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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Primeira 'transexual' da Academia de Letras relata preconceito

Mariane Peres
15/11/2013

Nicolly Bueno, de 30 anos, é o primeiro transexual a integrar a Academia de Letras de Presidente Venceslau. Com quatro livros publicados e professora da rede municipal de ensino, ela foi vítima de preconceito durante a infância e adolescência e encontrou na educação e na escrita uma oportunidade de ser aceita pela sociedade. Membro da associação desde 29 de outubro, ela acredita que a conquista é um obstáculo a mais superado.

“Eu me sinto imensamente realizada pelo que eu construí e pelo que busquei, porque, nas condições em que me encontro as coisas não são fáceis. Tive que mostrar para as pessoas que a minha capacidade não depende da minha opção sexual. Na academia, não sinto preconceito, as pessoas me respeitam e me aceitam. Na cidade, há indiferença”, conta.

O convite ser uma acadêmica veio na segunda tentativa e, para ela, foi um orgulho. Entretanto, sua trajetória na educação começou aos 15 anos, quando entrou para o antigo Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefan). Desde pequena, ela queria ser professora. Mas a caminhada foi marcada por confrontos com a família, bastante rígida, de acordo com ela.

“Na verdade, desde os cinco anos eu sentia que era diferente e meu pai é completamente preconceituoso, por isso eu sentia medo de me assumir. Quando cresci, queria virar padre, para não ter relações sexuais e não ser julgado, mas minha mãe não deixou. Me sintia deprimida por não poder ser quem era”, relata.

A partir de então, ela começou a participar de vários concursos e eventos de educação para buscar seu destaque. Ela decidiu estudar bastante para se tornar conhecida na cidade e assim ganhar seu espaço e tentar inibir o preconceito. “De certa forma, enterrei minha vida pessoal para me dedicar à vida profissional. Eu tinha medo porque minha família já me julgava”, diz.

O próximo passo era conseguir um espaço na Academia de Letras. Na primeira tentativa, ainda como homem, ela não conseguiu. “Eles alegaram a falta de idade, já que é preciso ter, no mínimo, 30 anos e na época eu estava com 24. Mas sei que decisão dos outros acadêmicos pesou também por causa da minha opção sexual”, acredita.

Após uma depressão profunda, Nicolly começou a fazer tratamento psicológico e constatou que para se curar era preciso que ela se mostrasse da maneira como sempre quis e pudesse expor a sua sexualidade. No início, foi difícil. “Quando assumi a transexualidade, muita gente achou que era uma questão de vaidade, mas não era isso. As pessoas comentavam coisas sem me conhecer. Nós, travestis e transexuais, sofremos muito”, afirma.

Tanto que ela, que nasceu Rodrigo e ainda usa os documentos com este nome, mesmo não tendo passado pela cirurgia de mudança de sexo, prefere ser chamada de transexual. “Tem muita gente que imagina que travesti é prostituta e está ligada à violência. Mas não é assim. As pessoas julgam sem piedade”, critica.


Disponível em http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/noticia/2013/11/primeira-transexual-da-academia-de-letras-relata-preconceito.html. Acesso em 29 dez 2013.