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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Crossfit proíbe transexual de competir entre mulheres e é processado

UOL
07/03/2014

Uma mulher transexual abriu processo contra uma competição de crossfit após ser proibida de competir na categoria feminina. A atleta alega ter sido discriminada e pede US$ 2,5 milhões na Justiça de indenização.

Personal trainer, Chloie Jonnson tentou participar dos CrossFit Games, concurso da modalidade destinado a determinar o homem e a mulher mais forte. Ela solicitou sua inscrição na categoria feminina, mas a competição sustenta que a atleta nasceu como homem e deveria competir no masculino.

Em carta do advogado da companhia ao representante de Jonnson, o CrossFit alega que tomou a decisão para "proteger os direitos de todos os competidores e da competição em si".

O advogado de Jonnson, porém, defende que a atleta é identificada como mulher desde a adolescência e que seu atual status foi reconhecido legalmente pelo estado da Califórnia. Jonnson passou por cirurgia para troca de gênero em 2006 e desde então tem se submetido a terapia hormonal.

O defensor ainda revelou que um companheiro de time de Jonnson enviou um e-mail anônimo para a organização do torneio perguntando sobre atletas transexuais na competição. O CrossFit Games respondeu que os competidores deveriam disputar o evento na categoria do gênero de seu nascimento.

"[Jonnson] Não tem nenhuma vantagem sobre outra mulher. Ela tem tomado estrogênio por um longo tempo. Ela é mulher, é legalmente mulher. Uma empresa como o CrossFit está fazendo negócios na Califórnia. A lei impede a discriminação com base na identidade de gênero", disse Waukeen McCoy, advogado de Jonnson.

A terapia de reposição hormonal para transexuais femininas inclui tratamento anti-androgeno, que anula os efeitos da testosterona para reduzir as características masculinas do corpo. Ainda consiste na aplicação dos hormônios estrogênio e progesterona para feminizar o corpo.

Outro problema levantado por McCoy é a questão da privacidade dos atletas transexuais. Eles teriam suas vidas particulares expostas ao competirem em seu gênero de nascimento, já que alguns praticantes nunca revelaram ter realizado cirurgia de troca de sexo.

"Se serei forçada a não ser eu mesma, quero que isso seja feito para o bem de todas as pessoas transexuais e atletas. Não por causa da política discriminatória de uma empresa", disse Jonnson em comunicado à imprensa.


Disponível em http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/2014/03/07/crossfit-proibe-transexual-de-competir-entre-mulheres-e-e-processado.htm. Acesso em 05 mai 2014.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Médicos e transexuais

Concília Ortona

Ser transexual é uma escolha? Crianças percebem seu transtorno de identidade de gênero? É ético possibilitar o início da transição para a mudança de sexo a adolescentes? Questões sobre estes temas delicados – e pouco abordados – voltaram à tona no Brasil, em julho, quando o Ministério da Saúde (MS) lançou duas portarias em 24 horas: a inicial, entre outros pontos, antecipava, de 18 para 16 anos, o emprego de hormônios a transexuais, e de 21 para 18, a operação, no âmbito do SUS. A norma seguinte derrubou a anterior, até a “definição de protocolos clínicos e de atendimento”.

Enquanto as discussões tomam forma no País, a Ser Médico entrevistou duas autoridades médicas norte-americanas no assunto, que, além de explicações técnicas, transmitem pontos de vista de protagonistas dessa história: são transexuais. A primeira parte da entrevista focaliza a ginecologista Marci L. Bowers, 55 anos, que foi Mark até os 40 – tendo, inclusive, se casado e sido pai de três filhos. Figurando na lista dos Melhores Médicos Norte-Americanos, em 2002 e 2003, atualmente é especialista em mudança de sexo. Na segunda, quem fala é o médico Ben Barres, 58 anos, PhD e presidente do departamento de Neurobiologia da Stanford University School of Medicine. Com 42 anos ainda era Barbara e, apesar de hoje ser oficialmente homem, indigna-se contra pares que sugerem “aptidão intrínseca” do sexo masculino à Ciência. Em ambos os casos, pode-se observar o equívoco de restringirem-se as opções profissionais de transgêneros a determinadas carreiras. Confira, a seguir, as duas entrevistas.

Ser Médico – No Brasil, tentou-se antecipar o início do processo de mudança de sexo, iniciativa derrubada provavelmente por pressões religiosas e/ou políticas. Um adolescente com 16 anos consegue saber, com certeza, se é transexual?
Marci L. Bowers – É vergonhoso e perigoso política e religião desempenharem quaisquer papéis na tomada de decisão médica. De qualquer modo, sou sensível a tal questão. Nos EUA, como em outros locais do mundo, vemos uma população cada vez mais jovem solicitando hormônios e cirurgia. Nem sempre são situações fáceis de se lidar, pois nosso juramento nos impede de tomarmos medidas, quando riscos excedem os benefícios. Em geral, em transexuais, sentimentos confusos quanto ao gênero começam bem cedo, antes da puberdade, sugerindo a existência de uma base biológica de gênero. Só que é preciso cuidado. Apenas um terço das crianças com comportamento não compatível com o sexo biológico vai se tornar um adulto transexual. Por outro lado, o agravamento do desconforto, pela puberdade, é altamente preditivo de identidade de gênero contrária. Pela minha experiência, um bom momento – o início da transição – é a partir dos 17 anos, quando parece haver a combinação perfeita de idade, maturidade e apoio dos pais, necessários para resultados cirúrgicos e sociais bem-sucedidos.

SM – Quando a senhora percebeu que era mulher, depois de viver por tantos anos como homem? Houve horas em que pensou: “posso manter-me como marido e pai, e continuar feliz”?
MB – Sempre pensei em mim como do gênero feminino, mas não conseguia colocar isso em palavras. Naquele tempo, nos anos 60, nem sabíamos a maneira correta de chamar esse tipo de comportamento. Sentia-me esquisito, constrangido e sozinho em meus pensamentos. Bem que tentei dar um jeito de ser machão na adolescência, mas a “persona masculina” simplesmente não se encaixava bem em mim. De forma inconsciente, sabia da disforia de gênero o tempo todo. Muitas das minhas memórias mais antigas e pungentes vinculam-se ao travestismo. Por exemplo, lembro-me de minha mãe chorando, em 1963, porque o presidente Kennedy havia sido assassinado, e ficar mais assustada ainda ao se deparar comigo, com cinco anos, com o vestido de chiffon amarelo da minha irmã. Gostaria de ter feito a transição ao sair do ensino médio, aos 19 anos, mas faltavam coragem e dinheiro. O casamento e a chegada das crianças foram importantes em minha vida adulta, mas perpetuaram meu sacrifício por mais 21 anos, quando finalmente realizei meu destino como mulher. A verdade é que chegou a um ponto em que viver como homem parecia cada vez mais perigoso para a minha saúde mental.

SM – Talvez por preconceito, no Brasil os transexuais parecem ter oportunidades profissionais restritas. Vemos dançarinos, artistas, cabeleireiros, maquiadores, mas raramente médicos ou professores universitários. Acontece o mesmo nos EUA?
MB – Nos EUA, houve um relaxamento dos papéis estipulados por gênero, masculino e feminino, refletindo os avanços sociais conseguidos pela população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). A ideia de que alguém possa ser transexual, e trabalhar como advogado competente, médico ou piloto de avião, reflete essa mudança de atitude. Há 20 anos isso seria inimaginável. Quem se classificasse como transgênero seria visto como mentalmente desequilibrado, na melhor das hipóteses, ou psicologicamente perturbado, na pior.

SM – A senhora já foi considerada por seus pares do Conselho de Pesquisa Americano como um dos Melhores Médicos da América. A que atribui tal reconhecimento?
MB – Durante os 20 anos em que atuei como obstetra, era visto como um profissional compassivo e carinhoso. Essa reputação permaneceu em meu trabalho atual, como cirurgiã especializada em transgenitalização. Depois de ajudar cerca de 2.500 bebês a nascer, fiz meu último parto em 2007. Foi uma época maravilhosa. Sinto falta, principalmente, da intimidade do momento e da alegria de trazer o potencial humano ao mundo. De certa forma, no entanto, mudar a genitália de alguém permite também uma espécie de renascimento para a verdade. Até agora, realizei mais de 1.100 operações do sexo masculino para feminino e cerca de 250, do feminino para o masculino.

SM – Falando sobre este assunto, já enfrentou algum conflito de interesse, por ser transexual e possibilitar mudança de sexo a outras pessoas? Por exemplo:“será que minha experiência influenciou na decisão deste paciente”?
MB – Engraçado... Sabe que ninguém nunca havia me feito essa pergunta antes? Sinceramente não enfrento nenhum conflito, pois estou no fim da engrenagem. Antes de chegar à cirurgia, os pacientes já vivenciaram todas as dúvidas e indefinições, abriram o jogo com familiares e amigos, com psicólogos e psiquiatras, além de terem usado hormônios do sexo oposto, durante, pelo menos, um ano. De qualquer maneira, faço o papel de “advogado do diabo”, falando a respeito de prós e contras, além de voltar no tempo a respeito dos fatos que culminaram em sua decisão. Se ainda assim insistirem, estão prontos. Ninguém nunca me acusou de ter interferido indevidamente, e quase nunca ouço algum paciente reclamando de que cometeu um erro. Na verdade, a pergunta mais fascinante talvez seja “por que há tão pouco arrependimento?”. O que mostra o quanto o gênero é algo pessoal e, se estiver errado, impossível de se ignorar.

SM – O que diria a colegas que alegam “objeção de consciência” à cirurgia de mudança de sexo, comparando-a à “mutilação”?
MB – Machos e fêmeas são, biologicamente, bem mais parecidos do que diferentes. Todos surgimos como embriões do sexo feminino, e os sinais biológicos e hormônios que alteram nossos caminhos na região genital são bem discretos. Na realidade, o que nos separa, na infância, são os limites trazidos pelas expectativas sociais em relação a meninos e meninas. Além disso, há um grande número de bebês nascidos com condição intersexual, com genitália nem essencialmente masculina nem feminina. Como a sociedade mantém-se desconfortável com algo que não seja estritamente masculino ou feminino, logo após o nascimento chamamos rapidamente especialistas, como geneticistas e cirurgiões pediátricos, para suavizar essas confusas situa¬ções. Assim, a partir de uma lógica biológica, pode-se ver por que faz tanto sentido oferecermos mudança de sexo, quando essa se traduz em melhoria da qualidade de vida. Transexuais são mais felizes após a transição, isso é fato. Comparar essa lógica à mutilação ou a fetiches referentes à amputação corresponde a uma tática para assustar os desavisados. É como alertar os pacientes de que a remoção do apêndice pode levar ao Mal de de Alzheimer.

SM – Já se sentiu discriminada por colegas ou pacientes?
MB – Se ocorrer alguma discriminação, é idêntica àquela contra qualquer outra de nós, mulheres. Mas, pensando bem, médicas lidam com dificuldades específicas. Certa vez, uma paciente solicitou um “cirurgião de verdade”, enquanto eu lhe explicava detalhes de sua histerectomia. Da outra, me peguei usando mais calças e jaquetas, a fim de ganhar mais credibilidade profissional. Recentemente, fui apresentada por um colega como: “esta é a nossa médica transexual”. Já pensou como seria se introduzisse alguém como: “este é o meu advogado judeu”. Ou: “conheça o meu contador mexicano”. Ou: “você vai adorar a comida preparada por nosso chef bissexual”. Sim, enfrento mais tensões e desafios do que outros, em muitos aspectos. Mas, como profissional adequadamente remunerada, tive vantagens. Arcar com minha cirurgia foi uma delas. Isso seria bem mais difícil para um transexual que vive nas ruas ou que trabalha em uma oficina mecânica.

SM – Por que decidiu ajudar, gratuitamente, mulheres que passaram pela terrível experiência de amputação de clitóris?
MB – Em 2007, Nadine Gary, diretora da organização internacional Clitoraid, perguntou-me se queria aprender uma técnica desenvolvida em Paris, por Pierre Foldes, para a reconstrução de clitóris mutilados por motivos culturais. Aceitei sem hesitar. É um pequeno sacrifício em repúdio a esse crime contra a humanidade. Só anos mais tarde soube que mais de 30 ginecologistas haviam declinado. Existem céticos que duvidam da eficácia da operação, mas ela funciona, pois, na maioria das vezes, boa parte do órgão permanece sob a pele. Ao apelar à técnica, em parte, as mulheres pensam na função sexual. Só que, principalmente, querem recuperar a identidade perdida. Geralmente se sentem violadas, envergonhadas e diminuídas.

SM – Como é sua relação com seus filhos? Hoje, a senhora diz preferir relacionamentos amorosos com mulheres, em vez de homens. Isso não leva a dúvidas de que sua essência continua sendo masculina?
MB – Meus filhos são fantásticos. A mais velha terminou a faculdade e a outra se prepara para a escola de Medicina. Meu filho tem 17 anos, frequenta o ensino médio e mora comigo. Felizmente, minha ex-esposa manteve-se como um grande apoio e amiga. Depois da transição, eu saía exclusivamente com homens, e não tinha dificuldade em atraí-los. No entanto, com o tempo, descobri que faltava uma certa conexão emocional, pelo menos, em relação àqueles que conheci. Parecia ainda que se sentiam meio intimidados com a minha posição, como médica conhecida. Seria melhor classificar-me como bissexual. A tal conexão emocional acontece atualmente com a mulher com quem vivo há cinco anos, que também é médica.

Barres: transexual feminista

Ser Médico – O senhor é um cientista respeitado, sendo, inclusive, presidente do Departamento de Neurobiologia, em Stanford. Por ser transexual, enfrentou mais desafios, comparado a colegas?
Ben Barres – Minha família, amigos e alunos têm me dado um apoio incrível, desde que anunciei a mudança de sexo, 16 anos atrás. Confesso que, na época, fiquei preocupado com o fato de que minha carreira pudesse acabar, que os colegas não compreendessem, e os estudantes não viessem mais ao meu laboratório. Felizmente, meus medos foram exagerados. Não estou ciente de qualquer financiamento perdido, artigos não publicados, colaborações em trabalhos não aceitas, ou convites para congressos cancelados pelo fato de ser transexual. Não significa que não tenha havido alguma discriminação, só que, pelo visto, não foi relevante. Minha situação pode ter sido diferente da de outros – por viver na Baía de São Francisco, região receptiva dos EUA, e atuar em uma carreira em que é amplamente aceita a ideia de que as diferenças humanas são fundamentais para impulsionar inovação e sucesso na academia. É preciso considerar também que a transição me tornou um homem, em uma sociedade menos propensa a aceitar mulheres em certas áreas. A história de cientistas mulheres, transgêneros do masculino para o feminino ou de gays, pode ser menos positiva.

SM – É mais difícil ser um cientista do sexo feminino do que do masculino? É mais difícil ser mulher do que homem?
BB – A cientista transexual Joan Roughgarden disse bem: em nossa sociedade, se você é mulher, é considerada incompetente até provar o contrário. Se é homem, é competente, até prova em contrário. Portanto, ao longo de suas vidas, homens parecem contar com uma vantagem constante, enquanto as mulheres, com uma desvantagem, que nem percebem, pelo menos enquanto são jovens. Essa diferença simples, em forma de expectativa social, pode ser suficiente para explicar diferenças de realizações entre homens e mulheres.

SM – Por que criticou colegas que diziam que “a razão pela qual há menos mulheres do que homens em Ciência e em cátedras de Engenharia e Matemática é que mulheres não contam com níveis elevados de ‘aptidão intrínseca’ exigidos para essas carreiras”?
BB – Larry Summers (economista norte-americano, secretário do Tesouro no governo de Bill Clinton) e muitos homens antes dele usaram o mote “quanto mais gênios, mais idiotas”, para argumentar que os cérebros masculinos são mais inconstantes – prontos para ir além da normalidade e linearidade –, de modo que haverá um maior número de homens talentosos do que de mulheres igualmente capazes. Não há estudos que confirmem tal raciocínio e, de fato, há uma quantidade cada vez maior de informações contra ele. Simplesmente não conseguimos prever o motivo de algumas pessoas se tornarem grandes artistas, cientistas ou inventores. Tentou-se avaliar, por meio de testes de QI e de matemática, mas acontece que vários ganhadores do Nobel não possuem QI de gênio, e muitos gênios não alcançam grandes feitos.

SM – No decorrer de seus estudos, o senhor encontrou, ou procurou, alguma explicação na Neurobiologia do por que alguém nasce com o corpo contrário à sua essência?
BB – É uma pergunta fascinante. É evidente que existem circuitos neurais que controlam e moldam os comportamentos específicos de gênero. Por exemplo, há evidências de que a exposição a hormônios sexuais exógenos (de causas externas) ou a produtos químicos chamados “disruptores endócrinos”, que imitam os hormônios, é capaz de perturbar o desenvolvimento de circuitos cerebrais e de alterar comportamentos específicos de gênero. Estudos anteriores mostraram que as “filhas de DES” (meninas expostas, enquanto fetos, ao dietilestilbestrol, antineoplásico que inibe a secreção de determinados hormônios) são dez vezes mais propensas ao lesbianismo do que as demais. Além disso, há alguma evidência de que “filhos de DES” são mais propensos ao transexualismo. Quando eu era um feto, fui exposto a uma droga à base de testosterona, e suspeito fortemente de que esta tenha masculinizado meu cérebro, como ocorre com fetos de macacas. No entanto, para a maioria dos transexuais, não há histórico de tal exposição, sendo ainda um mistério do por que eles são transgêneros. É muito provável que as variações genéticas sejam as responsáveis. Enquanto muitos consideram que ser LGBT corresponde a uma escolha, muitos de nós afirmamos estar cientes de sua diferença desde crianças pequenas. Ninguém optaria livremente por enfrentar a angústia emocional e o prejuízo social que surgem de tal “escolha”, a menos que conseguisse viver de um modo coerente à sua identidade sexual inata.


Disponível em http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=694. Acesso em 23 mar 2014.

domingo, 23 de março de 2014

Sexo é cola: para alguns

Suzana Herculano-Houzel
março de 2014

Você é convidado a entrar em uma sala desconhecida. No quarto à sua esquerda você vê, à sua disposição, um belo exemplar do sexo feminino com quem você viveu, poucas horas antes, tórridas e repetidas cenas de amor. No quarto à sua direita há uma beldade igualmente atraente, mas que você nunca viu antes. A escolha é toda sua, e ninguém ficará sabendo. Esquerda ou direita?

A cena é um “teste de fidelidade”, e em 80% dos casos, o candidato escolhe a parceira com quem ele havia feito sexo anteriormente. Se os papéis dos sexos se invertem, as fêmeas são ainda mais fiéis ao parceiro anterior, e o escolhem 90% das vezes.

Os candidatos bem que poderiam ser humanos, mas o ser em questão é o arganaz-do-campo (Microtus ochrogaster), um tipo de rato corpulento fortemente social e monogâmico. Arganazes-do-campo vivem em colônias onde os indivíduos vivem agarradinhos. Após o acasalamento, macho e fêmea dividem o mesmo ninho, cuidam juntos da prole, mantêm os filhos adolescentes por perto, preferem a companhia um do outro à de qualquer desconhecido, e os “maridos” tornam-se agressivos em relação a outros machos. Basta uma sessão de sexo e dali para a frente outros candidatos a parceiros serão recusados, no melhor estilo “felizes para sempre” dos contos de fadas.

Em comparação, um primo próximo, o arganaz-montanhês (Microtus montanus), é associal, promíscuo, não busca contato físico com seus semelhantes, e não divide seu ninho. A fêmea cuida sozinha da prole e abandona os filhotes cedo. E novos parceiros serão sempre bem-vindos.

A diferença entre as duas espécies tão próximas está na maneira como seu sistema de recompensa responde ao sexo – mais especificamente, a hormônios liberados no cérebro durante o orgasmo: oxitocina nas fêmeas, e vasopressina nos machos. Indivíduos da espécie monógama possuem numerosos receptores para os hormônios no estriado ventral do sistema de recompensa, que permitem que o sistema seja ativado pelos hormônios liberados no orgasmo. Já o estriado ventral da espécie promíscua é insensível aos hormônios.

O resultado? A ativação do sistema de recompensa pelos hormônios do orgasmo não só estende o prazer do sexo como faz com que o bichinho associe o prazer àquele parceiro em particular, formando um vínculo afetivo com ele (ou ela). Quando o estriado ventral é sensível aos hormônios do orgasmo, o sexo funciona como uma baita cola – e querer estar na companhia do outro, como a gente sabe, é o primeiro passo para a formação de um casal estável.

Mas se o estriado ventral é insensível aos hormônios do orgasmo, como nos arganazes-montanheses, nada feito: o sexo não leva à formação de vínculos afetivos. A não ser que eles recebam uma injeção no cérebro de um vírus que força a expressão de receptores no sistema de recompensa, o que transforma esses animais promíscuos em monógamos. Parece mágica – mas é ciência.

Humanos têm receptores para oxitocina e vasopressina em seu estriado ventral, o que nos coloca no grupo dos arganazes fiéis, ainda que a sensibilidade aos hormônios seja diferente entre indivíduos. De qualquer forma, considerando que nada disso acontece sem uma sessão de sexo, duas conclusões são certas. Primeira: escolha com cuidado quem você leva para a cama – porque periga o seu cérebro acabar mais amarrado do que você gostaria. E segunda: se você ficar mesmo amarrado, garanta a estimulação frequente do sistema de recompensa do (a) seu (ua) parceiro (a). É a maneira mais certa de assegurar o seu acesso permanente. E a sua exclusividade também…


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/sexo_e_cola_-_para_alguns.html. Acesso em 22 mar 2014.

domingo, 16 de março de 2014

Transexual que espera cirurgia sonha em ganhar flores pelo Dia da Mulher

G1
08/03/2014

Um dos maiores desejos da agente de prevenção Riany Rodrigues Sabará, de 21 anos, é ganhar uma flor no Dia Internacional da Mulher. A entrega de rosas é algo corriqueiro em ambientes de trabalho e até nas ruas durante a data, mas a jovem nunca foi presenteada. Riany é transexual e se prepara para a fazer a readequação genital, conhecida como cirurgia de troca de sexo. Apesar de se encarar como uma mulher, ela ainda enfrenta a falta de compreensão das pessoas quando o assunto é identidade de gênero.

Desde outubro de 2012, Riany sai de Piracicaba (SP), onde vive e trabalha, e vai a São Paulo (SP) todas as sextas-feiras para receber tratamento psiquiátrico e psicológico no Hospital das Clínicas pela primeira fase de preparação para a cirurgia, que ainda não tem data para acontecer. Nesta etapa, os transexuais passam por consultas e discussões em grupo sobre o desejo de realizar a cirurgia, traumas e tudo que envolve o processo de alteração dos órgãos genitais.

"Desde os 17 anos procuro maneiras de realizar a cirurgia e há dois anos consegui o tratamento, mas não tem sido fácil. Depois do período com os psicólogos, vou passar pela parte física com o uso de hormônios para interromper a produção hormonal masculina e colocar a feminina no lugar e depois virá a cirurgia", contou.

Para Riany, a cirurgia irá apenas "oficializar" a sua identidade. "Já me sinto uma mulher desde que nasci. Quando eu era pequena, olhava no espelho e não reconhecia o garoto no reflexo como sendo eu. Acho que depois da cirurgia ninguém mais vai poder me impedir de ir ao banheiro feminino, não vão usar mais o meu nome de batismo nas repartições públicas e nem dizer que não sou mulher", disse.

A mãe, segundo Riany, é uma das pessoas que mais apoia o processo que antecede a cirurgia. "Ela criticava, mas aí um dia eu falei pra ela: 'imagina se você tivesse um pênis no meio das pernas? É assim que eu me sinto.' Depois disso ela começou a me ajudar com passagem e até mesmo com dinheiro para as viagens", contou.

Riany trabalha na Organização Não-Governamental Centro de Apoio e Solidariedade à Vida (Casvi) no projeto Esquinas da Noite, que faz trabalho de prevenção com garotas de programa (travestis, transexuais, homens e mulheres). Antes da instituição, já foi faxineira e babá. Com o dinheiro das limpezas ela fez a primeira modificação corporal efetiva, quando colocou silicone nos seios.

Preconceito

O banheiro é, segundo Riany, uma das maiores "resistências" do preconceito na sociedade. Desde a época da escola, quando passou a usar roupas e acessórios femininos, a jovem protagoniza discussões pelo simples fato de usar o banheiro.

"No colégio, eu usava o banheiro feminino escondida e ainda hoje tenho problemas para usar banheiros públicos. Eu fui faxineira dos terminais de ônibus e entrava e saía dos banheiros. Depois que mudei de emprego, os guardas não me deixam mais entrar no feminino. É uma humilhação", disse.

A perseguição na escola, a resistência e a indiferença de familiares e o preconceito nas ruas já fizeram a transexual até mesmo pensar em suicídio na adolescência. Apesar de não pensar mais na morte como alternativa, ela ainda considera difícil se "encaixar no mundo". "Às vezes eu penso que nesse mundo não tem lugar pra mim. Em lugar nenhum."

Dia da Mulher

Riany contou que chega a ser parabenizada no 8 de março, mas nunca recebeu flores. O gesto, aliás, nunca aconteceu com ela nem mesmo em outras ocasiões. "Quem não gosta de flores? Mas eu nunca tive uma relação séria, é muito difícil para um homem assumir que namora uma trans, pois eles se importam muito com a opinião dos outros."


Disponível em http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/03/transexual-que-espera-cirurgia-sonha-em-ganhar-flores-pelo-dia-da-mulher.html. Acesso em 15 mar 2014.

terça-feira, 11 de março de 2014

Mais atenção com o cérebro feminino

Cilene Pereira 
edição:  2308 - 14.Fev.14

A Associação Americana para Acidente Vascular Cerebral (AVC) deu um passo histórico na última semana. Pela primeira vez, a entidade veio a público para divulgar regras de prevenção à enfermidade destinadas às mulheres. A iniciativa foi adotada para alertar médicos e a sociedade sobre a necessidade de se dispensar mais atenção ao problema entre a população feminina. A percepção é a de que, à semelhança do que ocorre com as doenças cardíacas, há entre as pessoas – especialistas ou não – o senso equivocado de que mulheres têm menos AVC do que homens. “Porém, há uma diferença de cerca de 55 mil mulheres a mais do que o total de homens atingidos a cada ano”, disse à ISTOÉ a médica Louise McCullough, da Universidade de Connecticut (EUA), e uma das responsáveis pelas recomendações.

Entre as orientações está a de considerar indivíduos de risco mulheres que tiveram pré-eclampsia (hipertensão na gravidez) e as submetidas a estresse intenso (leia mais no quadro). Boa parte dos riscos específicos femininos advém de oscilações hormonais ou de doenças mais incidentes entre elas. “A depressão, por exemplo, mais comum em mulheres, aumenta a chance de AVC”, explica a neurologista Sheila Martins, de Porto Alegre, integrante da Organização Mundial de AVC e do comitê internacional que prepara campanhas anuais sobre o problema. Neste ano, no Brasil o tema será justamente AVC em mulheres. “Reforçaremos que, se não houver prevenção, uma em cada cinco mulheres terá um AVC ao longo da vida.”

Os médicos também chamam a atenção para o fato de que o índice de mortalidade entre elas é maior. “Sessenta por cento das mortes são em mulheres”, afirmou a americana Louise. E, em geral, elas apresentam uma pior qualidade de vida após o acidente do que os homens. Na última semana, cientistas da Wake Forest Baptist Medical Center apresentaram estudo mostrando que um ano depois elas manifestavam maior dificuldade de mobilidade e índices maiores de dor, ansiedade e depressão. Parte das sequelas é resultado do tratamento muitas vezes deficiente que recebem. “Há vários casos em que elas não chegam a tempo ao hospital para começar o tratamento”, conta o médico Salomón Rojas, coordenador da UTI Neurológica do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. O especialista se refere principalmente à administração de trombolíticos até quatro horas e meia após o início dos sintomas. “Mas muitos não valorizam os sintomas”, lamenta.

A empresária Vanessa Nogueira, 31 anos, passou por isso. Aos 28 anos, fumante e usuária de anticoncepcional, ela sofreu um AVC. No hospital, teve que insistir muito para que o médico que a atendeu na emergência – um pneumologista – chamasse uma neurologista. “Sabia que estava tendo um AVC. Dizia isso, mas o médico não acreditava”, conta. Confirmado o diagnóstico, ela foi tratada. Hoje, voltou à vida normal. Anda e dirige novamente e parou de fumar.

Com o esforço dos especialistas, espera-se que casos como esse sejam cada vez mais raros. “As informações que estão sendo divulgadas devem ser conhecidas, além dos neurologistas, pelos clínicos gerais, geriatras e ginecologistas, com o intuito de reduzir o risco em mulheres”, diz o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Eleita atleta paraolímpica revelação do ano passado, a paulista Verônica Hipólito, 17 anos, superou as sequelas do AVC que sofreu em 2011 graças a um atendimento correto, na hora e depois. “Agora me preparo para o Mundial de Atletismo, no ano que vem, e para a Olimpíada”, conta. “Quero chegar a ser uma das melhores do mundo.”

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Disponível em http://www.istoe.com.br/reportagens/348132_MAIS+ATENCAO+COM+O+CEREBRO+FEMININO. Acesso em 04 mar 2014.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Escola violou direito de transgênero usar banheiro das meninas, diz justiça

G1
31/01/2014

O Tribunal de Justiça do estado de Maine, nos Estados Unidos, decidiu que uma escola da cidade de Orono violou os direitos civis de Nicole Maines ao impedir um estudante transgênero de usar o banheiro feminino quando era criança. Nicole, atualmente com 16 anos, nasceu menino, batizado com o nome de Wyatt, mas se reconhece como menina. O caso começou em 2009, Nicole foi ao tribunal em junho do ano passado, e a decisão foi anunciada na noite desta quinta-feira (30).

"Esta é uma decisão importante que marca um grande avanço para os jovens transexuais", disse Jennifer Levi, diretora de uma ONG de advogados que defende os direitos dos transgêneros.

A decisão do tribunal estadual derrubou uma resolução de uma instância inferior que havia decidido que a escola primária agiu corretamente ao determinar que Nicole usasse um banheiro administrativo em vez do banheiro das meninas. Pela primeira vez, uma decisão determinou que o aluno transgênero deve usar o banheiro com o qual mais se identifica.

O tribunal estadual concluiu que a escola violou a Lei de Maine dos Direitos Humanos, de 2005, que proíbe a discriminação com base no sexo ou orientação sexual. A polêmica se arrastou porque uma lei estadual de 1920 também exige banheiros separados para meninos e meninas nas escolas. A advogada do distrito escolar alegava que enquanto a lei sobre os banheiros separados não mudasse, era direito da escola não violá-la.

Na decisão, o tribunal teve que conciliar as duas leis distintas, e o juiz deixou claro que a decisão teve como base uma ampla documentação sobre a identidade de gênero de Nicole. "Ficou claro que o bem-estar psicológico e emocional do estudante depende do seu direito em usar o banheiro correspondente à sua identidade de gênero", escreveu o juiz Warren Silver. "Mas esta decisão não serve para as escolas deixarem os estudantes escolherem qual banheiro prefere usar.

Irmão gêmeo

Nicole tem um irmão gêmeo idêntico, Jonas, mas desde os dois anos de idade se identificava como uma menina. Quando criança, enquanto o irmão colecionava carrinhos e se fantasiava de super-heroi, Nicole preferia se vestir de princesa e brincar de bonecas. Aos quatro anos, perguntou à mãe quando iria se tornar uma menina. Aos 11 anos, Nicole passou por um tratamento médico que inibe a ação dos hormônios da puberdade.

Na escola primária os problemas começaram. Nicole começou a usar o banheiro das meninas. Os funcionários da escola, inicialmente, deixaram. Mas depois que o avô de um menino da quinta série reclamou, Nicole foi proibida. A direção da escola então mandou Nicole usar um banheiro separado.

Depois do anúncio da decisão do juiz, os colegas da atual classe de Nicole, que está no ensino médio, levantaram e bateram palmas. Nicole compareceu ao tribunal em junho do ano passado, quando disse que não desejaria a sua experiência de ninguém. "Espero que os juízes tenham entendido que tudo o que um estudante quer é ir para a escola se divertir e fazer amigos, e não sofrer bullying dos alunos ou da administração do colégio."

O pai de Nicole, Wayne Maines, disse que tudo o que ele queria era para a sua filha para ser tratada como seus colegas de classe . Ele disse que estava emocionado quando soube da decisão. "Isso serve de mensagem para os meus filhos que você pode acreditar no sistema e que pode funcionar", disse.

Melissa Hewey, advogada do distrito escolar, disse que a decisão vai resolver uma questão não só para Orono, mas para escolas de todo o estado . "O tribunal já esclareceu o que tem sido uma questão difícil e é uma vez mais comum nas escolas, e o Departamento Escolar de Orono vai fazer o que precisa para que se cumpra a lei", afirmou.


Disponível em http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/01/escola-violou-direito-de-transgenero-usar-banheiro-das-meninas-diz-justica.html. Acesso em 31 jan 2014.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Tom Gabel: o roqueiro que se assumiu transexual e se tornou Laura Jane Grace

IG São Paulo
16/07/2013

Conhecida por liderar a banda americana de punk rock Against Me!, a vocalista Laura Jane Grace, 32, fará uma turnê solo nos Estados Unidos a partir de agosto. Sem os colegas de banda, ela vai apresentar o show “Laura Jane Grace Sings The Transgender Dysphoria Blues”, que posteriormente se tornará um CD. Como o nome explicita, o espetáculo trata em suas músicas do fato da cantora ser uma transexual e também das dificuldades que Laura passou por nascer em um corpo de um homem, apesar de se ver como uma mulher.

Faz pouco mais de um ano que a cantora se assumiu como transexual. Antes disso, ela era conhecida como Tom Gabel , o vocalista da Against Me!, que existe desde 1997.  Numa entrevista à revista Rolling Stone, em maio de 2012, Laura saiu do armário e contou que tomou a decisão depois de encontrar uma antiga fã transexual da banda que também saiu do armário.

“Eu achei incrível e encorajador. De alguma forma, ela me mostrou como eu estava sendo covarde. Porque ela teve coragem de sair do armário como transexual. Pensei então porque diabos eu também não fazia a mesma coisa”, disse Laura à revista.

Na mesma entrevista, Laura revelou que o processo de se assumir foi doloroso. “O clichê diz que você é uma mulher presa no corpo de um homem, mas não é tão simples assim. Porque você tem um sentimento de desinteresse pelo seu próprio corpo e por si mesmo. E isso é uma m****, cara”, confidenciou.

Laura está fazendo um tratamento de readequação de gênero, tomando hormônios femininos, mas ainda não decidiu se fará uma cirurgia de mudança de sexo. A transexual também passou a usar maquiagem e roupas femininas.

O clichê diz que você é uma mulher presa no corpo de um homem, mas não é tão simples assim. Porque você tem um sentimento de desinteresse pelo seu próprio corpo e por si mesmo (Laura Jane Grace)

Em todo esse processo de mudança, a cantora teve apoio da mulher, a artista visual Heather Hannoura , que ficou sabendo que o marido era transexual dois meses antes do fato se tornar público. Num depoimento publicado pela revista Cosmopolitan em abril deste ano, Laura descreveu como foi essa conversa com Heather.

“’Podemos conversar?’, perguntei para minha esposa Heather, em 6 de fevereiro de 2012, três dias antes do aniversário dela. Talvez aquele nem fosse o melhor momento, mas eu não podia esperar mais. A pressão que se desenvolveu dentro de mim por 31 anos estava prestes a explodir. Com nossa filha Evelyn, de 3 anos de idade, dormindo no quarto ao lado, deitamos na nossa cama e olhando para os belos olhos castanhos de minha esposa, eu confessei: ‘Eu sou um transexual’, lembrou Laura, descrevendo a conversa.

Para a surpresa de Laura, que ainda vivia como Tom, Heather não reagiu mal à informação da transexualidade do marido, ficando até aliviada, já que acreditava que o motivo da conversa séria uma possível separação.

Na mesma edição da Cosmopolitan, Heather explicou sua reação diante da revelação. “Eu sei que outros casais se separariam por causa disso, mas eu nunca considerei deixá-la. O meu medo era que ela preferisse casar com um homem já que se sentia como mulher. Mas ela me disse: ‘Pense em mim como uma lésbica’. Depois disso, muitas coisas começaram a fazer sentido”, observou a esposa de Laura.

Laura reafirma seu amor por Heather, dizendo: “Eu acredito que minha esposa é minha alma gêmea e que estamos destinados a ficar juntos... Sempre amei o sexo com minha esposa e quero que continue assim”.

A filha do casal ainda está tentando entender essa mudança. Para ajudá-la a compreender, Laura tem mostrado capas de discos de artistas que questionaram as definições tradicionais de gênero, aparecendo publicamente com visuais andróginos, como Boy George, David Bowie eFreddie Mercury . Apesar de ainda chamar a cantora de pai, Evelyn já ajudou Laura a se maquiar.

Com dois anos a mais que Evelyn, aos 5 anos, a atual líder do Against Me! se reconheceu como mulher  pela primeira vez ao ver uma apresentação da popstar Madonna na televisão, pensando na ocasião: “Eu sou assim”.


Disponível em http://igay.ig.com.br/2013-07-16/conheca-a-historia-de-tom-gabel-o-roqueiro-que-se-tornou-a-laura-jane-grace.html. Acesso em 14 out 2013.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nova orientação para psicólogos prega que adolescência agora vai até os 25 anos

O Globo
24/09/13

Uma nova orientação para psicólogos americanos prega que a adolescência agora vai até os 25 anos, e não apenas até os 18 anos como estava previsto.

- A ideia de que de repente, aos 18 anos, a pessoa já é adulta não é bem verdade - disse à BBC a psicóloga infantil Laverne Antrobus, que trabalha na Clínica Tavistock, em Londres. - Minha experiência com jovens é de que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.

A mudança serve para ajudar a garantir que quando os jovens atingem a idade de 18 anos não caiam nas lacunas no sistema de saúde e educação - nem criança, nem adulto - e acompanha os acontecimentos em nossa compreensão de maturidade emocional, desenvolvimento hormonal e atividade cerebral.

Há três estágios da adolescência: dos 12 aos 14, dos 15 aos 17 e dos 18 em diante. A neurociência tem mostrado que o desenvolvimento cognitivo de uma pessoa jovem continua em um estágio mais tardio e que, sua maturidade emocional, a autoimagem e o julgamento são afetados até que o córtex pré-frontal seja totalmente desenvolvido.

O professor de sociologia Frank Furedi, da Universidade de Kent, defende que já há um grande número de jovens infantilizados e que a medida só vai fazer com que homens e mulheres fiquem ainda mais tempo na casa dos pais.

- Frequentemente se apontam as razões econômicas para este fenômeno, mas não é bem por causa disso - diz . - Houve uma perda da aspiração por independência. Quando eu fui para a universidade, se fosse visto com meus pais decretaria minha morte social. Agora parece que esta é a regra.

Furedi acredita que esta cultura da infantilização intensificou o sentimento de dependência passiva, que pode levar a dificuldades na condução dos relacionamentos maduros. E não acredita que o mundo virou um lugar mais difícil para se viver.

- Acho que o mundo não ficou mais cruel, nós seguramos nossas crianças por muito tempo. Com 11, 12, 13 anos não deixamos que saiam sozinhos. Com 14, 15, os isolamos da experiência da vida real. Tratamos os estudantes universitários da mesma maneira que tratamos alunos da escola, então eu acho que é esse tipo de efeito cumulativo de infantilização que é responsável por isso.

Disponível em http://oglobo.globo.com/saude/nova-orientacao-para-psicologos-prega-que-adolescencia-agora-vai-ate-os-25-anos-10127417. Acesso em 27 set 2013.

domingo, 15 de setembro de 2013

Menor transexual ganha permissão para retirar seios na Austrália

Giovana Vitola
4 de maio, 2009

Identificada apenas como "Alex", a jovem de 17 anos faz tratamento hormonal desde os 13 para interromper a menstruação e o desenvolvimento dos seios.

O transtorno de identidade de gênero é uma condição em que a pessoa tem a aparência normal de homem ou mulher, mas se sente como sendo do sexo oposto.

Em entrevista ao jornal The Age, a juíza do Tribunal de Família de Melbourne Diana Bryant disse que seria melhor para a adolescente ter a permissão para fazer a operação "o mais rápido possível", porque, enquanto menor de idade, poderá usufruir de serviços sociais oferecidos pelo governo.

Além disso, disse a magistrada, "esse é um tempo crucial para a vida social e mental dos adolescentes".

Para Bryant, a questão era se "Alex" poderia nesse meio tempo mudar de opinião sobre a operação, como já aconteceu em casos passados.

"Mas a evidência foi de que a operação era do interesse dela", disse.

Controvérsia

No entanto, segundo o eticista Nick Tonti-Filippini, a medicina não reconhece cirurgias para mudança de sexo como um tratamento para o transtorno de identidade de gênero.

"Isso é psicológico. O que estão querendo é fazer com que uma realidade biológica corresponda a uma falsa crença", disse ele ao The Age.

Tonti-Filippini citou o caso de um jovem de 22 anos, morador de Melbourne, que processou os médicos após ter se arrependido de uma cirurgia de mudança de sexo alegando que não foi bem alertado e questionado na época.

O mesmo tribunal de família já havia causado controvérsia em 2007, quando permitiu que uma menina de 12 anos, identificada apenas como "Brodie", tomasse hormônios masculinos.

"Foi descoberto mais tarde que a mãe de Brodie, por causa de uma depressão pós-parto, teria feito uma lavagem cerebral na menina a comprado roupas e brinquedos de meninos e a ensinado a se comportar como tal", disse Tonti-Filippini ao diário.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/05/090504_australiajovemseios_gv.shtml. Acesso em 10 set 2013.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bases biológicas da orientação sexual e da identidade de gênero

Daniel Pessoa
10 outubro, 2009

Homens e mulheres revelam padrões de diferenças comportamentais e cognitivas que refletem as diversas influências hormonais no desenvolvimento do cérebro.

Alguns estudos têm apontado para a importância do hipotálamo como área do cérebro responsável pela regulação do comportamento reprodutivo. Tem se mostrado que o hipotálamo de ratos machos é maior que o de ratos fêmeas, estando esta diferença sob controle hormonal. Estas diferenças também têm sido identificadas no hipotálamo humano, e estariam relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero. Aparentemente, transexuais masculino-femininos apresentam hipotálamos menores que os de indivíduos masculinos.

Em ratos, a privação de hormônios masculinos, através da castração ou bloqueio hormonal, imediatamente após o nascimento, leva a uma redução nos comportamentos sexuais masculinos (montar durante a cópula) e a um aumento nos comportamentos sexuais femininos (lordose – arqueamento das costas durante o coito). A administração de hormônios masculinos a ratos fêmea levam a um resultado similar, com aumento de monta e diminuição de lordose.

Isto também parece ocorrer em seres humanos. A análise do comportamento lúdico de meninas com HCA (hiperplasia das adrenais), em comparação com seus irmãos e irmãs, mostrou uma “masculinização” de seus comportamentos. A HCA faz com que grandes quantidades de hormônios masculinos sejam produzidas.

No passado, a ciência já serviu como pretexto para deflagração de preconceitos e conceitos distorcidos. A ciência não é perfeita, afinal é realizada por seres humanos. Vamos torcer para que os cientistas não se esqueçam do passado e que a ética prevaleça em suas pesquisas e interpretações.


Disponível em http://pessoadma.wordpress.com/2009/10/10/bases-biologicas-da-orientacao-sexual-e-da-identidade-de-genero/. Acesso em 11 ago 2013.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Transexualidade

Catarina Rabello
25th March 2008

A transexualidade se instala devido à impossibilidade da pessoa aceitar as suas características sexuais de nascimento. Há alguns anos atrás dizia-se transexualismo, porém, o sufixo "ismo" relacionando o termo a uma doença tem sido evitado. Em alguns países, como na França, a transexualidade tem sido considerada uma variação da identidade de gênero, não estando mais necessariamente associada à idéia de patologia mental. Na classificação médica a transexualidade é reconhecida como disforia de gênero, a partir da qual o paciente identifica-se com o gênero oposto e deseja irremediavelmente habitar um corpo do sexo oposto ao seu. Neste caso, o paciente requer atendimento por equipe especializada multidisciplinar para submeter-se a protocolos de avaliação e candidatar-se a tratamentos para a mudança de sexo. Caso a sua avaliação não indique impedimentos de ordem clínica ou psíquica, pode iniciar a sua participação em uma extensa e prolongada programação de intervenções médico-cirúrgicas, terapia hormonal e mudança de sexo através da cirurgia genital e outras que complementam os caracteres sexuais secundários, além de poder tratar das questões psicológicas através da psicoterapia. Este tratamento tem sido oferecido pelo SUS em grandes centros médico-acadêmicos, como no Hospital das Clínicas em São Paulo.

A transexualidade é diagnosticada como disforia de gênero quando o conflito de identidade de gênero surge desde a infância e permanece como desejo irreconciliável de pertencer ao gênero oposto até a fase adulta, quando o paciente pode optar finalmente por um tratamento para a adequação do sexo. O transexual masculino assume uma identidade feminina em todos os seus comportamentos, reações e desejos, não suportando em seu corpo e em sua maneira de ser quaisquer características que o identifiquem como homem. Pode mudar o registro do nome próprio, o que já está previsto no código civil e pode alterar inclusive o padrão vocal submetendo-se a intervenções cirúrgicas e fonoaudiológicas para mudar a voz. O transexual feminino vive as mesmas questões, ou seja, quer livrar-se das características sexuais femininas para viver livremente a sua identidade masculina, com todos os padrões físicos e de comportamento que lhe são atribuídos no contexto sócio-cultural.

As causas da transexualidade ainda provocam polêmica entre os cientistas de várias áreas, mas há estudos que demonstram a influência fatores genéticos e hormonais atuando desde a formação do sistema nervoso central na fase embrionária. Estudos psicanalíticos associam a transexualidade aos conflitos que se estruturam nas fases pré-edípica e edípica do desenvolvimento psíquico, período que abrange desde o nascimento até por volta dos cinco anos de idade e desempenha um papel essencial  na construção da identidade, no estabelecimento da autoimagem e na estruturação das idealizações inconscientes.

As dificuldades decorrentes da transexualidade no adolescente podem gerar problemas de adaptação e integração psicossocial. Se o adolescente  não sentir-se aceito no ambiente social e familiar ou não sentir-se à vontade para compartilhar os seus conflitos com uma pessoa que possa ouvi-lo e orientá-lo adequadamente, pode desenvolver inibições na sua conduta e na capacidade de expressar-se.  Neste caso, a falta de sintonia corpo/mente pode levá-lo a reprimir-se constantemente numa tentativa de esconder os seus problemas, o que pode levar a um isolamento crescente, timidez e evitação da convivência social e afetiva. O isolamento crescente pode favorecer o desenvolvimento de sintomas diversos e o surgimento de defesas patológicas que podem prejudicar o seu contato com o mundo e interferir no seu desenvolvimento global.

A avaliação psíquica cuidadosa e a psicoterapia psicanalítica podem ajudar o paciente a lidar melhor com os seus conflitos de identidade, discriminar as fontes de suas dificuldades, analisar os seus desejos, medos e defesas e colaborar para a elaboração de questões reprimidas inconscientes, em busca do auto-conhecimento, do desenvolvimento pleno de seus recursos afetivo-emocionais e da prevenção de danos ligados aos desafios psicossociais que possa  enfrentar.

Disponível em http://psicatarina.blogspot.com.br/2008/03/transexualismo-um-distrbio-de.html?m=1. Acesso em 11 ago 2013.

domingo, 11 de agosto de 2013

Cérebro e genes dos transexuais

J Francisco Saraiva de Sousa
19 de Março de 2008

A maioria dos indivíduos, sejam homossexuais, heterossexuais ou bissexuais, identificam-se como macho ou fêmea em concordância com o seu sexo anatómico. Este facto levou os teóricos da aprendizagem a pensar que a identidade sexual resulta da experiência de toda a vida de possuir órgãos sexuais femininos ou masculinos, reforçada pela educação e pela pressão social dos pais, dos irmãos e/ou irmãs e da sociedade em geral. Contudo, existem indícios da existência de uma representação do próprio sexo no cérebro, cujo desenvolvimento é, pelo menos parcialmente, independente das experiências da vida (Zhou et al., 1995, 1997). A prova disto advém do estudo do transexualismo e de outras síndromes (Wilson, 1999).

Os transexuais são indivíduos que acreditam que, na realidade, pertencem ao sexo oposto daquele que é indicado pelos seus órgãos genitais (G. Ramsey, 1998). Apesar da diversidade de transexualidades (R. Blanchard, 1985), existe um grupo central de transexuais que se caracteriza por um conjunto de características coerente. Durante a infância, os membros deste grupo apresentam um elevado grau de discordância sexual. Na idade adulta, as suas personalidades, avaliadas por toda uma variedade de testes psicológicos, apresentam um elevado grau de atipicidade sexual. Um homem transexual que pertença a este grupo central sente aversão pelo seu próprio pénis e especialmente pelo seu uso em actividades sexuais. Ele deseja viver e ser tratado como uma mulher. É sexualmente atraído por homens heterossexuais.

Procura, e frequentemente submete-se, a tratamentos hormonais e a cirurgia de reconstrução ou mudança de sexo para alterar o seu corpo, tornando-o tão feminino quanto possível. Não apresenta sinais de perturbações psicológicas generalizadas. Uma mulher transexual que pertença a este grupo central apresentará as características reversas, tal como se se tratasse de uma imagem num espelho.

Para além deste grupo central, que constitui uma fracção substancial da totalidade das pessoas que requerem cirurgia de mudança de sexo, existem outros homens e mulheres transexuais que não apresentam todas estas características. Alguns obtêm prazer sexual do uso dos seus próprios órgãos sexuais. Alguns são sexualmente atraídos por indivíduos do sexo oposto. Alguns aparentam mesmo sinais de perturbação psicológica. Outros parecem situar-se numa posição intermédia entre transexual e homossexual ou travesti. Dadas estas diferenças entre transexuais, convém distinguir diversos tipos de transexuais.

A investigação biológica de características biológicas definidoras nos homens e nas mulheres transexuais tem revelado que determinados marcadores endocrinológicos, como o nível de testosterona nas mulheres transexuais (transexuais fêmea para macho) e a resposta atípica de hormona luteinizante ao estrogénio nos homens transexuais (transexuais macho para fêmea), bem como outros indicadores (Goh, 1999; Giltay et al., 1998; Elbers et al., 1997; Elbers et al., 1999; Giltay & Gooren, 2000; Kruijver et al., 2001; D. Slabbekoorn et al., 2000; Elbers et al., 1997), são sexualmente atípicos e dimórficos. Contudo, a descoberta de um núcleo sexualmente dimórfico (Zhou et al., 1995, 1997; Kruijver et al., 2000) forneceu a prova da existência de uma componente genética da transexualidade e o estudo das características dermatóglifas suporta o conceito da influência dos efeitos organizacionais das hormonas sexuais (D. Slabbekoorn et al., 2000).

Os transexuais têm fortes sentimentos, geralmente desde a infância até à idade adulta, de terem nascido com o sexo errado (Docter & Fleming, 2001; Wolfradt & K. Neumann, 2001). A possível etiologia psicogénica ou biológica da transexualidade tem sido objecto de debate durante muitos anos (Money & Gaskin, 1970-71; Gooren, 1990). Richard Green (2000) estudou uma amostra de 442 transexuais macho para fêmea, subdividida pela preferência de parceiro sexual (106 homossexuais, 135 heterossexuais e 46 assexuais) e verificou que o grupo dos homossexuais tinha um maior número de irmãos mais velhos do que os restantes grupos: cada irmão mais velho incrementava a orientação homossexual em 40%.

Mas o estudo mais importante é o que revela um núcleo sexualmente dimórfico. Zhou, Hofman, Gooren & Swaab (1995/97) mostraram que o volume da subdivisão central donúcleo do leito da stria terminalis (BSTc), uma área do cérebro que é essencial para o comportamento sexual (Kawakami & Samp; Kimura, 1974; Emery & Sachs, 1976), é maior nos homens do que nas mulheres. Um BSTc com tamanho feminino foi descoberto nos transexuais macho-para-fêmea. Além disso, o tamanho do BSTc não era influenciado pelas hormonas sexuais na idade adulta e era independente da orientação sexual. Este é o primeiro estudo que revela uma estrutura cerebral feminina nos machos geneticamente transexuais e que apoia a hipótese de que a identidade de género se desenvolve como resultado de uma interacção entre o desenvolvimento do cérebro e as hormonas sexuais (Swaab & Hofman, 1995).

Nos animais experimentais, as mesmas hormonas gonadais que determinam prenatalmente a morfologia dos órgãos genitais também influenciam a morfologia e a função do cérebro de um modo sexualmente dimórfico (Swaab et al., 1995; Money et al., 1984). Diversas diferenças anatómicas em relação ao sexo e à orientação sexual foram observadas no hipotálamo humano (Swaab & Hofman, 1995). Zhou et al. (1995) estudaram o hipotálamo de seis transexuais macho-para-fêmea (T1-T6), com a finalidade de descobrir uma estrutura cerebral que fosse sexualmente dimórfica, mas não influenciada pela orientação sexual, dado os transexuais macho-para-fêmea puderem ser «orientados» para cada um dos sexos no que se refere ao comportamento sexual. As suas observações iniciais mostravam que o núcleo paraventricular (PVN), o núcleo sexualmente dimórfico(SDN) e o núcleo supraquiasmático (SCN) não obedeciam a estes critérios (Swaab & Hofman, 1995).

Dado não se aceitarem modelos animais para as alterações de identidade, o núcleo do leito da stria terminalis tornou-se um candidato apropriado para esse estudo pelas seguintes razões: sabemos que o BST desempenha um papel essencial no comportamento sexual dos roedores (Kawakami et al., 1974; Emery et al., 1976). Foram descobertos não só receptores de estrogénios e de androgénios no BST (Sheridan, 1979; Commis & Yarh, 1985), como também o maior centro de aromatização no desenvolvimento do cérebro da ratazana (Jakab et al., 1993). Na ratazana, o BST recebe projecções principalmente da amígdala e providencia um poderoso input para a região preóptica do hipotálamo (Eiden et al., 1985; De Olmos, 1990). Conexões recíprocas entre o hipotálamo, o BST e a amígdala também foram documentadas em animais experimentais (Woodhams et al., 1983; Simerly, 1990; Arluison et al., 1994).

Além disso, as diferenças sexuais no tamanho e no número de células do BST foram descritas nos roedores, as quais são influenciadas pelos esteróides gonadais no desenvolvimento (Bleier et al., 1982; Del Abril et al., 1987; Guillamón et al., 1988).

Também nos humanos uma parte caudal particular do BST (BNST-dspm) foi descrita como sendo 2.5 vezes maior nos homens do que nas mulheres (Allen & Gorski, 1990). A parte central do BST (BSTc) é caracterizada pelas suas células somatostatinas (553-54) e pela inervação do polipeptido vasoactivo intestinal (VIP) (Walter et al., 1991). Zhou et al. (1995) mediram o volume do BSTc a partir da sua inervação VIP. Os resultados foram os seguintes: O volume do BSTc nos machos heterossexuais era 44% maior do que nas fêmeas heterossexuais. O volume do BSTc dos homens heterossexuais e homossexuais não diferia de uma maneira estatisticamente significativa. O BSTc era 62% maior nos homens homossexuais do que nas mulheres heterossexuais.

A Sida não parece influenciar o tamanho do BST: o tamanho do BST de duas mulheres heterossexuais infectadas com Sida e de três homens heterossexuais infectados com Sida estavam dentro da média do grupo de referência correspondente. Os heterossexuais infectados com Sida foram, por isso, incluídos nos respectivos grupos de referência devido a propósitos estatísticos. Um pequeno volume do BSTc foi descoberto nos tansexuais macho-para-fêmea. O seu tamanho era somente 52% do encontrado nos machos de referência e 64% do BSTc dos machos homossexuais. Embora o volume médio do BSTc nos transexuais fosse ainda menor do que no grupo das fêmeas, a diferença não era estatisticamente significativa.

O volume do BST não estava relacionado com a idade em qualquer um dos grupos de referência estudados, o que parece indicar que o tamanho menor do BSTc observado nos transexuais não era devido ao facto deles serem, a este respeito, 10 a 13 anos mais velhos do que os homens heterossexuais e homossexuais.

O BTS desempenha um papel fundamental no comportamento sexual masculino e na regulação da libertação de gonadotropina, tal como demonstrado pelos estudos realizados na ratazana (Kimura, 1974; Emery & Sachs, 19776; Claro et al., 1995). Não existe evidência directa de que o BST tenha um papel similar no comportamento sexual humano, mas a demonstração de Zhou et al. (1995) de um padrão sexualmente dimórfico no tamanho do BSTc humano, o que está de acordo com a diferença sexual previamente descrita na parte mais caudal do BST (BNST-dspm) (Allen & Gorski, 1990), indica que este núcleo pode também estar envolvido nas funções sexual e reprodutiva humanas. Aliás, Simerly & Swanson (1987) e De Vries (1990) sugeriram que as diferenças de sexo neuroquímicas no BST da ratazana podem ser devidas aos efeitos das hormonas sexuais sobre o cérebro durante o desenvolvimento e na idade adulta.

Contudo, os dados humanos mencionados anteriormente indicam que o volume do BSTc não é afectado pelos níveis das hormonas sexuais adultas. O volume do BSTc de uma mulher com 46 anos que tinha sofrido, pelo menos durante um ano, um tumor do córtex adrenal que produz níveis sanguíneos muito elevados de androstenediona e de testosterona, estava dentro da média do das outras mulheres (S1). Além disso, duas mulheres pós-menopausa (com idades acima de 70 anos) tinham um BSTc de tamanho feminino completamente normal (M1, M2). Como todos os transexuais tinham sido tratados com estrogénios, o tamanho reduzido do BSTc poderia ser atribuído à presença de níveis elevados de estrogénios no sangue. Evidência contra esta suposição deriva do facto de que ambos os transexuais T2 e T3 mostravam um pequeno BSTc como as fêmeas, apesar de T2 ter parado de tomar estrogénios cerca de 15 meses antes de morrer, donde os seus níveis de prolactina serem também elevados, e de T3 ter parado o tratamento hormonal desde que um sarcoma foi descoberto cerca de três meses antes de morrer. Também um homem com 31 anos de idade que sofria de um tumor adrenal feminilizante que induz altos níveis sanguíneos de estrogénios, tinha, apesar disso, um BSTc verdadeiramente grande (S2).

Estes resultados poderiam ser explicados mediante a alegação de que o tamanho feminino do BSTc no grupo transexual era devido à falha de androgénios, dado todos eles terem sido orquidectomizados, excepto o T4. Por essa razão, Zhou et al. (1995) estudaram dois outros homens que tinham sido orquidectomizados por causa do cancro na próstata (um e três meses antes da morte: S4 e S3 respectivamente). Descobriu-se que o tamanho dos seus BSTc estava ao nível elevado da classificação dos machos normais. Apenas o tamanho do BSTc de um único transexual que não tinha sido orquidectomizado (T4) situava-se a meio dos valores dos transexuais. Não só cinco dos transexuais tinham sido orquidectomizados, como também todos usaram o «antiandrogen cyproterone acetate» (CPA). O efeito do CPA sobre o BSTc não se manifesta frequentemente, porque T6 não tinha tomado CPA nos últimos dez anos e T3 não tinha tomado CPA durante os dois anos antes de morrer e, no entanto, apresentava um BSTc de tamanho feminino.

Por conseguinte, as observações de Zhou et al. (1995) sugerem que o tamanho reduzido do BSTc nos transexuais macho-para-fêmea não pode ser explicado pelas diferenças nos níveis de hormonas sexuais na idade adulta, mas poderá ser estabelecido durante o desenvolvimento por uma acção organizadora das hormonas sexuais, de resto um ideia apoiada pelo facto de que a gonadectomia neonatal de ratazanas machos e a androgenização de ratazanas fêmeas induzirem mudanças significativas no número de neurónios do BST e suprimirem o seu dimorfismo sexual (Del Abril et al., 1987; Guillamón et al., 1988).

Considerado conjuntamente com a informação de animais, o estudo de Zhou et al. (1995) suporta, portanto, a hipótese de que as alterações da identidade de género podem desenvolver-se como resultado de uma interacção alterada entre o desenvolvimento do cérebro e as hormonas sexuais (Swaab & Hofman, 1995). A acção directa de factores genéticos deverá também ser levada em consideração a partir de experiências com animais (Pilgrim & Reisert, 1992). Também não foi descoberta nenhuma relação entre o tamanho do BSTc e a orientação sexual dos transexuais: cada um deles era macho-orientado (T1, T6), fêmea-orientado (T3, T2, T5) ou ambos (T4).

Além disso, o tamanho do BSTc dos homens heterossexuais e dos homens homossexuais não diferia, o que reforça o conceito de que o tamanho reduzido do BSTc é independente da orientação sexual. Também não havia diferença no tamanho do BSTc entre o subconjunto mais jovem (T2, T5, T6) e o subconjunto mais velho (T1, T3) dos transexuais, o que indica claramente que o tamanho reduzido do BSTc está relacionado com a alteração da identidade de género per si, e não com a idade em que se torna manifesto. De modo interessante, o reduzido BSTc nos transexuais parece ser uma diferença cerebral verdadeiramente local.

Lhou et al. (1995) não conseguiram observar mudanças similares em três outros núcleos do hipotálamo, nomeadamente nos PVN, SDN ou SCN nos mesmos indivíduos. Isto pode ser devido ao facto destes núcleos não se desenvolverem todos ao mesmo tempo ou a uma diferença entre estes núcleos e o BST em relação à presença de receptores das hormonas sexuais ou de aromatase.

Contudo, um outro estudo, levado a cabo por Wilson, Chung, De Vries & Swaab (2002), mostrou que a diferença sexual no volume do BSTc, a qual se torna significativa somente na idade adulta, se desenvolve muito mais tarde do que seria de esperar. A diferenciação sexual do BST da ratazana ocorre nas primeiras semanas depois do nascimento e requer diferenças perinatais nos níveis de testosterona (Del Abril et al., 1987; Chung et al., 2000). Nos seres humanos, os níveis de testosterona durante o desenvolvimento fetal e neonatal são muito mais elevados nos machos do que nas fêmeas (Abramivich & Rowe, 1973; Winter, 1978). Além disso, alterações dramáticas nos níveis de testosterona nos adultos não têm efeitos óbvios sobre o volume do BSTc tanto nos machos como nas fêmeas (Zhou et al., 1995; Kruijver et al., 2000). Por causa disso, supunha-se que o BST divergia precocemente entre machos e fêmeas durante o desenvolvimento. Além disso, a diferenciação sexual dos núcleos sexualmente dimórficos da área preóptica e de outras áreas do hipotálamo anterior humano ocorre entre os 4 e os 10 anos de idade (Swaab & Hofman, 1988; Swaab et al., 1994).

Assim, a diferenciação tardia do volume do BSTc nos machos e nas fêmeas poderá ser uma característica geral do BST humano. Este conceito é apoiado por diversos estudos. O BST-dspm parece tornar-se sexualmente dimórfico aproximadamente na puberdade, como é indicado pelos períodos de tempo de desenvolvimento que foram incluídos no estudo de Allen & Gorski (1990). Com efeito, o BST-dspm parece ser menor nas fêmeas do que nos machos a partir dos 14 anos de idade (Allen & Gorski, 1990). A diferenciação sexual relativamente tardia também foi observada no hipotálamo do porco. O número de células do núcleo sexualmente dimórfico contendo vasopressina e oxitocina do hipotálamo do porco aumenta nas fêmeas pós-adolescentes mas não nos machos (Van Eerdenburg & Swaab, 1994).

Estudos recentes também mostraram que diversas regiões no cérebro humano e primata adulto produzem continuamente novos neurónios e mudam no volume das matérias branca e cinzenta (Eriksson et al., 1998; Gould et al., 1999; Gur et al., 1999; Sowell et al., 1999). Além disso, mudanças morfológicas marcadas no cérebro humano, incluindo a diferenciação sexual, podem não estar limitadas à infância mas estender-se até à idade adulta.

Existem diversas explicações possíveis para a falha de uma diferença sexual no volume do BST logo após surgirem as diferenças sexuais fetais e neonatais nos níveis de testosterona. Os efeitos organizacionais da testosterona sobre a diferenciação sexual podem tornar-se claros mais tarde na vida. Um exemplo de uma longa demora nos efeitos organizacionais dos esteróides gonadais é o desenvolvimento do núcleo periventricular anteroventral (AVPv) sexualmente dimórfico no cérebro da ratazana, o qual é maior nas fêmeas do que nos machos. Apesar das diferenças sexuais perinatais na testosterona provocarem esta diferença sexual no tamanho do AVPv, o seu volume torna-se apenas significativamente diferente aproximadamente na puberdade (Davis et al., 1996). Alternativamente, é provável que as diferenças sexuais nos níveis de esteróides gonadais peripubertais ou adultos estabeleçam a diferença sexual no volume do BSTc na idade adulta. Embora os androgénios e os estrogénios na puberdade provoquem o desenvolvimento das características sexuais secundárias nas estruturas periféricas do corpo, não existem dados sobre efeitos similares sobre as estruturas do cérebro humano.

Contudo, dados provenientes de seis casos relatados em estudos anteriores sugerem que o volume do BSTc, tal como delineado pela coloração imunocitoquímica de VIP ou somatostatina, não é afectado por aumentos ou diminuições acentuados nos níveis de esteróides gonadais na idade adulta. Assim, um tamanho feminino normal do BSTc foi descoberto numa fêmea controle com níveis de androgénios aumentados e em duas fêmeas controle pós-menopausa com baixos níveis de esteróides gonadais. Além disso, um tamanho masculino normal do BSTc foi descoberto num macho controlo com elevados níveis de estrogénios provocados por um tumor adrenal feminilizante e em dois machos controle que foram orquidectomizados como resultado de cancro da próstata. A possibilidade de que mudanças dependentes dos esteróides gonadais na expressão de VIP ou do neuropeptido somatostatina estejam na base das mudanças do volume do BSTc, tal como na área preóptica da codorniz (quail), na amígdala medial do rato e na amígdala humana (Panzica et al., 1987; Giedd et al., 1996; Cooke et al., 1999), não é apoiada por esses seis casos que revelam mudanças acentuadas nos níveis de esteróides gonadais, embora o volume do seu BSTc seja normal para o seu género (Zhou et al., 1995; Kruijver et al., 2000).

Além das acções directas dos esteróides gonadais sobre o BSTc, a emergência tardia de diferenças sexuais no volume do BSTc pode reflectir mudanças sexualmente dependentes relativamente tardias nas áreas do cérebro que abastecem o BST com a sua inervação VIP-IR, tais como a amígdala (Eiden et al., 1985), a qual aumenta de tamanho numa proporção maior nos machos do que nas fêmeas entre os 4 e os 18 anos de idade (Giedd et al., 1996). Embora as diferenças sexuais nos esteróides gonadais constituam o factor mais provável para desencadear a diferenciação sexual do BSTc e da áreas que inervam o BSTc, Chung et al. (2002) não excluem a acção de mecanismos independentes dos esteróides gonadais sobre a diferenciação sexual do cérebro, tais como uma expressão local de genes do sexo cromossómico (Reisert & Pilgrim, 1991). Um gene candidato para um tal efeito é o gene SRY, o qual foi revelado ser transcrito no hipotálamo humano adulto e no córtex dos machos mas não nos das fêmeas (Mayer et al., 1998).

Assim, tendo em consideração todos estes estudos, a nossa perspectiva sobre a relação entre o volume do BSTc e a sua diferenciação sexual tardia e a transexualidade torna-se mais segura. Com efeito, os transexuais recebem a sua primeira consulta entre as idades de 20 e 45 anos, as quais coincidem com o período de divergência sexualmente dependente do volume do BSTc descoberto nos estudos de Chung et al. (2002) e de Van Kesteren et al. (1996). No entanto, estudos epidemiológicos mostram que a consciência de problemas de género está geralmente presente muito precocemente. Com efeito, 67-78 % dos transexuais na idade adulta relatam terem tido fortes sentimentos de terem nascido num corpo errado desde a infância (Van Kesteren et al., 1996), o que apoia o conceito de que os distúrbios nos níveis de esteróides gonadais fetais ou neonatais estão na base do desenvolvimento da transexualidade. Além disso, as observações de que o uso de fenobarbital (phenobarbital) ou difantoin (diphantoin) durante a gravidez, os quais afectam os níveis dos esteróides gonadais, aumenta a prevalência de transexualidade nos recém-nascidos, suportam este conceito (Dessens et al., 1999).

Assim, as raparigas que foram expostas a níveis elevados de androgénios enquanto crianças por causa da hiperplasia adrenal congénita revelam uma elevada incidência de problemas de género, o que fornece suporte empírico para o conceito de uma programação de desenvolvimento precoce desta desordem (Meyer-Bahlburg et al., 1996; Zucker et al., 1996). A falha da diferenciação sexual acentuada do volume do BSTc no estudo de Chung et al. (2002) antes do nascimento e na infância não impede certamente os efeitos precoces dos esteróides gonadais sobre as funções do BSTc. Tal como sugerem as experiências com animais de laboratório, os níveis de testosterona fetais ou neonatais nos seres humanos devem primeiramente afectar a densidade sináptica, a actividade neuronal ou o conteúdo neuroquímico durante o desenvolvimento precoce do BSTc (Döhler, 1991; Park et al., 1997). As mudanças nestes parâmetros devem afectar o desenvolvimento da identidade de género, sem implicar imediatamente mudanças abertas no volume ou no número de neurónios do BSTc. Alternativamente, é necessário levar em conta que as mudanças no volume do BSTc nos transexuais macho-para-fêmea podem ser o resultado de uma incapacidade para desenvolver uma identidade de género tipicamente masculina. As descobertas de Chung et al. (2002) de uma diferença sexual no volume do BSTc somente visível na idade adulta sugerem que as mudanças organizacionais sexualmente dependentes da estrutura do cérebro não se limitam ao desenvolvimento precoce mas estendem-se até à idade adulta.

A evidência empírica disponível suporta o conceito de que a região central do BST está associada à identidade de género: o sentimento de ser macho ou fêmea. Este núcleo sexualmente dimórfico é maior nos machos do que nas fêmeas, independentemente das suas orientações sexuais. Contudo, o seu tamanho reduzido nos transexuais macho-para-fêmea, semelhante ao das mulheres, indica claramente essa associação à identidade de género. Ele pode constituir a base neural das perturbações de identidade de género. A transexualidade é precisamente o sentimento de desconforto com o próprio sexo biológico ou com o papel de género correspondente.

Carol Ringo & Peter Ringo (2002) mostraram que os mass media podem desempenhar um papel fundamental e positivo no desenvolvimento da identidade transexual e naidentidade transgender. Machos heterossexuais e homossexuais partilham assim o mesmo sentimento íntimo de si mesmos como homens. Designaremos o transexualismo como uma «two-spirit syndrome» ou síndrome transexual, cujos pacientes devem ser alvo de cuidados médicos e de acompanhamento psiquiátrico adequado.

Em fase dos resultados expostos, conjecturamos que a própria existência da transexualidade advoga fortemente a favor do conceito de que a identidade sexual ou de género não é necessária e exclusivamente determinada por experiências de vida. A maioria dos transexuais pertencentes ao grupo primário simplesmente não possui histórias de experiências traumatizantes, relacionamentos ou doenças que pudessem explicar um tão radical afastamento da convencionalidade. E os transexuais não são destituídos de capacidades intelectuais, já que, pelo menos, um grande número deles conseguem persuadir um cirurgião a remover-lhes o pénis. Dado que já conhecemos um dos marcadores biológicos da transexualidade, o núcleo sexualmente dimórfico, começamos a compreender os mecanismos de desenvolvimento subjacentes à identidade sexual. Neste momento, o tamanho reduzido do BSTc dos transexuais, bem como a ausência de diferença sexual entre homens heterossexuais e homossexuais, não permite a sua inclusão numa classificação das homossexualidades.

Apesar de os ter incluído na sua tipologia dos travestismos masculinos, onde integra erroneamente a homossexualidade efeminada, Robert J. Stoller (1982) acaba por reconhecer que não existem semelhanças significativas entre os dois grupos, a não ser o uso ocasional de roupas femininas por parte de uma minoria de homossexuais efeminados: os transexuais primários e os homossexuais efeminados. As diferenças entre eles são abismais: o transexual não é efeminado como o homossexual efeminado mas simplesmente feminino. Por outro lado, o homossexual efeminado sabe que prefere homens como objectos sexuais, aprecia virtualmente ter um pénis, não deseja perdê-lo, usa-o sempre que possível em todos os tipos de situações sexuais e aprecia relações sexuais com homens que, em troca, demonstrem interesse pelo seu pénis. Ora, cada um destes indicadores comportamentais, sobretudo o último, constituem um anátema para os transexuais primários.

Além disso, os homossexuais efeminados, sobretudo os do tipo maricas, que têm grande propensão para o travestismo, acabam, por diversas razões, por se prostituir, sendo posteriormente levados a submeter-se à cirurgia da mudança de sexo. Este grupo constitui aquilo a que chamámos os transexuais secundários, a maior parte deles oriundos, pelo menos em Portugal e no Brasil, das classes sociais desfavorecidas, onde a instrução e a educação são mínimas, e, geralmente, propensos à prostituição, estilo de vida sexualmente promíscuo e abuso de drogas (Inciardi et al., 1999), além de problemas de saúde graves (Gooren, 1999). No entanto, não é de excluir a possibilidade de muitos daqueles indivíduos que classificámos como homossexuais hiperefeminados sejam realmente transexuais genéticos.

Embora a nossa pesquisa de terreno tenha incidido sobretudo sobre os homossexuais masculinos e femininos, no seu decorrer confrontamo-nos com alguns casos de transexualismo. Destes casos apenas dois parecem ser verdadeiramente transsexuais: um transexual macho-para-fêmea homossexual e outro transexual fêmea-para-macho homossexual. Os restantes são claramente casos de pseudo-transexualismo: indivíduos do sexo masculino cuja orientação sexual era homossexual e que, devido a diversas pressões e a uma história de vida altamente estigmatizante, se submeteram a diversos tratamentos, nalguns casos à mudança de sexo, para se converterem em «fêmeas». Os machos homossexuais que se transformam em transexuais seguem geralmente o seguinte padrão: embora a maior parte deles tenda a ser do tipo efeminado, quer sejam efeminados ou masculinizados, eles começam por ser travestis e, a partir desse momento, são alvo da crítica homossexual.

Segregados da comunidade homossexual dominante, eles continuam a frequentar os «meios homossexuais», ao mesmo tempo que, como grupo, se dedicam à prostituição. A dinâmica de grupo, bem como o seu estilo de vida, leva-os a querer mudar de sexo: além de se vestirem e de se comportarem como «mulheres», uns fazem tratamentos hormonais e outros, mais arrojados, submetem-se a cirurgia de mudança de sexo. Compreende-se que um «cérebro feminino prisioneiro num corpo masculino» queira ter um corpo conforme ao seu cérebro, mas o mesmo já não pode ser dito dos machos homossexuais que não apresentam nenhuma disfunção sexual aparente. O seu cérebro até pode ser feminino nalgumas características sexualmente dimórficas, mas os seus órgãos sexuais funcionam e são usados como fonte de prazer sexual. A prova está num dos casos: um indivíduo que, antes do travestismo e do transexualismo, se casou heterossexualmente e teve um filho! Seja como for, os estudos revelam que os machos homossexuais, tal como os machos heterossexuais, têm uma identidade de género adequada ao sexo: a via de desenvolvimento masculino é, também neste sentido, semelhante entre os homens homossexuais e heterossexuais.

Hoje, dado já conhecermos alguns genes associados ao transexualismo (Henningsson et al., 2005), o estudo destes indivíduos pode vir a facilitar a nossa compreensão da orientação sexual, especialmente da homossexualidade, recorrendo igualmente a outros modelos animais, nomeadamente o do carneiro (Roselli et al., 2002). A pesquisa genética (Henningsson et al., 2005) confirmou a existência de 3 polimorfismos associados ao transexualismo: o gene receptor dos androgénios, o gene da aromatase e, sobretudo, ogene receptor dos estrogénios (Erbeta). Daqui resulta que esta categoria sexual não pode ser integrada no âmbito da homossexualidade masculina.


Disponível em <http://cyberdemocracia.blogspot.com.br/2008/03/crebro-e-genes-dos-transexuais.html>. Acesso em 17 mar 2013.