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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bases biológicas da orientação sexual e da identidade de gênero

Daniel Pessoa
10 outubro, 2009

Homens e mulheres revelam padrões de diferenças comportamentais e cognitivas que refletem as diversas influências hormonais no desenvolvimento do cérebro.

Alguns estudos têm apontado para a importância do hipotálamo como área do cérebro responsável pela regulação do comportamento reprodutivo. Tem se mostrado que o hipotálamo de ratos machos é maior que o de ratos fêmeas, estando esta diferença sob controle hormonal. Estas diferenças também têm sido identificadas no hipotálamo humano, e estariam relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero. Aparentemente, transexuais masculino-femininos apresentam hipotálamos menores que os de indivíduos masculinos.

Em ratos, a privação de hormônios masculinos, através da castração ou bloqueio hormonal, imediatamente após o nascimento, leva a uma redução nos comportamentos sexuais masculinos (montar durante a cópula) e a um aumento nos comportamentos sexuais femininos (lordose – arqueamento das costas durante o coito). A administração de hormônios masculinos a ratos fêmea levam a um resultado similar, com aumento de monta e diminuição de lordose.

Isto também parece ocorrer em seres humanos. A análise do comportamento lúdico de meninas com HCA (hiperplasia das adrenais), em comparação com seus irmãos e irmãs, mostrou uma “masculinização” de seus comportamentos. A HCA faz com que grandes quantidades de hormônios masculinos sejam produzidas.

No passado, a ciência já serviu como pretexto para deflagração de preconceitos e conceitos distorcidos. A ciência não é perfeita, afinal é realizada por seres humanos. Vamos torcer para que os cientistas não se esqueçam do passado e que a ética prevaleça em suas pesquisas e interpretações.


Disponível em http://pessoadma.wordpress.com/2009/10/10/bases-biologicas-da-orientacao-sexual-e-da-identidade-de-genero/. Acesso em 11 ago 2013.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O cérebro é quem define o comportamento sexual

Ney Cavalcanti
03 de Agosto de 2010

Uma em cada 2000 crianças nascem com uma genitália não adequadamente diferenciada, como pênis ou vagina, uma genitália ambígua. As causas para que isto aconteça são várias.

Uso de drogas pela mãe, doença genéticas, anormalidade na produção dos hormônios pelo feto, não determinada etc. Quando isto acontece, a equipe medica estuda todos os aspectos dos órgãos envolvidos no determinismo sexual A gônada (ovário ou testículo), a genitália interna. (útero, trompas ou próstata ), os hormônios, os cromossomos (com ou sem o Y).  

Após analisar os dados encontrados, médicos e familiares decidem qual o sexo que a criança irá adotar. Na maioria dos casos, existe uma  tendência  a decidir-se pelo feminino. A razão é simples, é muito mais fácil criar cirurgicamente uma estrutura que possa funcionar como vagina, do que como pênis.  

Nos últimos anos, vem se interrogando se este tipo de conduta é a mais correta. Em muitos desses casos, mesmo com suporte medico e psicológico corretos, não existe uma boa adequação ao sexo escolhido.  Inadequação esta, que já se exterioriza desde a infância e persiste durante toda a vida. Ela é tão marcante que alguns procuram ajuda medica, para modificação das suas características sexuais.  

Existe um relato que uma paciente mulher, procurou um serviço medico aos 52 anos de idade, com esta finalidade. Interrogada por que tanta demora, informou que esperou que os pais morressem, para não magoa-los.

Qual a razão desta não adequação? 

O homem tem apenas um cromossomo diferente da mulher, o Y. Ele é o responsável pela diferenciação  do feto em masculino. Ele realiza esta missão fazendo com que exista a formação dos testículos fetais, que produzem o hormônio masculino, a testosterona. Este hormônio fará com que os as estruturas do feto se diferenciem no sentido masculino. Na sua ausência, a diferenciação será no sentido da feminilidade.  

Os hormônios também promovem a diferenciação sexual de uma estrutura do cérebro, o hipotálamo. Nesta estrutura cerebral também estão localizados os núcleos nervosos, que controlam as nossas funções vitais. Fome, saciedade, temperatura corporal, batimentos cardíacos etc., estão sobre controle do hipotálamo. Também o nosso comportamento sexual  parece ser determinado por  ação hormonal no hipotálamo. 

Há muito sabemos que a administração de  testosterona, em uma rata no inicio de sua vida, fará com que assuma um comportamento como se macho fosse, durante toda a sua existência. Recentemente cientistas holandeses descobriram diferenças anatômicas, em humanos, nos  hipotálamos dos dois sexos.  

E mais,  demonstraram que em transexuais, homem-mulher, genitália masculina, com um hipotálamo com características femininas. Por outro lado no outro tipo de transexual, mulher-homem, a genitália feminina com hipotálamo do outro sexo.  Assim nestes casos, por razoes ainda desconhecidas a diferenciação da genitália seria diferente da do hipotálamo.  

Um  pesquisador desta área, Milton Diamond afirma ”Para o sexo o mais importante não é o que se tem entre as pernas, mas o que existe entre as orelhas”. Caso estas pesquisas se confirmem poderemos entender e aceitar melhor o comportamento dos transexuais, que enfrentando severas criticas  da sociedade, assume um comportamento diferente dos de seus órgãos sexuais externos.


Disponível em <http://www.diabetes.org.br/colunistas-da-sbd/pontos-de-vista/1433>. Acesso em 17 ago 2011.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Adolescência é coisa do cérebro e não dos hormônios

Suzana Herculano-Houzel
edição 225 - Outubro 2011


Ah, a adolescência. Como se não bastasse ficar desengonçada e ter de aprender no susto a lidar com o corpo crescendo e mudando de proporções rápido demais, eu ainda tinha de ouvir “são os hormônios, depois passa”. Por alguma razão, a frase me irritava profundamente. Minha “vingança” chegou anos depois, pelas mãos da neurociência: hoje se sabe que os hormônios pouco têm a ver com a adolescência. Ela nem mesmo é iniciada por eles – e sim pelo cérebro. E mais: adolescentes nem são crianças grandes, nem adultos donos de um cérebro já pronto e apenas temporariamente inundado, obnubilado por hormônios. Adolescentes são donos de um cérebro adolescente, em franca remodelagem, e justamente daí vêm todas as características da fase.

As transformações da adolescência começam no hipotálamo, que aguarda do corpo um sinal, na forma do hormônio leptina, de que já há gordura suficiente acumulada para iniciar as transformações. Só então o hipotálamo passa a produzir uma substância chamada kisspeptina, que desencadeia uma série de mudanças. Uma das alterações no hipotálamo comanda a produção de hormônios sexuais e o torna sensível a eles, o que permite ao cérebro descobrir o sexo – esta, sim, a verdadeira função desses hormônios. Incidentalmente, é aqui também que o adolescente descobre sua preferência sexual – descobre, não escolhe: qual dos sexos deixa o hipotálamo excitado (agora que ele se tornou excitável) depende de eventos que já aconteceram no cérebro lá no início da gestação. Escolha sexual é apenas o que se decide fazer com a própria preferência sexual: abraçá-la ou escondê-la.

Logo em seguida vêm as alterações no sistema de recompensa, que sofre uma enorme baixa em sua sensibilidade à dopamina e deixa de encontrar graça no que antes dava prazer. O resultado é um conjunto de marcas diagnósticas da adolescência: tédio, perda de interesse pelas brincadeiras da infância, impaciência, preferência por novidades e um gosto por riscos – que o jovem, claro, julga estarem sob seu controle. O conjunto é ótimo, pois nos faz abandonar os prazeres da infância e querer sair de casa em busca de outros horizontes. Senão, quem abriria mão de casa, comida e roupa lavada?

O único porém é que as mudanças necessárias no córtex cerebral para lidar de modo adulto com os novos impulsos adolescentes levam cerca de dez anos para acontecer. Atenção, linguagem, memória e raciocínio abstrato são processos até que rapidamente aprimorados, em torno dos 14 anos, e postos à prova com o interesse súbito por política, filosofia e religião. Por outro lado, a capacidade de se colocar no lugar dos outros e de antecipar as consequências dos próprios atos, bases para as boas decisões e para a vida em sociedade, só chega bem mais tarde, por volta dos 18 anos, à força de mudanças no cérebro e de muita experiência. Só o tempo não basta: tornar-se independente e responsável requer aprender a tomar boas decisões, e isso só se aprende... tomando decisões. Se tudo der certo, o resultado desse período de ampla remodelagem guiada pelas experiências do aprendizado social, sexual, cultural e intelectual é o que todo pai e mãe anseiam para seus filhos: que se tornem independentes, responsáveis e bem inseridos socialmente. 

Adolescentes, portanto, fazem o que podem com o cérebro que têm – e é bom que seja assim. Nosso dever é ajudá-los oferecendo informações, alternativas, e também o direito de errar de vez em quando. Fico aqui torcendo para continuar pensando assim quando meus filhos virarem adolescentes...


Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/adolescencia_e_coisa_do_cerebro.html>. Acesso em 02 jul 2012.