BBC
29/07/2014
As cirurgias plásticas para aumento de bumbum estão em alta
nos Estados Unidos - mas muitas mulheres estão se submetendo a procedimentos e
técnicas ilegais e arriscados para baratear os preços, que podem chegar a
milhares de dólares.
Natalie Johnson, de Miami, na Flórida, tomou injeções para
aumentar o tamanho dos glúteos. Ela trabalhava de dançarina e acreditava que um
traseiro maior lhe traria rendimentos financeiros.
Acabou com cicatrizes e sofreu com as dores. Em sua casa,
Natalie mostrou à BBC as fotos de seu corpo com manchas escuras e sinais de
decomposição do tecido após o procedimento.
"Eu não precisava, eu era perfeita sem isso. Eu tinha
um estilo de vida no qual eu sentia que, se tivesse um traseiro grande, poderia
ganhar mais dinheiro", disse.
'Profissional'
A decisão de se submeter ao procedimento veio depois que ela
encontrou uma pessoa que alegava ser médico. O homem ofereceu o serviço por um
preço que era apenas uma fração do que normalmente é cobrado em clínicas.
Segundo Natalie, O’Neal Morris foi até a casa dela usando um
jaleco branco e "parecendo profissional", e injetou uma substância em
suas nádegas usando uma seringa.
Inicialmente os resultados foram bons: os glúteos ficaram
mais redondos e firmes, perto do objetivo dela, de ter um "corpo com o
formato de uma garrafa de Coca-Cola".
Os problemas começaram depois de duas sessões. "Comecei
a ficar muito, muito doente. Notei que (o implante) estava começando a
desintegrar e meu traseiro ficou enrugado", disse.
A dor que ela ainda enfrenta é tão forte que é difícil para
Natalie ficar sentada por muito tempo. Ela precisa da ajuda da filha de nove
anos para fazer as tarefas mais básicas.
Em uma ocasião, Natalie foi levada às pressas para o
hospital após parar de respirar.
Em janeiro, Morris começou a cumprir pena de um ano de
prisão por prática de medicina sem licença.
As mulheres que testemunharam durante o julgamento disseram
que Morris, que não é formado, havia injetado uma variedade de substâncias
incluindo cimento, supercola e selante de pneu.
O FBI diz que o número de casos de pessoas que se apresentam
como médicos falsos para realizar cirurgias desse tipo está em alta,
especialmente na Flórida, em Nova York, na Califórnia e no Texas.
Consertando o estrago
Em sua clínica em um subúrbio de Miami, o cirurgião plástico
Alberto Gallerani mostra frascos contendo materiais retirados das nádegas de
pacientes. Entre eles, azeite e supercola.
Gallerani vem tratando Natalie e centenas de outras mulheres
e homens interessados em cirurgia corretiva após procedimentos errôneos.
Ele exibe fotos do que pode dar errado. Elas são fortes
demais para serem publicadas. As cicatrizes são horríveis e em alguns casos a
pele mudou de cor. Outras imagens mais extremas mostram o corpo totalmente
desfigurado.
Gallerani diz que, em muitos casos, os sintomas podem levar
vários anos para aparecer.
"O que muitas das pessoas que fazem isso não percebem é
que elas estão colocando uma bomba-relógio em seus corpos", compara.
Ele diz receber cem chamadas por semana de pessoas pedindo
ajuda.
Cirurgias nas nádegas são cada vez mais comuns nos EUA. Em
2013, o número destes procedimentos dobrou em relação ao ano anterior, de
acordo com a Associação Americana de Cirurgiões Plásticos Estéticos.
O custo chega a milhares de dólares, o que explica os
motivos de muitas mulheres estarem optando por intervenções não regulamentadas
e métodos mais baratos.
Pressão do meio
A cultura hip-hop celebra um traseiro maior, e a pressão
sobre as mulheres é enorme, diz Tee Ali, um agente de artistas em Londres.
Sua cliente e amiga, Claudia Aderotimi, de 20 anos, morreu
em 2011, depois de voar de Londres para a Filadélfia para receber injeções de
uma mulher que conheceu na internet.
Os médicos acreditam que as próteses de silicone ilegais se
espalharam por seus órgãos, matando-a. A pessoa acusada de realizar o
procedimento deve ser julgada no ano que vem.
Ali diz que Claudia acreditava que ter nádegas maiores a
ajudaria a ter sucesso na indústria da música.
"Quando as meninas saem e uma delas tem um bumbum
grande, ela recebe toda a atenção. Ela vai ter tudo, elevadores exclusivos,
bebidas gratuitas", diz ele.
"Todo mundo sabe, as meninas com bumbuns maiores
recebem mais atenção, grandes ofertas de trabalho e demanda maior".
Tragicamente, Claudia não está viva para alertar outras
pessoas sobre os perigos de procedimentos ilegais. Mas Natalie acredita que
através de sua história, outras mulheres podem ser salvas.
"Fique com o que Deus lhe deu", diz. "Eu digo
a garotas: se não está quebrado não conserte. Você é linda do jeito que você
é."
Disponível em
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/07/falsos-medicos-usam-cimento-azeite-e-supercola-em-plasticas-de-bumbum.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1.
Acesso em 30 ago 2014.