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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Justiça autoriza mudança de sexo e nome de criança

Top News
19/04/2012

Fruto da união de um casal de Barra do Garças, nasceu, de parto normal, a criança L.S. De posse da Declaração de Nascido Vivo, firmada pelo médico que acompanhou o parto, foi feito o registro do bebê de sexo masculino.

Direito de toda criança, foi realizado em L.S. o teste do pezinho, que consiste na obtenção de uma amostra de sangue através de uma picada no "pezinho" do recém-nascido, durante os primeiros dias de vida. O exame permite fazer o diagnóstico de diversas doenças, possibilitando, desta forma, o tratamento precoce específico e a diminuição ou eliminação de possíveis sequelas.

O material colhido de L.S. foi enviado para análise no Estado de Goiás e, logo, os pais foram chamados para que levassem o bebê, com urgência, para aquele estado pois o recém nascido corria sério risco de morte.

No exame foram detectados indícios de que a criança, fisicamente de sexo masculino, apresentava indicativos científicos de ser do sexo feminino. Se a anomalia não fosse descoberta logo e o tratamento iniciado antes dos primeiros 30 dias de vida, normalmente a criança viria a óbito, segundo informado ao casal. Assim, os pais trataram de transferir a criança para Goiás, onde passou por intervenções cirúrgicas corretivas.

Após a cirurgia de adequação, e provado o sexo da criança, os pais procuraram a Defensoria Pública de Barra do Garças para alterar legalmente o sexo e o nome do bebê. Os pais pretendiam, junto ao Cartório do registro civil, retificar a certidão de nascimento, uma vez que antes de receber a notícia o registro já havia sido confeccionado.

Segundo o Defensor Público Milton Martini, tal ocorrência é nominada de genitália ambígua. “Houve um desenvolvimento anormal do canal urinário, de modo que até o médico que assinou a Declaração de Nascido Vivo, se equivocou com a aparência física da criança”, afirma.

“Juntamente com o pedido dos pais foi encaminhado ao Judiciário também um exame de sexagem genética, confirmando que, na amostra analisada, os padrões de amplificação do DNA eram mesmo condizentes com o sexo feminino”, explicou o Defensor Público.

Diante das provas, o pedido foi acatado pelo juízo deferindo a modificação do sexo da criança para feminino e do nome, e junto ao Cartório de Registro Civil já foram feitas as devidas retificações.

Disponível em http://www.topnews.com.br/noticias_ver.php?id=11182. Acesso em 25 jul 2013.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ele tentou provar que o gênero é uma construção social. E fracassou

Dale O’Leary
03 Jun 2013

Em 21 de dezembro de 2013, o Papa Bento XVI falou sobre os perigos de novas teorias de gênero. Enquanto a mídia focava em sua condenação da redefinição do casamento, a crítica de Bento XVI era mais abrangente, com foco na teoria de gênero em geral. Contrastando abordagens filosóficas cristãs com a teoria de gênero, ele assinalou:

"De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente."

Além disso, afirmou que quem promove teorias de gênero "nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria". Em uma época que se orgulha da preocupação com a natureza, a natureza humana está sob ataque.
             
A redefinição de gênero começou na década de 50. No passado, a palavra "sexo", em inglês, se referia à totalidade do que significa ser um homem ou uma mulher, enquanto "gênero" era um termo gramatical. Algumas palavras têm gênero – masculino, feminino ou neutro. O inglês é uma língua extremamente "sem-gênero". Apenas os pronomes da terceira pessoa do singular e alguns substantivos têm gênero específico. Comparando isso com o italiano ou o hebraico, vemos que todos os substantivos, adjetivos, artigos e verbos na segunda e terceira pessoa do singular e plural são masculinos ou femininos.

Hoje, nos Estados Unidos, o governo e as formas comerciais, que costumavam perguntar o nosso sexo, agora perguntam qual é o nosso gênero. Ao ver isso, muitas pessoas assumiram que "gênero" é apenas um sinônimo de "sexo", e que "gênero" era uma maneira mais educada de dizer, já que "sexo" tem um significado secundário, ou seja, é uma forma abreviada de se referir à relação sexual. As pessoas não viram um problema nisso.

Mas aqueles que defendem o uso da palavra "gênero" não o fazem devido a um senso escrupuloso de decoro; para eles, "gênero" e "sexo" não são sinônimos. "Sexo" refere-se apenas à biologia, e "gênero" é o sexo com o qual uma pessoa se identifica, que pode ser o mesmo, ou diferente do seu sexo biológico.

A redefinição do "gênero" foi concebida por John Money, que estava na equipe da prestigiada Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland. Money não era um cientista objetivo, mas um "agente provocador da revolução sexual" que sentia prazer em chocar as pessoas pelo uso da vulgaridade e de fotografias obscenas. Ofereceu apoio ao movimento para normalizar as relações sexuais entre homens adultos e meninos. Ele desprezava a religião. E promoveu a ideia de que a identidade sexual pode ser dividida em suas partes constituintes – DNA, hormônios, órgãos sexuais internos e externos, características sexuais secundárias e identidade de gênero – o sexo com o qual a pessoa se identifica.

Não há nada de errado com perceber as partes que compõem o todo da nossa identidade sexual, mas Money estava interessado nas pessoas para as quais as partes pareciam estar em conflito: os que eram biologicamente de um sexo, mas se identificavam com o outro. Embora seja verdade que algumas pessoas queiram ser de outro sexo, e possam até acreditar que deveriam ter nascido com outro sexo, essas crenças não podem ser concebidas como sendo iguais à realidade de seu sexo biológico, mas reconhecidas como sintomas de um subjacente distúrbio psicológico.

Money centrou sua atenção em bebês nascidos com distúrbios do desenvolvimento sexual, por vezes referido como hermafroditas ou intersexuais. Em casos raros, o bebê nasce com uma condição congênita ou hereditária que faz com que seja difícil identificar seu verdadeiro sexo, ou com órgãos sexuais deformados. Os interessados em uma discussão sobre este problema podem ler um documento do Comitê Nacional de Bioética italiano, intitulado "Minor’s Sexual Differentation Disorders: Bioethical Aspects", que descreve os diversos distúrbios e opções de tratamento.

Money afirma que a identidade de gênero de uma criança foi formada não pela biologia, mas pela socialização, e que os geneticamente meninos com pênis deformados poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com meninas e ser educados como meninas. Ele insistiu em que um menino aceitaria que ele era uma menina e, como adulto, seria capaz de se envolver em relações sexuais como uma mulher (uma grande prioridade para Money). Este protocolo foi amplamente aceito.

Em 1967, surgiu o caso perfeito para provar a teoria de Money de que a identidade de gênero é uma criação social. O pênis de um menino foi acidentalmente destruído durante uma circuncisão mal feita. Seus pais viram Money ser entrevistado na televisão, falando sobre crianças com distúrbios do desenvolvimento sexual, e pediram sua ajuda. Ele propôs que o menino fosse castrado e educado como uma menina. Money garantiu aos pais que o menino aceitaria plenamente esta transição, se os pais fossem consistentes em sua educação como menina. Como o menino tinha um irmão gêmeo idêntico, que serviria como um controle, o caso seria uma prova conclusiva da teoria de Money de que a identidade de gênero é construída socialmente. Money falou sobre isso e publicou relatórios do caso, garantindo a todos que o experimento foi um sucesso total.

Conforme os anos foram passando, aqueles que estavam interessados no caso se perguntaram como as coisas tinham evoluído. Será que este menino criado como menina amadureceu normalmente? Money foi evasivo e disse que, embora a criança tinha sido totalmente ajustada para ser uma menina, ele tinha perdido o contato com a família. O Dr. Milton Diamond, que estudou o efeito dos hormônios pré-natais sobre o cérebro em animais, não estava satisfeito. Depois de alguns anos, ele rastreou a família e descobriu que Money tinha distorcido totalmente os resultados de seu experimento.

O menino nunca aceitou que era uma menina. Ele só não sabia o que estava errado com ele. Ele e seu irmão foram forçados a fazer visitas anuais ao Dr. Money, durante as quais eram submetidos ao que seria considerado como abuso psicológico. Money insistiu em que o menino se submetesse a uma cirurgia para criar uma vagina, mas o menino se recusou e ameaçou suicídio se fosse levado de volta para ver Money. Finalmente, um terapeuta local, trabalhando com o garoto que hoje tem 14 anos de idade, incentivou a família para que contasse a verdade ao rapaz. No minuto em que soube que nasceu menino, ele quis viver de acordo com sua identidade real. Money não tinha perdido o contato com a família: ele sabia que sua experiência tinha falhado, mas não quis reconhecer isso.

Em 2006, um livro escrito por John Colapinto ("As Nature Made Him") expôs Money como uma fraude. Além disso, muitas das crianças que nasceram com distúrbios do desenvolvimento sexual e que foram cirurgicamente alteradas de acordo com protocolos de Money agora são adultos e protestam contra o que foi feito com elas. Muitos fizeram uma cirurgia de reversão para o seu sexo de nascimento. E exigiram que essa cirurgia seja proibida, para que as crianças com esses problemas possam descobrir sua própria identidade sexual.

Money também incentivou Johns Hopkins a oferecer cirurgias chamadas de "mudança de sexo", nas quais os homens que acreditavam que tinham o cérebro de uma mulher poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com as mulheres. Quando o Dr. Paul McHugh assumiu o departamento de psiquiatria na Universidade Johns Hopkins, encomendou um estudo sobre o resultado destas supostas "mudança de sexo". Constatando que este tratamento radical não abordou a psicopatologia subjacente dos clientes, ele interrompeu a prática. E a classificou como "colaborar com a loucura". Infelizmente, outros hospitais continuaram realizando esta cirurgia mutiladora.


Disponível em http://www.aleteia.org/pt/saude/q&a/ele-tentou-provar-que-o-genero-e-uma-construcao-social-e-fracassou-1776002. Acesso em 10 jun 2013.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Por incompreensão, travestis estão entre grupos mais discriminados da sociedade

Evelyn Pedrozo
30/08/2012

Travestis são pessoas que sofrem muito porque o mundo não está preparado para compreendê-las. O médico, psiquiatra e psicodramatista Ronaldo Pamplona da Costa as define como o grupo das pessoas mais marginais, não apenas na sociedade, mas também nos estudos sobre sexualidade. Os terapeutas têm muita dificuldade para entendê-las e são raríssimos os que as aceitam como pacientes. Neste entrevista, Pamplona, autor do livro Os Onze Sexos – As múltiplas faces da sexualidade humana, faz uma análise deste grupo, destacando recentes estudos sobre o cérebro humano. 

O médico explica que a sexualidade deve ser compreendida do ponto de vista biológico, psicológico e social, todos interligados. Mas a diferença básica está centrada no biológico, o que já pode ser comprovado pelas pesquisas da neurociência. “No cérebro aparecem todas as diferenças entre o comportamento dos seres humanos. Existe uma vertente masculina e uma vertente feminina. Na masculina, temos homens heterossexuais, homossexuais e bissexuais. Na feminina, a mesma coisa. Só que o homem heterossexual é muito diferente da mulher hetero; o homem homo é muito diferente da mulher lésbica, e os bissexuais também são muito diferentes em se tratando de um homem e de uma mulher”, detalha.

O que podemos entender por identidade sexual e identidade de gênero relativamente aos indivíduos travestis?
Nós temos uma identidade sexual, que tem dois aspectos – um é a orientação sexual, a parte da identidade que faz com que o ser humano busque uma parceria. O outro é a identidade de gênero, que vai determinar se um indivíduo é masculino ou feminino. Só que a orientação sexual e a identidade de gênero independem uma da outra. Os indivíduos que são travestis, tanto as travestis homens quanto os travestis mulheres (muito raros, mas existem) têm uma identidade de gênero dupla, porque é um gênero masculino e um feminino mesclados dentro da mesma pessoa.

Isso explica o comportamento às vezes ambíguo de travestis?
Por essa identidade de gênero dupla, um homem travesti se sente também mulher, mas não deixa de se sentir homem em algumas situações por mais feminino que ele seja. Temos o exemplo da artista Rogéria, que se diz mulher, que se comporta como mulher, que gosta de se relacionar com homens, mas que em determinado momento da vida baixa o Astolfo (nome de registro) e ela se comporta como um homem bravo. Há travestis homens que se relacionam com mulher ou com homem e alguns até com os dois sexos. Estes seriam travestis homossexuais, bissexuais ou heterossexuais.

E seria a mesma definição para o transexual?
O transexual é um indivíduo que nasce homem do ponto de vista biológico, tem corpo masculino, se desenvolve como homem, mas sempre se sente mulher. Então, é uma pessoa que não consegue aceitar o corpo que tem, não aceita o pênis, a barba, a voz ou qualquer outro aspecto masculino, que são os caracteres sexuais secundários. 

Daí a necessidade de fazer a cirurgia para trocar de sexo?
Sim, porque a única conclusão que a medicina chegou até hoje é que é preciso mudar o corpo porque não dá para mudar a cabeça. Tem de operar para mudar de sexo, seja homem ou mulher transexual. A mulher não aceita a vagina, a menstruação, as mamas porque se sente homem. Quando menstrua se sente muito mal. As poucas que acabam engravidando têm muita dificuldade na parte biológica da gestação e da amamentação.

Travestis aceitam o corpo?
Travestis aceitam a genitália, mas não aceitam os caracteres sexuais secundários. A travesti homem jamais vai fazer uma cirurgia que mude seu pênis, porque ela gosta. Em geral, usa o pênis no relacionamento sexual, mas rejeita a voz, a distribuição dos pelos, da gordura, a falta da mama. Tanto que acaba usando hormônio ou também fazendo cirurgia para colocar prótese mamária de silicone.

Então a diferença entre travestis e transexuais está na aceitação dos órgãos sexuais?
Sim, a diferença básica entre transexual e travesti é que os travestis nunca vão modificar a genitália, a não ser que estejam em fase transitória de transexualismo. Vamos supor que ele ou ela ainda não chegaram à conclusão de que são mulher ou homem por inteiro. Pode ser que cheguem ou não a fazer a cirurgia. Tanto a cirurgia quanto a hormonioterapia são tratamentos médicos que não se pode fazer sem assistência médica porque vai comprometer o organismo com um todo. Fala-se muito sobre os perigos das mudanças feitas nos corpos para adequação à identidade de gênero. Muitas vezes as travestis usam silicone por conta própria, se medicam sozinhas, e é um desastre porque elas fazem tudo sem a técnica que tem de ser usada e acabam danificando o corpo.

O que dizem os estudos que começam a revelar informações sobre a sexualidade?
É recente nas pesquisas médicas o estudo do cérebro humano. Até 1990 não tínhamos meios de estudar o órgão porque não havia aparelhos. Hoje em dia há aparelhos de todo tipo para entender o cérebro em funcionamento. Em relação à sexualidade, se grupos de homens heterossexuais e homens homossexuais são submetidos à exibição de filmes com apelo sexual fica claro que nos heterossexuais a região do cérebro estimulada pelo desejo é uma, e nos homossexuais é outra. Os estudos avançaram mais e mostraram que essas regiões são determinadas durante a gestação. 

Isso significa que a pessoa já nasce com a sexualidade definida?
Sim, é genético. Cada um tem uma carga genética que vai promover o desenvolvimento das glândulas e do cérebro. A definição do desejo por homens ou mulheres só vai aparecer na adolescência. O cérebro vai amadurecendo e quando chega na adolescência o corpo começa a produzir hormônios. Os hormônios são relacionados com o desejo e essas regiões do cérebro começam a agir de tal forma que o indivíduo vai sentir desejo mesmo que ele não queira, porque é uma coisa biológica. Até hoje tudo o que se sabia era que essas aspectos sexuais eram todos desenvolvidos graças ao psicológico: o relacionamento do pai com a mãe, a resolução do complexo de édipo. Só que isso não faz sentido com as novas descobertas. 

Então dá para dizer que a pessoa nasce homossexual ou heterossexual? 
Sim, esse estudo foi publicado em 2011 por grupos que estudam o cérebro na Holanda, Suécia, Inglaterra, EUA, e vários países que têm comunicação entre si, principalmente na Europa. O Brasil tem pouco contato com esses estudos europeus, que estão avançando cada vez mais. Desde 1990 acompanho tudo e essa conclusão pode ser vista no livro Sex Differences in the Human Brain, their underpinnings and implications (As diferenças sexuais no cérebro humano, seus fundamentos e implicações), escrito por Ivanka Savic, editado pela editora Elsevier, da Suécia. Os autores se basearam em mais de 130 pesquisas sobre o cérebro nesse tema, e como fruto dessa compilação fecharam o conceito de que a homossexualidade ou a heterossexualidade é algo inato.

'A sexualidade envolve as pessoas como um todo e influencia diretamente os sentimentos e a maneira de ser, agir e pensar'
(Ronaldo Pamplona da Costa)

Quais são os onze sexos
homem heterossexual
homem homossexual
homem bissexual
mulher heterossexual
mulher homossexual
mulher bissexual
travesti homem
travesti mulher
transexual homem
transexual mulher
intersexos (como os hermafroditas)

Isso derruba todos os tabus a respeito da homossexualidade. Ou seja, não é uma opção?
O desejo fica armazenado no cérebro até a adolescência e aí brota de um jeito muito complicado. A pessoa que está sentindo não consegue explicar. Os pais, por conta das antigas teorias psicológicas, acham que são os responsáveis. Só que, na realidade, não são. Não é possível eliminar por completo o desejo. Você pode forçar a mudança do comportamento da pessoa, pode reprimir ou sublimar – os dois aspectos que a religião utiliza para dizer que "curou" o homossexual. Não é doença – foi considerado doença até 1985, mas de lá para cá, não mais.

E há alguma característica específica no cérebro de travestis?
Tem uma outra região do cérebro, que fica no hipotálamo (estrutura do sistema nervoso central), responsável pelo gênero. Todas as regiões do cérebro relacionadas com sexualidade estão no hipotálamo. Homens com identidade de gênero feminino ou mulheres com identidade masculina, do ponto de vista biológico, já nascem assim. Por isso crianças de dois anos e meio ou três anos muitas vezes dizem que não são do gênero ao qual nasceram. É o menino que diz: 'eu não sou menino, eu sou menina'. Ou a menina que diz: 'eu sou menino'. Isso é muito complicado. Para fechar o diagnóstico numa criança ou adolescente é difícil, é um diagnóstico evolutivo, o médico acompanha até fechar. Existem pouquíssimos centros no mundo, tem um em Boston, onde o médico atende a crianças com distúrbio de gênero. Porque também se nasce com a predisposição de masculino ou feminino. Quando se estudar a área do cérebro pelo masculino ou feminino, nos travestis e transexuais, é diferente. É um corpo de homem e no cérebro, uma identidade feminina, cabeça de mulher. Ou menina com cabeça de homem.

A identidade de gênero aparece em que momento?
Muito cedo. Um menino de três anos já sabe que é um menino. A sociedade vai ensinando e o cérebro já está mais amadurecido para a identidade de gênero, então começa a aparecer o comportamento masculino ou feminino, só que às vezes na criança a identidade vem trocada, apesar de a educação estar de acordo com o padrão. Porque o mundo só funciona com dois gêneros – o masculino e o feminino. Daí, os banheiros de homens e de mulheres. Não tem banheiro de outro gênero. 

É mesmo muito difícil fugir às regras... 
Sim, travestis são pessoas que sofrem muito porque o mundo não está preparado para comprendê-los. Acho que são as pessoas mais marginais que há dentro da sexualidade. Estão à margem de tudo. Porque nos estudos da sexualidade os travestis também estão excluídos. Os terapeutas têm muita dificuldade para entendê-los e são pouquíssimos os que os aceitam como pacientes.

A não aceitação tem a ver com sentimentos enraizados de uma sociedade de homens e mulheres?
Para o homem machista, ser travesti é ser menos. O homem não aceita ter seu papel de macho cumprido e ver um outro 'homem' querendo ficar no lugar de uma mulher. Para o machista, a mulher é menos, por isso, a travesti também é. Essas raízes são muito do passado, primitivas, da época em que o homem era tudo e a mulher, nada. Então, se deitar com outro homem e fazer o papel de 'mulher' é uma coisa menor.

Então por que tantos homens procuram travestis para se relacionar? 
Essa sua pergunta não tem resposta. Não conheço nenhum estudo feito sobre homens que desejam travestis e a cabeça deles. Tive alguns poucos pacientes que relataram desejo por travestis, que seria o desejo de estar com uma mulher, mas com uma mulher que tenha pênis – então, é um desejo muito mais relacionado com a ambiguidade do que qualquer outra coisa. Se ele deseja um homem, travesti não serve. Se deseja uma mulher, travesti não serve. Muita gente avalia que homens procuram travestis porque têm desejos por outros homens, mas boicotam o desejo saindo com um homem que parece mulher. Mas eu não concordo. Porque o desejo por outro homem é tão profundo e direto que nada serve no lugar. Acho que é um desejo por travestis mesmo, mas não conheço estudos a respeito.

Os fato de os estudos serem tardios certamente ajudaram aumentar o preconceito ao qual os homossexuais estão sujeitos. Isso pode mudar?
Os estudos sobre homossexualidade só foram feitos a partir do surgimento da Aids. Sou de um tempo em que não tinha Aids. Ninguém no meio médico tinha interesse em estudar homossexual. No momento em que veio a 'peste gay', os médicos foram obrigados a aceitá-los como pacientes, e a ciência foi atrás de estudá-los. Talvez algo tenha de acontecer para que os homens que desejam travestis sejam objetos de estudo.

É muito mais raro encontrar mulheres travestis ou elas se expõem menos?
A única referência que tenho de mulheres travestis é de filme pornográfico. É uma mulher que se sente mulher e ao mesmo tempo, homem. Ela se veste de homem, tira os seios, toma hormônio para se virilizar e ter pelos, engrossa a voz com os hormônios, mas não mexe na genitália, preserva a genitália e a usa no relacionamento sexual. Tem o prazer que uma mulher tem e tanto faz que seja se relacionando com outra mulher quanto com um homem.

No seu livro, o senhor fala em intersexos. Como se explica esse grupo?
São pessoas que nascem com defeito biológico, seja tanto nos genitais internos ou externos, como seja genético, com repercussões as mais variadas possíveis. Os casos devem ser encaminhados para os hospitais-escola, porque precisa de tratamento endocrinológico, com geneticista, pediatra. São raros os casos que chegam à idade adulta sem ter havido uma correção. Mais fácil encontrar na zona rural por falta de assistência médica. Um exemplo são os hermafroditas. A criança nasce com os dois genitais malformados, e os médicos concluem que é melhor deixar a vagina do que o pênis. Só que aí, é feita uma menina que pode se revelar masculina logo cedo. Mas a medicina a fez menina. A medicina, na verdade, a fez transexual. Porque a identidade de gênero era masculina.

Disponível em <http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/travestis/ate-a-medicina-marginaliza-travestis-afirma-psiquiatra>. Acesso em 30 ago 2012.

domingo, 17 de junho de 2012

Além do X e do Y

Sally Lehrman
setembro 2008

Há duas décadas, durante o curso de medicina, Eric Vilain conheceu um centro de referência francês para bebês com genitália ambígua. No hospital onde estagiava, em Paris, viu médicos examinando a anatomia de recém-nascidos e decidindo rapidamente: menino ou menina. Jovem e chocado, Vilain observou que as decisões pareciam orientar-se preponderantemente pelas crenças sociais dos médicos. “Eu vivia perguntando: 'Como você sabe?'”, lembra ele. Afinal, os genitais podem não corresponder ao órgão reprodutor interno da criança. 

Por coincidência, Vilain leu naquele período os diários de Herculine Barbin, uma hermafrodita do século XIX. Sua história de amor e infortúnio, editada pelo filósofo e cientista social Michel Foucault, aguçou seu questionamento. Ele então decidiu descobrir o que a “normalidade” sexual de fato significava – e encontrar respostas para a biologia das diferenças entre os sexos.

Hoje, esse francês de 40 anos é um dos poucos geneticistas nos quais pais e médicos se apóiam para compreender as situações pouco usuais da determinação do sexo de uma criança. Em seu laboratório de genética na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), suas descobertas levaram a uma melhor compreensão técnica neste campo e também a procedimentos mais conscienciosos. “O que realmente importa é o que as pessoas pensam sobre o próprio gênero, e não o que sua família ou médicos acham que elas deveriam ser”, diz. Estima-se que a ambigüidade genital ocorra em um a cada 4.500 nascimentos, e problemas como testículos que não descem, em um a cada 100. No total, os hospitais americanos realizam cerca de cinco cirurgias de atribuição de sexo por dia.

O trabalho de Vilain ajudou a derrubar algumas velhas idéias sobre a determinação de gênero. Há muito tempo, os estudantes vêm aprendendo que o caminho do desenvolvimento do sexo masculino é “ativo”, guiado pela presença do cromossomo Y. Por outro lado, a via feminina é passiva, uma rota padrão. O fisiologista francês Alfred Jost, realizando experimentos nos quais embriões de coelhos castrados se tornavam fêmeas, reforçou essa idéia na década de 40.

Em 1990, quando estava na Universidade de Cambridge, Peter Goodfellow descobriu o SRY, um gene localizado no cromossomo Y aclamado como uma “chave mestra”. A mudança de apenas um par de bases nessa seqüência produz uma fêmea em vez de um macho. E quando os pesquisadores integraram o SRY em um camundongo que era cromossomicamente fêmea, esse feto XX se desenvolveu como macho. 

Mas estudos de Vilain e outros sugerem um quadro mais complexo. Vilain propõe que o SRY funciona bloqueando um gene “antitestículos”. Assim, crianças do sexo masculino que possuem o SRY, mas também dois cromossomos femininos, apresentam características que vão de masculinas normais até uma mistura ambígua. Além disso, experimentos revelaram que o SRY pode reprimir a transcrição gênica, indicando que ele opera através de interferência. Finalmente, em 1994, o grupo de Vilain demonstrou que um macho pode se desenvolver sem o gene. Vilain propôs um modelo no qual o gênero é fruto da interação entre vários genes pró-masculinos, antimasculinos e, possivelmente, pró-femininos. 

Cabe lembrar que, nos últimos anos, os geneticistas descobriram evidências de uma determinação feminina ativa. O DAX1, localizado no cromossomo X, parece iniciar a via feminina ao mesmo tempo que inibe a formação dos testículos – a não ser que esse gene já tenha sido bloqueado pelo SRY. Com DAX1 demais, uma pessoa com o par XY nasce mulher. A equipe de Vilain descobriu que outro gene, o WNT4, funciona de maneira semelhante para determinar a formação como mulher. Os pesquisadores descobriram que esses dois genes trabalham juntos contra o SRY e outros fatores pró-masculinos. “A formação dos ovários pode ser tão coordenada quanto a determinação dos testículos, o que é consistente com a existência de uma 'chave ovariana'”, relataram o geneticista David Schlessinger e colaboradores em artigo no periódico Bioessays, em 2006.

Hoje Vilain estuda os determinantes moleculares do gênero no cérebro e sua ligação à identidade sexual. Ele está certo de que os hormônios sexuais não guiam o desenvolvimento neural e as diferenças comportamentais sozinhos. O SRY é expresso no cérebro, ele lembra, sugerindo que os genes influenciam diretamente a diferenciação sexual do cérebro. Seu laboratório identificou 50 novos genes candidatos localizados em diversos cromossomos. Sete deles começam a operar diferentemente no cérebro antes da formação das gônadas. A equipe de Vilain e um grupo australiano estão testando essas descobertas em camundongos.

Esse trabalho, bem como grande parte dos esforços de Vilain, estende-se para um terreno bastante delicado. O pesquisador lida com a situação assumindo suas descobertas de maneira conservadora. “Você também precisa levar em conta os sentimentos sociais”, explica ele. Por isso, concordou com alguns ativistas de gênero que propuseram a revisão do vocabulário usado para descrever bebês de anatomia sexual ambígua. 

Ele costuma dizer a geneticistas, cirurgiões, psicólogos e outros especialistas em congressos e outros eventos, que termos como “hermafrodita”, “pseudo-hermafrodita” masculino ou feminino e “intersexo” são vagos e nocivos. Ante a explosão de novas descobertas genéticas, ele encorajou os colegas a, em vez de referir-se à confusa mistura de genitais e gônadas do recém-nascido, adotar uma abordagem mais científica.

CIRURGIAS SECRETAS

No lugar do termo “hermafrodita”, por exemplo, Vilain recomenda “transtorno do desenvolvimento sexual” (DSD, na sigla em inglês), ou a expressão mais precisa “DSD ovotesticular”. Muitos concordam, mas nem todos aceitam a nova terminologia. Alguns que preferem o termo “intersexo” acham “transtorno” pejorativo. Milton Diamond, que estuda a identidade de gênero na Universidade do Havaí, reclama que o termo estigmatizaria quem nada tem de errado em seu corpo. 

No entanto, mudar a terminologia é uma realização para Cheryl Chase, diretora executiva da Sociedade Intersexo da América do Norte (Isna, na sigla em inglês). Chase luta há anos contra as cirurgias “secretas”, realizadas às pressas para confortar pais e ajustar a anatomia. Lembrando-se de como um médico a chamou uma vez de “ex-intersexo,” ela espera que os médicos comecem a ver as características misturadas de gênero como uma condição médica para a vida toda, e não como um problema a ser resolvido rapidamente.

Para ela, Vilain tem sido um aliado valioso. “Espero que a nova terminologia médica para o DSD apresente o que ironicamente descrevo como 'efeito colateral interessante': a aplicação da ciência médica nas decisões clínicas relacionadas à ocorrência do sexo ambíguo”, diz.

Esse novo consenso sobre o manejo de transtornos intersexuais encoraja os médicos a encarar o paciente além dos órgãos sexuais. É importante a atribuição de gênero rápida mas uma abordagem mais cuidadosa com relação à cirurgia também é imprescindivel. A família deve participar das decisões com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais de especialidades como psicologia e ética. Mas Peter A. Lee, um endocrinologista pediátrico da Escola de Medicina do Penn State College, alerta que ainda há muitas lacunas a preencher. Afinal, médicos não têm idéia de como sua escolha afetará os pacientes pelo resto da vida. Talvez este seja um campo a ser melhor ocupado pelos profissionais que estudam o psiquismo humano.

Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/alem_do_x_e_do_y.html>. Acesso em 16 jun 2012.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sexo cerebral: um caminho que começa a ser percorrido

Durval Damiani; Daniel Damiani; Taísa M. Ribeiro; Nuvarte Setian
Arq Bras Endocrinol Metab vol 49 nº 1 Fevereiro 2005


Resumo: Fica cada vez mais claro que ocorre um dimorfismo sexual no cérebro de homens e mulheres , e experiências em animais têm mostrado que circuitos específicos se desenvolvem de acordo com o sexo do animal. Desde os trabalhos iniciais de Gorski em ratos, que descreviam o núcleo sexualmente dimórfico na área pré-óptica (SDN-POA), tem sido aceito que, por ação do estradiol , convertido localmente pela aromatase a partir de testosterona, faz-se o imprint para sexo masculino, inibindo-se a apoptose das células do SDN-POA e, portanto, levando a um núcleo anatomicamente maior em machos quando comparado ao de fêmeas. Outras regiões têm mostrado dimorfismo sexual e necessitamos de um marcador para que tais estruturas sejam diferenciadas e possam ser avaliadas na prática clínica. Este dado será de grande valia na atribuição de gênero a pacientes portadores de anomalias da diferenciação sexual, que nascem com ambigüidade genital. Têm havido muitas dúvidas na atribuição do gênero a alguns desses pacientes e não têm sido infreqüentes inadequações sexuais, com mudanças de opções sexuais em época puberal, com grandes traumas tanto para o paciente como para seus familiares. A evolução dos conhecimentos nessa área poderá nos trazer elementos muito importantes para nos auxiliar na atribuição do sexo de criação em vários estados intersexuais e é um caminho que, apesar de estar ainda no seu início, merece ser percorrido.






sábado, 21 de janeiro de 2012

OAB-MS oferece apoio a transexual que quer voltar a ter pênis

Athos GLS
09/01/2012:

A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS), através da Comissão de Diversidade Sexual, conversou com Elisabeth dos Santos Rocha com seu advogado, e se colocou a disposição para ingressar no processo se necessário. Elisabeth nasceu numa fazenda na região de Dourados há 42 anos, com uma afecção congênita rara chamada de hermafroditismo, ou seja, com os dois sexos.

Aos quatro anos ela foi operada na Santa Casa em Campo Grande, onde optaram pela retirada do pênis, deixando-a então do sexo feminino. O caso foi divulgado na imprensa da capital pelo veículo de comunicação Diário Digital, como reportagem de capa, onde foi ressaltada a vontade de Elisabeth, de ser operada e ter restituído o órgão genital masculino. Segundo a presidente da Comissão da Diversidade Sexual OAB-MS, Priscila Arraes Reino, essa cirurgia já foi deferida pela Justiça e realizada em vários estados gratuitamente, existindo uma que permite que a cirurgia seja feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Entretanto, em Mato Grosso do Sul este tipo de operação nunca foi realizada. “Para ser feita a cirurgia de mudança de sexo é necessária uma equipe multidisciplinar. Atualmente o Projeto de Lei que tramita na Câmara Federal, sobre o Estatuto da Diversidade Sexual, recomenda que cirurgia em hermafroditas não seja realizada na infância, para que o indivíduo possa ter opção de definir o que será melhor para si na vida adulta”, destacou a presidente do CDSE.

Na próxima semana a OAB-MS através da Comissão de Diversidade Sexual deve se reunir com Elisabeth para oferecer formalmente o suporte necessário, e com a volta do recesso do judiciário a partir de segunda-feira, possa analisar a fase em que se encontra o Processo que ela ingressou na justiça há mais de um ano, solicitando o direito de ser operada pelo SUS.

Disponível em <http://www.athosgls.com.br/noticias_visualiza.php?contcod=32387>. Acesso em 11 jan 2012.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Americana relata drama de descobrir na adolescência ter genética masculina

BBC BRASIL
13/10/2011 - 07h26

Uma americana que descobriu na adolescência que era geneticamente homem relatou seu drama em um documentário da BBC. Katie tem síndrome da insensibilidade ao androgênio, que só foi diagnosticada quando ela passou por uma operação de hérnia aos seis anos de idade. Os cirurgiões descobriram na época que ela tinha um testículo não descido e que não possuía ovários ou útero, apesar de ter uma vagina. Por não reagir ao androgênio, o hormônio que teria feito com que ela fosse um menino, ela se desenvolveu como menina.
"Eu tenho aparência feminina, tenho um corpo de mulher normal, mas em vez de ter cromossomos XX como uma mulher típica, eu tenho cromossomos XY como um homem comum", diz Katie no programa Me, my sex and I, exibido esta semana pelo canal BBC One no Reino Unido.

Segredo

Os pais de Katie, ambos médicos, aprenderam durante seus estudos que não era recomendável informar mulheres que elas têm essa condição "porque a notícia seria tão devastadora que elas poderiam cometer suicídio". Ainda assim, eles decidiram, aos poucos, dar a Katie algumas informações sobre seu corpo e quando ela completou 18 anos, os pais revelaram todos os detalhes.

"Eu fiquei muito assustada. Eu não estava preparada para pensar em mim como totalmente e irreversivelmente diferente de qualquer outra mulher. Eu ficava pensando se alguém iria me amar ou se eu era tão diferente que não poderia ser amada", disse ela. Katie teve o testículo removido, passou a tomar pílulas para equilibrar melhor seus hormônios e começou a frequentar um grupo para mulheres como ela.

Distúrbios

Aos 22 anos, Katie deu uma entrevista no programa da apresentadora Oprah Winfrey que teria contribuído para uma maior abertura na discussão dos DDS (Distúrbios de Desenvolvimento Sexual) nos Estados Unidos. O nascimento de uma criança que não pode ser descrita como menino ou menina (com sexo indeterminado, condição previamente conhecida como intersexo) é algo raro, mas o grupo de apoio Accord Alliance diz que em cada 1.500 nascimentos um apresenta algum tipo de DDS.

Pessoas com o distúrbio podem ter desequilíbrios hormonais ou um desenvolvimento inadequado de seus órgãos sexuais ou reprodutivos, que pode levar a uma genitália ambígua e a uma aparência física que não corresponde a seus cromossomos sexuais, como é o caso de Katie. Em casos opostos ao de Katie, pessoas com cromossomos XX (femininos) podem não desenvolver seios, ter pelos em excesso e um clitóris aumentado, similar a um pênis. "Eu acho que temos definições muito inadequadas do que é sexo, mas com base no que temos, não posso dizer que sou homem ou mulher em termos de sexo, apesar de minha identidade de gênero ser feminina", diz Katie.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/bbc/989876-americana-relata-drama-de-descobrir-na-adolescencia-ter-genetica-masculina.shtml>. Acesso em 13 out 2011.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Síndrome de Insensibilidade aos Andrógenos: Análise Clínica, Hormonal e Molecular de 33 Casos

Karla F.S. Melo et al
Arq Bras Endocrinol Metab vol 49 nº 1 Fevereiro 2005

Resumo: A síndrome de insensibilidade aos andrógenos (AIS) é uma doença com herança ligada ao cromossomo X que afeta pacientes com cariótipo 46,XY, nos quais há prejuízo total (forma completa, CAIS) ou parcial (PAIS) do processo de virilização intra-útero devido à alteração funcional do receptor de andrógenos (AR). Apresentamos uma revisão da AIS e do AR com os dados clínicos, hormonais e moleculares de 33 casos. Analisamos a região codificadora do gene do AR em 33 pacientes de 21 famílias, com quadro clínico e hormonal sugestivo de AIS. Onze pacientes (9 famílias) com diagnóstico de CAIS e 22 pacientes (12 famílias) com diagnóstico de PAIS. Identificamos mutações no gene do receptor androgênico e a etiologia da síndrome de insensibilidade aos andrógenos em 86% das 21 famílias estudadas: 100% das famílias com insensibilidade completa aos andrógenos e 75% das famílias com insensibilidade parcial aos andrógenos. Identificamos 9 mutações no AR descritas anteriormente na literatura (N705S, W741C, M742V, R752X, Y763C, R779W, M807V, R855C e R855H) e 7 mutações foram descritas pela primeira vez nesta casuística (S119X, T602P, L768V, R840S, I898F, P904R e IVS3 – 60 G>A). (Arq Bras Endocrinol
Metab 2005;49/1:87-97)