Pedro Cunha
09/08/2012
“Uma das coisas mais importantes da minha vida”, disse
Giselle Camargo de Sousa, transexual, sobre a conquista do direito de alteração
de nome. Ela fez o pedido em maio deste ano e a solicitação, julgada
procedente, foi publicada na última edição do Diário do Judiciário de Minas
Gerais. Para a servidora pública de 20 anos, seu antigo nome já não a
representava. “A mudança significa uma realização pessoal”, comemora Giselle. Segundo
ela, outro benefício com a troca é a diminuição do preconceito.
A mineira de Belo Horizonte contou que já enfrentou
situações constrangedoras. Recentemente, Giselle prestou um concurso e, no
momento em que o examinador a chamou pelo nome, todos a olharam de uma maneira
diferente. “Eu fiquei um pouco desconcertada. Achei estranho e fiquei chateada
com a situação”, relatou. Giselle já chegou a ser demitida da empresa em que
trabalhava. Segundo ela, o motivo foi preconceito.
Apesar da diversidade sexual não ser plenamente aceita, a
jovem acredita que o Brasil esteja evoluindo neste aspecto. Para o juiz titular
da Vara de Registros Públicos de Belo Horizonte, Fernando Humberto dos Santos,
o judiciário normalmente tem interpretações diversas a respeito do caso, pois
ainda não há uma lei vigente. Ele explicou que este é um pedido cada vez mais
recorrente. “Por uma questão de dignidade, é razoável que o novo nome com que a
pessoa se adaptou, e que ela vem sendo reconhecida na sociedade, é que seja o
nome que a identifique”, explicou o juiz.
A coordenadora especial de Políticas de Diversidade Sexual
de Minas Gerais, Walkiria La Roche, acredita que o feito é um grande avanço
para o estado. Segundo ela, neste caso, é muito comum que a transexual se
depare com situações difíceis, que possam trazer algum constrangimento. “Este
pedido é um direito de qualquer cidadão, pois existe na nossa legislação o
crime de constrangimento vexatório”, disse.
Para Walkiria, a possibilidade da mudança de nome significa
a garantia de uma cidadania mais plena. E é o que Giselle procura. A servidora
pública já tem um noivo em São Paulo, e, em pouco tempo, pretende se mudar.
A jovem, que tem vocação para os estudos, está
temporariamente parada. Porém, não por um período tão longo. Ela deseja
ingressar em uma universidade para cursar medicina. Segundo Giselle, a escolha
foi motivada, sobretudo, pelo fato de seu corpo estar se modificando. “Eu tive
que estudar muito a respeito da transformação. A questão do corpo, a relação
dos hormônios, e, até mesmo, a cirurgia que eu pretendo fazer. Então foi isso
que me despertou interesse”, explicou. Na mesma decisão, o juiz julgou
improcedente o pedido de mudança de gênero. Giselle informou que vai recorrer
para assegurar a conquista de um grande desejo.
Disponível em
http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2012/08/umas-das-coisas-mais-importantes-diz-transexual-sobre-troca-de-nome.html.
Acesso em 30 ago 2014.