Eduardo Shinyashiki
Já se deu conta de que, na maior parte do tempo, estamos
tomando decisões para escolher entre os caminhos que nos fazem satisfazer uma
preferência e aqueles que dão conta de nossas necessidades? Indo mais além,
será que você ainda é capaz de separar essas duas dimensões da sua vida ou a
percepção sobre o que de fato é necessário para sua existência já está
"desligada"? Essas duas questões podem parecer muito específicas, mas
estão ligadas diretamente aos conceitos de alegria e felicidade.
Quando optamos por adquirir o último modelo de celular do
mercado ou passar as férias na praia mais badalada do momento, por exemplo,
nosso pensamento está focado em atender às preferências. Podemos viver sem uma
coisa ou outra, mas temos a nítida sensação de que a ausência desses momentos
irá tornar os dias mais tristes. Em outras palavras, estamos em busca do que
pode trazer sensações prazerosas, mesmo que a um preço alto, seja do ponto de
vista do esforço empregado no trabalho para gerar o montante de dinheiro
necessário para a consumação do desejo bem como dos sacrifícios emocionais
exigidos.
Tendo como referência a realidade do ambiente de trabalho,
essa situação fica bem clara quando temos a chance de conhecer profissionais
que estendem sua jornada diária até altas horas não por estarem em busca de um
objetivo ligado à carreira, mas, sim, da aquisição de um bem material. Por
estarem de olho apenas no final do caminho, deixam de prestar atenção em sua saúde,
na qualidade dos relacionamentos afetivos e, quando percebem, muitas coisas
mudaram sem que tivessem se dado conta.
A felicidade nasce de outra forma: é um conjunto formado
pelas necessidades, físicas e mentais, e nossas realizações. Assim, ter momentos
de diversão com os amigos é tão importante quanto tomar água durante o dia,
ainda que por motivos claramente diferentes. E por mais simples que essa
afirmação pareça, há muitas pessoas deixando suas necessidades de lado em busca
de sonhos que são entendidos como prioritários. Pense: quantas vezes já não viu
um colega do trabalho deixar de ir ao banheiro ou de comer para finalizar uma
apresentação atrasada? Veja bem, não estamos falando de ter uma vida regrada e
limitada ao "arroz com feijão", mas em uma filosofia de vida que nos
faz questionar-se a todos os instantes se algo é realmente necessário para sua
satisfação.
Cada indivíduo tem uma gama única de necessidades, o que
dificulta comparações entre o que é necessário para mim e para você. Por isso,
é importante investir no autoconhecimento, que trará as respostas certas nos
momentos em que tiver que fazer uma escolha. Contrariando o que grande parte da
população pensa, a felicidade não é um estado de espírito que dura por muito
tempo. Já que estamos em constante transformação, nossas necessidades também se
alteram com o desenrolar dos dias. Assim, devemos estar com todos os radares
ligados para identificar essas alterações e, mais uma vez, lançar-se à missão
incansável de saná-las.
Quando optamos por adquirir o último modelo de celular do
mercado ou passar as férias na praia mais badalada do momento, por exemplo,
nosso pensamento está focado em atender às preferências
Quebrando com uma tradição de nossa sociedade, devemos
deixar de escolher entre uma ou outra se quisermos chegar à vida plena. Somente
quando temos bastante claro quais são nossas preferências e necessidades é que
teremos condições de criar estratégias para concretizá-las de maneira
simultânea e responsável.
O filme Click, estrelado por Adam Sandler, traz à tona como
podemos nos perder quando buscamos satisfazer apenas nossas preferências. Ao
decidir avançar o tempo e deixar as preocupações e atividades da rotina de lado
em prol das sucessivas promoções, o personagem principal também abre mão
daquilo que lhe era necessário. Afinal, não podemos deixar de dividir nossos
momentos com pessoas que amamos ou passar uma parte do dia sem pensar em
produtividade. A plenitude não está onde se quer chegar, mas como iremos
percorrer nossos caminhos.
Disponível em
http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/71/artigo241571-1.asp. Acesso
em 25 ago 2013.