Mariane Peres
15/11/2013
Nicolly Bueno, de 30 anos, é o primeiro transexual a
integrar a Academia de Letras de Presidente Venceslau. Com quatro livros
publicados e professora da rede municipal de ensino, ela foi vítima de
preconceito durante a infância e adolescência e encontrou na educação e na
escrita uma oportunidade de ser aceita pela sociedade. Membro da associação
desde 29 de outubro, ela acredita que a conquista é um obstáculo a mais
superado.
“Eu me sinto imensamente realizada pelo que eu construí e
pelo que busquei, porque, nas condições em que me encontro as coisas não são
fáceis. Tive que mostrar para as pessoas que a minha capacidade não depende da
minha opção sexual. Na academia, não sinto preconceito, as pessoas me respeitam
e me aceitam. Na cidade, há indiferença”, conta.
O convite ser uma acadêmica veio na segunda tentativa e,
para ela, foi um orgulho. Entretanto, sua trajetória na educação começou aos 15
anos, quando entrou para o antigo Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento
do Magistério (Cefan). Desde pequena, ela queria ser professora. Mas a
caminhada foi marcada por confrontos com a família, bastante rígida, de acordo
com ela.
“Na verdade, desde os cinco anos eu sentia que era diferente
e meu pai é completamente preconceituoso, por isso eu sentia medo de me
assumir. Quando cresci, queria virar padre, para não ter relações sexuais e não
ser julgado, mas minha mãe não deixou. Me sintia deprimida por não poder ser
quem era”, relata.
A partir de então, ela começou a participar de vários
concursos e eventos de educação para buscar seu destaque. Ela decidiu estudar
bastante para se tornar conhecida na cidade e assim ganhar seu espaço e tentar
inibir o preconceito. “De certa forma, enterrei minha vida pessoal para me
dedicar à vida profissional. Eu tinha medo porque minha família já me julgava”,
diz.
O próximo passo era conseguir um espaço na Academia de
Letras. Na primeira tentativa, ainda como homem, ela não conseguiu. “Eles alegaram a falta de idade, já que é preciso ter, no mínimo, 30 anos e na época
eu estava com 24. Mas sei que decisão dos outros acadêmicos pesou também por
causa da minha opção sexual”, acredita.
Após uma depressão profunda, Nicolly começou a fazer
tratamento psicológico e constatou que para se curar era preciso que ela se
mostrasse da maneira como sempre quis e pudesse expor a sua sexualidade. No
início, foi difícil. “Quando assumi a transexualidade, muita gente achou que
era uma questão de vaidade, mas não era isso. As pessoas comentavam coisas sem
me conhecer. Nós, travestis e transexuais, sofremos muito”, afirma.
Tanto que ela, que nasceu Rodrigo e ainda usa os documentos
com este nome, mesmo não tendo passado pela cirurgia de mudança de sexo,
prefere ser chamada de transexual. “Tem muita gente que imagina que travesti é
prostituta e está ligada à violência. Mas não é assim. As pessoas julgam sem
piedade”, critica.
Disponível em
http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/noticia/2013/11/primeira-transexual-da-academia-de-letras-relata-preconceito.html.
Acesso em 29 dez 2013.