Natasha Romanzoti
em 9.10.2011
O tema “transexual” é com certeza um dos assuntos mais
polêmicos na sociedade, que provoca fortes reações emocionais. Muitas vezes,
essas reações têm tons predominantemente negativos, o que levanta a questão
sobre a raiz da hostilidade quanto a esse tópico.
Segundo uma acadêmica que estuda atitudes e comportamentos
sociais, o desconforto em relação às pessoas transexuais vem de convenções
desafiadoras.
Diane Everett, professora de sociologia, diz que na cultura
americana, sexo e gênero pertencem a uma de duas categorias. Assim que os seres
humanos nascem, a primeira coisa que as pessoas perguntam é se o bebê é um
menino ou menina.
“Temos a tendência, como sociedade, de colocar as pessoas em
caixas”, disse ela. “Um transexual não só atravessa as fronteiras de gênero,
mas também as desafia. Se as pessoas não veem você como ‘ou isso ou aquilo’,
elas têm dificuldade em se relacionar com você em seu nível de conforto”,
explica.
Depois, há pessoas que por razões religiosas acreditam que
os transexuais são fundamentalmente “errados”, que Deus criou o homem e a
mulher e, automaticamente, o homem é macho, a mulher é fêmea, e eles não devem
cruzar essas linhas.
As questões geralmente acabam em um debate sobre qual
banheiro as pessoas transexuais deveriam usar. Isso é um símbolo de toda a
controvérsia, porque tem a ver com gênero, sexualidade e nível de conforto.
O desconforto decorre da visão de que uma pessoa é do sexo
feminino ou masculino. Mudar o sexo com que você nasce é “basicamente
automutilação”, disse Regina Griggs, diretora do grupo Parentes e Amigos de
Ex-Gays & Gays. “É uma cirurgia que altera quem você realmente é do ponto
de vista biológico”.
Segundo Regina, pessoas com transtorno de identidade de
gênero merecem ajuda médica e psiquiátrica adequada. Transtorno de identidade
de gênero é listado como doença no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, a “bíblia” da psiquiatria.
Pessoas transexuais desafiam as ideias arraigadas na
sociedade sobre gênero e sexo. As pessoas são ensinadas que meninos são
meninos, meninas são meninas e meninos casam com meninas.
“Todas essas coisas são verdadeiras para a maioria das
pessoas”, disse Mara Kiesling, diretora do Centro Nacional para a Igualdade
Transexual. “É verdade que a maioria das pessoas é do sexo masculino ou
feminino e isso é imutável para a maioria das pessoas. O que estamos aprendendo
agora é que nenhuma dessas coisas é totalmente imutável”, explica.
Pessoas transexuais enfrentam um estresse de minoria, o que
significa que elas se sentem indesejadas como uma minoria excluída. Elas também
enfrentam o estigma, às vezes de suas próprias famílias, além de discriminação
no trabalho e bullying.
A hostilidade pode vir, por vezes, de forma surpreendente.
Uma mulher transexual, Amber Yust, que mudou seu nome de David, foi ao
Departamento de Veículos Motorizados em San Francisco, EUA, para atualizar sua
licença. Ela recebeu uma carta de um dos funcionários, acusando Yust de agir de
uma maneira que é “uma abominação que leva para o inferno”. O empregado foi
identificado e, posteriormente, se demitiu.
Ainda assim, nos dias de hoje, muitas manifestações contra
transexuais são tornadas públicas e adquirem tamanha repercussão que oprimem
ainda mais essas pessoas. O fim dessa discussão, no entanto, está muito longe –
a mudança de pensamento vai demorar a chegar, tendo em vista o tamanho dos
conceitos que precisam ser revisados para tanto.
Disponível em http://hypescience.com/o-que-alimenta-o-preconceito-contra-transexuais/.
Acesso em03 nov 2013.