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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Mercado erótico e sensual se reinventa e deixa lições

Renata Leite
04/11/2014

Luz neon, ambiente escuro e filmes pornográficos expostos nas estantes. Esses eram alguns dos elementos mais característicos das sex shops dos anos 1980 e 1990, mas que, hoje, estão cada vez mais distantes da realidade do setor erótico e sensual brasileiro. Dão lugar a eles, paredes brancas, comunicação visual clean e a preocupação em evitar que produtos mais explícitos permaneçam à vista e assustem a clientela. A mudança faz parte dos esforços dos empresários para levar casais e, especialmente, mulheres casadas para dentro de lojas e ao e-commerce, pessoas que até bem pouco tempo atrás não se enxergavam como clientes dessas empresas.

O público feminino já representa 70% dos compradores de sex shops físicas e virtuais, cujas vendas cresceram 20% em 2002, 15% em 2006, 18,5% em 2011 e 8% em 2013. Neste último ano, o incremento no faturamento ficou abaixo do que nos demais períodos, devido à ameaça de crise econômica, mas, ainda assim, acima do resultado de outros setores da economia. Mesmo com o longo período de crescimento contínuo, segundo pesquisa da fabricante de preservativos e itens eróticos Durex, apenas 17% dos brasileiros já adquiriram ou experimentaram um produto do setor, ante 22% das pessoas, quando se considera todo o mundo.

A última estratégia das empresas que atuam neste mercado, intensificada este ano, foi o investimento em ações de responsabilidade social. “Em outubro, vestimos as sex shops da Avenida Paulista, em São Paulo, de rosa, numa campanha pelo combate ao câncer de mama, e distribuímos dois mil informativos sobre a prevenção à doença. Também entregamos géis massageadores às mulheres, e o sorriso que vimos no rosto delas nos mostrou que já estão compreendendo a função de nossos produtos”, comemora Paula Aguiar, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), em entrevista ao Mundo do Marketing.

Retorno às raízes

Esse movimento de aproximação do público feminino representa um retorno às origens, já que a primeira sex shop foi inaugurada na Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial, por uma mulher que enxergava na atividade uma ferramenta de empoderamento das demais mulheres. A maioria delas não havia recebido uma educação sexual voltada para o prazer e a saúde, lacuna percebida por Beate Uhse, que havia sido privilegiada por uma educação não repressora conduzida por pais médicos. Após começar vendendo tabelinhas porta a porta, a ex-pilota de acrobacia aérea, então desempregada, ampliou seu portfólio e se tornou conselheira das moradoras do entorno.

Quando o modelo foi importado para os Estados Unidos, no início da década de 1970, entretanto, ganhou novos contornos. Os filmes pornográficos foram colocados à venda dentro dessas lojas, modificando o público que frequentava o ponto de venda. Os homens heterossexuais e, especialmente, os homoafetivos passaram a ser o principal público. “Estamos na terceira geração de empresários à frente do setor, que marca o retorno das mulheres para a condução dos empreendimentos. Essa mudança deu uma guinada nos negócios, que hoje buscam desconstruir os tabus e os preconceitos que estão entranhados na cultura brasileira”, relata Paula, que atua no setor há quase 15 anos.

A empresária começou sua trajetória na internet e pode ser considerada veterana, já que, entre os negócios online, 56% foram inaugurados há menos de dois anos e 76%, há menos de três anos. Entre os empresários do setor, 100% contam com lojas virtuais, 33% físicas e 29% atuam por meio de catálogos, segundo levantamento da Abeme. Além das ações sociais realizadas ao longo de 2014, a associação também aposta no público evangélico para incrementar o faturamento. Até o fim deste mês, a instituição lançará um e-book com instruções para a venda a essa parcela da população.

Venda para crentes

Entre os temas abordados nos capítulos estão “Deus e o sexo”, “a bíblia e o sexo” e “como atender a esse público”. Alguns pastores já apontam os produtos eróticos e sensuais como importantes ferramentas para a manutenção de casamentos, mas ainda existem muitas fiéis que vendem os itens às amigas de cultos de forma quase clandestina, temendo represálias da Igreja. Nas lojas, no entanto, as crentes se mostram mais abertas a informações e ofertas do que as católicas, que continuam mais envoltas em tabus.

Com a crescente demanda por informações sobre como vender para pessoas religiosas, a associação reuniu empresários do setor, clientes evangélicas e especialistas em educação sexual para desenvolverem o e-book. “O intuito é quebrar tabus, mostrar que o produto erótico tem o poder de unir, reconectar casais, inclusive aqueles que estão juntos dentro da fé. Os itens são importantes aliados das famílias”, ressalta Paula.

Essa necessidade de educação estimula a venda direta como um importante canal de compra de produtos do setor. A aquisição de itens costuma vir acompanhada de aconselhamentos e explicações de uso. Nesse contexto, nasceu a Sophie Boutique Sensual, há cerca de um ano e meio. A marca atua por meio do sistema de festas, encontros e reuniões realizados pelas consultoras, num modelo semelhante ao adotado inicialmente pela Tupperware. A ideia é que as mulheres se encontrem dentro de seu círculo de amizade, num ambiente em que se sentem seguras para conversar sobre suas intimidades.

Marca busca investidores para expandir

Atualmente, a empresa conta com 10 consultoras e busca investidores para poder ganhar capilaridade. “Eu e minha sócia fizemos 60 reuniões no primeiro ano para validar esse modelo. Passaram por nós mais de mil mulheres. Nosso objetivo não é apenas vender um produto, mas transformar a consciência delas sobre a sexualidade humana. Por isso, sempre levamos um conteúdo para ajudá-las a construir esse relacionamento com seu próprio corpo”, diz Christiane Marcello, Fundadora da Sophie Boutique Sensual, em entrevista ao Mundo do Marketing.

A marca busca se distanciar ao máximo do conceito de sex shop, por este mercado ainda estar marginalizado, ancorado na pornografia, no chulo e no vulgar. Para se afastar dos atributos negativos e pejorativos, a companhia optou por se posicionar como boutique, assim como muitas empresas que atuam no setor. As atividades não se resumem às reuniões. Hoje, a Sophie Boutique Sensual conta com mais dois núcleos: um que vende serviços complementares, como palestras e rodas de leitura, e outro com foco na fabricação de produtos, como bijuterias para o corpo, acessórios, luvas e vendas.

O trabalho todo tem na educação um importante pilar. “Cerca de 99% das mulheres que chegam às reuniões nunca estiveram numa sex shop. Elas costumam manifestar o desejo de apimentar a relação. À medida que a mulher chega no núcleo de aconselhamento, acaba trazendo seus maridos. Aos poucos, estamos formando nossos primeiros grupos de homens”, conta Christiane, que ganhou experiência durante os cerca de 15 anos em que atuou como Executiva de empresas como Avon, Grupo Boticário e Jequiti.

Comunicação voltada para o romantismo

A maioria das novas companhias do setor já nasceu adotando a comunicação voltada para o amor e para os casais. Essa voz coesa vem gerando efeitos positivos na imagem do mercado perante a sociedade, embora a relação com o vulgar ainda seja comum na mente de muitos consumidores. A comunicação visual das lojas é muito importante para a mudança na concepção do público, e essa é uma das apostas da Doce Sensualidade. A boutique foca no romantismo e no amor em todas as peças no ponto de venda e no site.

A própria distribuição dos produtos na loja apresenta os clientes aos produtos de forma amena. A proposta é conquistar a confiança do consumidor pouco a pouco, até partir para entender as reais necessidades dele. A ideia é trabalhar como num relacionamento, começando pela sedução. A pessoa chega no ambiente claro, intimista, onde não há vibradores e próteses expostas. Os produtos são apresentados pouco a pouco, para que o cliente vá se despindo de inibições e preconceitos.

O mesmo conceito está sendo aplicado ao e-commerce que será lançado nos próximos dias. “O tabu é um dos fatores que mais distanciam o público-alvo de uma loja, e isso impõe alguns cuidados. Quando abri o ponto de venda, desenvolvi embalagens lindas e sacolas com o logotipo da empresa, mas os clientes não queriam usá-las, porque tinham vergonha. Hoje usamos bolsas pretas, sem nenhuma referência. Somos conhecidos como o país das mulheres mais sensuais, da bunda, do carnaval, mas quando montamos a empresa é que vimos como, na verdade, somos retrógrados em relação a sexualidade”, analisa Thais Plaza, Sócia da Doce Sensualidade, em entrevista ao Mundo do Marketing.


Disponível em http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/marca/32112/mercado-erotico-e-sensual-se-reinventa-e-deixa-licoes.html?utm_medium=e-mail&utm_source=mail2easy&utm_campaign=Newsletter+Dia. Acesso em 04 nov 2014.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Como a tecnologia está modernizando o mercado do sexo e tirando-o da crise

Administradores
26 de agosto de 2014

Ao longo da história, prostitutas e seus clientes desenvolveram diferentes métodos para se encontrarem. Na Alemanha, onde a profissão é legalizada, é possível utilizar um app chamado Peppr para contratar serviços sexuais. Ao digitar sua localização, clientes recebem informações sobre prostitutas em lugares próximos, preços e tipos físicos. Segundo a revista The Economist, o app, que tem planos de expansão, é um exemplo de como a internet tem transformado esse mercado, que - assim como os formais - também foi estremecido pela crise econômica global e agora encontra na tecnologia o caminho para se reerguer.

Essas plataformas digitais oferecem segurança para as prostitutas: agora, elas podem informar quais clientes são violentos e verificar seus exames médicos antes de aceitar um encontro. Mesmo nos Estados Unidos, onde a prostituição é considerada ilegal, encontros são arranjados pela internet. A Economist analisou 190 mil perfis de profissionais do sexo no site TrickAdvisor, que oferece críticas internacionais. Os clientes falam sobre as características físicas das prostitutas, os serviços e os preços que elas cobram.

Existem dados disponíveis desde 1999, mas a Economist utilizou as informações mais recentes de 84 cidades em 12 países. Um dos pontos que chamou atenção dos analistas foi que a crise econômica de 2008 também afetou as prostitutas. Uma acompanhante inglesa chamada Vanessa explicou que homens acreditam que pagar por sexo é um luxo e como os preços de artigos necessários estão mais altos, eles estão cortando os gastos.

Na cidade de Cleveland, em Ohio, onde o desemprego aumentou substancialmente, o preço de uma hora de sexo desabou. Outro fator que causou a queda nos preços foi o aumento da imigração. Entre os fatores que fazem prostitutas diminuírem o seu preço está a inexperiência, segundo a revista.

A análise mostrou como o preço de uma hora de sexo pode variar, de acordo com os serviços que ela oferece e as características físicas. Prostitutas que permitem práticas menos comuns recebem uma média de 50 dólares a mais. Já quem aceita sexo a três pode receber até 120 dólares a mais.

O preço varia também em relação à etnia. Em grandes cidades americanas e Londres, negras geralmente recebem menos que brancas.


Disponível em http://administradores.com.br/noticias/cotidiano/saiba-como-a-prostituicao-e-afetada-pela-tecnologia-e-crise-economica/91789/. Acesso em 30 ago 2014.

terça-feira, 25 de março de 2014

Estudo mapeia economia ilegal de oito cidades americanas

João Pedro Caleiro
17/03/2014

Em 2010, o Departamento de Justiça americano contratou o Urban Institute para mapear o tamanho da economia ilegal da prostituição nos Estados Unidos.

Foram escolhidas 8 cidades: San Diego, Seattle, Dallas, Denver, Washington, Kansas City, Atlanta e Miami.

A ideia era levantar pela primeira vez dados confiáveis para entender como a economia da prostituição funciona e como ela se relaciona com outras atividades ilegais, como o tráfico de armas, de drogas e de pessoas.

Os resultados acabam de ser divulgados: em 2007, o dinheiro movimentado pela economia subterrânea do sexo variou entre US$ 40 milhões em Denver e US$ 290 milhões em Atlanta.

Como participação no dinheiro que circula na cidade como um todo, isso equivale a 0,5% em Denver e 1,6% em Atlanta.

Apesar da diferença no tamanho dos mercados, a renda dos exploradores de prostituição nas duas cidades é curiosamente similar: em torno de 33 mil dólares por semana - 6 vezes mais do que em Kansas City, por exemplo.

Denver também tem o menor mercado ilegal de drogas (US$ 63,9 milhões), praticamente um terço do praticado em Dallas - que movimentou US$ 191 milhões em 2007. Dallas também lidera no mercado ilegal de armas, seguido por Washington DC e Miami.

Veja na tabela as estimativas com base no ano de 2007 (em milhões de dólares):

 SexoDrogasArmas
Atlanta290117146
Dallas98,8191171
Denver39,963,947,4
Miami23595,7118
San Diego96,696,347,7
Seattle11287,460,1
Washington DC103103160

Comportamento

Só o tráfico internacional de pessoas para exploração comercial do sexo movimentou US$ 28 bilhões no mundo em 2005. O objetivo de levantamentos como esse é o de fornecer dados empíricos e recomendações para melhorar o combate a este tipo de problema.

Com exceção de Nevada, onde fica Las Vegas, a exploração comercial da prostituição é ilegal em todos os estados americanos.

Apesar disso, praticamente 10% dos cafetões nas cidades pesquisadas aceitam cartão de crédito ou débito - e muitos usam atividades legítimas como fachada para os negócios ilegais.

Apenas 13,7% declararam gasto com preservativos - na lista de despesas, lideram carros e transporte (65,8%), além de moradia (64,4%) e roupas para as mulheres (45,2%).

47,9% das transações são precificadas com base no tempo e apenas 12,3% com base nos atos praticados. O preço varia entre US$ 5 e S$ 1 mil, mas fica mais concentrado na faixa entre US$ 150 e US$ 300 por hora.

Dinâmicas

O estudo não encontrou grande conexão entre o mercado de tráfico de armas e de prostituição. Com as drogas, é outra história: um em cada quatro cafetões haviam trabalhado como traficante no passado, e 18% continuavam a fazê-lo.

Outra conclusão do Urban Institute é que o advento da internet mudou radicalmente a dinâmica do mercado ilegal de sexo.

Ao mesmo tempo que aumentou as possibilidades de recrutamento e divulgação, intensificou a concorrência e tornou os exploradores do mercado de sexo mais vulneráveis à detecção pelas autoridades - que ainda precisam aproveitar melhor essa oportunidade.


Disponível em http://exame.abril.com.br/economia/noticias/estudo-mapeia-economia-ilegal-de-8-cidades-americanas?page=1. Acesso em 23 mar 2014.

sexta-feira, 14 de março de 2014

O poder do pink money

Patrícia Alves
edição 816 - 30.mai.13

Eles movimentam estimados US$ 3 trilhões por ano ao redor do mundo. Gostam de viajar, adoram uma festa, não abrem mão de comer bem e de se vestir melhor ainda, e têm dinheiro para isso. Pesquisas apontam que o público homossexual gasta 30% a mais do que os heterossexuais e o seu poder de consumo, o chamado pink money, é resultado de um ciclo de vida diferente. “Sem filhos em sua maioria, os casais homossexuais têm sua renda revertida para cultura, lazer e turismo”, disse à DINHEIRO o inglês Paul Thompson, fundador da LGBT Capital. Com sedes em Londres e Hong Kong, a companhia é especializada em administração de ativos e em consultoria financeira e empresarial dirigida à comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.

Fundada em 2010, e atualmente com US$ 350 milhões em ativos sob gestão, a gestora viu uma grande oportunidade nesse público, que reúne 400 milhões de pessoas e tem poder aquisitivo de US$ 750 bilhões somente nos EUA (leia quadro). “Mesmo com rendimentos acima da média, a comunidade LGBT ainda não planeja o futuro corretamente, embora já tenha começado a sentir essa necessidade, principalmente no que diz respeito à aposentadoria e à proteção ao parceiro”, afirma Thompson. “Além disso, muitos desses consumidores estão de olho em investimentos, principalmente no mercado imobiliário, em busca da segunda residência ou da casa dos sonhos para a aposentadoria.” Segundo Thompson, apesar de os direitos de casais do mesmo sexo serem um assunto desassombrado em boa parte do mundo, a chamada filosofia “gay friendly” não chegou às finanças.

Muitas pessoas ainda não se sentem confortáveis em falar abertamente sobre sua sexualidade ao gerente do banco, por exemplo. Por isso, eles podem deixar de lado pormenores importantes do planejamento financeiro. “Detalhar a vida financeira para alguém já não é fácil, e quando envolve sexualidade fica ainda mais complicado”, diz o especialista. “A proposta da gestora é tornar as tomadas de decisões mais simples e naturais, onde todos falem a mesma língua”, afirma Thompson. No Exterior, diversas empresas especializadas em serviços financeiros têm prestado mais atenção a esse público. Instituições como Wells Fargo, Bank of America Merrill Lynch, Morgan Stanley Smith Barney e UBS lançaram divisões para atender exclusivamente os clientes LGBT ou têm investido em treinamento e certificações de seus assessores para lidar com as questões financeiras típicas de casais do mesmo sexo.

No Brasil, de acordo com as estatísticas, esse público é formado por cerca de 18 milhões de pessoas, com renda média de R$ 3.200. Pertencentes, em sua maioria, às classes A e B, eles movimentam cerca de R$ 150 bilhões por ano no País, segundo a consultoria InSearch Tendências e Estudos de Mercado. A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, é um exemplo do poder de consumo desse público. As estimativas do setor de turismo avaliam que quatro milhões de pessoas participaram do evento em 2012. Apenas durante a festa, o gasto médio per capita girou em torno de R$ 182,10. De acordo com o Observatório do Turismo, núcleo de pesquisas da Secretaria Municipal de Turismo de São Paulo, cada turista deixa, em média, R$ 1.200 na cidade.

Apesar dos números pujantes, no Brasil ainda não existe uma empresa financeira voltada exclusivamente para esse público. Em 2005, a gestora gaúcha Sparta Investimentos, de Porto Alegre, em parceria com a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, tentou lançar dois clubes de investimentos voltados para esse público. Segundo Zulmir Tres, sócio da gestora, na época era comum falar em investimentos para mulheres, para jovens, e, a partir daí, surgiu a ideia de abrir espaço para o dinheiro rosa. “É um público que preza pelo atendimento personalizado e que tem um alto poder aquisitivo”, afirma. No entanto, a ideia não vingou. “A cultura de investimentos ainda não fazia parte dos planos desses consumidores, que, na época, estavam muito focados no consumo imediato”, diz Tres.

Essa é uma situação que o empresário paulista Douglas Drumond, 42 anos, lamenta. Proprietário do Chilli Pepper Single Hotel, o primeiro hotel da América Latina voltado exclusivamente para o público masculino, Drumond vê com bons olhos a segmentação no setor financeiro. “Os investimentos são iguais para todos, mas o sentimento de ser bem atendido e compreendido faz toda a diferença”, diz ele. O empresário afirma ter tido algumas experiências ruins com bancos nacionais na hora de abrir a conta de seu hotel. “Um banco onde eu era cliente como pessoa física não aceitou abrir a conta da minha empresa simplesmente por estar especificado que se tratava de uma empresa gay”, diz.

Drumond, que investiu R$ 8,5 milhões no empreendimento paulista lançado em abril de 2012, tem a intenção de levar o modelo para outros Estados brasileiros. Para isso, enquanto aguarda a concretização de seus projetos, tem deixado seu dinheiro em aplicações conservadoras, como CDBs e outras atreladas à taxa básica de juro, a Selic. “Se houvesse uma gestora que me assessorasse e entendesse meus interesses, talvez eu arriscasse mais”, diz. É em clientes desse tipo que a LGBT Capital está de olho. “O mercado consumidor gay no Brasil é muito dinâmico e está em constante desenvolvimento”, afirma Thompson. “Avaliamos como um mercado muito interessante e no qual temos interesse em investir no futuro.”

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Disponível em http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/120504_O+PODER+DO+PINK+MONEY#.UyHNrWy4Imo.facebook. Acesso em 13 mar 2014.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Bairros gays são campeões de aumento de renda nos EUA

João Pedro Caleiro
04/02/2014

É americano e quer morar em um lugar onde a renda vai aumentar? Se mude para um "gayborhood".

A conclusão é de um estudo apresentado no início do ano no encontro da Associação Americana de Economistas.

Os pesquisadores Matthew Ruther, da Universidade do Colorado, e Janice Madden, da Universidade da Pensilvânia, analisaram dados do censo de 38 grandes cidades dos Estados Unidos divididas em pequenos setores.

Eles perceberam que as micro-regiões que tinham mais casais de homens gays no ano de 2000 experimentaram um crescimento especialmente maior da renda familiar (e, consequentemente, dos preços de imóveis) ao longo da década seguinte.

No Nordeste e Oeste do país, houve também um crescimento populacional expressivo naqueles bairros.

Nenhuma das relações foi verificada em bairros com mais casais de lésbicas - que tem quatro vezes mais chance de ter filhos e renda em média 20% menor em comparação com os casais de homens.

O estudo mostrou também que de forma geral, os gays tendem a ser atraídos por bairros com maior taxa de vacância e habitação mais antiga. É possível, portanto, que a relação verificada entre gays e renda ande em paralelo com outras dinâmicas do mercado imobiliário.

Mitos

Os números não confirmaram outras teses levantadas por estudos anteriores. Até pouco tempo atrás, era difícil encontrar dados amplos e confiáveis sobre a distribuição dos gays na cidade.

De acordo com a análise de Ruther e Madden, eles não ficam cada vez mais concentrados em determinadas zonas com o passar do tempo, apesar de terem uma preferência maior por bairros centrais em todas as regiões do país, com exceção do Sul.

O estudo não encontrou muita relação entre onde os casais de homens e de mulheres decidem morar.

Eles também não apresentam uma preferência particularmente maior por bairros com maior diversidade racial, apesar do padrão de segregação dos homossexuais dentro da cidade ser curiosamente similar ao dos afro-americanos.


Disponível em http://exame.abril.com.br/economia/noticias/bairros-gays-sao-campeoes-de-aumento-de-renda-nos-eua?page=1&utm_campaign=news-diaria.html&utm_medium=e-mail&utm_source=newsletter. Acesso em 04 fev 2014.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Transexual revela como projeto 'Damas' ajudou capacitar e enfrentar mercado de trabalho

Neto Lucon 
26 de agosto de 2013

A ocupação em algum cargo no mercado de trabalho é chamada popularmente de "lugar ao sol". Um espaço em que a produção, a eficiência, a satisfação e a recompensa conversam em prol da cidadania e da dignidade. Para quem é travesti ou transexual, a concorrência se alia ao preconceito e o estigma leva grande parte para a prostituição – um trabalho autônomo que merece todo o respeito e direitos, mas que não pode ser visto como sinônimo de “trans” ou a única opção do grupo.

Dentre as inúmeras profissionais que buscam se inserir no mercado formal está Claudia de Freitas, 42, que depois de trabalhar como atendente de telemarketing na mesma empresa por dois anos, foi dispensada devido a um corte geral do turno. Ela está desempregada há um ano e contados 14 dias e já passou por cinco dinâmicas de entrevistas, nenhuma bem sucedida porque, de acordo com Claudia, carrega o fardo de ser transexual. “Em algumas me cortam na hora do grupo e certamente não é por falta de experiência”, diz.

Quando tudo parecia perdido, as oportunidades não apareciam e a autoestima já não era das melhores, Claudia conheceu, por meio de algumas amigas, no dia 2 de julho de 2013 o projeto Damas, no Rio de Janeiro, que visa diminuir a evasão escolar sofrida por trans e prepará-las para o mercado formal de trabalho. O projeto é desenvolvido desde 2006 pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual juntamente com a Secretaria Municipal de Assistência Social, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Damas foi a luz no fim do túnel do preconceito.

Por dentro das aulas

Os encontros ocorrem todas as terças e quintas-feiras das 13h às 17, no centro do Rio, e abordam disciplinas e questões como Comportamento, Etiqueta, Saúde, Direito, Português, Inglês e Mercado de Trabalho. “A experiência das minhas colegas é de total dedicação, de esforço e busca de oportunidade. Para mim, o mercado formal resgata a dignidade, a autoestima, mostra que somos capazes. Afinal, como sempre falo, não somos extras terrestres e tampouco nascemos de chocadeiras. E o Damas nos trata com muito respeito e consciência das nossas necessidades”.

No total, são seis meses de aulas e 20 alunas, que nos intervalos também dividem experiências e se unem para uma sociedade com menos transfobia. Em uma das aulas, uma aluna relatou que o pai não aceita a sua condição e que chegou a agredi-la no local onde se prostituía. Ela disse que várias colegas tentaram defendê-la no momento e informaram que o pai também se tratava de um cliente. A trans entrou na questão de processá-lo ou não e todas se emocionaram com a história.

“O projeto ajuda a nos conhecermos melhor, trocar experiências e, o melhor, fazer amizades”, diz Claudia, que destaca que as aulas de Comportamento e Postura com Thomas Dourado, aulas de Direito com a Dr. Claudia Turner e também com a professora de inglês Tatiana, são as suas preferidas. “A Tatiana, que é lusa, tem uma cabeça incrível”, salienta.

Outro fato muito positivo do Damas é que , além de capacitar travestis e transexuais, também abre um processo de vivência profissional durante seis meses. Essa experiência conta com o incentivo de cinco secretarias: a Secretaria Municipal de Educação, Desenvolvimento Social, Trabalho e Emprego, Saúde e a Coordenaria da Diversidade Sexual. Muitas, que se dedicam e almejam continuar, permanecem no cargo. Um exemplo eficaz e importantíssimo de inclusão.

Novas turmas em 2014

Claudia se prepara se formar em dezembro e conquistar alguma profissão que contemple áreas tais como recepcionista, auxiliar administrativa ou em turismo. “Quando era pequena e perguntavam o que eu queria ser, respondia artista, porque sempre gostei de me exibir [risos] e adorava a Roberta Close. Hoje, busco algo no meu perfil. Sou maquiadora, mas tenho experiência em outras áreas, falo e escrevo fluentemente dois idiomas... Quero muito trabalhar”, defende.

Uma nova turma com novas trans está prevista para janeiro de 2014 e as interessadas podem se inscrever por meio do telefone [21] 2976 9137 - lembrando que este é um projeto exemplar ocorre no Rio de Janeiro. “Aconselho a todas que queiram uma oportunidade no mercado, afinal todas nós temos o direito por um lugar ao sol”, defende a aluna, que vai contar nos próximos meses o futuro de sua vida profissional ao NLucon. Estamos acompanhando e, claro, na torcida!


Disponível em http://www.nlucon.com/2013/08/transexual-revela-que-projeto-damas.html?m=1. Acesso em 10 dez 2013.

domingo, 27 de outubro de 2013

De quitinete a cobertura, estilista das travestis faz sucesso internacional

Carolina Garcia
07/10/2013

Com a roupa certa que “dá axé”, travestis podem “cabanar” pelas ruas de São Paulo e do mundo. O verbo ganhou espaço no bajubá - linguagem usada pelo grupo - após o sucesso da marca Tereza Cabana, a precursora da moda trans no País e que é cultuada por suas clientes há 23 anos. A ousadia das costureiras Terezinha Cabana, de 70 anos, e sua filha Cris Cabana, de 45, ganhou um público marcado pelo preconceito e conhecido pelas práticas ousadas para esconder a identidade. “Mulher encontra calcinha em qualquer lugar, travesti não”, defendeu Cris a sua peça, que promete “aquendar a neca” (segurar o pênis).

De uma quitinete de 27 metros quadrados para uma cobertura quase dez vezes maior nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, mãe e filha construíram patrimônio ao desenharem vestidos tubinhos, calcinhas e trikinis, peça clássica para o guarda-roupa de uma travesti. Os tecidos que estampam o animal print e as cores neon são os campeões de venda. O carro-chefe do ateliê é a calcinha de vinil, um dos materiais mais resistentes, que pode ser comprada por R$ 30 a unidade ou R$ 15 no atacado (com venda mínima de 40 peças).

Para a paulistana Cris, o acaso foi responsável pela origem da marca e pelo sucesso internacional. Em meados de 1990, a visita da travesti Mônica, jovem de 17 anos e “com um corpo escultural”, inspirou as profissionais e despertou suas atenções ao público gay. “Montei alguns modelos de vestidos e ela saiu para trabalhar. Sempre voltava da rua contando o sucesso que tinha feito com as peças. A Mônica deu a luz inicial”. Na primeira semana de trabalho, cerca de 20 travestis fizeram fila a espera de novas criações. “Nossa casa era muito pequena. Nunca imaginei que tivesse tantos travestis em São Paulo”, disse, aos risos.

Entre suas clientes estão as profissionais do sexo e transexuais, como Ariadna Arantes, que ficou conhecida após participar da 11ª edição do reality show BBB. Ao iG , ela disse ter conhecido a marca em Milão um ano antes de sua operação para mudança de sexo, em 2007. “Usar roupas da moda feminina comum era meio complicado para uma menina como eu. Era um incômodo muito grande”. Na falta de opção, e por desespero em esconder a identidade, a ex-BBB usava calcinha de vinil que chegava a cortar a pele.

"Moda feminina comum era complicado para uma menina como eu", diz a ex-BBB Ariadna
“Muitas [travestis] usam super bonder, emplasto e até fita adesiva para esconder a real identidade. A marca [Tereza Cabana] se consolidou porque a moda ainda não abriu espaço para esse público”, defendeu Ariadna.

Com o mercado de São Paulo já garantido, o próximo desafio para a marca é a Europa. “O boca a boca foi fundamental para as vendas lá fora. Ainda em um tempo sem internet, passamos 11 anos vendendo de porta em porta por 30 dias durante o verão europeu”, explicou Cris. Entre seus roteiros de viagem estão as capitais da Itália, Paris e Suíça, por exemplo. “E nem preciso me preocupar com hospedagem. Elas [clientes] me recebem em suas casas, pensões e até puteiros. Em uma das viagens, cheguei a vender US$ 22 mil em mercadoria”, contou.

Em um amplo ateliê, também nos Jardins, Cris e a mãe dividem a confecção das peças. Ao menos cem modelos são produzidos em um dia cheio de trabalho - a marca rende um lucro mensal de ao menos R$ 15 mil por mês. A última aquisição da empresa foi uma poderosa máquina de costura, carinhosamente apelidada de “Ferrari” pelas donas. “É a nossa queridinha agora. Ainda estou pegando o jeito dela”, explicou Terezinha.

Trikini é peça clássica no guarda-roupa travesti. Custa em média R$ 150 no ateliê dos Jardins.

Preconceitos e axé

A palavra preconceito não faz parte do vocabulário da nordestina Terezinha. Criada em Fortaleza, ela saiu de casa aos 15 anos e, por isso, se define como “dura na queda e das antigas”. Mas se contradiz ao ter uma mente aberta no convívio com o mundo gay. “Não faz sentido ter preconceito. Quando morremos o bichinho que come o branco também come o preto”.

Não são todos, no entanto, que acompanham seu pensamento. O fluxo frequente de travestis em sua casa já rendeu processo na Justiça. “Fui processada por vizinhos porque associavam travestis ao tráfico de drogas. E eu só tentava vender minhas roupas”.

Com um discurso recheado de frases polêmicas, Tereza usa o bom humor para se referir à marca que leva o seu nome. “As meninas sentem que somos as estilistas delas e que usar Tereza Cabana dá axé [sorte]. É que as peças são produzidas por uma virgem”, disse a idosa fazendo movimentos com os olhos apontando para filha. “Ela só pensa em trabalho, sabe? Eu acho que é virgem ainda”.


Disponível em http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2013-10-07/de-quitinete-a-cobertura-estilista-dos-travestis-faz-sucesso-internacional.html. Acesso em 14 out 2013.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Privacidade e corpo: convergências possíveis

Carlos Nelson Konder
Pensar, Fortaleza, v. 18, n. 2, p. 352-398, mai./ago. 2013

Resumo: O artigo propõe uma leitura historicamente contextualizada das convergências entre o direito à privacidade e a proteção jurídica do corpo. Parte da concepção moderna do “direito a ser deixado só” e da indisponibilidade do corpo aborda os desafios impostos pelas pressões do mercado e demandas por segurança para chegar à privacidade como autodeterminação informativa e ao corpo como informação, ilustrando com as situações da redesignação sexual, da proteção dos dados genéticos e do direito de não saber.



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Os novos lucros do sexo

João Varella
edição 824 - 26.JUL.13

O esquadrão antibombas foi chamado com urgência ao estacionamento do Walmart da cidade de Aurora, no Estado americano do Colorado, em maio deste ano. Um homem com cerca de 30 anos, portando uma mochila, deixou gotejar um líquido suspeito e foi abordado por policiais. A área foi isolada, o supermercado fechado e a tensão tomou conta da região. Quando técnicos especializados finalmente abriram a mochila, se depararam com vibradores e géis lubrificantes, entre outros acessórios sexuais comprados no próprio Walmart. O alarme falso se explica pelo fato de o gigante do varejo americano, que faturou US$ 443 bilhões no ano passado, apostar no aumento das vendas nesse segmento.

Os testes começaram em 2008, em uma loja da zona rural do Estado de Iowa. Desde então, gradativamente, os produtos vêm sendo espalhados pelas mais de quatro mil lojas da rede no país. O Walmart está de olho no mercado de apetrechos eróticos, estimado em US$ 15 bilhões ao ano, que vão de máscaras e lingeries a algemas e chicotes. São os chamados sex toys, que constituem uma parte substancial do mercado do sexo no mundo. A indústria de filmes pornográficos fatura cerca de US$ 10 bilhões. A venda de pílulas anticoncepcionais chega a US$ 16 bilhões. E os comprimidos para combater a disfunção erétil, liderados por marcas como o pioneiro Viagra, Levitra e Cialis, respondem por US$ 5 bilhões.

No total, a indústria do prazer movimenta uma montanha de dinheiro estimada em US$ 46 bilhões por ano e que deve ao menos duplicar em 2020. A tradicional varejista de Bentonville, no Arkansas, não está sozinha nessa aventura. Como ela, grandes empresas estão aproveitando essa nova revolução sexual. São companhias como a varejista virtual Amazon, a loja de grife Armani e a varejista de cosméticos Eudora, do grupo Boticário. Elas estão se beneficiando da reinvenção da indústria do sexo. É fácil ver sinais de que o tema, antes considerado tabu, agora se tornou corriqueiro nas mais diversas rodas sociais, de todos os gêneros e bolsos.

O filme de Pernas para o Ar 2, da Globo Filmes, que retrata uma executiva protagonizada pela atriz Ingrid Guimarães se aventurando no mundo dos acessórios sexuais, levou quatro milhões de pessoas aos cinemas brasileiros neste ano e arrecadou R$ 44 milhões. É o filme nacional mais assistido em 2013. Por seu turno, a literatura erótica ajudou a consolidar a ideia de que entre quatro paredes tudo é válido para apimentar e tornar mais prazerosa a relação. A trilogia 50 tons de cinza, da escritora britânica E. L. James, apelidada de “Pornô para Mamães”, já vendeu 70 milhões de cópias no mundo. Estima-se que tenha gerado vendas de US$ 440 milhões para a americana Random House, que edita a obra em inglês, alemão e espanhol, o equivalente a um terço de sua receita em 2012.

No Brasil, editado pela Intrínseca, do economista Jorge Oakim, ultrapassou a casa dos quatro milhões de exemplares. Essa mudança comportamental abriu caminho para que grandes empresas investissem na área. É claro que antes de entrarem nesse mercado apoiaram suas decisões em muitas pesquisas com os consumidores. O conservador Walmart é um exemplo disso. Antes de colocar acessórios sexuais em suas prateleiras de higiene feminina, a rede, fundada por Sam Walton, teve de ser convencida pela centenária empresa Church & Dwight, maior fabricante de camisinhas dos Estados Unidos e de vibradores populares. Ela encomendou, em 2008, um estudo à Universidade de Indiana sobre o uso de vibradores pela população americana.

Mais da metade (52%) das mulheres respondeu já ter usado e 80% delas afirmaram que o fizeram em uma relação sexual com o parceiro. Foi o suficiente para convencer a gigante do varejo a investir no negócio. A aposta no filão do erotismo feita pela Eudora, marca do grupo paranaense Boticário, criada em 2011, também foi precedida por pesquisas com quatro mil consumidoras, que embasaram o lançamento de uma linha de produtos eróticos batizada de Entre 4 Paredes.“Constatamos um potencial enorme de consumidoras dispostas a comprar acessórios sem ter de passar por uma luz vermelha ou aqueles ambientes carregados dos sex shops”, diz Rodrigo Navarrette, gerente de perfumaria e cuidados com a pele da Eudora.

A empresa de Curitiba descobriu que a sensualidade feminina se divide em quatro momentos: casual (dia a dia), descolada (quando quer marcar presença), poderosa (relacionada com glamour) e, no ápice dessa escala, entre quatro paredes. Navarrette se diz animado com o segmento, que trouxe agradáveis surpresas nas últimas semanas. “Lançamos um massageador íntimo recentemente e vendemos em dois dias o que esperávamos vender em 20.” Além do massageador, a linha é composta de géis íntimos, velas corporais, perfumes e jogos de cartas eróticos, vendidos aos clientes pelas mesmas consultoras que vendem os cosméticos da Eudora.

Siga o líder - O impulso do Walmart fez com que varejistas americanas concorrentes, como Walgreens, Target, Kroger e Safeway, também passassem a abrir espaço em suas prateleiras aos vibradores e correlatos. A CVS, segunda maior cadeia de farmácias dos EUA, aumentou em cinco vezes o espaço para a venda de acessórios sexuais. Todos eles fizeram estreias discretas e raramente discutem o tema abertamente. Um porta-voz do Walgreens, a maior cadeia de farmácias do país, disse à revista Newsweek que a empresa “se adapta às tendências e mudanças do interesse dos consumidores” e prefere oferecer “produtos discretos”.

Na Europa, o maior símbolo de que o sexo não é mais um tabu no mundo dos negócios é a megastore da grife italiana Giorgio Armani, em Milão. Sem perder a elegância, a Armani optou por vender nessa loja produtos da empresa OhMiBod, conhecida por ter criado um vibrador de design minimalista, dotado de uma tecnologia que sincroniza a intensidade do aparelho de acordo com a música que está tocando no celular. Os aparelhos custam entre US$ 80 e US$ 130. “Sinto que estamos em meio à revolução sexual 2.0”, disse Suki Dunham, fundador da OhMiBod, à rede de tevê americana NBC. Na internet não foi diferente.

A Amazon estreou no segmento com 37 mil itens em 2005. Sem alarde, sem investimento de marketing e sem preconceito, o portfólio foi se ampliando e hoje oferece mais de 60 mil produtos. A maior varejista online do mundo tem de tudo: vibradores de diversos formatos e tamanhos, bonecas infláveis, itens fetichistas como correntes, entre muitos outros. Os consumidores recebem suas encomendas em uma caixa da Amazon como qualquer outra, driblando assim qualquer tipo de constrangimento. Mas não foi sempre assim. Há não mais que uma década, os sex shops, como são conhecidos os templos do erotismo, eram ambientes lúbricos e soturnos.

Estavam localizados, geralmente, próximos a ruas populares, embora fossem pouco visíveis, quase escondidos do grande público. “Agora os comerciantes estão transformando suas sex shops em butiques sensuais, que oferecem um ambiente mais agradável aos clientes”, diz Paula Aguiar, presidente da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme). Segundo a entidade, o mercado brasileiro de acessórios eróticos deve faturar R$ 1,5 bilhão neste ano em mais de dez mil pontos de venda. Um exemplo dessa tendência são as duas lojas da Siricutico, em São Paulo. Criada pelas sócias Débora Freitas e Priscila Luisi, o estabelecimento simula o ambiente de um quarto feminino para ressaltar o clima intimista.

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“Somos uma loja de bairro, nossos vendedores chamam os fregueses pelo primeiro nome”, afirma Débora, que é arquiteta. A aposta no público feminino faz sentido. Segundo a Abeme, 76% do público das butiques sensuais são mulheres. Elas predominam nas vendas porta a porta (88%), nos sex shops tradicionais (65%) e até mesmo nos canais virtuais (60%). Quem também vai aprofundar o investimento em canais de varejo nesse mesmo estilo é a Hot Flowers, maior fabricante de produtos eróticos do Brasil, com faturamento anual de R$ 25 milhões, que hoje conta com 12 lojas. Todas usam a marca Hot Flowers, embora sejam de seus parceiros comerciais.

O modelo adotado por Edvaldo Bertipaglia, fundador e presidente da empresa, é similar ao do sistema de franquia. Mas ele não cobra taxas nem os obriga a adotar um visual padronizado nas lojas. Seu próximo movimento é incentivar a abertura de mais 20 pontos de vendas até o fim deste ano. “A tendência é essa, vamos seguir o exemplo da Apple”, diz Bertipaglia, referindo-se à bem-sucedida estratégia da companhia fundada por Steve Jobs de criar lojas próprias. Dentro dessa mudança geral de comportamento, um papel importante é desempenhado pelas redes sociais. Aplicativos como Badoo e Grindr transformam os celulares em verdadeiros radares do sexo, com os quais é possível detectar por meio do GPS onde há pessoas dispostas a uma relação sem compromisso.

Se não bastasse isso, aplicativos do Facebook também estão ajudando pessoas interessadas em sexo casual. Um dos mais usados no Brasil é o Pegava Fácil, da start-up pernambucana 30Ideias. Com ele, o usuário marca os amigos nos quais gostaria de “pegar” de maneira sigilosa. Se o sentimento é mútuo, o programa aponta isso, o que facilita bastante a aproximação dos envolvidos. Josemando Sobral, um dos criadores, disse ter se inspirado no aplicativo americano Bang With Friends, mas percebeu que com esse nome o programa não teria êxito por aqui. “O Bang tem uma conotação sexual muito direta, o que não é o estilo do brasileiro”, diz Sobral. Ele conseguiu arrebanhar 40 mil usuários no seu aplicativo.

Camisinha, o acessório - Os fabricantes de preservativos também tiveram de se reposicionar nessa nova fase da indústria do sexo. Especialistas são unânimes em apontar que o medo de contrair uma doença sexualmente transmissível (DST), que atingiu a geração anterior, já não afeta os jovens de hoje. Agora, as empresas que disputam esse mercado, cujo faturamento anual no País é de R$ 246 milhões, o vendem como um acessório sexual. “Segurança ainda é o princípio básico, mas adicionamos recursos que aumentam o prazer, como texturas e efeitos quentes”, diz Denise Santos, gerente de marketing no Brasil da multinacional americana DKT, dona da marca Prudence. O grupo australiano Ansell, dono da marca Blowtex, aposta em um preservativo chamado Skin, que de tão fino e sensível dá a sensação de não se usar nada, e no Turbo, que esquenta a genitália feminina.

“A percepção do público mudou e quem não inovar não vai ficar nesse mercado”, afirma Bruno Koudela, gerente de marketing da empresa no Brasil. A líder de mercado Hypermarcas, dona da marca pioneira dos preservativos no Brasil, Jontex, criada em 1936, e das linhas de camisinha Lovetex e Olla, também investe na estratégia de agregar valor às camisinhas. Ultrapassado o puritanismo que durante muito tempo associava o sexo ao pecado e cerceava as manifestações públicas de erotismo, a revolução sexual adquire novas feições nos dias de hoje. O que era proibido passou a ser permitido e visto com naturalidade. O direito ao prazer em todas as suas manifestações se transformou numa realidade, abrindo uma avenida de oportunidade de negócios. Empresas visionárias já se aperceberam disso e estão ganhando dinheiro com essa nova era. E isso é só o começo.

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A reinvenção da pornografia

A redescoberta do mercado de sexo trouxe mudanças para a indústria de filmes pornográficos. A profusão de conteúdo adulto disponível gratuitamente na internet gerou um baque no setor de entretenimento adulto. Em 2006, as performances de atores e atrizes filmados em DVD geravam receita estimada de US$ 90 bilhões. Seis anos depois, geravam a bagatela de US$ 10 bilhões. Esse cenário foi sentido pela icônica produtora de filmes pornôs Brasileirinhas, cuja principal renda até o começo da década era a venda de DVDs em bancas e para videolocadoras. Em cinco anos, o faturamento da empresa caiu pela metade. O diretor da Brasileirinhas, Clayton Nunes, resolveu seguir a máxima “se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele”.

Hoje, os sites da empresa contam com cinco milhões de visitas mensais e oferecem serviço de assinatura. O principal deles é o reality show “A Casa das Brasileirinhas”. Atrizes pornôs são confinadas em uma casa cheia de câmeras e devem realizar provas sexuais. No começo, o programa era conduzido por Alexandre Frota. No mês passado, ele foi substituído pelo ator pornô Kid Bengala. “Entrego o que o público do Big Brother quer realmente ver”, diz Nunes. Atualmente, a “Casa das Brasileirinhas” tem seis mil assinantes. Os clientes são sorteados para participar da casa e fazer sexo com as participantes. “Tivemos que nos reinventar”, afirma Nunes. Ele fala não só por si, mas por toda a indústria de filmes eróticos.


Disponível em http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/124824_OS+NOVOS+LUCROS+DO+SEXO. Acesso em 07 out 2013.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Oito razões para valorizar o mercado LGBT

Jussara Coutinho
Nov 7, 2012 

Não é só o preconceito e a homofobia que merecem atenção no universo gay. O mercado LGBT é muito promissor e aqui enumero 8 razões para dar valor a este público e constituir motivos para trabalhar com esse nicho.

1. A população gay no Brasil ultrapassa 18 milhões
Não há como negar o potencial de um nicho que possui tantos adeptos. São 18 milhões de pessoas que usufrui de serviços, consomem e viajam diariamente. Só em nosso país.

2. A renda média dos homossexuais está acima de R$3.000,00 e 47% está na classe AB
Os homossexuais configuram um cenário onde há melhor escolaridade, maior interesse à cultura como livros, museus e cinemas e também grande parte ocupa boas posições no mercado. Desta forma, o grupo ocupa um espaço de pessoas críticas, exigentes e que possuem dinheiro para investir e consumir.

3. Casais gays jantam fora dez vezes mais que os héteros
O ramo alimentício é um dos mais atraentes para homossexuais. Por ser um grupo mais animado e curioso, grupos de amigos e casais adoram marcar encontros em restaurantes e provar diferentes tipos de comida enquanto conversam.

4. Como menos de um quarto deste público não tem filhos, há mais dinheiro disponível para gastar consigo
Muitos casais homossexuais adotam filhos ou, no caso de lésbicas, realizam a inseminação artificial. No entanto, a maioria dos casais opta por não terem filhos ou simplesmente demoram mais para tê-los. Assim, os gastos são diminutos e há um maior investimento em imóveis, carros e viagens. De acordo com a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS), o perfil movimenta R$ 150 bilhões por ano no Brasil. Além disso, 78% dos gays têm cartão de crédito e gastam 30% mais que os héteros em bens de consumo.

5. 48% dos gays são mais ligados a novas tecnologias do que os héteros (38%)
Homossexuais são mais adeptos a tecnologias, assim como demonstram uma maior necessidade de estar atualizado em relação aos lançamentos.

6. Homossexuais passam mais tempo na internet do que héteros
Alguns sites como o Disponível.com, já apostou no potencial online deste grupo. Como passam muito tempo navegando, um portal de notícias com que se identifiquem e não são atacados, ou mesmo uma loja virtual que condiz com seu estilo e fale sua linguagem tem grandes chances de dar certo.

7. Grandes marcas como Itaú e Tecnisa já se colocaram como friendly
Marcas como o Itaú e a Tecnisa, já entenderam e se adaptaram à nova realidade. O público gay existe, é grande e quer atenção. Estas marcas tem dialogado com os homossexuais em propagandas e redes sociais, principalmente, e já geraram respostas positivas.

No Dia dos Namorados, o Itaú publicou um desenho composto por um casal heterossexual, um casal de gays e um de lésbicas com a frase: “Feliz Dia dos Namorados Do Seu Jeito”. Para a Parada Gay de São Paulo, a instituição também se manifestou:

O banco ainda permite o financiamento imobiliário com duas pessoas solteiras do mesmo sexo, mesmo que não haja parentesco ente si. Pesquisas da inSearch mostram que 58% do grupo possuem parceiro fixo, e a Tecnisa também estava atenta e faz ações do tipo:

8. A Parada do Orgulho Gay LGBT em São Paulo une mais de 3 milhões de pessoas
A Parada Gay de São Paulo é um dos eventos que mais movimento a economia do país. São milhões de pessoas vindas de diversos lugares do Brasil e do mundo. Aqui, elas se hospedam, comem, fazem compras e conhecem as principais atrações da cidade. Ponto positivo para o lucro e para a internacionalização da cidade.

Está mais do que claro como é expressiva a necessidade de atenção a este nicho. É preciso se comunicar com este grupo, conversar bem. Eles não procuram produtos ou empresas específicas e, muito pelo contrario, isto não precisa ocorrer. O que deve ser feito é ver com outros olhos e enxergar o potencial deste grupo. Um negócio adaptado pode tomar outras proporções de desenvolvimento e faturamento. Porém, é necessário mais do que apenas levantar a bandeira gay. É necessário o respeito, o tratamento igualitário e a valorização. É necessário agir de acordo com o que se propõe fazer.

Disponível em http://www.ideiademarketing.com.br/2012/11/07/oito-razoes-para-valorizar-o-mercado-lgbt-lesbicas-gays-bissexuais-e-transgeneros/. Acesso em 05 set 2013.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Despesas do turismo homossexual crescerão 34% este ano

 EFE
10/08/2012

As despesas do turismo homossexual no Brasil crescerão este ano 34 %, quase quatro vezes a média mundial, informaram nesta sexta-feira em São Paulo fontes do setor durante a abertura da feira de negócios ''Expo Business LGBT Mercosul 2012''.

Ao informar as projeções, o presidente da Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat GLS), Oswaldo Valinote, indicou que o crescimento médio mundial será de 9% e gerará negócios de cerca de US$ 165 bilhões.

Valinote ressaltou que os operadores turísticos no Brasil e em alguns países do cone sul devem estar ''preparados'' para a demanda com um atendimento diferenciado.

Segundo o relatório da empresa de consultoria InSearch, o comércio de produtos e serviços para o público homossexual no Brasil movimenta anualmente R$ 150 bilhões.

Por sua vez, a Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, evento que a cada ano reúne mais de 2 milhões de pessoas, informou que o país tem 18 milhões de homossexuais em um universo de 192 milhões de habitantes.

No Brasil, durante o ano acontecem cerca de 150 paradas LGBT e existem 230 ONGs ligadas a esse público.

Na feira, o estado de Pernambuco apresentou o selo para identificar os serviços para o público homossexual oferecidos na ''Rota da Diversidade'', criada em 2009 pelo governo estadual e pelos operadores regionais de turismo.

Os programas e planos desenvolvidos com sucesso para os consumidores homossexuais pelos governos e operadores locais em Tel Aviv (Israel), Mendoza (Argentina) e Uruguai também estão expostos na feira que começou hoje e termina amanhã em São Paulo. 

Disponível em <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/despesas-do-turismo-homossexual-crescerao-34-este-ano>. Acesso em 07 set 2012.

domingo, 9 de setembro de 2012

Mercado do sexo: a fantástica indústria do fetiche

Simão Mairins
06 de setembro de 2012

Em 79 d.C., mais precisamente no dia 24 de agosto, o vulcão Vesúvio destruiu completamente as cidades de Herculano e, a mais notória, Pompeia, ambos centros importantes do Império Romano. A história daquela noite ficou, então, literalmente sepultada durante cerca de 1.500 anos, até que, durante escavações para uma obra de desvio do curso do rio Sarno, trabalhadores esbarraram em antigos muros em ruínas.

Na época, alguns profissionais chegaram a ser chamados para averiguar os achados, mas acabaram optando, inexplicavelmente, por não investigá-los. No século XVIII, entretanto, a região voltou a ser escavada e a história do dia em que o Vesúvio acordou veio à tona, explicando o motivo pelo qual os primeiros a se deparar com as ruínas (durante a repressora Idade Média) preferiram não tocá-las.

A cidade era um imenso centro dedicado ao prazer, e o sexo, em todas as suas formas imagináveis (e talvez até inimagináveis, para os mais puritanos!), inundava as ruas e clubes naquele fatídico 24 de agosto. Explorações realizadas nos últimos três séculos extraíram do que restou de Pompeia afrescos eróticos, taças com cenas de sexo em alto relevo, várias esculturas com representações do deus grego da fertilidade, Príapo, e até postes construídos com conotações fálicas.

Uma cidade como Pompeia seria inconcebível nos dias de hoje. Depois de quase dois milênios de transformações culturais e redefinições de paradigmas, práticas como aquelas passaram a ser socialmente reprimidas. Mas o mundo, evidentemente, não matou o erotismo e ainda inventou a pornografia.

Tabu ou não, o fato é que pequenos mundos devotados ao prazer são mais comuns hoje do que se pensa e, como quase tudo em sociedades capitalistas, acabaram sendo responsáveis por movimentar negócios e, nesse caso específico, construir sólidos e importantes mercados.

Pequenas pompeias modernas

Dedicadas especialmente a adeptos de um estilo de vida liberal, algumas iniciativas têm ganhado espaço no Brasil e no mundo. Em São Paulo, por exemplo, estão localizadas algumas das mais famosas casas de swing do país.

Espaços normalmente bem amplos, as casas de swing são aparentemente boates como todas as outras. Por dentro, entretanto, agregam espaços reservados para que dois ou mais casais se encontrem, shows de strip-tease e ambientes dedicados à realização de fetiches (mais ou menos como os afrescos de Pompeia), além de, é claro, permitir que as pessoas façam sexo em qualquer lugar do clube (sim, também como nas ruas de Pompeia).

Com o crescente número desses estabelecimentos, as casas têm procurado inovar, acrescentando serviços e buscando se diferenciar na qualidade de requisitos cruciais nesse tipo de negócio. Um clube localizado na região de Moema, em São Paulo/SP, por exemplo, aposta no quesito higiene ao extremo, oferecendo, entre outras coisas, dispositivos com gel antibactericida nas cabines reservadas e antisséptico bucal nos banheiros.

Outro fator importante é o sigilo. Normalmente, quem frequenta casas de swing não quer se expor fora daquele ambiente. Por isso, uma série de cuidados deve ser levada em conta e o grau de importância dado por cada empresa a esse quesito pesa bastante na decisão dos clientes.

Um mecanismo adotado para garantir maior discrição é dar preferência à entrada apenas de casais. Em alguns casos, inclusive, há necessidade de cadastro prévio para entrada nos clubes. Além disso, nos que recebem pessoas desacompanhadas, os preços são bem mais caros para quem entra sozinho (na maioria das casas, o ingresso de homens solteiros custa entre quatro e cinco vezes mais que o de casais).

Perdidos em um barco

O swing e demais formas de sexo em grupo não são, entretanto, exclusividade das casas noturnas especializadas. Há, por exemplo, agências de turismo dedicadas exclusivamente à organização de "cruzeiros liberais". A CasalFirstTour é uma delas. Há sete anos atuando no segmento, ela organiza viagens para casais swingers com destinos nacionais e no exterior.

No Brasil, normalmente, os destinos mais procurados são regiões de serra ou praias nobres, de preferência bem afastadas de grandes aglomerações urbanas. Já no exterior, a agência explica que o Caribe e a Europa são os locais mais procurados pelos clientes brasileiros.

Uma das últimas viagens organizadas pela CasalFirstTour teve como destino a cidade de Balneário Camboriú, apresentada na divulgação como "a mais liberal do Brasil". O pacote incluía desde hospedagem em um hotel fechado apenas para o grupo até transporte para a praia do Pinho (naturista), além de uma noite em uma famosa casa de swing da cidade.

"A agência foi criada há sete anos com o objetivo de oferecer tranquilidade, ambiente agradável, conforto e discrição aos casais liberais que procuram opções de lazer fora dos clubes convencionais do segmento. As viagens são planejadas com muita cautela, para que possam atingir excelência e qualidade no atendimento", dizem os donos da empresa.

Brinquedos

Outro segmento bastante forte no mercado erótico é o de "brinquedos". A empresa Adão&Eva Toys é uma das mais conhecidas fabricantes e importadores desse nicho no Brasil. O diretor comercial da companhia, André Luiz Marques, explica que, por lidar com a imaginação e a fantasia das pessoas, a marca precisa criar coisas novas e atrativas. "Viajamos para outros países e visitamos feiras especializadas, onde encontramos novas tendências, novas tecnologias, novos materiais", explica André.

"Alguns fatores são cruciais na hora de criar um produto. O primeiro é o material. Temos diversos tipos, como vidro, plástico, látex e silicone. Além disso, a tecnologia empregada nas funções é também um ponto importante. Todos querem um produto que faça mil e uma coisas", conta André.

Para quem pensa que atuar nesse segmento é fácil, André destaca que a coisa não é tão simples quanto parece. "No segmento erótico ainda lidamos com o preconceito e tabus. Veja como exemplo nossa dificuldade para fazer propaganda. Muitos canais têm a porta fechada para o nosso segmento - revistas, rádios, televisão. Alguns termos não podem ser utilizados, algumas imagens também. Quando chega o dia dos namorados todos querem matéria, o assunto tem destaque. Mas além dessa época é difícil de se ter espaço", conta o diretor.

Mesmo com as dificuldades, a situação é boa para o segmento. Nos últimos cinco anos, o faturamento tem crescido em torno de 15% anualmente.

Mercado de preservativos: mais que saúde

Embora massivamente incentivado por campanhas governamentais e já absorvido como uma questão de saúde pública, o uso de preservativos por muito tempo enfrentou certas resistências por ser visto por alguns casais, e principalmente por homens, como um limitador do prazer. Justamente para quebrar essa barreira os fabricantes começaram uma corrida pelo desenvolvimento de produtos mais atrativos. E aí surgiu uma infinidade de opções: camisinhas mais sensíveis, retardantes, com sabor, com cheiro e muito mais.

Agora visto não mais somente como um mecanismo de segurança, mas também enquanto um "algo a mais" na relação, o preservativo ganha cada vez mais mercado. "Hoje, o grande desafio da categoria é criar preservativos diferenciados, ou seja, ao mesmo tempo que oferece segurança, o produto também proporciona prazer. Por isso cresce o consumo dos preservativos retardantes, sensitive, hot e outros, e por outro lado, vemos a queda do preservativo lubrificado comum. Estamos preparados para atender este novo perfil de consumidor, que vê no preservativo um item essencial na hora do sexo, não só para sua segurança, mas também para aumentar o seu prazer", conta Bruno Koudela, gerente de marketing da Blowtex.

Motéis: luxo, comodidade e expansão da experiência

Casais heterossexuais tradicionais interessados apenas em uma noite de sexo em um ambiente diferente. Jovens namorados. Casais homossexuais. Swingers. Essa é apenas uma pequena segmentação dos diferentes públicos que os motéis atraem e precisam saber atender. Por isso, uma tendência forte nesse setor hoje, principalmente nos estabelecimentos de luxo, é a ampliação do mix de serviços e produtos.

O Union Motel, localizado em João Pessoa/PB, é um empreendimento relativamente novo, mas tem se destacado bastante em âmbito nacional por adotar uma postura pouco tradicional para o segmento, tanto no que diz respeito aos serviços prestados quanto pela imagem pública que tem construído.

Eleito como um dos dez melhores motéis do Brasil, a empresa procura fazer jus ao título investindo na diversificação de sua oferta, direcionando sua comunicação não mais apenas aos homens, mas também às mulheres, e tentando transformar uma ida ao motel em mais que uma simples noite (ou dia) de sexo.

"Apesar de sermos conhecidos pela irreverência das nossas peças publicitárias, nos preocupamos em não fazer algo vulgar ou machista, que possa desvalorizar as mulheres. Nas suítes, elas encontram produtos de excelente qualidade de marcas conhecidas, fazendo com que elas se sintam à vontade e valorizadas como sempre devem ser", conta Jeorge Segundo, administrador do Union.

Sobre os serviços, Jeorge destaca que a empresa resolveu "investir, por exemplo, em um totem de atendimento eletrônico para atender os clientes sem um porteiro, dando uma maior sensação de discrição. Passamos a entender bem não só de hotelaria e hospedagem, mas da área gastronômica para trazer um conceito de Motel Gourmet, bem como de lavanderia profissional. Temos uma estrutura diferenciada, desde a arquitetura aos equipamentos, como home theater, notebook, área externa com banheira ou ofurô em todas as suítes. A maior de nossas suítes, por exemplo, a Porto Ravel, tem 300m², com piscina com água aquecida, cinema, sauna, sala de estar, quarto duplo e até mesmo uma boate, proporcionando entretenimento aos nossos consumidores", conta Jeorge.

A revolução da web

No ano passado a internet ajudou a revolucionar uma parte importante do Oriente na chamada Primavera Árabe, que mobilizou milhares de pessoas na Europa e na América, e também no movimento Occupy Wall Street, reafirmando com bastante ênfase seu potencial transformador. O mercado erótico, evidentemente, assim como vários outros segmentos das economias, não ficou alheio a esse poder. No ciberespaço, a indústria pornô ganhou novo fôlego: comprar em uma sexshop ficou mais sigiloso e, para as marcas, surgiu uma nova forma de chegar aos seus públicos.

Ao passo que algumas das principais produtoras de filmes pornôs fechavam suas portas, uma infinidade de sites e blogs começou a ganhar a rede, fazendo com que canais eróticos e pornográficos, juntos, se tornassem o nicho mais acessado em todo o mundo.

Para se ter uma ideia da dimensão do mercado movimentado pelas páginas com conteúdo adulto na internet, apenas no Sexlog - site brasileiro que se apresenta como "rede social de sexo e swing" - há mais de 2 milhões de pessoas cadastradas, responsáveis pelo compartilhamento de cerca de 10,5 milhões de fotos e a troca de mais de 600 milhões de mensagens. Do total de usuários, boa parte paga para usufruir de serviços extras.

Já no site Xvideos.com, que tem servidores na Holanda, mas tem usuários praticamente no mundo todo, são postados diariamente cerca de 2.000 vídeos, segundo estimativas da própria empresa. Estruturado também como uma espécie de rede social de vídeos, bastante parecida com o Youtube em sua dinâmica, fatura com publicidade.

Ao mesmo tempo, o público de sexshops ganhou a oportunidade de comprar sem o desconfortável risco de ser visto entrando em uma loja. "A compra on-line oferece ao consumidor total discrição, desde o momento em que ele está procurando produtos até a entrega, que são realizadas em caixas pardas sem constar o nome da loja na caixa ou na nota fiscal", conta Daniel Passos, diretor-geral da Loja do Prazer, sexshop totalmente on-line.

Para o marketing, a internet tem se demonstrado também um importante canal. A marca de preservativos Prudence, por exemplo, realiza anualmente a promoção "Testadores de Camisinhas Prudence", que premia consumidores com produtos da marca por meio de um concurso cultural. "A cada ano nos surpreendemos ainda mais. Este ano, a internet movimentou muito a promoção – fosse postando contos eróticos para concorrer à história vencedora, fosse divulgando e acompanhando os textos no hotsite. Com grande interação nas redes sociais, a página da marca no Facebook alcançou quase 100 mil seguidores ao término da campanha", comenta Denise Santos, gerente de marketing da DKT do Brasil, empresa detentora da marca Prudence.

E aí: você vai continuar achando que Pompeia simplesmente desapareceu do mapa? 

Disponível em <http://www.administradores.com.br/informe-se/administracao-e-negocios/mercado-do-sexo-a-fantastica-industria-do-fetiche/60110/>. Acesso em 07 set 2012.