Observatório da Imprensa
edição 761
27/08/2013
Quando David Coombs, advogado do soldado Bradley Manning,
condenado a 35 anos de prisão por ter vazado milhares de documentos secretos do
Exército americano, afirmou em participação no programa Today, da NBC, que seu
cliente gostaria de viver como uma mulher e ser chamado de Chelsea, criou um
problema para âncoras, repórteres e editores: rapidamente, surgiram debates
sobre como se referir a Manning. A apresentadora Savannah Guthrie, do Today,
usou “ele” e “ela” durante o programa, mas muitos veículos continuaram a usar o
pronome masculino, mesmo com Manning tendo deixado claro a sua preferência.
“Peço que vocês se refiram a mim pelo meu novo nome e usem o pronome feminino”,
disse Chelsea, ex-Bradley, em declaração lida no Today.
Alguns veículos, como o site Huffington Post, a revista New
York, o jornal londrino Daily Mail, a emissora MSNBC e a revista online Slate,
fizeram a vontade de Chelsea. Já outros, como os jornais USA Today,Boston
Globe, Los Angeles Times e New York Times, além dos sites Daily Beast e Politico
e dos canais CNN e Fox, continuaram a usar o pronome masculino.
Erin Madigan White, porta-voz da agência de notícias
Associated Press, disse que a empresa seguiria seu manual de estilo –
referência para muitos jornalistas –, que aconselha repórteres a “usar o
pronome preferido dos indivíduos que adquiriram características físicas do sexo
oposto ou se apresentam de um modo que não corresponde ao sexo de nascimento”.
Portanto, a agência usaria referências neutras de gênero para se referir a
Manning, que sejam “pertinentes à questão de transgênero”.
Por meio da porta-voz Anna Bross, a National Public Radio
informou que continuará a chamar Manning de “ele”. “Até que o desejo de Manning
de ter seu gênero mudado fisicamente aconteça, continuaremos a nos referir ao
soldado como ‘ele’”, afirmou.
Caso isolado
O guia do New York Times orienta jornalistas a escrever do
modo como o entrevistado prefere. Mas o chefe de redação Dean Baquet explicou
que o caso do soldado é diferente: “Geralmente, chamamos pelo novo nome quando
nos pedem para fazê-lo e quando eles começam suas novas vidas. Nesse caso,
entretanto, consideramos que os leitores ficariam totalmente confusos se
mudássemos o nome e o gênero da pessoa no meio de uma grande história de mídia.
Isso não é uma decisão política. É destinada a nosso cliente principal – nossos
leitores”. A ombudsman do NYTimes, Margert Sullivan, encorajou o jornal a mudar
o modo como se refere a Manning. “Pode ser melhor mudar rapidamente para o
feminino e explicar isso, em vez de fazer o contrário”, disse.
Rich Ferraro, porta-voz da organização Glaad (em português,
Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação), afirmou que iria entrar em contato
com organizações de mídia para que mudassem o modo como se referem a Manning.
Ele observou que quase todo manual de estilo aconselha o uso do pronome
preferido do indivíduo em questão. “Toda a cobertura da mídia hoje mostra o
quão distante ela está da cobertura de transgêneros”, opinou.
Disponível em
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed761_mudanca_de_sexo_de_soldado_confunde_midia_americana.
Acesso em 16 set 2013.