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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Murilo Armacollo: "Tomei um susto quando me vi caracterizado de mulher"

Gustavo Mause
27/01/2012 13:01

A estreia de Murilo Armacollo na TV não poderia ser mais difícil - e também polêmica. O ator paranaense, de 24 anos, que participou de “Hairspray”, de Miguel Falabella, e de outros musicais como “Aladdin”, “Cabaret” e “New York, New York”, interpreta Julie, o filho transexual do presidente Paulo Ventura (Domingos Montagner) na minissérie “O Brado Retumbante”, da Globo, que termina nesta sexta-feira (27).

A produção da minissérie tratou a personagem de Murilo como um trunfo. O ator não participou da coletiva de imprensa para divulgar o trabalho, e o elenco evitou dar muitos detalhes sobre Julie. A espera valeu a pena: Murilo surpreendeu e apareceu irreconhecível na pele do transexual. O próprio ator ficou surpreso quando se viu caracterizado. “Tomei um susto. Fiquei a cara da minha irmã. Só que moreno, porque ela é loira”, contou Murilo em entrevista ao iG.

Murilo também contou como está sendo a reação das pessoas nas ruas, o que ouviu dos transexuais sobre sua interpretação e como se preparou para viver a personagem: ele abandonou a academia, fez uma dieta rigorosa e conseguiu perder 15kg em 15 dias, além do laboratório com uma transexual, que o ajudou a entender a cabeça dessas pessoas e os problemas pelos quais elas passam.

iG: Como você conseguiu o papel de Julie na minissérie?
Murilo Armacollo: Fiz um teste na Globo há muito tempo. Fiquei esperando, e de repente, me chamaram. Alguém viu o meu cadastro, gostou, e uma semana depois eu já estava fazendo a caracterização para a personagem.

iG: Era um desejo seu trabalhar em televisão?
Murilo Armacollo: Assim como fazer cinema, trabalhar na TV sempre foi um grande objetivo. Faz parte do nosso mundo, dos atores. Fazer algo grande, para a massa, é uma grande realização.

iG: Como você se preparou para o papel? Fez algo para ficar com o corpo menos masculino? 
Murilo Armacollo: Quando começamos a fazer os testes de figurino, me olhei no espelho e me achei grotesco. Então resolvi fazer uma dieta de proteínas rigorosa durante 15 dias. Deixei a musculação de lado e comecei a correr 20km todos os dias. Acabei conseguindo perder 15kg em 15 dias. Logo em seguida, comecei a fazer laboratório. Estudei bastante e pesquisei como era o psicológico dessas pessoas. Também assisti a vários filmes com o tema. Como queria fazer uma personagem bem feminina, sem cair no caricato, vi filmes da Marilyn Monroe, que foi um grande símbolo sexual, que inspirou muitas mulheres. 

iG: Você conversou com algum transexual durante essa preparação? 
Murilo Armacollo: Fiz laboratório com uma transexual que me ajudou muito. Ela me explicou como era viver assim, desde a infância, passando pelo entendimento com a família, até a preparação para a cirurgia de mudança de sexo.

iG: Ouviu alguma história chocante, que tenha te marcado? 
Murilo Armacollo: Todas as têm histórias de preconceito muito fortes. São agredidas verbalmente - e fisicamente também - diariamente, na rua, e às vezes dentro da própria casa. O que mais me chocou foi descobrir que elas não conseguem arranjar emprego. Às vezes até conseguem oportunidades de estágio, mas quando vão ser contratadas, o empregador vê que elas não fizeram ainda a cirurgia, olham os documentos, e não contratam. Dão desculpas para não contratar. Meu objetivo na série, além de fazer um bom trabalho, próximo da realidade, era que as pessoas entendessem que essas meninas precisam de uma vida social, precisam ser compreendidas pela sociedade, como eu, você, como todo mundo. Elas têm esse direito. Queria ter a sensibilidade de passar isso para o público de uma forma legal.

iG: Qual foi a sua reação ao se ver caracterizado como mulher?
Murillo Armacollo: Na hora em que me vi caracterizado, tomei um grande susto. Pensei: "To a cara da minha irmã! Só que moreno, porque ela é loira". Foi uma grande alegria, porque a preparação foi muito difícil. Quis fazer o mais delicado e suave possível. Não queria fazer algo grotesco. À partir do momento que me vi como Julie, falei: "Meu Deus, conseguimos!". Foi um alívio e um orgulho. Consegui alcançar a meta que tínhamos traçado para a personagem. 

iG: Como você foi recebido pelos atores mais experientes? Como é contracenar com Domingos Montagner e Maria Fernanda Cândido? 
Murilo Armacollo: Tive grande sorte em entrar em um elenco como esse, com feras. É maravilhoso trabalhar com o Domingos, com a Maria Fernanda, com José Wilker. São grandes ídolos meus. Todos eles, elenco e direção, me receberam de uma maneira muito maternal, me deixaram bem tranquilo. A linguagem é muito diferente, não estava acostumado, falei “Gente, to nervoso. Qualquer coisa me ajudem”. Mas todos me trataram muito bem. O trabalho começou direto, de igual pra igual, sem desculpas porque eu era novato.

iG: Outros atores que interpretaram personagens transexuais, ou mesmo gays, já sofreram agressões nas ruas. Tem medo de que aconteça algo semelhante com você? Como é a reação das pessoas nas ruas? 
Murilo Armacollo: Eu não tenho medo porque o trabalho foi bem executado por mim e pela equipe toda. Procurei fazer algo com delicadeza, que obviamente iria chocar, mas de uma maneira delicada e positiva. A reação das pessoas nas ruas é muito boa. Todos elogiam, me param para dizer que meu trabalho está incrível, que estou realmente parecendo uma mulher. Pela delicadeza da personagem, não acredito que vá repelir ninguém, pelo contrário. Até agora recebi muitos e-mails e mensagens no twitter com elogios de transexuais. Nunca tinha tido contato com essas pessoas, não sabia nada sobre o transtorno de identidade de gênero. Tinha medo de representá-las mal, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

iG: Tem medo de ficar marcado com um papel tão forte?
Murilo Armacollo: As pessoas podem, sim, lembrar da Julie, mas não acho que vou ficar marcado. É uma temática com a qual as pessoas não estão acostumadas, mas não tenho medo.

iG: Você sabe como será o final da sua personagem? Pode adiantar algo? 
Murilo Armacollo: Eu não sei nada do que vai ao ar. Quando gravei minhas cenas, optei por não ver nada. Quero ter a mesma reação do público, me surpreender.

iG: Quais são os seus planos para a carreira?
Murilo Armacollo: O que eu quero é trabalhar. Vou continuar a fazer teatro, que é a minha raiz, mas gostei demais de TV. Espero que daqui para frente consiga outros ótimos papéis, tão difíceis quanto a Julie, pra que eu possa fazer esse trabalho de pesquisa de construção do personagem, que é muito prazeroso.

Disponível em <http://gente.ig.com.br/tvenovela/murilo-armacollo-tomei-um-susto-quando-me-vi-caracterizado-de-mu/n1597601456964.html>. Acesso em 06 fev 2012.