Mostrando postagens com marcador genitália ambígua. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador genitália ambígua. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Justiça autoriza mudança de sexo e nome de criança

Top News
19/04/2012

Fruto da união de um casal de Barra do Garças, nasceu, de parto normal, a criança L.S. De posse da Declaração de Nascido Vivo, firmada pelo médico que acompanhou o parto, foi feito o registro do bebê de sexo masculino.

Direito de toda criança, foi realizado em L.S. o teste do pezinho, que consiste na obtenção de uma amostra de sangue através de uma picada no "pezinho" do recém-nascido, durante os primeiros dias de vida. O exame permite fazer o diagnóstico de diversas doenças, possibilitando, desta forma, o tratamento precoce específico e a diminuição ou eliminação de possíveis sequelas.

O material colhido de L.S. foi enviado para análise no Estado de Goiás e, logo, os pais foram chamados para que levassem o bebê, com urgência, para aquele estado pois o recém nascido corria sério risco de morte.

No exame foram detectados indícios de que a criança, fisicamente de sexo masculino, apresentava indicativos científicos de ser do sexo feminino. Se a anomalia não fosse descoberta logo e o tratamento iniciado antes dos primeiros 30 dias de vida, normalmente a criança viria a óbito, segundo informado ao casal. Assim, os pais trataram de transferir a criança para Goiás, onde passou por intervenções cirúrgicas corretivas.

Após a cirurgia de adequação, e provado o sexo da criança, os pais procuraram a Defensoria Pública de Barra do Garças para alterar legalmente o sexo e o nome do bebê. Os pais pretendiam, junto ao Cartório do registro civil, retificar a certidão de nascimento, uma vez que antes de receber a notícia o registro já havia sido confeccionado.

Segundo o Defensor Público Milton Martini, tal ocorrência é nominada de genitália ambígua. “Houve um desenvolvimento anormal do canal urinário, de modo que até o médico que assinou a Declaração de Nascido Vivo, se equivocou com a aparência física da criança”, afirma.

“Juntamente com o pedido dos pais foi encaminhado ao Judiciário também um exame de sexagem genética, confirmando que, na amostra analisada, os padrões de amplificação do DNA eram mesmo condizentes com o sexo feminino”, explicou o Defensor Público.

Diante das provas, o pedido foi acatado pelo juízo deferindo a modificação do sexo da criança para feminino e do nome, e junto ao Cartório de Registro Civil já foram feitas as devidas retificações.

Disponível em http://www.topnews.com.br/noticias_ver.php?id=11182. Acesso em 25 jul 2013.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O cérebro é quem define o comportamento sexual

Ney Cavalcanti
03 de Agosto de 2010

Uma em cada 2000 crianças nascem com uma genitália não adequadamente diferenciada, como pênis ou vagina, uma genitália ambígua. As causas para que isto aconteça são várias.

Uso de drogas pela mãe, doença genéticas, anormalidade na produção dos hormônios pelo feto, não determinada etc. Quando isto acontece, a equipe medica estuda todos os aspectos dos órgãos envolvidos no determinismo sexual A gônada (ovário ou testículo), a genitália interna. (útero, trompas ou próstata ), os hormônios, os cromossomos (com ou sem o Y).  

Após analisar os dados encontrados, médicos e familiares decidem qual o sexo que a criança irá adotar. Na maioria dos casos, existe uma  tendência  a decidir-se pelo feminino. A razão é simples, é muito mais fácil criar cirurgicamente uma estrutura que possa funcionar como vagina, do que como pênis.  

Nos últimos anos, vem se interrogando se este tipo de conduta é a mais correta. Em muitos desses casos, mesmo com suporte medico e psicológico corretos, não existe uma boa adequação ao sexo escolhido.  Inadequação esta, que já se exterioriza desde a infância e persiste durante toda a vida. Ela é tão marcante que alguns procuram ajuda medica, para modificação das suas características sexuais.  

Existe um relato que uma paciente mulher, procurou um serviço medico aos 52 anos de idade, com esta finalidade. Interrogada por que tanta demora, informou que esperou que os pais morressem, para não magoa-los.

Qual a razão desta não adequação? 

O homem tem apenas um cromossomo diferente da mulher, o Y. Ele é o responsável pela diferenciação  do feto em masculino. Ele realiza esta missão fazendo com que exista a formação dos testículos fetais, que produzem o hormônio masculino, a testosterona. Este hormônio fará com que os as estruturas do feto se diferenciem no sentido masculino. Na sua ausência, a diferenciação será no sentido da feminilidade.  

Os hormônios também promovem a diferenciação sexual de uma estrutura do cérebro, o hipotálamo. Nesta estrutura cerebral também estão localizados os núcleos nervosos, que controlam as nossas funções vitais. Fome, saciedade, temperatura corporal, batimentos cardíacos etc., estão sobre controle do hipotálamo. Também o nosso comportamento sexual  parece ser determinado por  ação hormonal no hipotálamo. 

Há muito sabemos que a administração de  testosterona, em uma rata no inicio de sua vida, fará com que assuma um comportamento como se macho fosse, durante toda a sua existência. Recentemente cientistas holandeses descobriram diferenças anatômicas, em humanos, nos  hipotálamos dos dois sexos.  

E mais,  demonstraram que em transexuais, homem-mulher, genitália masculina, com um hipotálamo com características femininas. Por outro lado no outro tipo de transexual, mulher-homem, a genitália feminina com hipotálamo do outro sexo.  Assim nestes casos, por razoes ainda desconhecidas a diferenciação da genitália seria diferente da do hipotálamo.  

Um  pesquisador desta área, Milton Diamond afirma ”Para o sexo o mais importante não é o que se tem entre as pernas, mas o que existe entre as orelhas”. Caso estas pesquisas se confirmem poderemos entender e aceitar melhor o comportamento dos transexuais, que enfrentando severas criticas  da sociedade, assume um comportamento diferente dos de seus órgãos sexuais externos.


Disponível em <http://www.diabetes.org.br/colunistas-da-sbd/pontos-de-vista/1433>. Acesso em 17 ago 2011.

domingo, 17 de junho de 2012

Além do X e do Y

Sally Lehrman
setembro 2008

Há duas décadas, durante o curso de medicina, Eric Vilain conheceu um centro de referência francês para bebês com genitália ambígua. No hospital onde estagiava, em Paris, viu médicos examinando a anatomia de recém-nascidos e decidindo rapidamente: menino ou menina. Jovem e chocado, Vilain observou que as decisões pareciam orientar-se preponderantemente pelas crenças sociais dos médicos. “Eu vivia perguntando: 'Como você sabe?'”, lembra ele. Afinal, os genitais podem não corresponder ao órgão reprodutor interno da criança. 

Por coincidência, Vilain leu naquele período os diários de Herculine Barbin, uma hermafrodita do século XIX. Sua história de amor e infortúnio, editada pelo filósofo e cientista social Michel Foucault, aguçou seu questionamento. Ele então decidiu descobrir o que a “normalidade” sexual de fato significava – e encontrar respostas para a biologia das diferenças entre os sexos.

Hoje, esse francês de 40 anos é um dos poucos geneticistas nos quais pais e médicos se apóiam para compreender as situações pouco usuais da determinação do sexo de uma criança. Em seu laboratório de genética na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), suas descobertas levaram a uma melhor compreensão técnica neste campo e também a procedimentos mais conscienciosos. “O que realmente importa é o que as pessoas pensam sobre o próprio gênero, e não o que sua família ou médicos acham que elas deveriam ser”, diz. Estima-se que a ambigüidade genital ocorra em um a cada 4.500 nascimentos, e problemas como testículos que não descem, em um a cada 100. No total, os hospitais americanos realizam cerca de cinco cirurgias de atribuição de sexo por dia.

O trabalho de Vilain ajudou a derrubar algumas velhas idéias sobre a determinação de gênero. Há muito tempo, os estudantes vêm aprendendo que o caminho do desenvolvimento do sexo masculino é “ativo”, guiado pela presença do cromossomo Y. Por outro lado, a via feminina é passiva, uma rota padrão. O fisiologista francês Alfred Jost, realizando experimentos nos quais embriões de coelhos castrados se tornavam fêmeas, reforçou essa idéia na década de 40.

Em 1990, quando estava na Universidade de Cambridge, Peter Goodfellow descobriu o SRY, um gene localizado no cromossomo Y aclamado como uma “chave mestra”. A mudança de apenas um par de bases nessa seqüência produz uma fêmea em vez de um macho. E quando os pesquisadores integraram o SRY em um camundongo que era cromossomicamente fêmea, esse feto XX se desenvolveu como macho. 

Mas estudos de Vilain e outros sugerem um quadro mais complexo. Vilain propõe que o SRY funciona bloqueando um gene “antitestículos”. Assim, crianças do sexo masculino que possuem o SRY, mas também dois cromossomos femininos, apresentam características que vão de masculinas normais até uma mistura ambígua. Além disso, experimentos revelaram que o SRY pode reprimir a transcrição gênica, indicando que ele opera através de interferência. Finalmente, em 1994, o grupo de Vilain demonstrou que um macho pode se desenvolver sem o gene. Vilain propôs um modelo no qual o gênero é fruto da interação entre vários genes pró-masculinos, antimasculinos e, possivelmente, pró-femininos. 

Cabe lembrar que, nos últimos anos, os geneticistas descobriram evidências de uma determinação feminina ativa. O DAX1, localizado no cromossomo X, parece iniciar a via feminina ao mesmo tempo que inibe a formação dos testículos – a não ser que esse gene já tenha sido bloqueado pelo SRY. Com DAX1 demais, uma pessoa com o par XY nasce mulher. A equipe de Vilain descobriu que outro gene, o WNT4, funciona de maneira semelhante para determinar a formação como mulher. Os pesquisadores descobriram que esses dois genes trabalham juntos contra o SRY e outros fatores pró-masculinos. “A formação dos ovários pode ser tão coordenada quanto a determinação dos testículos, o que é consistente com a existência de uma 'chave ovariana'”, relataram o geneticista David Schlessinger e colaboradores em artigo no periódico Bioessays, em 2006.

Hoje Vilain estuda os determinantes moleculares do gênero no cérebro e sua ligação à identidade sexual. Ele está certo de que os hormônios sexuais não guiam o desenvolvimento neural e as diferenças comportamentais sozinhos. O SRY é expresso no cérebro, ele lembra, sugerindo que os genes influenciam diretamente a diferenciação sexual do cérebro. Seu laboratório identificou 50 novos genes candidatos localizados em diversos cromossomos. Sete deles começam a operar diferentemente no cérebro antes da formação das gônadas. A equipe de Vilain e um grupo australiano estão testando essas descobertas em camundongos.

Esse trabalho, bem como grande parte dos esforços de Vilain, estende-se para um terreno bastante delicado. O pesquisador lida com a situação assumindo suas descobertas de maneira conservadora. “Você também precisa levar em conta os sentimentos sociais”, explica ele. Por isso, concordou com alguns ativistas de gênero que propuseram a revisão do vocabulário usado para descrever bebês de anatomia sexual ambígua. 

Ele costuma dizer a geneticistas, cirurgiões, psicólogos e outros especialistas em congressos e outros eventos, que termos como “hermafrodita”, “pseudo-hermafrodita” masculino ou feminino e “intersexo” são vagos e nocivos. Ante a explosão de novas descobertas genéticas, ele encorajou os colegas a, em vez de referir-se à confusa mistura de genitais e gônadas do recém-nascido, adotar uma abordagem mais científica.

CIRURGIAS SECRETAS

No lugar do termo “hermafrodita”, por exemplo, Vilain recomenda “transtorno do desenvolvimento sexual” (DSD, na sigla em inglês), ou a expressão mais precisa “DSD ovotesticular”. Muitos concordam, mas nem todos aceitam a nova terminologia. Alguns que preferem o termo “intersexo” acham “transtorno” pejorativo. Milton Diamond, que estuda a identidade de gênero na Universidade do Havaí, reclama que o termo estigmatizaria quem nada tem de errado em seu corpo. 

No entanto, mudar a terminologia é uma realização para Cheryl Chase, diretora executiva da Sociedade Intersexo da América do Norte (Isna, na sigla em inglês). Chase luta há anos contra as cirurgias “secretas”, realizadas às pressas para confortar pais e ajustar a anatomia. Lembrando-se de como um médico a chamou uma vez de “ex-intersexo,” ela espera que os médicos comecem a ver as características misturadas de gênero como uma condição médica para a vida toda, e não como um problema a ser resolvido rapidamente.

Para ela, Vilain tem sido um aliado valioso. “Espero que a nova terminologia médica para o DSD apresente o que ironicamente descrevo como 'efeito colateral interessante': a aplicação da ciência médica nas decisões clínicas relacionadas à ocorrência do sexo ambíguo”, diz.

Esse novo consenso sobre o manejo de transtornos intersexuais encoraja os médicos a encarar o paciente além dos órgãos sexuais. É importante a atribuição de gênero rápida mas uma abordagem mais cuidadosa com relação à cirurgia também é imprescindivel. A família deve participar das decisões com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais de especialidades como psicologia e ética. Mas Peter A. Lee, um endocrinologista pediátrico da Escola de Medicina do Penn State College, alerta que ainda há muitas lacunas a preencher. Afinal, médicos não têm idéia de como sua escolha afetará os pacientes pelo resto da vida. Talvez este seja um campo a ser melhor ocupado pelos profissionais que estudam o psiquismo humano.

Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/alem_do_x_e_do_y.html>. Acesso em 16 jun 2012.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sexo cerebral: um caminho que começa a ser percorrido

Durval Damiani; Daniel Damiani; Taísa M. Ribeiro; Nuvarte Setian
Arq Bras Endocrinol Metab vol 49 nº 1 Fevereiro 2005


Resumo: Fica cada vez mais claro que ocorre um dimorfismo sexual no cérebro de homens e mulheres , e experiências em animais têm mostrado que circuitos específicos se desenvolvem de acordo com o sexo do animal. Desde os trabalhos iniciais de Gorski em ratos, que descreviam o núcleo sexualmente dimórfico na área pré-óptica (SDN-POA), tem sido aceito que, por ação do estradiol , convertido localmente pela aromatase a partir de testosterona, faz-se o imprint para sexo masculino, inibindo-se a apoptose das células do SDN-POA e, portanto, levando a um núcleo anatomicamente maior em machos quando comparado ao de fêmeas. Outras regiões têm mostrado dimorfismo sexual e necessitamos de um marcador para que tais estruturas sejam diferenciadas e possam ser avaliadas na prática clínica. Este dado será de grande valia na atribuição de gênero a pacientes portadores de anomalias da diferenciação sexual, que nascem com ambigüidade genital. Têm havido muitas dúvidas na atribuição do gênero a alguns desses pacientes e não têm sido infreqüentes inadequações sexuais, com mudanças de opções sexuais em época puberal, com grandes traumas tanto para o paciente como para seus familiares. A evolução dos conhecimentos nessa área poderá nos trazer elementos muito importantes para nos auxiliar na atribuição do sexo de criação em vários estados intersexuais e é um caminho que, apesar de estar ainda no seu início, merece ser percorrido.