deve haver nenhuma distinção de ensinamentos para meninos e meninas, segundo Laura.

"Às vezes, as pessoas acham que é preciso criar diferente, mas a educação deve ocorrer da mesma forma. O que difere são as fases de cada um, cada gênero vai ter um grau de amadurecimento conforme a experiência de vida e outros fatores, mas as dúvidas são muito parecidas", diz.

Oito lições

O livro é dividido em oito capítulos, cada um com uma lição diferente. O primeiro aborda os conceitos de sexo, sexualidade e outras definições básicas.

"Sexo é diferente de sexualidade. Sexo é o ato em si, já sexualidade é o jeito de cada um ser no mundo, homem ou mulher, de se relacionar com as emoções, os sentimentos e o mundo ao redor. O sexo é apenas um aspecto da sexualidade – que existe desde a infância", compara a autora.

Laura explica, ainda, que há um terceiro conceito, o de gênero, que é a identidade sexual de cada pessoa, um conjunto de jeitos de ser que pode depender ou não do sexo com o qual se nasce.

"Precisamos de uma flexibilização desses significados, dos papéis, e refletir o que realmente é da mulher e do homem, com tolerância e múltiplas possibilidades", acredita.

“A casa deve ser um complemento da escola, um porto seguro, e os pais precisam estar abertos ao diálogo, apoiar uma educação sexual de qualidade (...)"
Laura Muller,
sexóloga

O segundo capítulo do livro, por sua vez, é destinado à história da sexualidade humana, pois o que vivemos, destaca Laura, é fruto de uma série de questões culturais, de repressão sexual (principalmente feminina), do surgimento da Aids e da emancipação da mulher. Com essa retrospectiva, é possível entender como o ser humano chegou até aqui e por que o sexo ainda é um tabu.

Em seguida, vem um capítulo sobre o papel dos pais e professores na educação sexual de crianças e adolescentes. Nos quatro capítulos seguintes, do quarto ao sétimo, Laura divide as recomendações por faixa etária: de 0 a 5 anos, de 6 a 11, de 12 a 14, e de 15 a 17.

O livro termina com uma seção que tem como objetivo fazer com que os adultos reflitam sobre a própria educação e vida sexuais.

"É preciso olhar para si antes de educar os outros, ver quais são seus valores e crenças. Os adultos de hoje, por exemplo, não usavam redes sociais quando eram adolescentes, então precisam entender um pouco mais sobre o uso da internet nos relacionamentos, com quem os filhos falam, o que publicam", afirma Laura.

Por outro lado, segundo a sexóloga, os jovens têm que compreender que o sexo pertence ao mundo privado, e não ao público, razão pela qual deve haver limites.
"Muitas vezes, não nos damos conta do quanto expomos coisas que precisam ficar na intimidade", enfatiza.

Laura, que já publicou dois livros com respostas para 500 perguntas cada (o primeiro para homens e mulheres e o segundo para jovens, educadores e pais) e um terceiro sobre as dúvidas que recebeu no  Altas Horas (para pessoas de 12 a 80 anos), planeja daqui para frente algo mais reflexivo na área da sexualidade, destinado ao mundo adulto.


Disponível em http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/06/livro-mostra-como-falar-de-sexo-em-cada-idade-na-faixa-de-0-17-anos.html. Acesso em 10 jun 2013.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Garoto de 5 anos vive como uma menina e é diagnosticado com transtorno de identidade de gênero

Extra Online
20/02/12 15:24 Atualizado em20/02/12 15:27 

Um garoto de 5 anos que vive como uma menina é uma das pessoas mais jovens diagnosticadas com transtorno de identidade de gênero. Desde os 3 anos, Zach Avery, que vive em Essex, na Inglaterra, recusa-se a se vestir como um garoto. Segundo os pais dele, Theresa e Darren Avery, Zach ficou obcecado com a personagem de TV Dora, a exploradora.

Preocupados com o comportamento do filho, os pais levaram Zach ao médico. Depois de várias consultas e observações, ele foi diagnosticado por especialistas com transtorno de identidade de gênero. A escola em que o menino estuda, inclusive, disponibilizou um banheiro neutro, para crianças de todos os sexos.

A mãe de Zach conta que o filho sempre se comportou como o menino, mas, de repente, no fim de 2010, ele começou a agir como uma garota. “Ele se virou para mim um dia, quando tinha 3 anos, e disse: ‘Mamãe, eu sou uma menina’. Presumi que ele estava apenas passando por uma fase. Depois, ele passou a ficar chateado quando alguém se referia a ele como um menino”, conta Theresa à reportagem do jornal Mail Online.

Disponível em <http://extra.globo.com/noticias/mundo/garoto-de-5-anos-vive-como-uma-menina-e-diagnosticado-com-transtorno-de-identidade-de-genero-4029526.html#ixzz1nmRaDc00>. Acesso em 29 fev 2012.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Mulher é presa no Afeganistão por estrangular nora que teve 3ª bebê menina

Bilal Sarwary
Da BBC em Cabul, no Afeganistão
Atualizado em  30 de janeiro, 2012 - 12:24 (Brasília) 14:24 GMT

A jovem Stori, de 22 anos e mãe de três meninas, foi assassinada no sábado no vilarejo de Mahfalay, distrito de Khanabad, que fica na província de Kunduz, no sudeste afegão.

O delegado da polícia local, Sufi Habib, disse que Stori teve os pés amarrados pela sogra, Wali Hazrata, enquanto seu próprio marido a estrangulava.

O corpo da afegã foi encontrado no mesmo dia por um dos vizinhos, que chamou a polícia.

O marido está foragido e não teve o seu nome divulgado. Acredita-se que o homem pertença à milícia Arbaki.

Autoridades locais disseram à BBC que o marido está sob proteção de um grupo armado ilegal, sob amparo de políticos no Afeganistão.

Direitos das mulheres

Ativistas de direitos humanos divulgaram o caso à imprensa afegã. A diretora do escritório de Defesa da Mulher de Kunduz, Nadira Gya, condenou o incidente.

"Foi um crime brutal cometido contra uma mulher inocente", disse. Nadira acusou as milícias de diversos ataques contra mulheres no Afeganistão.

Líderes religiosos e tribais também condenaram o assassinato da jovem. Eles disseram que a morte foi um ato de ignorância e um crime contra o Islã, a humanidade e as mulheres, e pediram punição rigorosa à sogra e ao marido envolvidos no crime. A terceira filha de Stori, que hoje tem dois meses, não se feriu no incidente.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120130_sogra_afeganistao_dg.shtml>. Acesso em 06 fev 2012.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Preconceito social faz famílias afegãs criarem meninas como meninos

Tahir Qadiry
Da BBC no Afeganistão
Atualizado em  19 de janeiro, 2012 - 11:15 (Brasília) 13:15 GMT

Três meninas usam roupas brancas e cobrem seus rostos com véus. Mas Mehrnoush, a quarta menina, veste terno e gravata. Na rua, Mehrnoush não é mais uma menina, e sim um rapaz chamado Mehran.

Azita Rafhat não teve filhos homens, e para evitar as provocações que famílias assim sofrem no Afeganistão, ela tomou a decisão radical de mudar a criação de Mehrnoush.

Esse tipo de atitude não é incomum no país. Existe até mesmo um termo – Bacha Posh – para meninas que são vestidas como garotos.

"Mesmo que você tenha uma boa posição no Afeganistão e está bem de vida, as pessoas veem você de forma diferente (se não tiver um filho homem). Elas dizem que a sua vida só é completa se você tem um filho", diz Azita.

Sempre houve preferência por meninos no Afeganistão, por motivos tanto econômicos quanto sociais.

O seu marido, Ezatullah, acredita que ter um filho é um sinal de prestígio e honra.
"As pessoas que nos visitavam sempre diziam: 'Oh, lamentamos que vocês não têm um filho.' Então imaginamos que seria uma boa ideia vestir nossa filha assim, já que ela também queria."

Economia

Muitas meninas vestidas de rapazes andam pelas ruas no Afeganistão. Algumas famílias optam por esse caminho para permitir que elas consigam empregos em lugares públicos, como em mercados, já que mulheres não podem trabalhar na rua.

Em alguns mercados de Cabul, um grupo de meninas, com idade entre cinco e 12 anos, se apresenta como meninos e vende água e chiclete. No entanto, nenhuma quis dar entrevista sobre o assunto.

A tradição não dura por toda a vida. Aos 17 ou 18 anos, as jovens voltam a assumir uma identidade feminina. Mas essa mudança não é nada simples.

Elaha mora em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão. Ela viveu como menino por 20 anos, porque sua família não tinha filhos homens. Apenas há dois anos, quando entrou na universidade, é que ela passou a se vestir como mulher.

No entanto, ela ainda não se sente totalmente feminina. Alguns de seus hábitos não são típicos de garotas, e ela diz que não pretende se casar.
"Quando eu era criança, meus pais me vestiam de menino porque eu não tinha um irmão. Até recentemente, vivendo como menino, eu saia para brincar com outros garotos e tinha mais liberdade."

Contra sua própria vontade, ela voltou a viver como mulher, e diz que só aceitou voltar porque se trata de uma tradição social. No entanto, ela se diz revoltada com a forma como as mulheres são tratadas pelos seus maridos no Afeganistão.

"Às vezes, eu tenho vontade de me casar e bater no meu marido, só para compensar a forma como as outras mulheres são tratadas em casa."

História comum

Atiqullah Ansari, diretor da famosa mesquita de Mazar-e Sharif, diz que a tradição é parte de um apelo que se faz a Deus.

As famílias que não têm filhos homens vestem as meninas assim como forma de pedir a Deus por um bebê homem.

Mães que não têm filhos homens visitam o templo de Hazrat-e Ali para fazer o pedido a Deus.
Ansari conta que de acordo com o Islã, as meninas que vivem como garotos precisam cobrir o rosto quando amadurecem.

No Afeganistão, histórias assim têm se tornado cada vez mais comuns. É comum pessoas conhecerem parentes ou vizinhos que já passaram por isso.

Fariba Majid, que dirige o Departamento de Direitos da Mulher da Província de Balkh, diz que ela própria já passou por isso, e quando era criança era chamada pelo nome masculino de Wahid.

"Eu era a terceira filha na minha família, e quando nasci, meus pais decidiram me vestir de menino", afirma.

"Eu podia trabalhar com meu pai em sua loja ou até mesmo ir para Cabul para comprar coisas para a loja."

Ela disse que a experiência a ajudou a ganhar confiança e permitiu que ela chegasse onde está hoje.

Segredo

A própria ex-parlamentar Azita Rafhat, mãe de Mehrnoush, também já passou por isso.
"Deixe-me contar um segredo", ela afirma. "Quando eu era criança, eu vivi como garoto e trabalhava com meu pai. Eu tive a experiência tanto do mundo masculino quanto feminino, e isso me ajudou a seguir uma carreira com ambição."

A tradição existe a séculos no Afeganistão. De acordo com o sociólogo Daud Rawish, de Cabul, isso pode ter começado durante períodos de guerra no passado, quando mulheres eram vestidas de homens para poderem ajudar a combater os inimigos.

Mas nem todos toleram esse tipo de tradição. O diretor da Comissão de Direitos Humanos da Província de Balkh, Qazi Sayed Mohammad Sami, disse que a prática é uma violação de direitos fundamentais.

"Nós não podemos mudar o gênero de alguém só por um tempo. Isso é contra a humanidade", afirma ele.

A tradição teve efeitos devastadores em algumas meninas, que sentem um conflito de identidades e acreditam ter perdido parte fundamental de suas infâncias.

Para outras, a experiência foi positiva, já que elas tiveram liberdades que nunca exerceriam, caso tivessem sido criadas apenas como garotas.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120119_afeganistao_meninas_dg.shtml>. Acesso em 19 jan 2012.