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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Papai é homem ou mulher? Questões sobre a parentalidade transgênero no Canadá e a homoparentalidade no Brasil

Érica Renata de Souza
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2013, v. 56 nº 2


RESUMO: Neste artigo apresento uma discussão sobre a categoria transgênero, em especial no contexto canadense, a fim de problematizar a questão da parentalidade transgênero no Canadá e da parentalidade de travestis e transexuais no Brasil. Com base nos dados de campo, o foco está nos transgêneros canadenses que lidam com os constrangimentos sociais e culturais para as suas manifestações afetivas, familiares, parentais e sexuais, analisando essas práticas num diálogo com o cenário brasileiro no que se refere à homoparentalidade. Questiono em que medida não seria relevante também, no Brasil, tanto do ponto de vista acadêmico quanto político, possibilitar a existência discursiva das parentalidades transexual e travesti para além da homoparentalidade. Por fim, analiso as concepções de paternidade que perpassam essas práticas, buscando compreender em que medida elas reconfiguram as representações do pensamento ocidental ao performatizarem a parentalidade na sua relação com o gênero. 






sábado, 13 de dezembro de 2014

Após morte súbita, mulher transgênero é enterrada como homem pela família nos EUA

Marie Claire
24/11/2014


Jennifer Gable, uma mulher transgênero que trabalhava como gerente de vendas num banco em Idaho, nos Estados Unidos, morreu subitamente em serviço no último dia 9, vítima de um aneurisma aos 32 anos, de acordo com amigos próximos. Mas além do choque de perder a amiga, eles foram surpreendidos ao comparecer ao funeral e encontrar Jennifer com o cabelo curto, vestida de terno e apresentada como Geoffrey, seu nome de batismo.

“Estou muito triste”, escreveu uma das colegas de Jennifer, Stacy Dee Hudson, no Facebook, segundo o jornal “Miami Herald”. “Fui ao funeral de uma querida amiga hoje. Eles cortaram o cabelo dela, vestiram de terno. Como podem ter enterrado ela como Geoffrey se ela mudou de nome legalmente? Muito triste. Jen, você fará muita falta e as pessoas que a conheceram sabem que estará em paz.”

Jennifer vivia há alguns anos como mulher, mas no obituário on-line da casa funerária, onde é apresentada como Geoffrey Gable ao lado de uma foto antiga como homem, não há nenhum registro sobre sua mudança de identidade de gênero.

“Geoffrey Chalres Gable, 32, Boise, morreu subitamente em 9 de outubro de 2014, enquanto trabalhava na banco Wells Fargo”, diz o texto, que menciona o casamento com a ex-mulher: “Ele casou com Ann Arthurs em 2005 no Havaí. Eles se divorciaram mais tarde.” O texto diz ainda que Geoff  foi integrante da primeira Igreja Cristã de Twin Falls, sua cidade natal, onde foi batizado em 1996.

“Ela fez o que precisava para ser reconhecida legalmente como sua verdadeira identidade. Seu pai simplesmente apagou tudo isso. Mas quem sabe o que esse pai estava passando?”, disse a ativista de direitos humanos Meghan Stabler, que disse ter conhecido Jennifer quando ela estava no processo de transição de gênero.

O caso chamou a atenção até mesmo de personalidades como a atriz transgênero Laverne Cox, a Sophia Burset do seriado “Orange is the New Black”, que compartilhou a notícia no Facebook. “Isso é tão assustador para mim como uma atriz trans”, escreveu.

Um dos responsáveis pela funerária, Mike Parke, disse ao “Miami Herald” que o atestado de óbito de Jennifer a identificava como homem. “O atestado dizia Geoffrey também conhecido como Jennifer Gable”, disse. “Ela viveu os últimos anos como Jennifer e eles a enterraram como Geoff. Um situação perturbadora para todos nós envolvidos.”


Disponível em http://revistamarieclaire.globo.com/Web/noticia/2014/11/vitima-de-morte-subita-mulher-transgenero-e-enterrada-como-homem-pela-familia-nos-eua.html. Acesso em 08 dez 2014.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Polícia do Irã define como mulher devem se vestir neste inverno

EFE
06/12/2014


A polícia do Irã estabeleceu o código de vestimenta para as mulheres neste inverno e advertiu que as que não o cumprirem serão levadas a sedes para que adequem sua aparência, disse o chefe da polícia de Segurança Moral, o coronel Mohamad Massoud Zahedian.

"O gorro não é um véu integral para as mulheres", avisou Zahedian, e alertou que "enfrentaremos todas aquelas que usarem casacos curtos, justos e com imagens que sejam alheias à cultura iraniana".

Entre as peças proibidas estão "as malhas que marquem o corpo ou com desenhos vulgares", informou a página oficial da polícia.

Zahedian lembrou que a Polícia de Moralidade, que vigia as ruas, levará todas as que não respeitarem o código "para as designadas sedes para que modifiquem sua aparência", sem dar mais explicações sobre esses lugares.

"A castidade e o véu das mulheres estão definidos na sociedade. Pode ser que uma vestimenta cubra bem, mas que tenha um estilo de demonstrar a beleza ou de exibicionismo" que ponha em perigo a castidade da sociedade, alegou Zahedian.

No Irã, por lei, as mulheres devem ficar com todo o corpo coberto, incluídos braços, pernas, cabelo e pescoço.

Mas muitas, principalmente as mais jovens em grandes cidades como Teerã ou Isfahan, cortam as mangas compridas dos "capas" e usam só um terço da cabeça coberto com lenços.

Grupos radicais pediram em várias ocasiões que as autoridades obriguem as mulheres a cumprir com mais rigor o código de vestimenta islâmico.


Disponível em http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2014/12/policia-do-ira-define-como-mulheres-devem-se-vestir-neste-inverno.html. Acesso em 8 dez 2014.

sábado, 25 de outubro de 2014

Casamento não dá direito ao marido de forçar relação sexual com a mulher

Consultor Jurídico
3 de agosto de 2014

O matrimônio não dá direito ao marido de forçar a parceira à conjunção carnal contra a vontade. Assim entendeu a juíza Ângela Cristina Leão, da comarca de Goianira, que condenou a 9 anos, 4 meses e 15 dias de reclusão, em regime fechado, um homem que estuprou a própria mulher. O réu não pode recorrer em liberdade.

Na sentença, a juíza afirmou que embora haja, no casamento, a previsão de relacionamento sexual, o “referido direito não é uma carta branca para o marido forçar a mulher, empregando violência física ou moral. Com o casamento, a mulher não perde o direito de dispor de seu corpo, já que o matrimônio não torna a mulher objeto”.

Para a configuração do estupro não há, necessariamente, a coleta de provas físicas que demonstrem lesões ou indícios. “A palavra da vítima é uma prova eficaz para a comprovação da prática, se corroborada pelas demais provas e fatos”, como, no caso em questão, o depoimento das testemunhas sobre a conduta agressiva e usual do homem, afirmou Ângela Cristina. Pessoas próximas ao casal testemunharam que as brigas eram constantes e que a mulher tentava a separação, contra o desejo do homem. No episódio em questão, o marido, inclusive, confessou ter ameaçado a mulher com uma faca. Ele teria, também, proferido palavras de baixo calão para depreciar e constranger a vítima.

Em defesa, o marido alegou que apesar da intimidação confessa, sua mulher teria aceitado praticar o ato sexual. Contudo, a juíza explicou que mesmo sem a vítima oferecer resistência física, o crime de estupro é caracterizado, já que, “de um lado, houve a conduta opressora e agressiva do acusado; de outro, a conduta de submissão e medo da vítima”. 


Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-ago-03/casamento-nao-direito-marido-forcar-relacao-sexual. Acesso em 25 out 2014.

sábado, 20 de setembro de 2014

"Existimos pelo prazer de ser mulher": uma análise do Brazilian Crossdresser Club

Anna Paula Vencato
Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009

Resumo: Este trabalho está embasado em pesquisa de base etnográfica realizada de 2007 a 2009 com homens que praticam “crossdressing”. Buscou-se entender como o “se montar” ou “se vestir de mulher” é negociado em diversas instâncias de suas vidas, como as relações com família, trabalho, amigos, intra-grupo, etc. Também se buscou compreender como noções de gênero se articulam na produção das “mulheres” que constroem. Tentou-se compreender também como estes homens negociam com o estigma relativo à prática do “crossdressing” e com o segredo necessário para que mantenham o status em suas vidas quando desmontados. A pesquisa realizou-se em eventos do Brazilian Crossdresser Club (BCC) ou de membros deste clube, na internet e através de dezessete entrevistas. Questões como manejo do estigma, desvio, negociações do segredo e a construção de pessoa articulada a certas convenções de gênero nortearam a análise empreendida. O que se evidenciou, ao final é que antes de compreender as crossdressers como “marginais” ou “desviantes”, é preciso entender as estratégias que empreendem para manter uma “vida dupla”. Esta “vida dupla” das “crossdressers” informa que a ideia de uma separação entre desvio e norma precisa ser matizada: a gestão que fazem para manter esta duplicidade indica que se há, por um lado, um distanciamento das normas, por outro lado, há também um esforço para manter-se em diálogo com elas.





domingo, 27 de abril de 2014

Mulher é o primeiro “pai” em certidão de nascimento nos EUA

João Ozorio de Melo
10 de abril de 2014

Graças a uma ordem judicial indireta, uma mulher foi registrada como pai na certidão de nascimento de uma criança em Nashville (Tennessee). Conforme o registro, Emilia Maria Jesty, gerada por inseminação artificial, é oficialmente filha de Valeria Tango (a mãe, que gerou a criança) e de Sophy Jesty (o pai). O tribunal não determinou que Sophy fosse registrada como o pai da criança. Mas decidiu que Valeria e Sophy eram legitimamente casadas, apesar de o casamento entre pessoas do mesmo sexo nunca ter sido aprovado em Tennessee.

Elas se casaram em Nova York, estado que reconhece casamentos homoafetivos há tempos. E se mudaram para o Tennessee, onde, com a ajuda do Centro Nacional pelos Direitos das Lésbicas, entraram na Justiça para obter o reconhecimento oficial do casamento e, com isso, ter direito a todos os benefícios federais previstos em lei para casais e filhos.

A juíza Aleta Trauger emitiu uma “decisão preliminar”, determinando o reconhecimento do casamento celebrado fora do estado. A Procuradoria entrou com recurso, que está em andamento. Cerca de 50 casos estão correndo nos tribunais dos 33 estados que ainda proíbem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, de acordo com a agência Reuters.

Enquanto isso, no hospital de Nashville, em 27 de março, o casal exigia que os nomes das duas constassem na certidão de nascimento da filha. Foram muitas horas de discussões entre as mulheres, funcionários do hospital e do departamento de saúde, que se recusava a emitir a certidão. Porém, o departamento acabou cedendo às pressões, em razão da decisão judicial em Tennessee e decisões semelhantes de mais oito estados, também levadas em consideração.

Após concordar, emitiu rapidamente a certidão de nascimento, utilizando o único formulário disponível no sistema — o tradicional, que traz um campo para o nome da mãe e outro para o nome do pai. Como casamentos entre pessoas do mesmo sexo ainda não foram legalizados no estado, não há formulários para emissão de certidão só com os nomes de duas mães ou de dois pais.

Confusão

Dezenas de casais gays em diversos estados, mesmo onde a união entre pessoas do mesmo sexo já é reconhecido legalmente, lutam na Justiça para que seus nomes constem como pais na certidão de recém-nascidos. A situação está confusa em todo o país: cada estado, uma sentença.

A Califórnia já reconhece “pais do mesmo sexo” na certidão de nascimento, se forem legalmente casados; Massachusetts, também, deixando claro que vale para lésbicas e para gays. Iowa concede o benefício apenas às duas mulheres. Maryland, Nova York e Oregon também reconhece o direito de duas mulheres, mas abre uma brecha para homens, cumpridos alguns procedimentos adicionais. A maioria dos estados não reconhece coisa alguma.

Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-abr-10/mulher-primeiro-pai-certidao-nascimento-registrada-eua. Acesso em 17 abr 2014.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Personalidades nuas: um estudo sobre a nudez feminista

Nayara Matos Coelho Barreto
Universidade Federal Fluminense UFF Niterói/RJ
XXXIV congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011

Resumo: O presente artigo pretende investigar a configuração atual das representações do corpo feminino na mídia, examinando os usos deste corpo nu e a influência do ideal da arte feminista e suas transformações nas ultimas décadas. Nos anos 1960, o movimento feminista buscava ampliar as liberdades de gênero e reconfigurar o lugar da mulher na sociedade. Desde então a mídia de massa é uma das esferas que contribuiu para a configuração de novas amarras para a mulher contemporânea. Por isso, este artigo questiona de que modo a exibição do corpo nu poderia operar politicamente num sentido capaz de resistir à moral vigente, num contexto de constante espetacularização dos corpos, especialmente o da mulher. Para problematizar isso, apresento um breve percurso histórico sobre a arte feminista e sobre sua influencia nas novas práticas de exposição corporal, tais como o Teatro Burlesco, reconfigurado no final do século XX, e o site norte-americano Suicide Girls.com.



terça-feira, 18 de março de 2014

Historiadora debate Barbie, aborto, erotismo e os mitos que a mulher leva para a cama

Nina Lemos
18.07.2011

A historiadora Mary Del Priore, 59 anos, odeia a boneca Barbie. Explica-se. Segundo ela, foi com a chegada da boneca da Mattel ao Brasil, nos anos 70, que a mulher brasileira começou a ficar obcecada em ser loira, magra, consumista. “A Barbie ensina as crianças a serem putas”, diz essa senhora distinta, autora de 29 livros, o mais recente deles, Histórias Íntimas, um panorama sobre o erotismo e a intimidade no Brasil.

Mary é uma especialista em história brasileira com todas as credenciais de intelectual de sucesso. Foi professora na USP e fez doutorado na França. Mas ela gosta mesmo é de contar histórias, seja em romances ou em livros como Corpo a Corpo com a Mulher ou História do Amor no Brasil, ambos com mais de 40 mil exemplares vendidos. Sim, Mary é uma escritora de best-seller (o seu mais recente livro ocupava até o fechamento da edição o primeiro lugar na lista dos mais vendidos de não ficção) que não se considera intelectual, “mas uma boa pesquisadora”.

Mãe de três filhos (Pedro, 36 anos, Paulo, 34 e Isabel, 31) ela pertence a uma geração que quebrou tabus, porém também não dramatiza suas experiências. Está no segundo casamento, não teve crise ao criar os filhos ao mesmo tempo em que se dedicava a uma carreira intelectual e envelhece com tranquilidade. Questiona a obsessão pelo corpo, mas se apresenta na entrevista maquiada e elegantemente vestida.

O que preocupa mesmo essa moça distinta são as mulheres da geração dos 20, 30 anos. “A geração dos meus filhos quer fazer tudo ao mesmo tempo, o que é uma situação dramática”, ela avisa. E também acha que, por mais que as mulheres sejam independentes, sofrem de uma submissão grave: se não a homem nenhum, ao espelho.

“Isso é reflexo de um narcisismo muito grave. Antes, queríamos mudar o mundo. Hoje, sentimos falta de um engajamento em causas sociais, dos outros”, diz. Não, não pense que ela está falando que se você reciclar o seu lixo vai ser mais feliz. “Hoje se pensa muito ‘se eu fizer a minha parte, já está bom’. É triste, pois a pessoa continua isolada, achando que não precisa trabalhar coletivamente”, afirma.

Funk e sex shop

As palavras polêmicas saem com serenidade da boca dessa filha da elite carioca (estudou no tradicional colégio Sion). Na entrevista a seguir, ela questiona o funk brasileiro: “Acho a Tati Quebra-Barraco uma machista”. E também a internet. “Tem coisas maravilhosas, mas exibe a sexualidade de forma mecânica e ginecológica.” E acha que as pessoas não fazem tanto sexo, apesar da moda das sex shops e do excesso de exposição de nossas intimidades. “Quem tem tempo para ter amante com o trânsito de São Paulo?”, brinca. Enquanto serve café e bolo para a repórter na casa do século retrasado que escolheu para viver, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, Mary, mulher sofisticada, fala da abertura dos primeiros bordéis no Brasil, de aborto, plástica, do papel do homem... A vontade é de não parar de conversar com essa contadora de histórias.

Tpm - Você é de uma geração que quebrou tabus, queimou sutiãs. Qual acha que é a diferença entre sua geração de mulheres e a das que têm 20, 30 anos hoje?

Mary Del Priore - Acho que vocês têm uma vida extremamente sacrificada. Sempre reparo nisso quando pego a ponte aérea. Vejo mulheres absolutamente estressadas, ao mesmo tempo ligando para saber dos filhos e tendo que dar conta de muita pressão no trabalho. Essa geração de mulheres está ocupando postos em todas as áreas. Houve um avanço enorme. Nós fizemos um esforço para que nossas filhas se educassem e isso deu certo. Mas agora vocês estão no topo, estão no limite. Ter que dar conta da vida profissional e da vida privada é dramático. O desafio que chegou no fim do século passado é este: como ser a melhor esposa, a melhor profissional, a mais bonita, a mais inteligente. Isso me preocupa muito. Não sei o que vocês vão priorizar, se os afetos vão ficar comprometidos, se a saúde vai ficar comprometida...

Você acha que para a sua geração essas escolhas eram mais fáceis?

Na minha geração era mais simples. A família vinha em primeiro lugar. Você casava, tinha filhos. Só fui ver que existia a solidão como opção criativa quando fui morar na França nos anos 80. Isso era uma escolha de muitas mulheres de lá. Você deixar de lado o marido, os filhos, para cumprir os compromissos profissionais e intelectuais era a agenda. Não sei se isso é uma coisa de países com mais educação, onde você pode escolher os seus afetos, não é obrigada a casar. Ninguém é obrigada a casar lá. Isso está chegando agora ao Brasil, mas às custas de muitos sacrifícios.

Você é mãe de três filhos, foi professora universitária e já lançou 29 livros. Teve que fazer muitos sacrifícios para dar conta de tudo?

Não tive que fazer muitos sacrifícios. Sou um exemplo à parte. Me casei cedo e tive três filhos. Mas só depois que eles estavam crescidos voltei a estudar. E sabia exatamente o que queria fazer na universidade: história. Fiz um concurso de pós-graduação na USP e passei em primeiro lugar. Tive muita sorte. Não fiquei patinando, pensando no que queria fazer. E voltei a estudar quando meus filhos também já estavam na escola. Então, não me sentia culpada como as mulheres de hoje se sentem. Antes de voltar a estudar, eu era casada com um homem que estava indo muito bem na carreira dele, era a housewife perfeita! Mas voltei a estudar por vontade e isso não foi uma crise para mim. E tinha ajuda com os meus filhos, deu para conjugar tudo sem culpa. Eles iam para a escola, eu para a universidade.

E seu marido, seus pais, a incentivaram ou acharam que você ia abandonar a família?

Sempre tive muito apoio dos meus dois maridos para estudar. E, quando os meus filhos foram para a universidade, pude me dedicar só ao trabalho. E fui criada em um ambiente intelectual. Meus pais gostavam de juntar gente em casa, de políticos, como Carlos Lacerda, a poetas, como Olegário Mariano. Eu e meu irmão ficávamos no meio disso tudo, convivendo com os adultos. E sempre fui estimulada a ler, o que foi fundamental quando decidi que ia viver de escrever livros.

E, quando você foi morar fora para estudar, não teve que abrir mão do contato com seus filhos?

Eu estava recém-casada com meu segundo marido e de novo tive sorte. Era professora da USP e ele tinha negócios fora. Meus filhos foram comigo e tiveram a chance de passar esse tempo fora, o que acho que deu a eles uma visão de mundo diferente. Acho que a viagem não é só trocar de espaço físico. Isso te ajuda a avaliar a sua condição de brasileiro. Passei cerca de cinco anos fora. O que foi bom para que todos nós avaliássemos o que queríamos fazer. Foi quando me dei conta de que havia espaço para escrever esses livros que escrevo hoje.

Hoje temos esse sucesso de livros históricos, como o 1808, de Laurentino Gomes. Por que você acha que estamos com esse interesse pela história?

Na Europa existe uma tradição de romances históricos desde o século 19. Aqui, tivemos uma população basicamente analfabeta até o século 19. E hoje, com esse mercado de leitores se ampliando, o interesse pela história aumentou. Acho que um dos motivos é que, nesse período de globalização, todo mundo quer saber de onde veio. Senão, fica todo mundo perdido.

Por que resolveu direcionar seu trabalho a questões femininas?

Meu trabalho não é só sobre mulheres. Acabei escrevendo muito sobre corpo, amor. Mas escrevi 29 livros. Tenho uma coluna no Estado de S. Paulo e sou dessa geração que promoveu mudanças, isso me deu esse radar. Mas tenho interesse em fazer história romanceada. Sobre grandes personagens, como a condessa de Barral, a amante de dom Pedro II. Agora, resolvi, em Histórias Íntimas, falar sobre os temas que estão na ordem do dia, como racismo, homofobia. São as coisas que estão aí. E sobre os mitos do erotismo brasileiro. “As mulheres brasileiras são extremamente machistas. São independentes, mas quando chegam em casa querem ser tratadas como princesas. Esse é um grande paradoxo”

Um desses mitos é que as mulheres brasileiras são “calientes”. Você concorda com isso?

Acho que o grande problema das mulheres brasileiras é que elas são extremamente machistas. Não deixam os filhos lavarem a louça e querem ser chamadas de docinho em casa. E se identificam com as mulheres frutas, comestíveis. Fora de casa, são independentes. Quando chegam em casa, querem ser tratadas como princesas. Esse é um grande paradoxo. Elas casam para entrar em um conto de fadas.

E o que os homens buscam no casamento?

Homens e mulheres têm aspirações diversas em relação ao casamento. As mulheres querem que o casamento seja tudo, que preencha todas as coisas. O homem, quando casa, quer uma família, filhos. Eles procuram coisas realmente diferentes. Então, fica difícil dar certo.

Hoje, muitas mulheres são executivas, políticas. Existe o mito de que entrando pesado no mercado de trabalho a mulher tende a se masculinizar e a imitar o homem. Você concorda com isso?

Não concordo. Acho que a mulher brasileira sempre vai usar da sedução, por isso não vai virar um homem de saias. Temos esse exemplo histórico. No Brasil, desde os tempos coloniais, as mulheres sempre usaram do seu poder de sedução para ter poder. Elas são muito femininas. E ainda existe muito no Brasil mulheres que ganham dinheiro com o corpo. Todas querem ser modelo. Isso é característica de um país que ainda é muito miserável. O sonho é ser BBB, depois posar para a Playboy, ou seja, enriquecer vendendo o corpo. Isso vai mudar quando o país tiver mais educação.

Outra coisa que acontece no Brasil é que a mulher, quando envelhece, é chamada de feia. Já o homem fica charmoso. Como você e as mulheres da sua geração estão lidando com o envelhecimento?

A minha geração está podendo lidar melhor com o envelhecimento. Sabemos que ir ao cirurgião plástico uma vez por mês não vai resolver o problema de ninguém. Envelhecer é uma coisa chata. Você tem perdas. Se você era uma fundista, vai ter problema de joelho. Não é agradável. Agora, vejo que as mulheres da minha idade que estudaram não saem correndo para o cirurgião plástico com a primeira ruga que aparece. O bom de envelhecer é colocar as coisas na balança, ver o que você ainda quer fazer. Se você tem satisfação com a sua família, com o seu trabalho, seus amigos, você vai encarar o envelhecimento com serenidade. Para mim, isso não é um bicho de sete cabeças. “A mulher está preocupada em emagrecer, ser gostosa e não pensa no coletivo. Isso precisa mudar até para que ela possa deixar de ser escrava do espelho”

Mas muitas mulheres enlouquecem com as perdas físicas, a perda da beleza.

No passado, a velhice era respeitada, era sinal de sabedoria. Mas o século 20 é o século do corpo. E o que você vê hoje no Brasil é que as mulheres são escravas do espelho. A brasileira ainda está muito preocupada com seu próprio umbigo. Ela está preocupada em emagrecer, ser gostosa e não pensa no coletivo. Isso precisa mudar até para que a mulher possa deixar de ser escrava do espelho. E isso você vai conseguir pensando na sua sociedade, se engajando em alguma causa coletiva. E o que acontece hoje é que muitos pensam: “Se eu fizer a minha parte, já está bom”. Você recicla o seu lixo e acha que já fez a sua parte. E continua isolada dos outros achando que não precisa trabalhar coletivamente. Tudo isso faz parte de pensar só em si mesma, não sair de si, ser muito narcisista.

O Brasil é o segundo país em cirurgias plásticas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Ainda copiamos muito o modelo americano?

Começamos a copiar os Estados Unidos depois da Segunda Guerra. Antes era a Europa, só se falava francês nas escolas, esse era o modelo. A elite brasileira começou a ir para os Estados Unidos estudar nos anos 50. E, claro, temos a influência do cinema americano. A formação do macho brasileiro está muito ligada ao cinema americano. A importância do físico masculino vem dos filmes. Antes, os homens não tinham vaidade. A obsessão pela virilidade, essa coisa de colocar o pau na mesa, foi alimentada pelo filme americano, pelos faroestes.

A imagem da mulher também deve ter sido influenciada pelos filmes...

As primeiras loiras vieram do cinema americano. Para você ver, a moda da loira chegou ao Brasil no fim do século 19 com os bordéis, que são uma ideia importada da Europa. Cafetões começaram a trazer para o Brasil mulheres pobres que se diziam loiras. E é nessa mesma época que as bonecas francesas chegaram ao Brasil. Olha que loucura!

E hoje temos essa febre de loiras.

Isso começou nos anos 70, com a chegada da Barbie ao Brasil. É aí que começa o ideário do personal trainer, do fitness. E na mesma época começam as apresentadoras loiras na TV brasileira. Acho isso uma perversão! Em um país mestiço você brincar com boneca loira e ter como ídola uma apresentadora loira cria uma problema de autoestima muito sério nas crianças. Você disse em um dos seus livros que isso tem a ver com a obsessão das brasileiras pelas cirurgias plásticas. No Brasil a cirurgia plástica é uma coisa complicada. A mulher toma como parâmetro a Barbie, sendo o país esse caldeirão mestiço de negro, branco, índio. Então, como a mulher vai conseguir ser a Barbie? Não vai. Não é à toa que o Brasil é o segundo país em cirurgia plástica no mundo. A Barbie é uma boneca que ensina a menina a ser puta. E só isso. Ela só quer saber de roupa, nem liga para o Ken. Ela só ensina a consumir. As bonecas bebês, por exemplo, ensinavam a ser mãe. A Barbie ensina a consumir, e as garotas adoram. E não sei quando o reinado da Barbie vai acabar. Tinha jurado que jamais daria uma Barbie para minha neta. O que você acha que aconteceu? Já dei [risos].

Por que, afinal, você deu?

Porque não resisti. As meninas não resistem nem uma avó. Elas ficam loucas pela boneca. Não sei porque as meninas adoram aquela coisa toda rosa.

Além das cirurgias plásticas, hoje existe também a obsessão pela magreza.

Até os anos 80, para o homem, a mulher gostosa era aquela que enchia uma cama, a mulher com forma. Em um dos meus livros, entrevistei uma psicanalista que me disse que, quando as mulheres fazem plástica, isso não é para os homens, mas para elas. Dizem que a mulher sempre quer ser bonita para o homem. Mas acho que no fundo não é isso, é para ela mesma.
“A Barbie é uma boneca que ensina a menina a ser puta. Ela só quer saber de roupa, nem liga para o Ken. Ela só ensina a consumir. E não sei quando o reinado da Barbie vai acabar”

A plástica seria uma maneira de melhorar a autoestima?

Autoestima é uma palavra nova, ela deve estar no vocabulário há dez anos. As palavras vão acompanhando a história. Hoje, é importante a mulher ter autoestima, é uma coisa que ajuda a caminhar, mas não pode ser só isso. Ela também precisa interagir com os outros, participar da sociedade.

Você disse que as mulheres de 30, 40 anos estão sobrecarregadas porque têm que dar conta de muita coisa. Essa pressão atinge os homens também?

O patriarcado não atrapalha só as mulheres. E não vamos ficar com essa de que o homem é um vilão. Ele também está sendo cobrado demais. Além de trabalhar muito, tem a pressão de ser bom pai. E precisa fazer sucesso, senão ele é um “loser”.

E os homens não teriam também a pressão de ser cheios de aventuras sexuais, com amantes, por exemplo?

Acho que não, porque as pessoas não têm mais tempo. Nos anos 50, os homens tinham garçonnières, onde ficavam com suas amantes, que em geral eram pessoas do seu círculo de amizade. Isso é uma coisa engraçada da sociedade brasileira, as pessoas ficavam com amigas da família, parentes, para deixar tudo em casa. Isso não existe mais. Com o trânsito de São Paulo, quem vai conseguir ter uma garçonnière e a família? E uma coisa boa é que o divórcio, recentemente, foi legitimado, e as pessoas acabaram com uma ideia que existia na minha geração, de que o casamento tinha que ser uma fusão absoluta. Não, em um casamento você não vira um. Continuam sendo duas pessoas. E, se não der certo, você pode se divorciar. Isso é uma conquista recente. Quando era criança, no colégio Sion, se a pessoa era filha de pais separados, era expulsa. Hoje, as pessoas podem reconstruir seus laços. Ou até ficar sozinha.

Hoje, além de ter filhos e ser boa profissional, ainda temos que ser liberadas sexualmente. Você não acha que até isso pode ser uma pressão a mais?

Sim, com certeza. Você tem que ter feito de tudo, o que está bem fora da realidade. As pessoas nem têm tempo para ter essa vida sexual tão animada. Hoje tem, por exemplo, as sex shops, mas acho que isso serve mais para jornalistas fazerem matérias [risos]. Eu, sinceramente, não conheço mulheres que passem toda semana em uma sex shop para saber “o que chegou de novidade”. Acho que ninguém quer saber qual é o último berro em consolo [risos].

Por outro lado, antes não podíamos nem falar de sexo...

Sim, as coisas mudaram muito rápido e tivemos ganhos incríveis. Para você ter uma ideia, os primeiros manuais de educação sexual eram feitos para homens. E falavam mal do homossexualismo e da masturbação. Os primeiros dirigidos para as mulheres só tinham umas 15 páginas, em que, claro, explicavam que as mulheres precisavam se preparar para o rito eterno. E só eram indicados para mulheres com mais de 18 anos, que estivessem comprometidas. Isso foi na época da ditadura do Getúlio Vargas, nos anos 40. Então, não faz tanto tempo assim.

Hoje as mulheres podem, por exemplo, falar de sexo em músicas de funk. O que você acha desse funk com forte apelo sexual?

Acho que o funk produziu um machismo de saias. Quando a Tati Quebra- Barraco fala “eu te pago e te levo para o motel”, ela vira uma mulher com um rolo de macarrão na mão, machista, que manda nos homens. Sabe aquele homem que tem o dinheiro e por isso acha que pode mandar na mulher e fazer dela o que quiser? Essa é a imagem que o funk da Tati Quebra-Barraco passa para mim. Fora isso, acho que o funk tem um apelo sexual muito forte, que banaliza.

Como o aborto esteve presente no país historicamente? Você é a favor da legalização?

O aborto existe desde sempre no Brasil. Existiam chás entre os indígenas e também o infanticídio. Isso é um tema que as pessoas evitam falar. Mas sempre existiu uma falta de sensibilidade muito grande. Mães pobres sempre usaram o infanticídio e o aborto. E o que acontece? Quem aborta em geral é a mãe pobre, que está desesperada, que não pode criar mais um filho. De maneira que é preciso pensar em uma forma de legalizar o aborto no Brasil para que tantas mortes de adolescentes, por exemplo, parem de acontecer.

Existe o mito de que o Brasil é um país tolerante, onde as minorias se respeitam. Acredita nisso?

Racismo só “acabou” no Brasil quando houve uma lei. Precisou de uma lei para mudar. Isso não é coisa de um país tolerante! Temos a história da escravidão, que também tem muita coisa que os outros não sabem. Não eram só os brancos que eram escravocratas. Um escravo, quando ganhava algum dinheiro e conseguia comprar a sua alforria, a primeira coisa que fazia era ter seus escravos. O racismo não é só uma questão de pele. É uma coisa que está entranhada na história brasileira. É bom não perder de vista a tensão entre os grupos. “As pessoas não têm tempo para uma vida sexual tão animada. Não conheço mulheres que passem toda semana na sex shop para saber qual é o último berro em consolo [risos]”

Você acha que a pressão para que as mulheres casem e tenham filhos para serem aceitas na sociedade diminuiu?

Acho que as pessoas estão começando a achar que a solidão não é uma maldição. O “ficou para titia” está começando a diminuir. Existem novos modelos familiares. Um deles é a família em que a mãe é separada do pai, a criança tem um padrasto, meios-irmãos etc. E outro, que começa a ser estudado pelos sociólogos, é de pessoas que não casam mesmo. Preferem escolher os seus afetos entre amigos e nas relações amorosas que têm ao longo da vida. E o mais interessante é que isso está ligado a uma escolha pela liberdade.

Como a internet influencia no erotismo hoje em dia?

Na internet é tudo muito ginecológico. No século 19, o erotismo era imaginar a nudez, as mulheres eram todas cobertas, então o bacana era isso. E não à toa o fetiche era com os pés, com as mãos, partes todas cobertas. O que vira o erotismo na época da internet? Sendo de uma forma tão ginecológica, não sei como as novas gerações vão trabalhar o erotismo. Não sei com o que os adolescentes sonham quando vão para a cama. O que sabemos por estudo é que a internet disponibiliza imagens em que o sexo é muito mecânico, uma coisa estilo academia de ginástica. E muitos jovens veem o sexo assim pela primeira vez e passam a achar que é tudo mecânico. No que isso vai dar, sinceramente, não sei. Não tenho 14, 15 anos para saber.

Você morou em São Paulo, em Paris, e agora mora no campo. Por que fez essa opção?

Meu marido viaja muito, ele tem escritório na Suíça. Morei na França, estudei em São Paulo, mas decidi que não queria ficar fora do Brasil, longe dos meus filhos e das minhas duas netinhas. Essa é uma casa de família. Na verdade, não é só uma casa, é um espaço de memória. Estou aqui há dez anos e não tenho saudades da cidade. Vou a São Paulo todos os meses visitar meus filhos, que estão todos muito bem encaminhados. Um tem uma agência de publicidade, outro está no mercado financeiro e minha filha é diretora de marketing de uma empresa. Acho que essa coisa de fugir da cidade é muito boa. Recomendo. Ainda mais com as redes sociais. Aqui tenho espaço para escrever, refletir, mas também não perco o que está acontecendo no mundo.

Então você não tem problemas com a solidão?

Adoro ficar sozinha. Tenho o meu jardim. Gosto dessa vida tranquila, de acordar com o galo cantando. E recebemos amigos no fim de semana, meus filhos vêm me visitar. E aqui a gente conhece todo mundo, é uma relação mais íntima com as pessoas. Sou uma grande entusiasta da cidade pequena. E acho que isso pode ser uma saída para a geração de vocês.


Disponível em http://revistatpm.uol.com.br/revista/111/paginas-vermelhas/mary-del-priore.html. Acesso em 15 mar 2014.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Violência à mulher é problema cultural; especialistas cobram campanha

Thais Sabino
08 de Outubro de 2013

Adriana Tamashiro, 31 anos, foi espancada pelo parceiro a 20 dias do casamento. M. R. P., 26 anos, foi agredida grávida de seis meses pelo marido. T. N. S., 47 anos, passou 20 anos sofrendo agressões verbais e físicas dentro da própria casa. Elas representam pequena parcela das mulheres que sofrem violência praticada pelo companheiro. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concluiu em um estudo que a Lei Maria da Penha não reduziu a mortalidade do gênero. Um dos motivos, segundo especialistas entrevistados pelo Terra, é a omissão à denúncia de algumas mulheres, mas o principal é que “a lei não tem varinha de condão, é preciso fazer campanha por uma cultura de paz”, afirmou a psicóloga Roseli Goffman.

Para a também conselheira do Conselho Federal de Psicologia, a lei não pode levar a responsabilidade por um problema de comportamento secular do Brasil. “Ela (Lei Maria da Penha) é um avanço e tem que continuar. O que a gente precisa é trabalhar são outras ferramentas para a mudança da mentalidade e imaginário social”, disse.  Em uma sociedade à qual Roseli classifica como “falocêntrica” e enraizada pelo ódio e machismo - “ocupamos o sétimo lugar no feminicídio”, comentou – precisa de uma “campanha nacional pela diminuição da violência contra a mulher”, disse a psicóloga Janaína Leslao.

Para Janaína, que atua na causa há anos, assim como há um trabalho grande de combate à violência no trânsito, é preciso atuar reeducação comportamental de homens e mulheres. “A gente não vê uma campanha de massa, na mesma proporção que a de trânsito, pela mudança da atitude dos homens em relação às mulheres, por uma convivência pacífica e igualdade de direitos”, criticou. A violência doméstica não é um problema de casal, mas, sim, social. “Devemos meter a colher em violência contra a mulher”, acrescentou.

A gente não vê uma campanha de massa, na mesma proporção que a de trânsito, pela mudança da atitude dos homens em relação às mulheres
Janaína Leslao
Psicóloga

A designer Adriana foi espancada no próprio apartamento. “Ele quebrou metade da casa, a vizinha ficou em pânico e ligou para o porteiro, mas ele disse que não podia fazer nada se eu não pedisse ajuda pelo interfone”, contou sobre o ocorrido do dia 18/9. Ela tem apenas alguns flashes de memória do dia em que, depois de uma briga, o ex-noivo a seguiu inconformado com o fim do relacionamento. “Ele me chutava, me dava socos, minha vizinha ouviu ele me jogar na parede e gritar que ia me matar”, relatou.

O casal estava junto há pouco tempo, tudo foi muito intenso, segundo ela: estavam juntos há dois meses e já moravam juntos. Mesmo assim, após um primeiro mês “lindo”, na primeira discussão ela percebeu a agressividade mais intensa do parceiro. Na segunda, vieram as agressões verbais que a motivaram a desistir do casamento. “Talvez tenha sido ingenuidade minha imaginar que ele não seria capaz de me levantar a mão”, disse. Com o apartamento todo ensanguentado, o ex-noivo tentou deixar o prédio, mas foi impedido pelo porteiro. Adriana chamou a polícia, ele foi preso em flagrante, pagou fiança e está em liberdade.

Casos como o da dona de casa M. R. P. são bastante comuns, segundo a delegada Celi Paulino Carlota. M. R. P. namorou por anos na adolescência com o agressor, ficou um tempo separada dele e depois o casal decidiu morar junto, em 2010. “Nos primeiros meses ficou tudo bem, depois, qualquer problema que surgia ele não queria conversar, começava a brigar e a me ofender”, lembrou. Nas situações eles se separavam, mas meses depois voltavam a morar juntos. “Ele me humilhava, falava que eu não prestava para nada, que eu era um lixo e nunca ia ter nada na vida”, relatou M. R. P.

Recentemente, a discussão foi mais além: depois dos xingamentos usuais, ele a jogou no chão, bateu no rosto, puxou o cabelo e apertou o pescoço. Quando a polícia chegou, chamada pelos vizinhos, o agressor já estava indo embora e ela preferiu não denunciar. “Falei que estava tudo bem, porque já vou passar pelo processo de divisão de bens e pensão, se ele perde o emprego como vai ajudar eu e a minha filha?”, justificou. Segundo ela, os policiais questionaram os arranhões no rosto e pescoço dela, mas ela insistiu que não havia ocorrido agressão.

Elas sempre querem dar uma chance, é uma coisa maternal, falam que não querem prejudicar o pai dos filhos, que ele perca o emprego ou vá preso
Celi Paulino Carlota
Delegada titular da 1ª Delegacia da Mulher

A segunda chance

Celi contou que as mulheres vítimas de lesão corporal, ameaças e ofensas chegam à delegacia abaladas em dúvida se devem denunciar ou não. “Elas sempre querem dar uma chance, é uma coisa maternal, falam que não querem prejudicar o pai dos filhos, que ele perca o emprego ou vá preso”, disse a delegada. A orientação da profissional, no entanto, é que a impunidade pode levar à morte da vítima e das pessoas próximas também. Segundo ela, o agressor passa por um período de arrependimento, promete melhoras, mas volta cometer os erros. Ela está recebendo casos em que a violência se estende aos filhos com mais frequência.

A missionária norte-americana T. N. S. conheceu um advogado brasileiro há cerca de 20 anos nos EUA, eles se apaixonaram, se casaram e se mudaram para o Brasil. “Foram mais de 15 anos de violência, ele destruiu a minha alma”, contou. T. N. S. sofria humilhações em público, ouvia que não servia para nada e que mulher era só para sexo. A primeira agressão física veio com quase dois anos de casamento: um soco, uma chave de braço e puxões nos cabelos. Depois da primeira vez, a situação começou a acontecer com mais frequência e, grávida da terceira filha, ele rompeu a bolsa de água de T. N. S. com um soco na barriga dela.

Foram mais de 15 anos de violência, ele destruiu a minha alma
T.N.S (Vítima)

Ao todo, eles se separaram três vezes, mas os pedidos de desculpas do agressor sempre convenciam T. N. S. A última briga fez com que ela ameaçasse denunciá-lo. Como resposta, o agressor disse que tiraria a guarda dos quatro filhos – três meninas e um menino – de T. N. S. Ele conseguiu. Segundo ela, o ex-marido juntou um laudo médico falso que alegava a insanidade mental da mulher e obteve o direito de ficar com os filhos. “A culpa é minha porque eu demorei a tomar uma posição. Se eu tivesse denunciado antes não perderia 20 anos da minha vida e as minhas crianças. Quanto mais tempo você fica na situação, mais coloca as pessoas em perigo”, afirmou T. N. S.

A denúncia

Um das razões para T. N. S. não ir à polícia era o medo de punição. Ela desconhecia a Lei Maria da Penha, de proteção às mulheres contra a violência doméstica. A lei, em vigência desde 2006, prevê medidas protetivas como o impedimento do agressor de se aproximar da vítima, fazer contato telefônico ou pela internet sob o risco de prisão, além de a mulher poder pedir o afastamento do companheiro do lar e alimentos provisórios. “Ela consegue tudo isso já na delegacia”, garantiu Celi. A denúncia também pode ser feita diante de ameaças e agressões verbais, acrescentou.

O primeiro passo após uma agressão física é procurar um pronto-socorro caso existam ferimentos. Depois, a vítima deve ir até à delegacia da mulher e abrir o boletim de ocorrência. Foi o que fez Adriana. Logo após a polícia prender o agressor, ela foi para o hospital e seguiu ao Instituto Médico Legal para fazer exames. Na delegacia, ela estava certa de que não deixaria a violência passar impune, abriu um boletim de ocorrência e agora aguarda ser chamada para depor e fazer o reconhecimento.

Segundo a delegada, as mulheres que buscam ajuda são cada vez mais jovens e, de acordo com Janaína, cerca de 90% são agredidas por uma pessoa íntima com quem se estabeleceu em algum momento uma relação de afeto. Além do apoio policial e jurídico, segundo Janaína, centros de atendimento à mulher ajudam na parte psicológica e recuperação da autoestima. As instituições mantêm sigilo e possuem equipe multidisciplinar, completou.


Disponível em http://mulher.terra.com.br/vida-a-dois/violencia-a-mulher-e-problema-cultural-especialistas-cobram-campanha,93c1414a7cf71410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html. Acesso em 10 fev 2014.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Travestis são processadas por se vestirem de mulher em Dubai

Giovana Sanchez
21/01/2014

Duas travestis brasileiras em viagem a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, ficaram presas por 24 horas em dezembro e agora respondem a um processo em liberdade por terem identidade masculina e se vestirem com roupas de mulher, o que é proibido pela legislação local, informou a assessoria de imprensa do Itamaraty.

Segundo o ministério, a primeira informação de que elas estariam detidas chegou à embaixada brasileira em 23 de dezembro. Uma audiência já foi realizada e a próxima será em 23 de março. Enquanto isso, elas se mantêm com recursos próprios no emirado. Uma amiga das travestis que mora na Holanda e trabalha em uma organização de apoio aos direitos GLBTs disse ao G1 que elas foram ao emirado a passeio. Segundo Ana Paula Lima, as duas foram detidas após terem sido expulsas de uma famosa boate local. Sentindo-se desrespeitadas, resolveram chamar a polícia. "Mas aí foi pior, porque elas foram levadas pela polícia", disse a amiga.

O Itamaraty afirmou que está em contato permanente com elas e com as autoridades judiciárias dos Emirados "para garantir que tenham o mais amplo direito à defesa". A dupla não pode deixar Dubai pois os passaportes estão retidos pelas autoridades. O Itamaraty não soube informar a pena máxima que elas podem receber, mas uma das possibilidades é a de que sejam deportadas.

Segundo Ana Paula, as brasileiras foram abrigadas por uma família de filipinos - já que não podem ir para um hotel pois estão sem passaporte - e estão com pouco dinheiro para se manter no país até março.

A organização internacional Avaaz, que promove petições online, está com uma campanha para repatriar as travestis brasileiras.


Disponível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/01/brasileiros-sao-processados-por-se-vestirem-de-mulher-em-dubai.html. Acesso em 21 jan 2014.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Hermafrodita ganha torneios femininos e levanta polêmica no mundo do tênis

GloboEsporte.com
20/03/09

Nascida com órgãos genitais masculino e feminino, a alemã Sarah Gronert, de 22 anos, voltou a ser alvo de polêmicas no mundo do tênis na última semana, após vencer o torneio de Raanana, em Israel.

Mesmo dois anos depois de passar por uma gonadectomia, cirurgia para extrair o pênis, a jovem tenista é acusada por suas rivais de ter força descomunal para uma mulher.

- Não há menina que consiga sacar assim, nem mesmo Venus Williams - diz o técnico da israelense Julia Glushko, derrotada por 6/2 e 6/1 em Raanana, comparando Gronert à americana dona do saque mais rápido do tênis.

Gronert é atualmente a 619ª colocada no ranking mundial. Em janeiro, antes do título em Israel, a alemã foi campeã em Kaarst, em seu país natal. Ambos torneios eram pequenos e distribuíam apenas US$ 10 mil em prêmios. No único evento maior que disputou, em Biberach (Alemanha), com premiação de US$ 50 mil, Gronert caiu na primeira rodada.

A história  da jovem hermafrodita veio à tona três anos trás, quando a então adolescente foi alvo de ofensas e comentários agressivos de várias de suas adversárias. Gronert quase abandonou a carreira. Em vez disso, optou pela cirurgia de extração do pênis e a volta ao circuito, o que só aconteceu depois de julgamento por um comitê da WTA, entidade que regula o tênis feminino.

Renée Richards, a pioneira

Na década de 70, Richard Raskind, que fora juvenil promissor, passou pela Marinha americana e foi casado, com um filho, se submeteu a uma cirurgia de mudança de sexo.

Com o nome de Renée Richards, figurou entre as 20 melhores do ranking feminino em 1977. A história da mais famosa transexual do tênis: http://colunas.globoesporte.com/saqueevoleio/2009/03/20/renee-a-pioneira/


Disponível em http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Tenis/0,,MUL1051760-15090,00-HERMAFRODITA+GANHA+TORNEIOS+FEMININOS+E+LEVANTA+POLEMICA+NO+MUNDO+DO+TENIS.html. Acesso em 21 jan 2014.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

UFMG discute nesta semana ampliação da cirurgia de mudança de sexo no Brasil

Letícia Orlandi
07/01/2014

Antes restrito aos homens que querem mudar de gênero, o procedimento da transgenitalização para mulheres, mais complexo e de caráter experimental, também pode ser realizado a partir dos 18 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma nova portaria, publicada no Diário Oficial da União em 21 de novembro, acata a decisão judicial que, em setembro, determinou que o Ministério da Saúde tomasse as medidas necessárias para facilitar o acesso a cirurgias de transgenitalização e adequação sexual.

Os hospitais tiveram 30 dias para se adequar às novas regras, incluindo a criação dos Serviços de Atenção Especializada com médicos das áreas de endocrinologia, ginecologistas, urologistas, obstetras, cirurgiões plásticos, psicólogos e psiquiatras, além de enfermeiros e assistentes sociais. Com a portaria, transexuais e travestis também terão acesso gratuito à prótese de silicone para mama e à terapia hormonal.

Em 2012, o Ministério da Saúde incluiu pela primeira vez o público travesti em sua campanha de incentivo ao uso da camisinha no carnaval. Com a nova portaria, que inclui acesso gratuito à prótese de silicone para mama e à terapia hormonal para transexuais e travestis, especialistas acreditam que o preconceito também poderá diminuir

De acordo com a psicóloga Anne Rafaele Telmira, pesquisadora do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG, essa mudança permite uma nova abertura aos transexuais na saúde pública. “Ela vai redefinir e ampliar o processo de transexualização das transexuais femininas e dos transhomens, que são um novo fenômeno, assim como as travestis, que não eram contempladas com o serviço do SUS”, opina.

O tratamento hormonal também é oferecido somente a partir dos 18 anos, já que os jovens transexuais de menor idade podem ter dificuldades com a adaptação aos medicamentos. “Isso é uma questão muito importante tanto para os transhomens quanto para as transexuais femininas, porque eles começam a se hormonizar muito cedo, enquanto o corpo se desenvolve, e isso pode trazer problemas para a saúde”, alerta a psicóloga.

Além disso, o paciente terá o direito de receber um acompanhamento psicoterápico antes e depois da cirurgia, já que a mudança de identidade pode comprometer sua situação no meio social. Para Anne Rafaele Telmira, apesar da relevância dessa orientação, alguns tópicos ainda precisam ser trabalhados. “Deve haver um acompanhamento no sentido de autoimagem e a questão da inserção na família, mas existem pontos que ainda não foram contemplados, como o acesso ao mercado de trabalho”, observa.

Atualmente, quatro hospitais universitários do país realizam o procedimento cirúrgico pelo SUS: Hospitais das Clínicas de Porto Alegre e Goiânia, Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo e Hospital Pedro Ernesto da UERJ. Para mais informações, acesse o site do Conselho Federal de Medicina: www.cfm.org.br.

Nesta semana, o programa de rádio Saúde com Ciência, produzido pela Faculdade de Medicina da UFMG, discute o tema Transexuais e o SUS: nova portaria. O programa vai ar de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h, na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. Ele ainda é veiculado em 37 emissoras de rádio em Minas Gerais e é possível conferir as edições pelo site do Saúde com Ciência. Nesta quarta-feira, o assunto será o processo psiquiátrico envolvido na questão; na quinta será abordada a cirurgia para transexuais masculinos e na sexta o debate será sobre o preconceito.


Disponível em http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/01/07/noticia_saudeplena,147051/ufmg-discute-nesta-semana-ampliacao-da-cirurgia-de-mudanca-de-sexo-no.shtml. Acesso em 07 jan 2014.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O segredo da Islândia, o melhor país para ser mulher

Alejandra Martins
10 de novembro, 2013

"Senti que, com 11 anos, havia me tornado feminista".

Em 24 de outubro de 1975, milhares de mulheres no país nórdico saíram às ruas para chamar a atenção para seus baixos salários e a falta de reconhecimento de seu papel na sociedade.

"Nem minha mãe, nem suas amigas, nem funcionárias do comércio, nem as professoras trabalharam, cozinharam ou cuidaram de seus filhos naquele dia", contou Rudolfsdottir à BBC Mundo, que ficou sozinha em casa com sua irmã menor.

Nada menos do que 90% das mulheres do país se somaram aos protestos e atos públicos naquele dia.

As empresas não tiveram outra alternativa a não ser receber um grande número de crianças que foram levadas ao trabalho por seus pais, já que muitas escolas, fábricas e lojas fecharam.

"Foi um chamado à ação. Muitos sentem que a solidariedade mostrada neste dia abriu caminho para a eleição, cinco anos depois, de Vigdis Finnbogadottir, a primeira presidente eleita democraticamente no mundo", ressaltou Rudolfsdottir, que coordena o programa sobre estudos de gênero da Universidade da ONU na capital islandesa, Reykjavík.

As manifestações de 1975, seguidas de ações semelhantes em 2005 e 2010, mostram a luta por trás das mudanças que explicam porque a Islândia é, pelo quinto ano consecutivo, o país número um em igualdade de gênero, segundo o ranking anual do Fórum Econômico Mundial.

Mas qual é o segredo deste país de pouco mais de 300 mil habitantes, e o que a América Latina pode aprender com o modelo islandês?

Creches baratas

A acadêmica acredita que para encontrar as causas para a menor disparidade de gênero na Islândia é preciso olhar para as ações do movimento das mulheres, marcado pela paralisação de 1975.

"Em suma, o movimento lutou duramente para criar na sociedade as estruturas necessárias para que as mulheres pudessem participar da política e do mercado de trabalho".

Na Islândia, 82,6% das mulheres em idade economicamente ativa trabalham e respondem por 45,5% da força de trabalho. Ao mesmo tempo, elas têm uma das taxas de fertilidade mais altas da Europa, com 2,1 filhos por mulher. Como conseguem?

Uma das chaves é o acesso a creches de baixo custo.

"As creches são administradas pela municipalidade de Reijavík e o preço mensal é muito baixo. Tenho dois filhos, passei 15 anos no Reino Unido e um dos grandes problemas para que as mães voltassem ao trabalho era o preço das creches", aponta.

Outra mudança na lei do país que facilitou a vida das mulheres é a ampliação da licença paternidade.

"No total, o casal tem nove meses de licença", disse à BBC Mundo Thordur Kristinsson, professor de Estudos Sociais em Reikjavík.

"Três meses exclusivos para a mulher, três exclusivos para o pai e outros três que podem ser divididos como o casal desejar", explica.

Para Kristinsson, estas regras têm uma vantagem adicional: "As empresas já não podem ver as mulheres como um fator de risco por causa da maternidade. Os homens também são um fator de risco".

"E, além disso, os chefes também saem de licença paternidade. Se um pai não usufrui de seus três meses em casa, as pessoas estranham, o encaram como irresponsável".

Igualdade total, nem na Islândia

O ranking do Fórum Econômico Mundial combina as pontuações de cada país em diferentes áreas, como empoderamento político, educação e saúde.

Cerca de 70% dos graduados são mulheres, ainda que a proporção seja bem menor em áreas como engenharia. Na política, as mulheres ocupam 405 dos assentos no Parlamento e 50% dos ministérios.

As conquistas do país nórdico nas área de educação e política colocam-no no topo da lista, mas uma das autoras do relatório, Saadia Zahidi, diz que é preciso investir mais na área da saúde.

Para Annadís Rudolfsdottir, ainda há muito por fazer. "A diferença de salários entre homens e mulheres é de cerca de 10% e uma pesquisa recente com três mil mulheres revelou que 24% delas dizem ter sido vítimas de violência sexual ao menos uma vez desde os 16 anos.

Que lição podem tirar os governos da América Latina do exemplo islandês?
"América Latina é a região em que mais países conseguiram fechar as brechas que existem entre homens e mulheres nas áreas de saúde e educação", disse Zahidi.

"Das mulheres em idade universitária, 29% conseguem completar o ensino superior, em comparação com 22% dos homens".

A analista do Fórum Econômico mundial recorda que há muito tempo os países nórdicos reconheceram que que não podem ser competitivos se não aproveitarem todo o talento disponível na sociedade.

As mulheres da América Latina têm a oportunidade de mudar as estruturas necessárias para poder combinar trabalho e criação dos filhos, assim como nos países nórdicos.

Do contrário, os países latino-americanos correm o risco de ficaram estancados em uma situação similar à do Japão, onde as mulheres vão à universidade como os homens, mas não se veem em posição de liderança ", indica.

Para Annadís Rudolfsdottir, além do exemplo da Islândia, é preciso olhar para dentro.

"Eu começaria por perguntar às próprias mulheres de cada país na América Latina que obstáculos concretos estão impedindo sua maior participação no mercado de trabalho".


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131108_islandia_mulher_fl.shtml. Acesso em 05 dez 2013.