Elisa Del Rosario Ugarte Verduguez
Universidade de São Paulo - SP
Área de Concentração: Endocrinologia
São Paulo, 2009
Resumo: O transexualismo é um transtorno da
identidade sexual, associado a uma forte e persistente identificação com o sexo
oposto. Há poucos estudos referentes à utilização de testes psicológicos para
auxiliar no diagnóstico do transexualismo. O objetivo deste estudo foi avaliar
os aspectos da psicossexualidade de pacientes autodenominados transexuais
através do teste de Szondi: Estudo retrospectivo e prospectivo no quais os
pacientes com transtornos da identidade de gênero foram avaliados através de
entrevistas livres; com aplicação dos critérios diagnósticos de transexualismo
da DMS-IV da Associação Psiquiátrica Americana, seguido da aplicação dos testes
projetivos de Szondi e H-T-P. O teste de Szondi foi aplicado por 8 vezes em
cada indivíduo para avaliação quantitativa das proporções psicossexuais Dur e
Moll. OS pacientes com diagnóstico de transtorno específico da identidade de
gênero (transexualismo) foram acompanhados em psicoterapia de grupo por pelo
menos 2 anos. Casuística: 105 indivíduos autodenominados transexuais (78
masculinos); grupo controle: 109 indivíduos (55 homens) autodenominados heterossexuais.
Após aplicação dos critérios diagnósticos para transtorno da identidade de
gênero do DMS-IV da Associação Psiquiátrica Americana e acompanhamento
psicoterápico foram definidos como transexuais 41 indivíduos do sexo masculino
e 17 indivíduos do sexo feminino. Na análise estatística as variáveis obtidas
nos testes Szondi e H-T-P foram avaliadas por testes não paramétricos.
Resultados: No grupo masculino, houve predomínio da proporção Moll total assim
como na proporção Moll no vetor sexual e no do ego nos transexuais em
comparação aos heterossexuais e aos portadores de transtorno da identidade de
gênero não especificado (p<0,05). A sensibilidade do teste Szondi para
identificação feminina nos transexuais masculinos foi de 80%, a especificidade
de 86% e a acurácia de 83% enquanto que a sensibilidade do teste H-T-P foi de
88%, a especificidade de 54% e a acurácia de 72%. No grupo feminino houve
predomínio da proporção Dur total assim como na proporção Dur do ego nas
transexuais em comparação as heterossexuais e as portadoras de transtorno da
identidade de gênero não especificado (p<0,05). A sensibilidade do teste
Szondi para identificação masculina nos transexuais femininos foi de 94%, a
especificidade de 67% e a acurácia de 85% enquanto que no teste H-T-P a
sensibilidade foi de 94%, a especificidade foi de 33% e a acurácia de 73%. No
período pós-cirúrgico todos os pacientes portadores de transtorno específico da
identidade de gênero se mostraram satisfeitos, com alguma frustração pela
limitação do processo transexualizador, por terem realizado a cirurgia, porém
com melhora significativa dos vínculos sócio-familiares. Discussão: A validação
de testes psicológicos para o diagnóstico dos transtornos de identidade de
gênero é de grande importância visto o número crescente de pacientes com
queixas de transtorno sexual que procuram tratamento. No estudo atual
analisamos as propriedades do teste Szondi e do teste H-T-P num grupo de
pacientes com transtornos da identidade de gênero classificados através dos critérios
vigentes. Verificamos que a acurácia do teste Szondi foi maior que a do teste
H-T-P no diagnóstico dos transtornos específicos da identidade de gênero a
custa de uma maior especificidade frente a uma sensibilidade semelhante. Além
disto, a detecção de transtornos psíquicos pelo teste Szondi, que podem ser
causa ou efeito do transtorno da identidade de gênero, permite alertar o
psicoterapeuta na indicação da cirurgia de transgenitalização. Conclusão: O
teste Szondi mostrou ser um excelente teste auxiliar para o diagnóstico do
transexualismo em ambos os sexos.