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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Executivas 'neofeministas' dos EUA pregam ascensão agressiva

Pablo Uchoa
15 de março, 2013

Quando a diretora operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, exortou as mulheres ''a fazer acontecer'' no mercado de trabalho para retomar uma ''revolução'' feminista que, segundo ela, ''empacou'', sabia que estava levantando uma discussão espinhosa. 

Intuição semelhante deve ter tido a CEO do Yahoo!, Marissa Mayer, quando proibiu seus empregados de trabalharem de casa, poucos meses depois de se autoimpor uma licença-maternidade de apenas ''algumas semanas'', ao longo da qual ela continuou exercendo sua função à distância.

Coincidência ou apenas a ponta do mesmo iceberg, as duas executivas entraram no centro do debate sobre o avanço da mulher no mercado de trabalho e a busca do santo graal do emprego moderno, o equilíbrio entre o dever e o lazer.

A problemática foi colocada por Sandberg em um livro publicado nesta semana nos EUA, que chega ao Brasil no início de abril – Faça Acontecer: Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar (Editora Companhia das Letras).

Há três décadas, as mulheres são metade dos graduados nas universidades, escreve. Mas apesar do avanço, elas ainda ocupam apenas 4% dos cargos de diretores executivos das 500 empresas de maior faturamento nos EUA, segundo a lista da revista Forbes.

O cenário é semelhante na política: apenas 17 países são governados por mulheres, e elas ocupam apenas 20% das cadeiras de parlamentares.

Sandberg não deixa de reconhecer as ''barreiras externas'' – o preconceito, a discriminação, o assédio sexual – que travam o avanço das mulheres no mercado de trabalho.

A polêmica está no que ela considera ''barreiras internas'': uma suposta ''internalização das mensagens negativas'' recebidas de um mundo machista, uma ''redução das expectativas'' de carreira em prol da dos maridos, enfim, uma espécie de derrotismo feminismo diante dos desafios do mercado.

''Meu argumento é que livrar-se destas barreiras internas é crucial para ganhar poder'', escreve Sandberg. ''Outras pessoas argumentam que as mulheres só conseguem chegar ao topo quando as barreiras institucionais são removidas. É a situação típica do ovo e da galinha.''

''Estou incentivando as mulheres a tratar da galinha, mas apoio totalmente aquelas que estão focadas no ovo'', escreve.

Feminismo ou mais pressão?

A executiva da rede social quis que seu livro chegasse às suas leitoras como um novo manifesto feminista. Junto com a obra, Sandberg está impulsionando a criação dos chamados ''círculos para fazer acontecer'', espécies de grupos de discussão para discutir como renovar o avanço da mulher no mercado de trabalho.

Mas, mal chegou às livrarias, a obra já foi acusada de colocar ainda mais pressão sobre as mulheres, ao criar expectativas irrealistas sobre o que cada uma pode fazer, individualmente, para avançar na profissão diante da dupla jornada em casa e principalmente da maternidade, um ''obstáculo'' que os colegas masculinos de profissão não precisam vencer.

O livro descreve o problema, mas não aponta as soluções, e assim as respostas vão nascendo por tentativa e erro no próprio mercado de trabalho.

Um exemplo veio em meados do ano passado, quando a CEO do site Yahoo!, Marissa Mayer, anunciou que tiraria apenas algumas semanas de licença-maternidade, que nesse período continuaria trabalhando de casa e que voltaria o mais rápido possível para o escritório.

A decisão deixara os especialistas debatendo se se tratava de progresso do feminismo ou um péssimo exemplo emanado de uma jovem mãe viciada em trabalho.

No mês passado, Mayer voltou a criar polêmica ao proibir os funcionários de sua companhia de trabalhar de casa – uma prática comum na indústria de tecnologia, que muitos consideram um avanço, principalmente naquela busca do equilíbrio entre trabalho e lazer na qual as mais prejudicadas são frequentemente as mulheres.

A CEO alegou que, por razões de produtividade e integração, todos precisariam estar ''fisicamente juntos'' no ambiente de trabalho.

Representatividade

Mayer e Sandberg não são as mulheres médias afetadas pelas suas decisões ou por suas visões do lugar da mulher no mercado de trabalho.

Mayer, em particular, está sob fogo cruzado pelo fato de ter mandado construir, pagando de seu próprio bolso, um berçário ao lado de seu escritório para poder passar mais tempo com seu filho.

A bilionária Sandberg, que pode cercar-se de quantas babás e enfermeiras julgar necessárias para cumprir por ela a sua função, também não foi poupada.

À sua maneira, as duas poderosas executivas puseram mais lenha em uma fogueira onde já queimam as opiniões da especialista em política da Universidade de Princeton, e mãe de dois adolescentes, Anne-Marie Slaughter.

Em meados do ano passado, Slaughter, recém-saída da direção de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado no governo Obama, escreveu um artigo argumentando que ''as mulheres ainda não podem ter tudo''.

Na sua experiência, argumentou, os interesses de uma mãe de dois adolescentes e de uma alta autoridade do governo americano simplesmente não são compatíveis.

Especialistas estão chamando este debate polarizado de um ''cabo-de-guerra'', cujo resultado, se é que haverá um resultado claro, ainda está longe de ser indicado.

No ínterim, Sandberg, do Facebook, saiu em defesa de Mayer, afirmando que a executiva do Yahoo! não estaria sendo tão criticada por sua decisão – que zela pela saúde financeira da empresa que ela preside – se ela fosse homem.

Uma capa da revista Time sobre Sandberg e seu livro estampa os dizeres: ''Não a deteste por ela ser bem-sucedida'', titula o semanário.

Como a executiva, os editores da revista sabiam onde estavam pisando.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130315_novo_feminismo_eua_bg.shtml. Acesso em 14 out 2013.