Genilson Coutinho
11 de novembro de 2012 |
Uma pesquisa publicada na semana passada pelo International
Journal of Psychology revela peculiaridades sobre a homofobia no Brasil.
Elaborado pelo Núcleo de Pesquisa em Sexualidade e Relações de Gênero (Nupsex)
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o estudo faz uma análise
inédita de todas as pesquisas de campo sobre o tema realizadas no país entre
1973 e 2011.
Além de concluir que o preconceito contra os homossexuais
existe em todas as regiões e contextos brasileiros, sem indícios de redução, o
trabalho revela um fenômeno peculiar: o preconceito, no país, não está
vinculado apenas à questão da orientação sexual, mas principalmente à
transgressão das chamadas normas de expressão de gênero – que incluem o
vestuário, os gestos e os comportamentos que são esperados de homens e
mulheres. Segundo o coordenador da pesquisa, Angelo Brandelli Costa, o
brasileiro manifesta mais preconceito por uma mulher masculinizada ou por um
homem efeminado do que pelo fato de ser homossexual.
– No Brasil, o preconceito se manifesta mais em relação à
aparência. Um menino pode ser hétero, mas se ele tiver trejeitos identificados
como femininos, sofrerá discriminação, enquanto um homossexual sem trejeitos
pode passar incólume. Alguém que revela ser gay sofrerá preconceito, mas se,
essa pessoa transgredir a norma de gênero, sofrerá mais – diz o Costa.
Travestis e transexuais entre as maiores vítimas
O preconceito pode ser atribuído a um acentuado sexismo, ou
seja, no Brasil são muito valorizados os estereótipos sobre como devem agir e
se comportar um homem e uma mulher. A transgressão a essa norma é penalizada
socialmente. Angelo Costa lembra que em países como a Rússia homens beijam-se
na boca sem que isso seja confundido com determinada orientação sexual. Enquanto
isso, no interior de São Paulo, um pai e um filho que se abraçaram em público
foram agredidos por homofóbicos.
Como o brasileiro parece policiar fortemente a obediência às
normas de comportamento para cada gênero, as maiores vítimas da homofobia são
aquelas que levam a transgressão mais longe: travestis e transexuais. A
pesquisa, que analisou 109 estudos acadêmicos, conclui que esse é o público
mais vulnerável.
Para os pesquisadores, é frágil na sociedade brasileira a
diferenciação existente em outros países entre orientação sexual e expressão de
gênero.
– Existe uma distinção teórica que é levada em conta por
acadêmicos e por militantes, mas para as pessoas é tudo a mesma coisa. A
pesquisa serve de alerta para o fato de que a luta contra o sexismo e contra a
homofobia é muito próxima – diz Costa.
O que eles dizem
Marcelly Malta, presidente da Igualdade RS – Associação de
Travestis e Transexuais do Estado
“As grandes vítimas do preconceito são as travestis e os
transexuais. Há discriminação nas escolas, nos órgãos públicos e nos postos de
saúde. Uma pesquisa feita aqui no Sul mostra que 98% das travestis já foram
agredidas de uma forma ou de outra. Agressões físicas foram cometidas contra
78%, e psicológicas, contra uma proporção ainda maior.”
Bernardo Amorim, coordenador jurídico do grupo Somos
“As conclusões não surpreendem. É simbólico disso o índice
altíssimo de travestis que não concluem os ensinos Fundamental e Médio. O
preconceito é muito grande nas instituições de ensino.”
Disponível em
http://www.doistercos.com.br/homofobia-afeta-tambem-heteros/. Acesso em 24 set
2013.