Nicholas Bakalar
03/12/07
Homens com voz grave podem ter vantagem de sobrevivência,
com chances melhores de perpetuar genes. Pesquisadores descobriram que os
homens com voz mais grossa têm mais filhos, pelo menos entre os hadza, tribo de
caçadores da Tanzânia.
De acordo com informações anteriores de um artigo publicado
online para a edição de 22 de dezembro da revista científica "Biology
Letters", a maioria das mulheres das sociedades ocidentais se sente mais
atraída a homens que têm voz mais grave, associando essa característica a
indivíduos mais saudáveis e viris. Os homens, por sua vez, acham que as vozes
mais agudas são mais atraentes.
É difícil descobrir quais são os motivos evolucionários que
explicam o êxito reprodutivo em uma sociedade que usa métodos modernos de
controle de natalidade. Os hadza não fazem controle de natalidade e escolhem
seus próprios parceiros. Isso faz com que se constituam no que os pesquisadores
chamam de "população de fertilidade natural" em que é possível testar
hipóteses sobre êxito reprodutivo humano.
Os pesquisadores coletaram gravações de voz (os hadza falam
o idioma swahili) e o histórico reprodutivo de 49 homens e 52 mulheres, a fim
de identificar se o tom de voz teria alguma influência na quantidade de filhos.
Depois de idade, detectou-se que tom de voz é um indicador
extremamente preciso da quantidade de filhos gerados pelo homem. Além disso,
homens com vozes mais graves têm um número significativamente maior de filhos.
Os pesquisadores estimaram que a qualidade de voz, isoladamente, representaria
42% da diferença no êxito reprodutivo masculino. A qualidade da voz feminina
não possui relação com o número de filhos que as mulheres têm.
As explicações para o fato de homens com voz mais grossa
terem maiores chances de gerar mais filhos não são claras, mas os pesquisadores
destacam algumas possibilidades. Os homens de voz grave talvez tenham mais
parceiras, parceiras mais saudáveis ou façam intervalos mais curtos entre o
nascimento de um filho e outro, ou talvez comecem a reproduzir mais
precocemente.
Este estudo, como apontam seus autores, é o primeiro a
analisar o efeito do tom de voz na aptidão darwiniana em seres humanos. As
descobertas vão ao encontro das constatações de diversos estudos que mostram
que os sinais acústicos exercem um papel na influência da escolha feminina de
parceiros em animais.
Coren Apicella, principal autora do estudo e doutoranda em
antropologia biológica em Harvard, disse que as descobertas "podem, na
verdade, não ter um reflexo em nossa sociedade quanto à vantagem
reprodutiva." Observamos muitas características na hora de escolhermos
parceiros, observou ela.
Além disso, como a paternidade foi identificada por relatos
pessoais, não por DNA, pode ser que homens de voz mais grossa apenas sejam mais
confiantes em relação à paternidade.
Disponível em
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL199910-5603,00-ESTUDO+DESCOBRE+VANTAGEM+REPRODUTIVA+EM+HOMENS+COM+VOZ+GRAVE.html.
Acesso em 25 jul 2013.