Daniela Novais
02/11/2013
Ele tem 16 anos de idade. Desde os cinco tinha consciência
de que não estava satisfeito com seu gênero biológico. Aos nove, incomodado com
a aparência, ele já se vestia com roupas masculinas. Na escola, Francisco
afirma que seus amigos não sabem sobre o fato de ele ser transexual e que tem
medo de que eles se afastem caso fiquem sabendo que ele é um menino em corpo de
menina.
O caso em questão é de um estudante do Distrito Federal, que
sonha ter documentos com o nome masculino com o qual se identifica. Outro sonho
de Francisco (nome fictício) é fazer a cirurgia de mudança de sexo. Na escola,
ele já consegue ser tratado de acordo com sua identidade sexual. Nas lista de
chamada, os professores o abordam pelo nome masculino.
Atualmente, o corpo é como o de um adolescente de sua idade,
devido à ação de hormônios, que deram a ele esta característica. Sobre o
passado com aparência de menina, ele diz que prefere esquecer. “Nunca me vi
como menina. Nem gosto de me lembrar dessa época. Não me conformo com a maneira
como nasci”, desabafa.
Família - A pedido da família, o adolescente já se consultou
com um psicólogo, que diagnosticou a transexualidade. Apesar do desejo de mudar
de sexo, por meio de cirurgia, ele ainda não começou os tratamentos que
antecedem o procedimento, que envolvem acompanhamento psicológico e hormonal.
Em casa, ele conta com o apoio da mãe e da irmã mais velha.
O jovem conta que já teve duas namoradas e elas não chegaram
a saber sobre sua transexualidade. Ele também não fez questão de contar sobre
seu passado e a imagem que o desagrada. “Eu sei que um dia alguém vai descobrir
e tenho muito medo de acharem que eu menti. Tenho medo que meus amigos se
afastem de mim por isso”.
Homofobia - Foi na escola que Francisco conta ter vivido um
dos maiores dramas envolvendo sua sexualidade. Ele conta que, em 2010, se
envolveu com uma colega de escola. A fofoca chegou ao pai da garota, que se
irritou ao saber que ele era transexual. Segundo Francisco, o pai da menina o
atropelou e a confusão fez com que ele fosse expulso da escola. Francisco
relata que o diretor do colégio em que estudava cometeu homofobia, pois sempre
se mostrou avesso a sua sexualidade, o que teria culminado com a sua expulsão.
Após o episódio, ele teve de mudar de escola. No novo colégio,
passou a esconder dos colegas o fato de ser transexual. A mudança de turma,
para ele, foi como ter “começado a vida do zero”. “Para eles, eu sou como um garoto qualquer”,
conta.
O adolescente relata que vive um drama devido ao preconceito
por sua orientação sexual. A perseguição devido à sua sexualidade aconteceu na
escola, onde ele conta que foi agredido por várias vezes. Nas redes sociais,
ele também já foi alvo de bullying e preconceito, por meio de xingamentos.
“Criaram vários perfis para me xingar. Sofri muito bullying”, relata.
Denúncias - Uma pesquisa revela que o Distrito Federal é a
unidade da federação que, proporcionalmente, mais registrou denúncias de
violência homofóbica no Brasil. O 2º Relatório Sobre Violência Homofóbica 2012
foi elaborado e divulgado pela coordenação de Promoção dos Direitos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República.
O levantamento apontou que no ano passado foram realizadas
239 denúncias sobre 411 casos de violência homofóbica, o que representa 9,3
registros para cada cem habitantes do DF. No total, houve aumento de 431% em
relação a 2011, quando foram registradas 45 denúncias.
O relatório se baseou em denúncias encaminhadas por meio do
Disque 100, da SDH, do Ligue 180, da Secretaria de Políticas para Mulheres, e
da Ouvidoria do SUS (Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde.
O relatório aponta que só no DF foram denunciados 24 casos
de violência física, cinco de violência sexual e três homicídios. No entanto,
própria secretaria reconhece que as notificações não correspondem à totalidade
dos casos de violência homofóbica, já que muitos deles não são denunciados. Os
números não representam, por exemplo, os casos de homofobia contra pessoas que
não assumem a sexualidade ou das que são assassinadas e as famílias não assumem
que os mortos eram LGBT.
De acordo com o relatório da SDH/PR, no DF foram registrados
195 casos de violência psicológica. Também foram notificados 182 casos de
discriminação e três de violência institucional.
Disponível em
http://camaraempauta.com.br/portal/artigo/ver/id/5409/nome/Adolescente_transexual_do_DF_teme_preconceito_e_sonha_com_mudanca_de_sexo.
Acesso em 13 nov 2013.