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quarta-feira, 12 de março de 2014

A manifestação da sexualidade na internet: o caso ChatRoulette

Nayara Fernanda Takahara da Cruz 
Maurelio Menezes
Universidade Federal de Mato Grosso, Mato Grosso, MT
XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012

Resumo: Um dos pontos de vista para se conhecer a história da humanidade é o estudo da sexualidade durante as eras pelas quais o homem passou. Viajar por esse rico caminho e poder tomar conhecimento de como o sexo vem sendo visto e praticado desde os primórdios da civilização até a atualidade, equivale a decifrar enigmas e visualizar com propriedade as manifestações humanas que se sucederam até hoje. Dissertar sobre a história do sexo e o seu manifesto na Internet é percorrer pela trajetória humana desvelando conceitos silenciados e trazendo à tona discussões adiadas, na tentativa de entender as mudanças que emergem há todo momento para o virtual. O estudo do caso ChatRoulette revela novos modos de fazer, de pensar e de se vincular socialmente através do sexo. Tais manifestações ocorrem e se consolidam como manifestos ciberculturais do tempo presente.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Perdi a confiança, diz Beth

Jairo Menezes
28.09.2012

Psicóloga, presidenta do Fórum de Transexuais de Goiás e primeira diretora do Conselho Estadual da Mulher (Conem) a ter sido transexual, Roberta Fernandes de Souza, ou Beth Fernandes, como é conhecida, hoje tem 45 anos. Ela revela ter feito resignação sexual no Hospital das Clínicas de Goiânia. A paciente teria feito oito cirurgias, segundo relatou em entrevista ao DM, mas depois de não terem sido feitas correções necessárias para que o órgão sexual tivesse um aspecto normal, desistiu do tratamento oferecido pelo Serviço Único de Saúde (SUS).

Conforme Beth, a primeira cirurgia que ela fez foi um “desastre da medicina”. Segundo a psicóloga, uma falha básica aconteceu no procedimento a que ela foi submetida. “Toda pessoa no primário sabe que uma das diferenças do esqueleto masculino e do esqueleto feminino é a pélvis – o osso da bacia. Na minha cirurgia, a vagina ficou colada na pélvis, e isso me causou um transtorno que não existe como mensurar”, relata.

“Eu fiz oito cirurgias para tentar corrigir a mudança de sexo feita de forma errada. Após muito tempo de tentativas e dando fé de que a equipe conseguiria um bom resultado, desisti e resolvi pagar o tratamento particular. Hoje, os meus médicos não são de Goiânia. Não que aqui não tenham bons profissionais, e os médicos do hospital em que eu fui tratada são ótimos, a questão é que a técnica usada não está dando certo, e eu perdi a confiança”, aponta a psicóloga Beth Fernandes, que diz ter sido “enxotada do hospital”.

Beth conta que essa é a luta de uma vida inteira dela e que precisa de mais cuidados. “Eu não poderia fazer cirurgias à revelia assim, tendo meu corpo usado por cientistas, como se eu fosse uma cobaia. Hoje, eu posso bancar um tratamento particular, mas existem muitas pessoas que não podem e estão lá, sujeitas a até 12 cirurgias, como eu conheço pessoas. Conheço pelo menos 20 mulheres que padecem com esses problemas”, constata.

“Acredito que no momento em que a equipe médica de Goiânia constatasse que existe algo errado na técnica realizada, deveria pelo menos tentar mudar onde existe a falha e transferir para onde tem dado certo com pessoas que foram operadas. Assim, todos estariam tranquilos e hoje não haveria esta desconfiança sobre o trabalho realizado na unidade”, aponta Beth Fernandes.

Disponível em <http://www.dm.com.br/#!/texto?id=68663>. Acesso em 04 nov 2012.

OBS: A reportagem está dividida em três partes. A primeira foi postada ontem e a terceira será postada amanhã.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O drama da mudança de sexo

Jairo Menezes
28.09.2012

Nascida João Batista, Ana Paula só foi conseguir a mudança judicialmente do nome aos 36 anos – cinco anos atrás. Transexual, não sabia o que acontecia no seu corpo, mas achava estranho se olhar no espelho e sentir-se mulher, mesmo vendo que tinha nascido fisicamente numa estrutura errada. Foi xingada, ameaçada, humilhada e até pedras foram arremessadas na sua direção. Sofreu, mas chorou calada, para não afetar pessoas a sua volta. Ana Paula acreditava que a resignação sexual ou mudança de sexo seria o fim desses problemas, mas, pelo contrário, a partir daí começaria o seu calvário.

No Brasil, uma pessoa faz mudança de sexo a cada 16 dias, segundo estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Até 2007, a cirurgia era considerada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como experimental e só poderia ser feita em hospitais universitários. O Sistema Único de Saúde (SUS) só realiza cirurgias em quatro unidades do País: em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e no Hospital das Clínicas, em Goiânia.

Dores, inflamações, infecções e limitações no dia a dia são apenas alguns problemas vividos por alguns pacientes que padecem após a realização de cirurgias. Em alguns casos, pacientes têm que refazer as cirurgias que em outras unidades de saúde são concluídas de uma só vez. O Ministério da Saúde (MS) tem conhecimento da quantidade de cirurgias, mas transmite a responsabilidade a nível local – cada unidade determina a necessidade e o governo paga o que for necessário – cada cirurgia, sem levar em conta o período de internação, pode variar entre R$ 15 mil e R$ 30 mil.

O caso da cabeleireira Ana Paula Rodrigues de Almeida, de 41 anos, que mora em Nazário, cidade distante 70 quilômetros de Goiânia, é preocupante. Ela se diz apenas uma das muitas pacientes que padecem com complicações da cirurgia. “Hoje vivo impossibilitada de realizar atividades simples do cotidiano, como descer e subir escadas, andar longas distâncias e me sentar normalmente.”

Ana Paula está com toda a cirurgia aberta e já teve infecções e inflamações. Ela diz não ser mais paciente do Hospital das Clínicas de Goiânia, onde foram realizadas dez cirurgias ao todo, inclusive para implante de prótese mamária, retirada de pomo de Adão e retoque na voz. Todas as outras deram certo, conforme Ana Paula, mas a de resignação sexual teria sido insuficiente. “A minha vagina ficou com tamanho insuficiente. É como se fosse um corpo adulto com uma vagina de tamanho infantil. Fiz a cirurgia para mudança e outras seis para retoques e estética, mas mesmo assim não ficou bem feito”, alega.

Ana Paula diz que não quer apontar onde está a culpa, ou de quem é o erro. Ela só espera que receba ajuda da mesma unidade de tratamento. “Sofri esses anos todos. Estou com 42 anos e espero viver tranquilamente. Hoje não sou uma pessoa completa. Já me sugeriram que abrisse um processo contra o Hospital das Clínicas (HC) e contra os médicos de lá, mas não quero isso. Eu queria mesmo uma transferência para outra unidade de saúde que fizesse o mesmo tratamento – é como se não me sentisse segura no HC. Se não der, quero me tratar onde for. Estou morrendo aos poucos e, antes que isso aconteça, eu faço o apelo.”

Em resposta às afirmativas da cabeleireira Ana Paula, a diretoria-geral do Hospital das Clínicas remeteu à reportagem do Diário da Manhã um e-mail escrito pela professora doutora e ginecologista Mariluza Terra Silveira, responsável pela equipe que realiza as cirurgias. A mensagem esclarece que a paciente Ana Paula ainda faz parte do quadro do HC. A mensagem ainda deixa claro que “ela foi submetida à cirurgia de resignação sexual, mais seis retoques, uma colocação de próteses mamárias e uma cirurgia para remoção do pomo de Adão e melhora do padrão da voz”.

LUTA VITAL

Ana Paula nasceu João Batista Rodrigues de Almeida, viveu com constantes preconceitos até se tornar judicialmente Ana Paula Rodrigues de Almeida, em 2008. O rapaz jovem não entendia o que acontecia com seu corpo, mas não se sentia confortável em se ver no espelho com um órgão sexual masculino, mesmo que se sentisse uma mulher. “Sofri demais na minha infância. Muitas pessoas apontaram para mim, me fizeram de chacota. Hoje eu sei por que, mas antes não entendia. Tinha vergonha”, diz Ana Paula, que teve autorização judicial em 2008 para mudar os primeiros dois nomes nos docu­mentos, “agora sou mulher de direito”. Criado com a mãe e o irmão – que é transexual e hoje, após ver o que aconteceu com Ana Paula, reavalia a cirurgia –, muitas vezes escondia da genitora as agressões verbais e até físicas que sofria nas ruas.

“Já fui xingada, me jogaram pedras e outras aberrações. Morei a vida toda no interior. Era tratada como uma aberração”, recorda. Ana Paula deixou os estudos por conta do preconceito que sofria na sala de aula e, para isentar a mãe do que acontecia, preferia sempre não contar. “Chorei muito escondida no banheiro de casa. Era chamada muitas vezes de travesti. Eu, como não entendia bem, deixava. Afinal, todos diziam que eu era o travesti da cidade. Quando fui a uma consulta médica em São Paulo, em 1997, antes de entrar na fila para realizar a primeira cirurgia no Hospital das Clínicas de Goiânia, fui informada. Eu não havia escutado ainda a palavra transexual e não sabia a definição”, revela.

Em 1998, Ana Paula entrou na fila para realizar a cirurgia de mudança de sexo no Hospital das Clínicas de Goiânia. A cirurgia demoraria pelo menos dois anos para acontecer, segundo a cabeleireira, que revela ter ficado impaciente com a possibilidade de ter o sexo mudado e viver normalmente, como mulher. Ana Paula até buscou formas de realizar a mudança de sexo de forma particular – “seria mais rápido” –, mas o valor era inviável e praticamente impossível para a, na época, transexual. Somente a cirurgia particular, em 1998, custava R$ 15 mil, e Ana Paula não tinha a quantia para quitar o tratamento. “Ainda tentei buscar conseguir o dinheiro de alguma forma, com ajuda de políticos que me prometeram mundos e fundos, mas não me favoreceram com nada; o Diário da Manhã ainda fez uma reportagem comigo à época, quando eu me dispus a vender até um rim para conseguir o valor, mas mesmo assim não consegui”, recorda.

COMPLICAÇÕES

Todas as cirurgias que ela passou, antes da última, em 14 de maio passado, são qualificadas como incompetentes por ela. “Não conseguiam dar profundidade à vagina. Quando davam profundidade, não havia prazer no coito”, ressalta. Ana Paula ainda tentou um Guia de Tra­ta­mento Fora de Domicílio (TFD), que se resume em atender pacientes de outras cidades ou Estados onde o tratamento não existe. A TFD é emitida pela Central Reguladora e, conforme resposta à repor­tagem do DM, o tratamento que Ana Paula pediu para fazer no Rio de Janeiro existe em Goiás e, portanto, não é autorizada pelo Ministério da Saúde a liberação nesse caso.

“Diante desse quadro de não liberação da TFD, resolvi fazer das tripas coração. Vendi meu carro, peguei dinheiro emprestado e dei um jeito de levantar R$ 10 mil para fazer uma cirurgia em São Paulo, com um médico particular. Ele fez uma cirurgia corretiva e ficou ótima. O problema é que eu recebi alta médica lá de São Paulo e era necessário refazer os curativos diariamente. Meu dinheiro havia acabado e eu voltei para Goiás. Aqui, os curativos não foram refeitos como o indicado. A cirurgia inflamou, os pontos estouraram e adquiri uma infecção”, descreve Ana Paula.

Ana Paula teria entrado com um pedido de recurso no Ministério Público Estadual de Goiás para que houvesse uma intervenção e que uma intercessão fosse realizada para que ela conseguisse uma TFD. “Eu queria um tratamento no Rio e justifiquei o porquê, mas houve a negativa”, conta a cabeleireira. Pela assessoria jurídica da 82ª Promotoria, o Diário da Manhã recebeu a resposta de que os embasamentos técnicos apresentados pela paciente, e contestados com a justificativa da médica que a atendeu, não foram suficientes para uma intervenção.

O processo no MP-GO foi arquivado e a paciente recebeu em casa uma cópia do projeto, com a justificativa da médica enviada ao Ministério e a negativa da promotora Renata Matos Lacerda. Conforme a assessoria jurídica da promotoria, ficou claro nos autos que a paciente desejava uma nova cirurgia aos 45 dias do último procedimento. Ainda segundo a promotoria, não havia condições de distinguir se a cirurgia que Ana Paula atestava ter sido ineficiente era mesmo incompetente.

SITUAÇÃO

Ela hoje está com a cirurgia aberta e com músculos e tecidos internos expostos. “Hoje já estou bem melhor, que a infecção está sendo tratada, mas na semana passada eu estava em cima da cama e sentia o mau cheiro. Era como se eu tivesse assistindo à minha decomposição”, lamenta.

Por meio da secretária da diretoria-geral do Hospital das Clínicas Deusa José de Souza, a médica Mariluza Terra Silveira respondeu que, infelizmente, não pode dar entrevista por estar ocupada. A reportagem esteve à disposição por duas semanas para obter resposta. A médica ainda responde por meio da secretária que a paciente poderá procurá-la no Hospital das Clínicas para ser avaliada por uma equipe médica. É neces­sário reafirmar que mesmo após a publicação desta reportagem, o espaço do Diário da Manhã se mantém aberto a esclarecimentos por parte da médica.

A direção-geral do HC informa que já foram realizadas 47 cirurgias de mudança de sexo do masculino para o feminino. As mudanças de sexo do masculino para o feminino realizadas no HC, conforme a diretoria, foram um total de três incompletas e oito completas. Todos os rapazes que mudaram de sexo são acompanhados pelo hospital, e, conforme informado, 45 mulheres transexuais ainda são seguidas pelas equipes neste ano.

Disponível em <http://www.dm.com.br/#!/texto?id=68666>. Acesso em 04 nov 2012


OBS: A reportagem está dividida em três partes. A segunda será postada amanhã.

sábado, 13 de outubro de 2012

A era do pós-gênero?

Cynara Menezes
Carta Capital, 21 de setembro de 2011


Resumo: O cartunista Laerte Coutinho, de 60 anos, que em 2009 decidiu passar a se vestir como mulher, usar brincos e pintar as unhas de vermelho, está dentro do banheiro masculino quando entra um velhinho. Ao se deparar com a figura de cabelos grisalhos lisos num corte chanel, saia e salto alto, em pé diante do mictório, o homem estaca. “Não se preocupe, o senhor não está no banheiro errado”, diz Laerte. E o idoso, resignado: “É, eu estou é na idade errada”.