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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O que é ser assexual?

Lucy Wallis 
24/01/2012

Goodchild Jenni, de 21 anos de idade, não sente atração sexual.

Mas, em uma sociedade cada vez mais sexualizada, como é que é ser assexual?

"Para mim, significa basicamente que eu não olho para as pessoas e penso 'Humm... sim, eu faria sexo com você'. Isso simplesmente não acontece", diz Jenni.

Estudante em Oxford, no Reino Unido, Jenni é uma dentre o 1% estimado de pessoas que se identificam como assexuais.

"As pessoas dizem 'Bem, se você não experimentou, então como você sabe?'," conta Jenni.

"Bem, se você é hétero, você já tentou fazer sexo com alguém do mesmo sexo que você? Então como você sabe que não iria gostar? Você só sabe que não está interessado nisso, e você está não está interessado nisto independentemente de ter experimentado ou não," contra-ataca ela.

Orientação assexual

A assexualidade é descrita como uma orientação, ao contrário do celibato, que é uma escolha.

A Rede de Educação e Visibilidade Assexuada (AVEN), o principal centro on-line para a comunidade assexual, salienta que as necessidades emocionais variam amplamente na comunidade assexuada, assim como acontece na comunidade "sexual".

Há uma diferença, por exemplo, entre assexuais românticos e assexuais não-românticos, diz o sociólogo Mark Carrigan, da Universidade de Warwick.

Romântico ou não-romântico?

"[Assexuais não-românticos] não têm nenhuma atração romântica, portanto, em muitos casos, eles não querem ser tocados, eles não querem qualquer intimidade física," diz Carrigan.

"[Assexuais românticos] não sentem atração sexual, mas eles sentem atração romântica. Então, eles vão olhar para alguém e não vão responder sexualmente a ele, mas podem querer se aproximar, para saber mais sobre a pessoa, para compartilhar coisas com ela," explica.

Jenni é hetero-romântica e, apesar de não ter nenhum interesse em sexo, é atraída pelas pessoas, e está em uma relação com Tim, de 22 anos de idade.

Tim, no entanto, não é assexuado.

"Um monte de gente realmente pergunta se eu estou sendo egoísta mantendo-o em um relacionamento no qual ele não vai conseguir nada que ele quer, se ele não deveria ir e encontrar alguém como ele, mas ele parece bem feliz, então eu digo que eu deixo isso com ele," diz Jenni.

Tim está gostando de passar o tempo com Jenni, e conhecê-la, enfocando os aspectos românticos de seu relacionamento.

"A primeira vez que Jenni mencionou na conversa que ela era assexuada, meu primeiro pensamento foi que isso era meio estranho," conta Tim. "Mas então eu sabia o suficiente para não fazer suposições sobre o que aquilo significava."

Obsessão por sexo

"Eu nunca fui obcecado por sexo. Eu nunca fui de ter que sair à noite e ter que encontrar alguém para fazer sexo, porque é isso que as pessoas fazem ... por isso não estou nem um pouco preocupado com isso," completa Tim.

Mas o relacionamento de Jenni com Tim tem um lado físico, já que eles se afagam e se beijam para expressar seu afeto um pelo outro.

O Dr. Carrigan sugere que a falta de pesquisa científica sobre a assexualidade está ligada com o fato de que não havia realmente uma comunidade assexuada até o lançamento da AVEN.

"Até que houvesse pessoas que se definissem como assexuadas, o que realmente não aconteceu até 2001, não havia realmente um objeto de estudo", diz ele.

O que é assexualidade?

Os assexuais não sentem atração sexual.

Algumas pessoas descrevem a percepção de que eram assexuadas como uma espécie de "voltar para casa", ou, finalmente, compreender quem realmente eram.

Não se sabe se a assexualidade é algo que uma pessoa apresenta para toda a sua vida ou por um período de tempo.

Para vários assexuais, sexo e romance são coisas separadas. Alguns assexuais têm amizades muito próximas, embora alguns tenham relacionamentos românticos, mas não relacionamentos sexuais.

Para os assexuais que experimentam atração romântica, alguns se identificam como assexuais hetero, gay ou lésbicas.


Disponível em http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=assexual&id=7365. Acesso em 08 dez 2014.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Assexuais vivem bem sem sexo, mas podem ter um relacionamento

Yannik D´Elboux
14/04/2014

Para uma pequena parcela da população, o sexo é uma prática completamente sem sentido. As pessoas chamadas assexuais, apesar de não terem nenhuma anormalidade, não sentem interesse em fazer sexo.

Como o conceito de assexualidade ainda é recente, muitos nunca ouviram falar desse termo e com frequência julgam a indiferença ao sexo como problema. "Sou normal, não tenho traumas nem doenças que me impeçam de fazer sexo, simplesmente não sinto vontade", explica Claudia Mayumi Kawabata, 33 anos, que trabalha como orçamentista em uma gráfica em São Paulo (SP).

Assim como outras pessoas na mesma situação, Claudia percebia que não era igual a maioria, porém não sabia a razão. "Sempre me achei diferente, pois, além de não sentir atração sexual, também não sinto atração estética", conta.

Ela só foi descobrir o que significava assexualidade em 2011, o que lhe deu liberdade para se aceitar. Desde 2013, Claudia é uma das moderadoras da comunidade A2 na internet, grupo que reúne mais de 700 usuários e busca divulgar a existência da assexualidade, além de promover a troca de experiências sobre o assunto.

Ainda não se tem ideia da quantidade existente de pessoas assexuais. "Por ser uma sexualidade praticamente desconhecida, não temos números confiáveis, nem no Brasil nem no mundo", afirma a pedagoga e pesquisadora Elisabete Regina Baptista de Oliveira, que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre assexualidade pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). "A única pista que temos é de que 1% da população não tem interesse por sexo", acrescenta.

Segundo Elisabete, esse número provém de dois estudos realizados nas décadas de 1940/1950 e 1990 nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, porém não representa um bom retrato da realidade, já que muitas pessoas que poderiam se identificar como assexuais não conhecem esse conceito.

Sem desejo

A ginecologista e sexóloga Sylvia Maria Oliveira Cunha Cavalcanti, presidente da comissão de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma que a assexualidade costuma ser bastante rara. "Não é uma coisa muito comum porque o ser humano é o mais sensualizado de todos os animais. O sexo para nós não se restringe à reprodução, é uma forma de comunicação, de expressar os sentimentos".

Para a médica, o desinteresse sexual pode surgir por diversos motivos, desde aspectos biológicos, como alterações hormonais, até psicossociais, como uma educação repressora, decepção com o parceiro, experiências negativas, entre outros. Porém, para alguns não há uma causa. "Existem pessoas que realmente não se interessam, o sexo é algo absolutamente sem nenhum valor para elas", diz Sylvia.

A ausência de desejo pode significar um problema, sobretudo naqueles que antes possuíam ímpeto sexual. Nos assexuais, segundo Elisabete Oliveira, o desinteresse é uma característica permanente ao longo da vida desde a puberdade. "Trata-se de perspectiva: a falta de desejo pode ser vista como um transtorno ou como mais uma cor no arco-íris da diversidade sexual", analisa a pesquisadora.

Para a ginecologista e sexóloga, o desinteresse nos assexuais não precisa de tratamento se não estiver causando nenhum incômodo ou estresse. "Se não é um problema para a pessoa, se ela estiver satisfeita assim, não há o que fazer, não tem o que ser tratado. Não ter vontade também é um direito da pessoa", diz Sylvia Maria.

Românticos e arromânticos

Apesar de não sentirem atração sexual, os assexuais podem ou não ter interesse no relacionamento amoroso. Aqueles que desejam parceria amorosa costumam ser chamados de românticos e os que não se interessam por esse envolvimento de arromânticos.

"Não foi a falta de interesse por sexo a minha principal fonte de questionamentos na adolescência, mas, sim, a minha falta de interesse amoroso", conta Saulo Albert, 20 anos, estudante de Direito, de Vitória da Conquista (BA), que se identifica como assexual arromântico.

Saulo, também um dos moderadores da comunidade A2, diz que nunca teve vontade de namorar ou se relacionar sexualmente. Esse comportamento geralmente não é bem visto em um mundo no qual o amor e o sexo estão por toda parte, das músicas às novelas. "Passamos a aceitar que a vida com um parceiro amoroso é a grande fórmula da felicidade", critica Saulo.

O estudante baiano acredita que, assim como as pessoas, os caminhos para a felicidade também são diferentes. "Eu me sinto amado e acolhido pelas pessoas ao meu redor, por isso o amor [romântico] não é um sentimento que me faz falta. Isso, para mim, é mais do que suficiente", declara.

Mesmo sem vontade, alguns assexuais acabam tendo relações sexuais quando namoram para poder satisfazer o parceiro. Foi o caso de Claudia Mayumi, assexual romântica, que já morou com um namorado por dois anos e tem uma filha de 13 anos. "Antes de saber que era 'assex', tentei ter uma vida sexual ativa, mas isso me deixava mal. Depois de cada relação sexual entrava em conflito comigo mesma, pois tinha de fingir para agradar a outra pessoa", revela.

Para Claudia, a vida flui melhor quando ela está só. "Sou feliz sem sexo. Quando estou sozinha, me sinto completa; quando estou em algum relacionamento, eu me sinto frustrada e vazia", constata.

Não sonhar com o casamento não significa viver de forma isolada ou preferir a solidão. "Os assexuais dão muita importância aos seus relacionamentos em família e com os amigos, diferentemente de pessoas não assexuais que priorizam seus relacionamentos amorosos acima de todas as coisas", diz a pesquisadora Elisabete Oliveira.


Disponível em http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2014/04/14/assexuais-vivem-bem-sem-sexo-mas-podem-ter-um-relacionamento.htm. Acesso em 14 abr 2014.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

1% da população não tem nenhum desejo sexual

Destak Jornal
26 de Agosto de 2012

Um por cento da população não sente nenhuma espécie de atração sexual. A afirmação é de Anthony Bogaert, pesquisador e professor associdado da Brock University do Canadá, que chegou à conclusão após analisar as respostas que 18 mil britânicos deram sobre a vida sexual em estudo realizado na década de 1990.

No levantamento, parte dos entrevistados afirmou que nunca havia se sentido sexualmente atraído nem por pessoas do sexo oposto nem por pessoas do mesmo sexo.

A pesquisa virou "Entendendo a Assexualidade", livro que será lançado em setembro. Em entrevista ao jornal americano "Daily News", Bogaert explicou que há duas formas de assexualidade. Existem as pessoas que possuem um certo nível de desejo sexual, mas não o colocam em prática com outras pessoas e apenas se satisfazem sozinhas por meio da masturbação, e há também o grupo que não possui nenhum tipo de desejo sexual.

A obra também defende que os assexuados devem ser classificados na categoria "quarta sexualidade", levando em conta que já existem os héteros, os homossexuais e os bissexuais. Para Bogaert, que enxerga na falta de desejo sexual uma possível reação a uma excessiva promoção do sexo nas sociedades modernas, os assexuados sempre existiram, mas só agora resolveram "sair do armário".


Disponível em http://www.destakjornal.com.br/noticias/saude/1-da-populacao-nao-tem-nenhum-desejo-sexual-157341/. Acesso em 25 ago 2013.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Percepções sobre a assexualidade por pessoas não assexuais

Elisabete Regina Baptista de Oliveira
7 de junho de 2012

O artigo sobre o qual falaremos hoje é um dos poucos artigos acadêmicos sobre assexualidade escritos em espanhol. De autoria do Professor Luis Álvarez Munárriz, catedrático de Antropologia Social da Universidade de Murcia, na Espanha, o trabalho apresenta reflexões sobre assexualidade, bem como alguns resultados de entrevistas feitas por ele com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre o que as pessoas pensam sobre esse tema.

Fiz um recorte dos temas do artigo para focar somente na pesquisa empírica feita pelo professor, bem como seus resultados e conclusões. Nesta pesquisa empírica, Munárriz conversou com diversos entrevistados, na universidade na qual leciona, para conhecer a percepção que estes tinham sobre a assexualidade, ou seja, como veem falta de desejo sexual na perspectiva da orientação sexual. No restante do artigo - que não será abordado nesta postagem - o antropólogo analisa algumas falas de assexuais em postagens na internet, analisado-as a partir de alguns referenciais teóricos da antropologia.

Primeiramente, Munárriz entrevistou, na própria universidade, 12 pessoas que não se consideram assexuais, com o objetivo de saber sua opinião sobre o conceito de assexualidade. Nesses contatos, o pesquisador deparou-se com diferentes visões, entre elas, pessoas incrédulas, que não acreditam que uma pessoa normal não sinta desejo sexual ou que não tenha fantasias sexuais. Uma informante declarou: “Não consigo imaginar uma jovem de 18 anos que seja assexual.”

Outro entrevistado disse: “Isso é contraditório porque todas as pessoas têm desejo sexual, isso é impossível!” Outro declarou: “Se a pessoa não faz sexo, fica ruim da cabeça!” Outro perguntou ao entrevistador, em tom irônico: “E você, é assexual? Tudo bem, ser assexual.” Uma entrevistada mostrou-se indiferente à pergunta e respondeu: “OK, e daí?”, afirmando, em seguida, que ignorava que existisse esse tipo de pessoa, mas que não era surpresa e que não tinha nenhum interesse ou preocupação com esse assunto. Um entrevistado homossexual respondeu: “Todas as condutas deveriam ser consideradas normais, eu acho que é positivo que os assexuais se sintam atraídos por outras pessoas, mas não tenham a necessidade de ter relação sexual.”

Nesta primeira aproximação, Munárriz constatou o enorme desconhecimento e estranhamento sobre a assexualidade que predomina sobre a população entrevistada, mas também uma tentativa de compreensão da assexualidade feita por um entrevistado pertencente a uma minoria sexual. Esse desconhecimento também foi constatado nos três grupos de discussão que ele realizou com estudantes universitários, com o mesmo objetivo, ou seja, saber o que pensam sobre o conceito de assexualidade. Um deles declarou:

A assexualidade é algo absurdo, impossível, já que a sexualidade está no ser humano. Só se a pessoa nasceu com um defeito genético, ou houve algum problema que inibiu seu desejo sexual, caso contrário é totalmente impossível a existência dessa orientação sexual. Eu acho que assexuais não existem.

Essas primeiras entrevistas serviram de base para que o antropólogo elaborasse um questionário simples, que tinha três objetivos: 1) calcular o percentual aproximado de assexuais entre os entrevistados; 2) saber o grau de conhecimento dessas pessoas sobre a assexualidade; e 3) obter uma definição aproximada de pessoa assexual.

Com esses objetivos, o estudioso aplicou o questionário a alunos de diferentes faculdades e campus da Universidade de Murcia. Recebeu 145 questionários respondidos, sendo 79 de mulheres e 66 de homens.

Uma das perguntas feitas pelo pesquisador era sobre a orientação sexual dos respondentes, incluindo as alternativas heterossexual, homossexual, bissexual e assexual. O objetivo dessa pergunta era saber se havia pessoas que se identificavam como assexuais entre os entrevistados. O resultado é que nenhum dos 145 respondentes se identificou como assexual em sentido estrito. Somente um respondente selecionou duas alternativas ao mesmo tempo: heterossexual e assexual. Todos os outros respondentes escolheram uma das outras três alternativas: heterossexual, ou homossexual ou bissexual. Esse resultado pode indicar o total desconhecimento da assexualidade como orientação sexual, ao menos como possibilidade de identificação.

Outra pergunta do questionário dizia respeito ao grau de conhecimento dos respondentes sobre a assexualidade. O resultado comprovou que existe um enorme desconhecimento sobre as pessoas assexuais, podendo isso ter reflexo nos resultados da primeira pergunta. A questão seguinte indagava sobre o grau de interesse dos respondentes pela atividade sexual. Como esperado, considerando que os respondentes eram todos jovens, a maioria revela ter muito interesse pela atividade sexual.

Em uma questão, Munárriz abordou a definição de assexualidade, a partir de duas perspectivas diferentes: a do desejo sexual e da resposta sexual, entendendo o desejo sexual como uma experiência subjetiva dos indivíduos e a resposta sexual como uma resposta biológica do corpo a um estímulo, também conhecida como libido. A esta pergunta, todos os entrevistados afirmaram possuir os dois, desejo e resposta. É altamente significativa a coerência que aparece nas respostas: todos os que têm desejo sexual também afirmam experimentar resposta do corpo a estímulos interpretados como sexuais. O pesquisador não fez nenhuma pergunta em relação à existência ou inexistência de atração sexual – que seria o direcionamento do desejo para outra pessoa - normalmente definida por muitos assexuais como característica de sua orientação sexual. Não está claro se ele compreende desejo e atração como sinônimos. Também não faz indagações sobre existência ou não de orientação afetiva, que também constitui uma parte importante da identidade assexual.

A última pergunta era aberta e indagava a opinião dos respondentes sobre a assexualidade. Um dos entrevistados respondeu da seguinte forma:

Acho que a sexualidade é parte fundamental do ser humano, é algo natural e permite a perpetuação da espécie. A assexualidade pode ter a ver com o medo, talvez o medo do desconhecido, medo dos riscos do sexo.

Em sua pesquisa nas comunidades assexuais na internet, Munárriz revela que não captou esse medo descrito por este respondente nos discursos dos assexuais, muito pelo contrário, os assexuais lhe pareceram bastante confiantes com a identificação como assexual. De qualquer modo, o resultado de sua pesquisa empírica mostra o quanto a assexualidade é desconhecida até mesmo por estudantes universitários, que têm acesso a tecnologias de informação e comunicação, que dirá da população geral que pode não ter esse acesso? E que implicações pode ter esse desconhecimento nas vidas daqueles e daquelas que se identificam como assexuais?

O pesquisador não fornece respostas claras aos objetivos formulados por ele na realização das entrevistas. Munárriz reconhece, no final do texto, as dificuldades em se reconhecer a assexualidade como uma orientação sexual, pois este reconhecimento significaria um grande abalo em tudo o que a ciência e a cultura construíram historicamente sobre sexualidade. Mas seu texto revela uma resistência muito grande por parte do pesquisador em perceber a assexualidade na perspectiva da orientação sexual. Para ele, não existe base suficiente para se aceitar a existência de uma nova identidade sexual e muito menos base para que a assexualidade possa se constituir no motor de uma verdadeira revolução sexual.

Texto comentado
Munárriz, L. A. La identidad “asexual”. Gazeta de Antropologia, no. 26/2, 2010, Articulo 40

Matéria intitulada Trajetória de jovens assexuais é tema de doutorado na USP, que noticia pesquisa, feita pela Agência Universitária de Notícias, da USP:http://www.usp.br/aun/antigo/www/_reeng/materia.php?cod_materia=1205211


Disponível em http://assexualidades.blogspot.com.br/2012/06/percepcoes-sobre-assexualidade-por.html. Acesso em 09 jul 2013.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vida sem sexo

Adriana Giachini 
14/11/2012
          
O sexo faz parte da vida humana. Já na bíblia (que acredita-se ter sido escrita entre 1445 e 450 a.C) consta que, um dia, homem e mulher tornarão-se uma só carne. Outrora um tabu, o assunto hoje é tratado a exaustão e, às vezes, chega a ser banalizado.

Está na televisão, no cinema, na literatura e, claro, na vida real. Fala-se em iniciação sexual, em orgasmo, traição, doenças sexualmente transmissíveis, remédios estimuladores, taras e kamasutra ... o silêncio só impera quando o assunto é quem não gosta de sexo e nem pretende praticar.

Para muitos, não gostar é impossível. Para o Manual Estatístico e Diagnóstico de Distúrbios Mentais (DSM), da Associação Americana de Psiquiatria, a ausência do desejo sexual é distúrbio (existem vários). No entanto, os assexuais estão aí para comprovar que a vida sem sexo é uma realidade (e não uma doença) na qual o “problema” não está na cama – nem naquilo que não se faz entre quatro paredes. O maior obstáculo é o preconceito.

“Viver sem sexo numa sociedade que considera que o desejo sexual é universal e que a atividade sexual é indispensável para a saúde e felicidade não é nada fácil”, diz a pedagoga e socióloga Elisabete Regina Baptista de Oliveira.

Mestre em sociologia da educação, e doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ela estuda há um ano a assexualidade para sua tese de doutorado. “Busco conhecer as trajetórias de pessoas assexuais no processo de auto-identificação”, explica.

A pesquisa de Elisabete está sendo feita na Faculdade de Educação da USP e a tese será defendida em 2014. “Meu interesse surgiu a partir da constatação de que, apesar de haver comunidades de assexuais no Brasil, não havia pesquisas acadêmicas sobre o tema no País. 

Nos Estados Unidos, e em outros países, os assexuais estão se organizando em movimentos para ter visibilidade nos meios de comunicação. No Brasil, as interações entre os assexuais restringem-se às poucas comunidades existentes no Orkut e na Comunidade Assexual A2 (www.assexualidade.com.br) ”, justifica.

Uma pesquisa recente feita no Reino Unido, com mais de 18 mil pessoas, e analisada por cientistas da Universidade de Brock, no Canadá, estima que 1% da população seja assexual. Um número que, em termos mundiais, representa 70 milhões de pessoas. Gente que apesar de perfeitamente capaz defende o direito de não transar. E é feliz assim.

Quarto sexo

A informação primordial sob o tema é entender a luta dos assexuais. São homens e mulheres, de idades variadas, que levantam a bandeira da abstinência – sem que ela seja uma imposição como ocorre, por exemplo, com os celibatários. Para eles, a assexualidade é uma quarta orientação sexual – assim como ser heterossexual, homossexual ou bissexual.

“Eu vejo que a assexualidade é uma interpretação da falta de desejo, antes sempre considerada um distúrbio. Na verdade, ainda não existe uma definição totalmente acabada da assexualidade. Mas em linhas gerais, ser assexual significa não ter nenhum – ou pouquíssimo – interesse pela atividade sexual. E esse comportamento, não traz infelicidade, angústia ou desconforto”, explica Elisabete.

Pelo direito de não transar, os assexuais começam a ser organizar, especialmente em comunidades na internet.

O site mais conhecido é o da Aven (Asezual Visibility and Education Network) – que tem realizado passeatas mundo a fora sob o slogan “It´s o.k. To be A” (algo como “tudo bem ser assexual”). 

No Brasil, o grupo de assexuados ganha força em páginas como www.assexualidade.com.br (primeiro do País a discutir o tema) e o www.redeassexual.com (lançado no começo de setembro).

São espaços para discussão e também desabafos. Ali, muitos assexuais lamentam não serem compreendidos sequer pelos familiares. E compartilham histórias de vida tendo como elo comum o desejo de serem aceitos como são. A maioria, entretanto, confessa manter a opção sexual em segredo, com medo de represálias, seja no ambiente familiar, entre amigos ou mesmo no trabalho. “Os assexuais não se identificam com a forma com que a sexualidade está colocada na sociedade. E esse processo pode até levar a pessoa ao isolamento”, diz Elisabete.

A pesquisadora tem a aprovação de quem vive a assexualidade diariamente. “A falta de informação é que gera o preconceito. Acredito que se as escolas falassem sobre a diversidade sexual, ajudaria bastante. Mas, e infelizmente, no momento nem psicólogos e médicos tem conhecimento da assexualidade”, acredita a web designer Shanna Capell, criadora do site www.redeassexual.com, que está no ar desde 1º de setembro.

Segundo ela, que é assexual, a página na internet tem como objetivo “informar, debater e dar mais visibilidade ao tema”. Aos 28 anos, Shanna confidencia que, apesar do desejo de aceitação e da esperança em encontrar um parceiro, mantém sua assexualidade escondida da família e da maioria dos amigos. “Acho que cada um deve avaliar bem se vai contar e quando.

Nos EUA há um projeto (asexualawarenessweek.com) para, entre outras coisas, incentivar os assexuais a falarem, aumentando a visibilidade do tema. Eu vejo que o ser humano é complexo e diverso. E é importante dizer que o assexual sofre pela discriminação e não pela falta de sexo.”

Aliás, é bom explicar que a ausência do desejo sexual não significa que os assexuais não queiram relacionamentos amorosos – nem que não tenham prazer, por exemplo, como a masturbação.

Nas comunidades dedicadas ao tema, a explicação é que eles podem ser divididos entre os gostariam de manter relacionamentos, desde que não envolvam atividade sexual (são os chamados de românticos); os que aceitam transar para satisfazer seus parceiros e os que não têm interesse algum no tema. Para alguns, especialmente deste último grupo, até mesmo o beijo causa repulsa.

Nadando contra a maré

Não seria exagero afirmar que, para a sociedade moderna, o sexo é quase uma exigência – e especialmente no mundo ocidental. Como exemplo dessa “sexomania”, pode-se destacar que o maior best seller da literatura atual – a trilogia “50 tons de Cinza” – nada mais é do que um romance erotizado. Os livros, da escritora britânica Erica Leonard James, já venderam mais de 40 milhões de cópia no mundo e virarão filme.

Até a indústria farmacêutica – que recentemente lançou a versão do viagra para mulheres – se dedica ao tema com especial “carinho”, de olho em seu potencial lucrativo. Não à toa. Para muita gente, o sexo é tão importante como comer e dormir. E dá-lhe argumentos para comprovar a afirmação que faz bem para o corpo. Dirão: faz bem saúde e para ego.

Sem contar que é fundamental para a perpetuação da espécie. “O desejo sexual foi construído historicamente (sobretudo pelas ciências médicas) como universal, ou seja, todas as pessoas, independentemente da época, da cultura, do meio social devem sentir desejo sexual, de preferência desejo heterossexual. 

Mas já sabemos que a sexualidade não está somente no corpo biológico. Ela se constrói nas relações sociais, que são permeadas por determinadas culturas. Hoje os assexuais contestam este postulado histórico. Essas pessoas têm nos mostrado, nos últimos 10 anos, que existe muita coisa que ainda não sabemos sobre a sexualidade humana.”

Para a pesquisadora, os assexuais são a prova viva de que a necessidade sexual não pode ser equiparada a outras necessidades biológicas, como alimento ou água. “Isso é o que a mídia propaga; isso é o que as ciências biológicas propagam, isso é o que a indústria do consumo propaga. A sexualidade não está somente no corpo biológico, como eu já disse. Se a pessoa acredita que o sexo é fundamental, ela vai construir sua vida em torno dessa crença, e pode se sentir infeliz quando estiver impossibilitada de fazer sexo, ou de ter um relacionamento amoroso. Se a pessoa acredita que para ela o sexo não é importante – ou totalmente dispensável – ela vai viver sua vida bem e ajustada em torno dessa crença, ou sentir-se infeliz se for obrigada a fazer sexo.”

Os desafios dos assexuais

_ Viver numa sociedade que considera que o desejo sexual é universal e que a atividade sexual é indispensável para a saúde e felicidade.
_ Viver numa sociedade que apregoe que não fazer sexo – ou não desejar o sexo – não é normal
_ Viver numa sociedade que ensina que não é possível ter relacionamentos amorosos prazerosos que não envolvam a atividade sexual.
_ Viver numa sociedade que apregoe que o sexo é necessariamente consequência do amor.
_ Viver numa sociedade que considera que não é possível ser feliz sozinho.
_ Viver numa sociedade que priorize a atividade sexual, quando existem tantos outros aspectos importantes na vida.
_ Viver numa sociedade que não acredite na diversidade humana
_ Viver numa sociedade que não respeita o direito individual de tomar decisões em relação ao uso de seu corpo.

Assexual ou assexuado

Nas comunidades virtuais brasileiras, as duas denominações são encontradas, porém, defende-se que o termo mais correto é assexual uma vez a perspectiva trabalhada é a de orientação sexual. A palavra assexual segue a mesma formação de outras palavras que nomeiam outras orientações sexuais, como heterossexual, homossexual e bissexual.

Pesquisa

A socióloga Elisabete Regina Baptista de Oliveira mantém um blog na internet sobre a assexualidade e no qual divulga pesquisas recentes que estejam relacionadas ao tema. Entre os tópicos, está um artigo produzido na área de biologia e escrito pelos cientistas Wendy Portillo e Raul Paredes, do Instituto de Neurobiologia da Universidade Autônoma do México.

Nele, os autores relatam que em diversas espécies de mamíferos, a ciência observa a existência de machos aparentemente normais, mas que não seguem o padrão de conduta sexual da maioria – mesmo quando estimulados por fêmeas sexualmente receptivas. Esses animais, conhecidos como não copuladores (NC), de acordo com os autores do artigo, poderiam ser equivalentes aos assexuais humanos – ainda que o ser humano seja portador de uma estrutura psicológica diferente.

As espécies de animais nos quais foram identificados machos não copuladores são as ovelhas e algumas espécies de roedores, como ratos, cobaias, camundongos e hamsters. Os machos não copuladores correspondem entre 1% e 5% - porcentagem próxima à estimativa de alguns cientistas para humanos que não têm interesse pela atividade sexual.

Segundo os estudiosos, estas deficiências podem ser causadas por alterações no sistema nervoso central. O conjunto de pesquisas estudadas sugere que a falta de interesse por sexo no mundo animal tem um componente biológico importante que pode modificar o sistema nervoso central e, consequentemente, sua função. Ainda segundo os pesquisadores não existem estudos sobre interesse sexual em fêmeas mamíferas.

Disponível em http://metropole.rac.com.br/_conteudo/2012/11/capa/10568-vida-sem-sexo.html. Acesso em 29 nov 2012.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sexualidade e experiências trans: do hospital à alcova

Berenice Bento
Ciência & Saúde Coletiva, 17(10):2655-2664, 2012

Resumo: Depois dos estudos das masculinidades, não é possível pensar a produção das identidades de gênero sem referenciá-las ao caráter relacional. Esta mudança deveu-se à incorporação da perspectiva relacional nesse campo de estudos e à crítica ao conceito de gênero assentado em uma suposta natureza feminina e masculina para construir as interpretações sobre o lugar dos corpos da ordem de gênero. Os objetivos desse artigo são: 1) apontar como um determinado conceito de gênero pode visibilizar múltiplas expressões de gênero, a exemplo das identidades trans (transexuais, travestis, cross dress, drag queen, drag king, transgêneros) ou invisibilizá-las e contribuir para sua patologização. O segundo objetivo será apresentar narrativas de homens trans e de mulheres trans, que nos contarão suas vivências sexuais. Os saberes médicos-psi advogam a inexistência de sexualidade em seus corpos, sendo este um dos indicadores para produção do diagnóstico de transexualidade. Tentarei argumentar que a base teórica que sustenta a patologização das identidades trans e a afirmação que as pessoas trans são assexuadas tem como fundamento uma concepção que atrela e condiciona as identidades de gênero às estruturas biológicas.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

1% da população se considera assexual

Galileu
20 de agosto de 2012 

Passei a adolescência ao lado de um amigo que não ‘pegava’ nenhuma menina. Por isso, ele era chamado pelos colegas de escola de homossexual e a própria família começou a acreditar que era esta a sua orientação sexual – pura falta de esclarecimento. Confesso que eu, no auge dos meus 17 anos, também comecei a acreditar nos boatos. Até que, um dia, ele me chamou para uma conversa.

Pensei que ele revelaria para mim, naquela hora, que gostava de meninos. Já tinha até preparado mentalmente meu discurso de aceitação, dizendo que ele teria meu apoio na hora de se assumir. Mas, na verdade, ele perguntou para mim se era normal ‘não sentir atração por ninguém‘. Nem pelas moças e nem pelos rapazes. Ele contou que se esforçou para achar mulheres atraentes, que também considerou a possibilidade de ser homossexual, mas que pensar em outra pessoa o tocando o deixava desconfortável. Não lembro da minha reação. Provavelmente, fiquei sem alguma. O fato é que, até hoje, ele se considera assexual – e é feliz assim.

Ultimamente, do alto de nossas ‘mentes abertas’, falamos de heterossexuais, homossexuais e bissexuais. Mas acabamos deixando de fora os assexuais, pessoas que, como meu amigo, não sentem nenhum tipo de atração física. E, segundo uma pesquisa feita no Reino Unido com mais de 18 mil pessoas, analisada por cientistas da Universidade de Brock, no Canadá, 1% da população é assexual. Um número que, em termos mundiais, representa 70 milhões de pessoas – gente pra caramba.

E, segundo o professor responsável pela pesquisa, Anthony Bogaert, há pouquíssimos estudos sobre os assexuais e eles podem se sentir excluídos em nossa cultura, que é altamente sexualizada.

Bogaert afirma que identificou dois tipos de assexuais: aqueles que têm desejos sexuais, mas não o direcionam para ninguém (e liberam esses desejos através da masturbação) e aqueles que não tem nenhuma vontade sexual. Mas é importante notar que isso não quer dizer que eles sejam incapazes de criar vínculos emocionais com outras pessoas. E tanto homens quanto mulheres assexuais, segundo o professor, até desejam ter filhos e formar famílias – mas através de métodos como a inseminação artificial.

Em um mês, o livro Understanding Asexuality, de Bogaert, deve ser lançado. Assim que colocar as minhas mãos em um, devo postar mais informações por aqui. Enquanto isso, caso você queira dividir sua opinião, experiência ou história em relação ao assexualidade, a caixa de comentários e o meu email (do lado direito da tela) estão disponíveis.
Estudo via DailyMail

Disponível em <http://colunas.revistagalileu.globo.com/formuladoamor/2012/08/20/1-da-populacao-se-considera-assexual/>. Acesso em 07 set 2012.

domingo, 24 de junho de 2012

'Nem toda atração é sexual', diz militante

Juliana Cunha
27/03/2012

Aos 11, Marcelo C., 22, achou que os amigos haviam enlouquecido: "Do nada, todos passaram a se interessar por meninas, a falar no assunto, a inventar motivo para ficar perto delas. Eu continuava o mesmo de sempre", conta.
Aos 15, continuar o mesmo de sempre passou a ser um problema: "Já era o lanterninha da turma, o único que não havia beijado". Uma garota de outra escola, amiga da ficante de um amigo, se interessou por Marcelo: "Vai ver que era pena, ou ela era tipo gato, que sempre simpatiza com quem não gosta dele", brinca.

Para não fazer feio, ficou com a menina. Não gostou. Tentou outras oito garotas até completar 21. "A pressão agora era por sexo e isso eu não queria mesmo. Continuo virgem", conta.

Hoje Marcelo é estudante de economia no Matogrosso e assexual quase assumido. A mãe sabe, mas o pai, não. Os primos sabem, mas os irmãos, não. Marcelo acha que encontrou uma certa harmonia com sua vida sexual: "Já pensaram que eu era gay ou pervertido, do tipo que gosta de algo tão estranho que prefere não revelar, mas acho que lido bem com a questão hoje. Ainda sofro alguns constrangimentos, mas já não estou disposto a arrumar uma namorada só para constar", finaliza.

A designer colombiana Johanna Villamil, 26, enfrentou problemas parecidos até se descobrir assexual. "Foi lendo um livro sobre Andy Warhol que encontrei algumas opiniões dele sobre sexo e amor e me identifiquei. Vi que outras pessoas pensam como eu nessa questão", conta.

Johanna começou a ter relações sexuais na adolescência "porque é a coisa mais legal que pode acontecer quando se é jovem", mas logo percebeu que não entendia bem a "função do sexo": "Pelo que via ao meu redor, pude perceber que relações sexuais não faziam os relacionamentos seram melhores, mais longos ou estáveis, então, passei a me relacionar com as pessoas de modo diferente", conta.

Para Johanna, o que ela faz hoje é "explorar o tipo de relacionamento que existe entre o amor e a amizade". Na prática, isso significa que ela tem namorados, mas não costuma transar com eles: "Não existe apenas atração do tipo sexual. Existem inúmeros tipos de atração. Eu me relaciono com pessoas que têm cérebros 'sexy', jeitos 'sexy'", diz a moça, que hoje é representante da Aven (Asexual Visibility and Education Network) na América Latina.


Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1065617-nem-toda-atracao-e-sexual-diz-militante.shtml>. Acesso em 22 jun 2012.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Assexuados são minoria incompreendida do momento

Juliana Cunha
27/03/2012

Para o jornalista Millôr Fernandes, entre todas as taras sexuais não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência. A pedagoga Elisabete Oliveira, que escreve sua tese de doutorado sobre assexualidade, não poderia estar mais de acordo: "As pessoas têm mais facilidade para entender as variações do desejo do que a falta dele".

A área de estudo de Oliveira é particularmente nova: há poucos trabalhos científicos sobre o tema no mundo, e a maioira deles apresenta a assexualidade como transtorno, segundo ela. "Até hoje foram escritos menos de 30 artigos que enxergam o desinteresse pelo sexo como opção".

Os próprios assexuais contribuíram para transferir seu comportamento do campo da patologia para o das escolhas. A partir dos anos 2000, eles passaram a se organizar em comunidades virtuais e a tentar se definir. Aos trancos e barrancos, chegaram à definição atual do que vem a ser um assexual: "É uma pessoa que sente pouco ou nenhum desejo por outras pessoas", explica a estudante colombiana Johanna Villamil, 26, representante da Aven (Asexual Visibility and Education Network) na América Latina.

Dentro da definição há espaço para quem sente repulsa ao sexo, namora sem transar, pratica masturbação e até transa sem interesse, no intuito de agradar o parceiro.

Com 40 mil membros, 2 mil na América Latina, a Aven é a maior organização do gênero e acha que poderia ser maior: "Pouca gente se identifica como assexual, o termo é desconhecido e parece pejorativo. Nossa intenção é sair do armário para que outros se reconciliem com a opção de não transar", diz Villamil.

No DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), catálogo de doenças mentais da associação americana de psiquiatria, assexualidade tem nome e sobrenome: é síndrome do desejo sexual hipoativo, considerada um desvio.

"Para o DSM ninguém é normal", relativiza Carmita Abdo, coordenadora do projeto de sexualidade do Hospital das Clínicas. A psiquiatra lembra que há mais diversidade entre quatro paredes do que fazem supor as revistas femininas: "Por vivermos numa sociedade hipersexualizada, não transar parece problema grave, mas ninguém deve ser medicado por não ter desejo, a não ser que isso gere sofrimento".

Deficiência hormonal, depressão, vaginismo, problemas de tireoide ou de ereção, menopausa, hipertensão e diabetes são alguns fatores que podem minar a vontade de sexo. É comum, no entanto, que pessoas saudáveis percam o desejo por um tempo: "Sexualidade não é uma linha eternamente ascendente. Para se considerar assexuada a pessoa precisa estar numa fase longa de falta de desejo sem motivo de saúde, acima de seis meses", diz Abdo.

A fase prolongada de F. Michele, 30, tem durado sua vida inteira. A funcionária pública baiana já tentou relacionamentos com homens e mulheres só para ter certeza de sua indiferença ao sexo: "Não me faz falta. Mantive relacionamentos quando me senti exigida, mas hoje sei que é contra minha natureza", diz.

Até os 28, Michele conta que levantava suspeitas ao pular Carnaval e frequentar shows e nunca ficar com alguém: "Beijei alguns homens, tive relacionamentos rápidos, sem sexo, mas ainda assim era estranho nunca me verem com alguém".

Quando se submeteu a uma cirurgia de redução de estômago, há cinco anos, a pressão para que namorasse cresceu: "Se você não sai com ninguém porque é gorda, tudo bem, mas ser magra e só é inaceitável", diz.

Para atender à demanda da família, a moça namorou um rapaz por seis meses. Não deu certo. Tentou um caso homossexual, fracassou: "Não gosto da sensação de ser tocada e o suor durante o sexo me incomodava muito, sentia nojo".

Hoje, Michele se diz apaziguada com sua opção: "Duas das minhas irmãs sabem que sou assexuada, falei. Para os outros, não preciso me expor tanto, mas não chego a esconder. Se alguém vem com conversa sobre namoro, deixo claro: não me interessa".

Para a psicóloga Blenda de Oliveira, todo mundo tem libido e é preciso investigar as causas antes de aceitar a assexualidade como saudável: "Há quem tenha baixa libido ou prefira canalizar essa energia para outras coisas. Mas é raro alguém que não tenha problemas com sua falta de desejo".

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1067590-assexuados-sao-minoria-incompreendida-do-momento.shtml>. Acesso em 08 jun 2012.

domingo, 3 de junho de 2012

Britânica de 21 anos conta como é ser assexuada

BBC BRASIL
2 de fevereiro, 2012

"Para mim, basicamente, (ser assexuada) quer dizer que eu não olho para as pessoas e penso 'hmmm, eu gostaria de ter relações sexuais com você'. Isso simplesmente não acontece", diz ela.

A estudante da Universidade de Oxford faz parte de 1% dos britânicos que se identificam como assexuados. A assexualidade é descrita como uma orientação, diferentemente do celibato, que é visto como uma escolha.

"As pessoas me perguntam: 'se você nunca experimentou, como você sabe?' Bem, se você é heterossexual, você já experimentou ter relações com uma pessoa do mesmo sexo? Como você sabe que não ia gostar então? Você simplesmente sabe que você não tem interesse nisso, independentemente de ter experimentado ou não", diz ela.

Na Grã-Bretanha, há um website dedicado à comunidade assexuada, a Asexual Visibility and Education Network (Rede de Visibilidade e Educação Assexual), que faz questão de frisar que a diversidade entre eles é tão grande como entre a comunidade "sexual".

O sociólogo Mark Carrigan, da Universidade de Warwick, explica que há, por exemplo, assexuados românticos e não românticos.

"Assexuados não românticos não tem nenhum tipo de relação romântica, então em muitos casos eles não querem ser tocados, não querem nenhum tipo de intimidade física", diz Carrigan.

"Os assexuados românticos não sentem desejo sexual, mas sentem atração romântica. Então, eles veem alguém e não respondem sexualmente a essa pessoa, mas podem querer ficar mais próximos, conhecê-la melhor, dividir coisas com ela."

Namorado

Este é o caso de Jenni, que é hetero-romântica e, apesar de não ter nenhum interesse em sexo, ainda sente atração por pessoas do sexo oposto e está em um relacionamento com Tim, de 22 anos. Tim, no entanto, não é assexuado.

"Muitas pessoas chegam a perguntar se eu não estou sendo egoísta de mantê-lo em uma relação que não vai satisfazê-lo e dizem que ele deveria namorar alguém como ele, mas ele parece bem feliz, então eu diria que ele é quem deve decidir isso", diz Jenni.

Segundo Tim, ele está gostando de passar tempo com Jenni e de conhecê-la melhor concentrando as atenções no lado romântico do relacionamento.

"A primeira vez que Jenni mencionou durante uma conversa que era assexuada, meu primeiro pensamento foi: 'hmmm, isso é um pouco estranho', mas eu sabia que não deveria fazer suposições sobre o que isso significava", explica Tim.

"Eu nunca fui obcecado por sexo. Eu nunca fui do tipo que tem que sair à noite e tem que achar alguém para ter uma relação sexual, só porque é isso que as pessoas fazem...então, não estou tão preocupado com isso."

Ainda assim, a relação de Jenni e Tim tem um lado físico, já que eles se abraçam e se beijam para expressar seu afeto um pelo outro.

Estudos científicos

A assexualidade foi objeto de poucos estudos científicos, segundo Carrigan, porque até 2001 não havia uma comunidade assexuada e, portanto, um objeto a ser estudado.

"Houve muitas pesquisas sobre transtorno do desejo sexual hipoativo, que é classificado como um transtorno de personalidade, e é quando você não sente atração sexual e sofre por conta disso. Então, muitas pessoas que depois foram definidas como assexuadas podem ter sido vistas anteriormente como alguém que sofria desse transtorno", diz Carrigan.

A falta de pesquisas sobre o assunto dá margem a especulações sobre por que algumas pessoas não sentem desejo sexual.

"Há pessoas que definitivamente veem isso como uma doença, que pode ser curada com remédios, outras perguntam se já chequei meus níveis hormonais, como se essa fosse uma solução óbvia", diz Jenni.

"E há pessoas que vão ainda mais longe. Já me perguntaram se fui molestada quando era criança, que não é uma pergunta apropriada. E eu não fui."

Preconceito e marginalização

Apesar de assexuados às vezes sofrerem discriminação, Carrigan diz que o preconceito é diferente da "fobia" que lésbicas e gays podem sofrer.

"É mais uma questão de marginalização, porque as pessoas não entendem a assexualidade."

"A revolução sexual mudou muito a forma como lidamos com o sexo e como pensamos nisso como sociedade. Algumas pesquisas me dão uma sensação de que há um grau de sexualização excessiva na sociedade, as pessoas simplesmente não entendem a assexualidade", diz Carrigan.

Segundo a especialista em relacionamentos e sexualidade Pam Spurr, as pessoas conseguem falar sobre baixa ou alta libido, mas a assexualidade não é um assunto muito discutido abertamente.

Carrigan acha que uma comunidade assexuada mais visível pode ter um efeito nas pessoas que não são assexuadas.

"Não havia um conceito de heterossexualidade até haver homossexuais. Foi só quando algumas pessoas passaram a se definir como homossexuais que passou a fazer sentido para outras pessoas pensar em si mesmas como heterossexuais", explica Carrigan.

"Se é verdade que até 1% da população é assexuada e mais pessoas vão saber que eles existem, será que isso vai mudar a maneira como pessoas 'sexuais' se veem? Porque não há hoje uma boa palavra para definir pessoas que não são assexuadas."

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120117_assexuadidade_is.shtml>. Acesso em 02 fev 2012.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Bolo é melhor que sexo?: complemento

Elisabete Regina Baptista de Oliveira
segunda-feira, 22 de agosto de 2011 postado às 06:40

Resumo: Recentemente concedi uma entrevista sobre assexualidade ao Jornal Correio Braziliense, a qual foi publicada em 14 de agosto de 2011 (Bolo é melhor que sexo? - sob o lema cake is better than sex, grupos de pessoas que se dizem assexuadas se reúnem em fóruns na internet para discutir a polêmica opção. Alguns até namoram, mas sem ter contato mais íntimo) por Carolina Samorano publicado em 12/08/2011 12:27 e atualizado às 12/08/2011 19:53.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Bolo é melhor que sexo?

Carolina Samorano
Publicação: 12/08/2011 12:27 Atualização: 12/08/2011 19:53

Resumo: Sob o lema cake is better than sex, grupos de pessoas que se dizem assexuadas se reúnem em fóruns na internet para discutir a polêmica opção. Alguns até namoram, mas sem ter contato mais íntimo.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A assexualidade e o DSM

Elisabete Regina Baptista de Oliveira
Quinta-feira, 26 de maio de 2011


Hoje falaremos um pouquinho sobre um documento nascido nos Estados Unidos, o qual classifica, segundo critérios nem sempre claros, os chamados transtornos mentais. Trata-se do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - mais conhecido como DSM, na sigla em inglês -, publicado desde 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria. Este documento constitui a fonte de referência mais influente sobre o que é considerado “normal” ou “anormal” em saúde mental, não somente nos Estados Unidos, mas também em outros países.

Atualmente em sua 4ª. edição (DSM-IV), o Manual é utilizado para diagnóstico e classificação de transtornos mentais por profissionais da área da saúde mental, convênios médicos, clínicas, hospitais, indústrias farmacêuticas e outras instituições do campo da saúde nos Estados Unidos. A Associação Americana de Psiquiatria tem, portanto, o monopólio do diagnóstico e da classificação dos transtornos mentais, o que impulsiona um mercado formidável de tratamentos e medicamentos para milhões de pessoas, movimentando milhões e milhões de dólares por ano.

Apesar das críticas e questionamentos ao Manual levantados por diversas áreas do conhecimento (afinal, que confiabilidade pode ter um diagnóstico de transtorno mental que segue uma classificação pré-existente, sobretudo se tal diagnóstico leva a tratamentos e medicamentos, cuja necessidade dificilmente pode ser comprovada?), o DSM continua sendo a bíblia da psiquiatria americana.

A cada nova edição do documento, novos transtornos são acrescentados ou retirados, novas classificações são propostas e criadas, caminhando-se cada vez mais para a biologização dos distúrbios. Trata-se de um mecanismo de medicalização dos comportamentos sociais, que é um tema que temos repetido aqui no Blog desde o início. A primeira versão, de 1952, listava um total de 106 transtornos mentais; a versão mais recente, de 1994 traz 357 transtornos.

Para se ter uma idéia da importância política do DSM para a sociedade como um todo, basta lembrar que somente em 1973, quando o documento retirou a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais, é que abriu-se as portas para as lutas pelos direitos civis de pessoas homossexuais nos Estados Unidos, e também no resto do mundo. Portanto, essas classificações vão muito além do interesse de médicos e pessoas portadoras de transtorno; elas têm um impacto social que não pode ser desconsiderado.

A esta altura, o leitor já deve estar concluindo que o DSM também medicaliza, patologiza e biologiza diferentes condutas sexuais da população, classificando-as como transtornos que necessitam de tratamento. E é justamente nessa perspectiva que encontramos a assexualidade fazendo parte dessa classificação, ainda que a palavra assexualidade não figure no Manual.

A pesquisadora Jane Russo, em trabalho de 2004, observa que, ao tratar dos transtornos relacionados à sexualidade, o Manual traz uma concepção do que significa “sexualidade normal”. A 4ª. versão do Manual define disfunção sexual como “uma perturbação nos processos que caracterizam o ciclo de resposta sexual ou por dor associada com o intercurso sexual.” O ciclo de resposta sexual compreende as fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução. Para cada uma dessas fases, são listados transtornos específicos.

O que nos interessa aqui é o chamado Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo, definido pelo Manual como “deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de ter atividade sexual.” Jane Russo destaca que, ao referir-se a “deficiência de fantasias” ou “baixo desejo”, o Manual sugere que existe um nível normal de fantasias e desejos, e que estar abaixo desse nível significa ser portador de um distúrbio. Como a assexualidade é caracterizada pela ausência de desejo e/ou atração sexual, isso a coloca automaticamente na lista dos distúrbios sexuais, segundo o DSM. Ou seja, para o Manual, quem não tem interesse pela atividade sexual é necessariamente portador de um transtorno mental.

Ciente disso, o movimento assexual norte-americano, mais precisamente um grupo de trabalho composto por membros da AVEN (Asexual Visibility and Education Network) tem atuado em conjunto com membros da Associação Americana de Psiquiatria para que essa descrição seja alterada, pois para o movimento, a falta de interesse por sexo não deve ser considerada necessariamente um distúrbio, uma vez que muitas pessoas vivem muito bem sem sexo.

Está prevista uma nova edição do DSM a ser publicada em 2013, e é justamente nesta edição que os assexuais norte-americanos esperam poder incidir. A exemplo dos desdobramentos da retirada da homossexualidade da lista de transtornos mentais em 1973, espera-se que a modificação proposta pelo movimento assexual possa constituir o primeiro passo para o reconhecimento da assexualidade como orientação sexual.

Referência Bibliográfica.
RUSSO, Jane Araújo. Do desvio ao transtorno: a medicalização da sexualidade na nosografia psiquiátrica contemporânea. In: PISCITELLI, A.; GREGORI, M. F.; CARRARA, S. Sexualidades e saberes: convenções e fronteiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.


Disponível em <http://assexualidades.blogspot.com/2011/05/assexualidade-e-o-dsm.html>. Acesso em 09 ago 2011.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Jovens com repulsa a sexo usam web para encontrar semelhantes

Anna Virginia Balloussier
20/06/2011 - 08h00


Toda vez que pensa naquilo, Bia*, 20, sente um friozinho na barriga. E não do tipo bom. "Na minha cabeça, sexo é algo meio sujo. Sinto repulsa." Ela é virgem e quer continuar assim para sempre. O primeiro beijo só foi dar este ano, de curiosa. Não curtiu. No terceiro ano do ensino médio, a mineira Bia costumava se achar "um ET", mas essa fase já passou. Hoje aceita bem o que é: assexual. A moça não está só. Uma pesquisa do Datafolha de setembro de 2009 revelou que 5% dos jovens de 18 a 24 anos não veem graça no sexo.

O Folhateen entrevistou cinco deles. Quatro, apesar de se dizerem bem resolvidos, não quiseram revelar o nome. Não é de hoje que o estudante de informática carioca Thiago*, 17, lança mão dessa vida dupla. Em redes sociais, ele mantém dois perfis. Com o "fake", troca ideia com outros jovens que pensam igual.
Para ele, ainda está cedo para sair do mais bem comportado dos armários. "É ainda pior do que se assumir gay. Mesmo amigos homo teriam grande preconceito...". O medo que aflige Ricardo*, 19, vem de casa. "Sofro com a família. Comentam que sou gay por não me mostrar interessado em sexo." Auxiliar administrativo no Rio e "muito evangélico", ele se encheu de tanta especulação sobre sua sexualidade. Aí forçou um namoro. "Queria desviar a atenção de mim." Como não foi aberto com a moça, a união não chegou a durar dois meses.

O estudante de ciências sociais Júlio Neto, 20, acredita que dizer "não" ao sexo é ainda mais difícil no Brasil, país que põe a sexualidade no mesmo altar do futebol. "Para nós, ser homem é ser 'comedor de mulheres'." Mas o rapaz entendeu sua orientação sem maiores traumas. "Nunca achei que poderia ser uma doença", diz.

Não à toa, Júlio -- dono de uma loja de acessórios para informática em Pernambuco -- foi o único entrevistado que topou se identificar. Ele criou o site assexualidade.com.br. No Orkut, uma comunidade com 300 membros assexuais é bastante ativa. Um dos tópicos combinava um encontro (para comer cachorro-quente). Outro debatia como lidar com namorados que gostam de sexo ("faço por dó, só para ele parar de encher").

Os assexuais lutam para chegar a um "ponto G" bem peculiar: provar à sociedade que rejeitar sexo é uma orientação como outra qualquer. O grupo, afinal, tem plena capacidade de se apaixonar, mostrar afeto e até se masturbar. "Esta é minha natureza e estou feliz com ela", resume Ricardo. E ele não está de sacanagem.

*Nomes fictícios

Revolução Assexual

Todo assexual é virgem?

Não necessariamente. Há casos em que a pessoa só se descobre assexual mais tarde. Às vezes, até depois de um casamento. É possível, ainda, topar fazer sexo para preservar o relacionamento com um parceiro que goste da coisa --o casal precisa entrar em acordo. Não há impedimento físico, como impotência.

Assexuais são solitários?

De forma alguma. Eles podem gostar de namoro, companhia e carinho. Há ainda os que têm um bocado de amigos, mas não veem sentido em relacionamentos amorosos -são chamados de "arromânticos". Bia* se encaixa nesse grupo. "Posso não dar amor para um namorado, mas sou muito de querer amizade. Não gosto de ficar sozinha, não."

Posso não gostar de sexo e me masturbar?

A masturbação é praticada por alguns assexuais. Nesses casos, não envolve fantasias sexuais -- é praticamente um ato mecânico. Seria a resposta da pessoa a uma necessidade corporal, uma espécie de alívio físico. Como ir ao banheiro ou comer quando sentimos fome.

Cadê os assexuais no meio cultural?

Celibato, misoginia (horror a mulheres), falta de jeito para a coisa. Casos assim estouram no cinema, na TV e na literatura. Bem mais raros são os personagens que não dão bola para o que rola entre quatro paredes. Em 2009, a novelinha "Malhação", da Globo, incluiu o assexual Alê (William Barbier) na trama. O físico Sheldon Cooper, da série de TV "The Bg Bang Theory", é outro que parece não ser chegado em sexo.

Sexo não é minha onda. Quem procuro?

Alguns assexuais não querem saber de médico, pois não se veem como doentes (rejeitam, aliás, o termo "assexuados", por acharem que soa como doença). Preferem comunidades como aassexuality.org. No Brasil: assexualidade.com.br e assexualidades.blogspot.com.


Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folhateen/931773-jovens-com-repulsa-a-sexo-usam-web-para-encontrar-semelhantes.shtml>. Acesso em 20 jun 2011.