Transfofa
3 Abril 2012
Uma criança alemã que tem vivido como rapariga desde que
iniciou o percurso escolar há meia dúzia de anos, está para ser internada no
hospital Charité University, em Berlim - onde será “curada” da sua
transexualidade ao ser encorajada a tomar “atitudes de rapaz”.
Isto segue-se à sentença ditada pelo Berlin Court of Appeal
que sentencia que a jovem poderá ser separada da mãe, com quem vive
actualmente, e forçada a internamento na ala psiquiátrica do hospital.
O tribunal concordou com a visão de uma enfermeira do Berlin
Youth Office e de Klaus Beier, director da ala do hospital, que suportam que,
apesar de viver como rapariga há anos, a sua transexualidade é somente induzida
pela mãe.
A seguir ao tratamento no hospital, onde comportamentos que
se coadunem mais com o sexo biológico da jovem serão encorajados, será então
transferida para uma família de acolhimento.
Como o Portugalgay já tinha descrito em fevereiro
(www.portugalgay.pt/news/Y030212A/alemanha:_crianca_transexual_de_11_anos_em_risco_de_ser_institucionalizada),
a situação foi despoletada pela separação dos pais há algum tempo, e decisões
chave sobre o seu desenvolvimento caíram sob a alçada do Berlin Youth Office.
Apesar do facto de já viver como rapariga desde a escola
primária, o pai fez recentemente alegações junto ao Youth Office argumentando
que a sua identificação como mulher é totalmente induzida pela mãe.
Esta visão foi corroborada por uma enfermeira do Youth
Office e que levou à sua primeira institucionalização quando a jovem recusou
que o seu género fosse questionado e por supostamente ter expressado que
preferia morrer a crescer como rapaz.
Durante as audições, ela e a sua mãe, apoiadas pela sexóloga
Hertha Richter-Appelt, de Hamburgo, requereram que um diagnóstico psiquiátrico
fosse elaborado, o que foi rejeitado por ser um “antiquado ponto de vista”.
A decisão do tribunal foi violentamente criticada pelo
advogado da rapariga, que considerou a decisão “apavorante”, acrescentando que
em lado nenhum se encontra suporte de que a transexualidade possa ser
“induzida”, acrescentando que “é uma invenção da enfermeira que só falou com a
jovem uma vez durante uma hora, e cujas opiniões foram completamente
ignoradas”.
O advogado e a família planeiam um recurso ao Federal
Constitutional Court, que pode decidir rapidamente em matérias de custódia.
Este caso tem recebido atenção tanto localmente como
internacionalmente. Uma marcha de uns 250 elementos do “Action Alliance Alex”
teve lugar em frente ao Departamento do Senado de Berlim para a Juventude com o
mote “Stop the forced institutionalisation of Alex” now!.
Um porta-voz do grupo afirmou que “Esta história não é
única. Instituições como o Youth Office e o hospital têm usado a coerção e a
pressão psicológica para imporem a sua visão! A raça e a identidade de género
são direitos, não doenças.”
Durante esta acção, uma delegação foi recebida pelo
secretário de estado responsável pelo Youth Department, parecendo reconhecer
pela primeira vez a seriedade do assunto e, embora o departamento não possa
interferir directamente nestas matérias no Berlin Youth Office, concordou em
ser mediador neste caso. Espera-se agora uma reunião envolvendo todas as
partes.
Uma petição também se encontra a recolher assinaturas em
(www.change.org/petitions/mayor-of-berlin-stop-the-institutionalization-of-a-11-year-old-transexual)
que já conta com mais de 25.000 assinaturas. Dirigida ao Mayor de Berlin, Klaus
Wowereit, afirma que “A esta rapariga vai ser ensinado que o que sente é
errado, e vai ser empurrada para a negação que já custou a vida de tantas
pessoas trans, graças a decisões baseadas em preconceitos pelo Youth Welfare
office, e a vida desta jovem poderá ficar irremediavelmente arruinada.”
Reuniões de pelo menos umas 15 diferentes organizações
preocupadas com este caso acontecem de 15 em 15 dias, tendo acontecido a última
a 1 de Abril no espaço do TransInterQueer de Berlim.
Disponível em
http://portugalgay.pt/news/Y030412A/alemanha:_autoridades_apoiam_tratamento_forcado_de_jovem_transexual.
Acesso em 09 jul 2013.