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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mudança de sexo de soldado confunde mídia americana

Observatório da Imprensa
edição 761
27/08/2013 

Quando David Coombs, advogado do soldado Bradley Manning, condenado a 35 anos de prisão por ter vazado milhares de documentos secretos do Exército americano, afirmou em participação no programa Today, da NBC, que seu cliente gostaria de viver como uma mulher e ser chamado de Chelsea, criou um problema para âncoras, repórteres e editores: rapidamente, surgiram debates sobre como se referir a Manning. A apresentadora Savannah Guthrie, do Today, usou “ele” e “ela” durante o programa, mas muitos veículos continuaram a usar o pronome masculino, mesmo com Manning tendo deixado claro a sua preferência. “Peço que vocês se refiram a mim pelo meu novo nome e usem o pronome feminino”, disse Chelsea, ex-Bradley, em declaração lida no Today.

Alguns veículos, como o site Huffington Post, a revista New York, o jornal londrino Daily Mail, a emissora MSNBC e a revista online Slate, fizeram a vontade de Chelsea. Já outros, como os jornais USA Today,Boston Globe, Los Angeles Times e New York Times, além dos sites Daily Beast e Politico e dos canais CNN e Fox, continuaram a usar o pronome masculino.

Erin Madigan White, porta-voz da agência de notícias Associated Press, disse que a empresa seguiria seu manual de estilo – referência para muitos jornalistas –, que aconselha repórteres a “usar o pronome preferido dos indivíduos que adquiriram características físicas do sexo oposto ou se apresentam de um modo que não corresponde ao sexo de nascimento”. Portanto, a agência usaria referências neutras de gênero para se referir a Manning, que sejam “pertinentes à questão de transgênero”.

Por meio da porta-voz Anna Bross, a National Public Radio informou que continuará a chamar Manning de “ele”. “Até que o desejo de Manning de ter seu gênero mudado fisicamente aconteça, continuaremos a nos referir ao soldado como ‘ele’”, afirmou.

Caso isolado

O guia do New York Times orienta jornalistas a escrever do modo como o entrevistado prefere. Mas o chefe de redação Dean Baquet explicou que o caso do soldado é diferente: “Geralmente, chamamos pelo novo nome quando nos pedem para fazê-lo e quando eles começam suas novas vidas. Nesse caso, entretanto, consideramos que os leitores ficariam totalmente confusos se mudássemos o nome e o gênero da pessoa no meio de uma grande história de mídia. Isso não é uma decisão política. É destinada a nosso cliente principal – nossos leitores”. A ombudsman do NYTimes, Margert Sullivan, encorajou o jornal a mudar o modo como se refere a Manning. “Pode ser melhor mudar rapidamente para o feminino e explicar isso, em vez de fazer o contrário”, disse.

Rich Ferraro, porta-voz da organização Glaad (em português, Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação), afirmou que iria entrar em contato com organizações de mídia para que mudassem o modo como se referem a Manning. Ele observou que quase todo manual de estilo aconselha o uso do pronome preferido do indivíduo em questão. “Toda a cobertura da mídia hoje mostra o quão distante ela está da cobertura de transgêneros”, opinou.

Disponível em http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed761_mudanca_de_sexo_de_soldado_confunde_midia_americana. Acesso em 16 set 2013.