Mente Cérebro
abril de 2014
Nem os recém-nascidos estão livres dela. Em certa ocasião,
um homem extremamente invejoso de outro que morava na casa ao lado recebeu a
visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um único desejo.
“Você pode pedir o que quiser, desde que seu vizinho receba o mesmo e em
dobro”, disse ela. O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe
arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o outro se prejudicar
prevaleceu sobre qualquer anseio de benefício pessoal. A fábula foi usada pela
psicanalista Melanie Klein (1882-1960) em sua obra Inveja e gratidão (1947), um
dos principais trabalhos sobre o tema, para ilustrar o funcionamento psíquico
de quem vive intensamente esse sentimento.
“Cheguei à conclusão de que a inveja é um fator muito
poderoso no solapamento das raízes do sentimento de amor e gratidão, pois ela
afeta a relação mais antiga de todas, a relação com a mãe”, escreveu. De acordo
com esse olhar, a inveja é a mais radical das manifestações do impulso
destrutivo, pois leva a atacar e destruir o objeto bom, aquele cuja introjeção
é a base da saúde psíquica. Esse afeto, nem sempre consciente, dificulta a
apropriação de experiências boas e, portanto, a integração psíquica.
Segundo a autora, esse afeto não é fruto da decepção ou frustração,
faz parte de nossa vida mental desde que somos bebês e independe das atitudes
maternas e do ambiente. Pelo contrário, provém do próprio sujeito, é endógena.
Propor que seja um aspecto constitucional significa salientar o fator interno.
A proposta de uma inveja primária é uma das mais polêmicas da teoria kleiniana.
De acordo com essa tese, ainda bem pequenos invejamos o seio materno, capaz de
nos alimentar e confortar. A ideia de que o alimento bom e reconfortante não
nos pertence aparece associado ao sentimento de impotência. Já os psicanalistas
Donald Winnicott, William R. D. Fairbaim e Michael Ballint postulam que a
inveja é sempre secundária, resultante de uma falha do ambiente.
Disponível em
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/para_a_psicanalise_a_inveja_surge_ate_nos_bebes.html.
Acesso em 07 abr 2014.