Carrie Arnold
fevereiro de 2014
O número de pessoas insatisfeitas com a imagem do corpo não
é pequeno. Quase metade das adolescentes relata estar infeliz com a aparência.
O número de homens que dizem sentir grave insatisfação com a imagem corporal
também está crescendo. Um distúrbio que tem chamado a atenção de especialistas
é o transtorno dismórfico corporal, em que as pessoas não conseguem parar de
pensar em pequenas “falhas” (não raro, imaginárias) de sua aparência.
A maior parte dos especialistas concorda atualmente que o
problema depende de diversos fatores psíquicos, biológicos e ambientais. A
novidade é que pesquisas recentes apontam a interocepção como uma função
biológica chave para compreendermos esse tipo de transtorno.
A interocepção é um sentido pouco conhecido, responsável pela
consciência do estado interno do próprio corpo. Alterações nesse sentido podem
estar relacionadas ao desenvolvimento de anorexia, bulimia e transtorno
dismórfico corporal, e identificar o distúrbio ajudaria a desenvolver novas
abordagens terapêuticas.
Sabemos quando estamos satisfeitos ou com fome, com frio ou
calor, com coceira ou dor no momento em que receptores localizados na pele, nos
músculos e nos órgãos internos enviam sinais a uma região do cérebro chamada
ínsula. Essa pequena bolsa de tecido neural está situada em uma dobra profunda
da camada externa do cérebro, perto das orelhas. Essa estrutura mantém a
consciência do estado interno do corpo, desempenhando um papel importante no
autoconhecimento e na experiência emocional. Tanto informações interoceptivas e
quanto vindas do meio externo são processadas na ínsula.
A região é responsável por relacionar, por exemplo, a forte
dor que sentimos ao tocar um fogão quente com o vermelhão que aparece na mão
queimada. “A integração dessas informações constitui a imagem corporal, ou
seja, parecemos o que pensamos”, diz o neurocientista Manos Tsakiris, da Royal
Holloway, Universidade de Londres. “Quanto maior a contribuição da interocepção
em oposição a estímulos externos e visuais, melhor é a imagem corporal de uma
pessoa.”
Pessoas com alterações nessa regulação biológica podem ter
dificuldade para ancorar o “senso de si”, tornando-se excessivamente
preocupadas com mínimos detalhes visuais, o que costuma resultar na depreciação
da própria imagem. Pacientes com transtorno dismórfico corporal também
apresentam esse tipo de problema, o que os leva a focar mais na forma do nariz
do que na harmonia geral do rosto.
Imagem corporal distorcida, chamada formalmente de dismorfia
corporal, pode variar desde leves preocupações sobre como um jeans pode não
modelar tão bem o quadril até interpretações delirantes em relação ao tamanho e
a forma do corpo, como nos casos de anorexia nervosa e transtorno dismórfico
corporal. Muitos podem ter o problema inverso. Em um estudo de 2010, o
cardiologista Sandeep Das e seus colegas da Universidade do Texas, Centro
Médico do Sudoeste, descobriram que um em cada dez adultos obesos acreditava
que seu peso estava saudável. Os cientistas acreditam que a baixa interocepção
também ajuda a explicar a distorção positiva desses voluntários a respeito do
próprio corpo.
Disponível em
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/algo_errado_no_corpo.html. Acesso em
04 mar 2014.