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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Eles falam particularidades femininas que eles não vivem sem

Roberta Figueira

Cada mulher é única, com diferentes qualidades e defeitos. Mesmo assim, muitas vezes apresentamos algumas características semelhantes. A capacidade de ser multitarefas, fazendo e pensando em diversas coisas ao mesmo tempo, e de conseguir enxergar detalhes, são algumas habilidades consideradas tipicamente femininas. Mas nossa contribuição para a vida dos nossos companheiros, amigos, colegas de trabalho e familiares vai muito, além disso. Para saber as particularidades femininas que eles não conseguem viver sem, o Terra consultou 25 homens de idades e profissões variadas. Confira as respostas:

“As características que acredito serem bem importantes nas mulheres são: Multitarefas, especialmente àquelas que não conseguimos fazer ao mesmo tempo como cuidar do nosso bem estar, da casa, dos filhos e ainda arrumar tempo para trabalhar; e a capacidade de lembrar de tudo que esquecemos, de saber onde está tudo” - Fabio Moura, 32 anos, representante comercial.

"Realmente é impressionante como a mulher se lembra das datas. Adoro quando sai do banho, mas o que mais me impressiona é o cuidado com que se preocupa com nosso bem estar e de como consegue lidar com as adversidades do dia a dia, como o otimismo de dizer que tudo ficará bem no dia seguinte" - Job Vieira Filho, 58 anos, vendedor.

“O cheiro de cabelo lavado” - João Paulo Costa, 27 anos, publicitário.

“Como ficam encantadoras sorrindo” - Tito Conte, 23, estudante.

"O charme, a delicadeza e a inteligência feminina" - Robson Leandro da Silva, 38 anos, professor.

“A capacidade de saber o que dizer e fazer para manter a família unida e de como me colocar para cima e dar apoio para decisões. Elas também sempre sabem o que comprar. Sem minha mulher e filhas eu não teria nada no armário” - José Gonçalves, 51 anos, empresário.

"Não consigo viver sem as seguintes particularidades femininas: dos carinhos, conversas, da simples companhia; e da completa falta de noção de direção que me causa muitas risadas..." - Renato Volpe, 26 anos, engenheiro civil.

"A força moral para aguentar situações difíceis sem deixar a bola cair" - Ricardo Fernandes, 24 anos, jornalista.

“O drama feminino” – William Rezende, 29 anos, editor.

“O cheiro da mulher em si; o carinho físico típico feminino, delicado; e o pensamento feminino, que é diferente do dos homens, então é bom ter esse ponto de vista próximo” - Kyu Ho Shim, 27 anos, empresário.

“Iniciativa de demonstrar carinho, surpreendendo com um beijo ou abraço” – Guilherme Dearo, 23 anos, jornalista.

“A forma carinhosa de chamar atenção e fazer pedidos, a capacidade de reconhecer erros e apoiar no momento de vencer conflitos. Toda mulher é forte porque tem que ter paciência com a capacidade fraca de compreensão masculina, mas é importante ela tentar explicar se os sinais não derem certo, homens são burros, se for necessário, desenhe” - Lucas Duarte de Souza, 22, aventureiro.

“Bom humor, o carinho e a inteligência”- Renato Mobaid, 28 anos, publicitário.

"A sensibilidade, a arte de ser sempre bela e a dedição com a família...e mais algumas dezenas de atributos..." - Wagner Bento Torres, 40 anos, analista de contas.

“A capacidade de rir, das coisas do mundo e de mim; o romantismo e a disposição de ajudar os outros” – Caio Paganotti, 26 anos, fotógrafo.

“A vaidade e o esforço para fazer a coisa dar certo”- Marcelo Garcia, 23 anos, estagiário de produção de eventos.

 “O companheirismo, a delicadeza e o perfume”- Pedro Taveira, 25 anos, jornalista.

“Detalhismo, organização e limpeza” - Hamilton Rodrigues, 26, relações públicas.

“O jeito que as mulheres cuidam do seu corpo; e a maneira que elas cuidam do seu parceiro” - Leandro Hartmann, 27 anos, analista.

“A sensualidade” - João Gabriel Peixoto, 26 anos, fisioterapeuta.

“O ser feminina” - Elton Trindade, 23 anos, geólogo.

“A capacidade de ficar cheirosa e arrumada nas ocasiões corretas e sempre manter o sorriso” - Anderson de Sousa, 33 anos, analista de sistemas.

“O cheiro feminino e a capacidade de fazer e pensar diversas coisas simultaneamente” - Pedro Filho, 25 anos, professor.

“A capacidade de reparar em todos os detalhes e a delicadeza no trato com as pessoas” - Guilherme Yazaki, 24 anos, publicitário.

“A cumplicidade feminina, a capacidade de acalmar, animar, compreender, surpreender e cuidar em geral, entre muitas outras coisas” - Felipe Azevedo, 28 anos, médico.


Disponível em http://mulher.terra.com.br/comportamento/eles-falam-particularidades-femininas-que-eles-nao-vivem-sem,fea3b74e0449a310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html. Acesso em 10 fev 2014.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Diferenças cerebrais entre homens e mulheres justificam habilidades e comportamentos distintos?

Joel Rennó Junior
07.janeiro.2014

Do ponto de vista médico, há estruturas cerebrais com morfologia e funcionalidade diferentes entre o SNC (Sistema Nervoso Central) do homem e da mulher. Em parte, os comportamentos, atitudes, pensamentos, habilidades e sentimentos femininos podem ser distintos aos dos homens por tais diferenças anatômicas e funcionais entre os cérebros deles. Esse é o papel das neurociências na atualidade, apontar tais diferenças, a fim de que haja intervenções terapêuticas distintas e até medidas preventivas.

“Neurocientistas e a sociedade têm que ter muito cuidado ao fazerem as interpretações de tais diferenças, sem reducionismos perigosos. Pode haver uma distorção ao fazer reforços de preconceitos existentes contra a mulher, justificando certas habilidades diferenciadas como um sinônimo de inferioridade”       

Por que essa diferença entre o cérebro do homem e da mulher?
Sabemos que grande parte dessas diferenças decorre da exposição diferenciada do cérebro feminino ao hormônio estrogênio, já no intraútero, na gestação. O cérebro feminino vai se moldando e se desenvolvendo de uma forma distinta ao masculino já no intraútero.

Imagens da ressonância magnética funcional realizadas por neurocientistas apontam, entre inúmeras outras diferenças (poderíamos citar dezenas delas encontradas na última década):

1. O cérebro das mulheres é aproximadamente 10% menor que o dos homens, porém, possui maior número de conexões entre as células nervosas. O corpo caloso que faz a comunicação entre os hemisférios cerebrais direito e esquerdo costuma ser mais desenvolvido nas mulheres. Isso leva a uma melhor integração de diferentes estímulos entre os dois lados do cérebro feminino. Geralmente, as mulheres fazem várias tarefas simultâneas como cozinhar, ler, cuidar da casa e dos filhos de forma mais eficiente que os homens.

2. O cérebro esquerdo é bem mais desenvolvido entre as mulheres;

3. O cérebro direito mais desenvolvido entre os homens – contrariamente ao que pensa o grande público – sabe-se ser o hemisfério esquerdo denominado “científico”, analítico, racional, verbal, temporal, enquanto o hemisfério direito é dito “artístico”, sintético, emocional, não verbal e espacial, isso sob a influência direta dos hormônios sexuais (testosterona e outros).

4. A mulher está mais sujeita a sentir depressão do que o homem e, quanto a isso, existe uma relação direta com a baixa produção da substância química cerebral, a serotonina, no cérebro feminino. As oscilações dos níveis de estrogênio em períodos críticos do ciclo reprodutivo feminino como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa (período que se inicia cerca de 5 anos antes da menopausa e vai até um ano após) são “gatilhos” para a depressão feminina mais frequente, cerca de duas vezes.

5. O cérebro masculino é voltado para a compreensão, enquanto o feminino é programado para a empatia (cuidado com a interpretação).

6. As imagens mostraram que o lobo parietal inferior, área envolvida em atividades matemáticas, é maior no cérebro deles. Portanto, os homens costumam ser melhores em tarefas matemáticas, enquanto as mulheres se saem melhor em atividades verbais (cuidado com a interpretação!).

7. As mulheres são mais emotivas e expressam com mais facilidade seus sentimentos do que os homens, porque o sistema límbico delas é mais desenvolvido do que o deles (cuidado com a interpretação!).

Interpretação entre diferenças de gênero deve evitar reducionismo perigoso

Os neurocientistas e a sociedade têm que ter muito cuidado ao fazerem as interpretações de tais diferenças, sem reducionismos perigosos. Pode haver uma distorção ao fazer reforços de preconceitos existentes contra a mulher, justificando certas habilidades diferenciadas como um sinônimo de inferioridade.

Lembro-me do discurso infeliz de um antigo reitor da Universidade de Harvard, nos EUA, destacando que as mulheres não seriam tão eficientes e brilhantes no campo das Ciências Exatas. Isso não faz tanto tempo assim, é relativamente recente. No passado, até foram publicados artigos sobre tais diferenças em revistas científicas consagradas como Science and Nature, amplificando e reforçando a suposta inferioridade feminina. Por coincidência, muitos dos cientistas da época eram homens.

Nunca podemos também deixar de levar em consideração o ambiente e a cultura em que o homem e a mulher estão inseridos. Na minha prática clínica, conheço homens sensíveis, afetuosos, que se saem melhor em atividades verbais do que matemáticas ou lógicas. Por outro lado, conheço mulheres que são pesquisadoras brilhantes, exímias matemáticas e com afeto raso e pouco contato verbal.

Biologia e genética não determinam tudo sobre comportamento e habilidades humanas

A biologia e a genética, embora relevantes, não são os únicos determinantes do comportamento e habilidades humanas. Por isso, pessoalmente, eu detesto piadas ou jocosidades a respeito de tais diferenças porque, no fundo, há uma expressão (até inconsciente) de nossos preconceitos e projeções. Isso, é claro, pode ser oriundo tanto dos homens quanto das mulheres. Já ouvi mulheres afirmando “acho aquele cara esquisito, sensível e romântico, pouco decidido e muito delicado”.

Ouvi também comentários de homens do tipo “aquela ali é uma empresária agressiva, racional e mal amada”. Ambos comentários trazem no seu bojo a mensagem que a neurociência jamais quer que tais diferenças se transformem em julgamentos ou justificativas estigmatizadoras dos gêneros, sejam masculinos ou femininos. Até porque alguns cientistas afirmam que cerca de 20% dos homens têm cérebros “femininos” e até 10% das mulheres têm cérebro “masculinizados”.

No próprio campo da sexualidade humana, observamos mudanças do comportamento sexual da mulher, mais arrojada, determinada, exigente e erotizada. Apesar de alguns determinantes biológicos, isso ilustra o quanto o ambiente e as forças sociais podem interferir. O objetivo deve ser sempre o de aprimorar as competências tanto dos homens quanto das mulheres, nunca aprofundar abismos pré-existentes.

Muitos me perguntam por que as mulheres criam discussões em casa, o que elas têm, com relação ao gênero feminino, que contribui para os conflitos de casal. Não vejo que os conflitos entre os casais sejam decorrentes de questões intrínsecas do gênero como as pessoas costumam apregoar – pelo menos na maior parte dos contextos. O principal fator realmente costuma ser a expectativa que se projeta na figura do outro, geralmente, sempre superdimensionada no início de muitos relacionamentos. A fase de encantamento acaba terminando e daí vem a frustração.

Alguns indivíduos, independentemente de serem homens ou mulheres, costumam projetar no outro verdades ou conceitos baseados em seus próprios valores. A figura idealizada de qualquer pessoa sempre acaba gerando consequências negativas. Ninguém, por melhor que seja, vai ser capaz de sustentar aspectos arquetípicos de um grande herói, infalível em sua essência. Por melhor que sejamos, nossa natureza humana pode se tornar frágil em algum momento.

Entre as questões que costumam gerar mais conflitos entre homens e mulheres, incluem-se a traição, o sentimento de rejeição de um ou de outro, a educação e os valores ensinados aos filhos, religião ou crença, brigas entre as famílias, dependência econômica e sexo. Não acredito ser possível classificar as mais típicas de um gênero ou de outro, tudo vai depender da dinâmica do casal e da própria família adotada em sua convivência diária, na capacidade individual de cada um poder crescer e se transformar.

Na sociedade atual, não vejo questões tão específicas ou típicas de um sexo em relação ao outro, há padrões mutáveis e imprevisíveis, devido aos múltiplos papéis envolvidos.


Disponível em http://blogs.estadao.com.br/mentes-femininas/. Acesso em 10 fev 2014.

domingo, 7 de julho de 2013

Atraente, confiante, competente

Gisela G. S. Castro
Clarisse Setyon

Parece não ser possível hoje viver, assistir ou relatar fatos sem que estes sejam permeados pelos discursos da mídia. Nossa sociedade midiática é também conhecida como sociedade de consumo. As duas, inseparáveis, se retroalimentam. Impossível dissociá-las. Assim como o ato de se comunicar é condição inerente ao ser humano, também o são as práticas de consumo. Consumimos comunicação. Comunicamos ao consumir. Para Baccega (2009, p. 3) "consumir significa investir no pertencimento à sociedade, tornar-se vendável". Assim sendo o consumo é algo central na vida do sujeito que almeja viver em sociedade.

A aliança entre mídia e consumo colabora para incorporar o indivíduo à lógica do valor discriminatório do consumo. A identificação do indivíduo, além das dimensões fundamentais como nome, atividade ou profissão, incorpora também a tipologia de consumo a que tem acesso, bem como suas escolhas de bens e serviços. Everardo Rocha e Gisela Castro (2012, p. 169) ensinam que "o consumo constitui um código por meio do qual nós nos relacionamos com nossos pares e com o mundo a nossa volta".

Em clássico estudo sobre o consumo, Néstor Garcia Canclini (1999, p. 79) constata que "nas sociedades contemporâneas, boa parte da racionalidade das relações sociais se constrói, mais do que na luta pelos meios de produção, da disputa pela apropriação dos meios de distinção simbólica". Nesse processo, a apropriação desses símbolos visa proporcionar a tão desejada posição de destaque no mercado social. Ainda que o consumo seja comumente reduzido ao mero consumismo, sabemos que os processos de consumo são bastante mais complexos do que frutos de impulsos irrefreáveis deflagrados pelos incessantes apelos da publicidade.

A aliança entre mídia e consumo colabora para incorporar o indivíduo à lógica do valor discriminatório do consumo. A identificação do indivíduo, além das dimensões fundamentais como nome, atividade ou profissão, incorpora também o que se consome

Zygmunt Bauman (2008) destaca a transformação de pessoas em mercadorias no mundo atual. Segundo o autor, a sociedade contemporânea "se distingue por uma reconstrução das relações humanas a partir do padrão, e à semelhança, das relações entre os consumidores e os objetos de consumo" (p. 19). Parafraseando William Shakespeare, Bauman explica que "numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas" (p. 22).

Sem compartilhar da visão excessivamente sombria do sociólogo polonês, entendemos que o ambiente competitivo que vigora na esfera profissional se estende para o âmbito da vida pessoal. Assim como é exigido que o sujeito aprenda a se autogerir e que encontre as orientações para seu melhor desempenho no mundo corporativo, também na vida social suas escolhas, suas ações e possíveis consequências devem ser objeto de rigoroso e permanente escrutínio.

Coerente com o ideário neoliberal, a figura do sujeito empreendedor tornou-se modelo dominante nos mais diversos contextos. Constantes desafios e cobranças por desempenho nos confrontam a cada momento. Em oportuna reflexão sobre o imperativo da felicidade em nossos dias, João Freire Filho (2010, p. 23) constata "relevantes conexões entre os projetos individuais de cuidado pessoal e de bem-estar subjetivo e os princípios da governabilidade neoliberal".

O sujeito empreendedor não obtém sucesso por mero acaso. Ele precisa ser, antes de tudo, alguém que está disposto a arriscar. Em uma sociedade regida pela incerteza e pela competição constante, a capacidade de enfrentar desafios e superar riscos se torna quesito de sobrevivência. Nesse tempo de acirrado culto da performance, qualquer deslize pode custar caro.

Em cada esfera da vida é necessário exibir desempenho exemplar. Caso contrário pode-se estar condenado ao insucesso e ao ostracismo social. Sendo assim, o sujeito empreendedor deve cuidar de sua vida pessoal com o mesmo esmero com que gere sua vida profissional. Também nas relações sociais o nível de exigência precisa ser alto. É preciso ostentar desempenho superlativo para que se possa atrair interesse e admiração. A esse respeito, Freire Filho (2010, p. 15) comenta que a "expansionista indústria do bem-estar e do aprimoramento pessoal disponibiliza uma alentada rede de produtos e serviços".

O ambiente competitivo que vigora na esfera profissional se estende para o âmbito da vida pessoal. Em qualquer idade e para qualquer um, não basta ser atraente, ativo e disponível

Tal premissa vigora até mesmo nas áreas mais íntimas da existência, como no âmbito das práticas sexuais que interessam mais diretamente à reflexão aqui proposta. É relevante questionar a relação entre a comunicação midiática e o consumo de produtos e serviços destinados a potencializar o desempenho sexual, bem como a maneira pela qual as subjetividades são chamadas a se adaptar para que os indivíduos possam ser percebidos como inseridos no contexto hipercompetitivo da contemporaneidade.

A mercadorização do sexual

Ao discorrer sobre as transformações na intimidade em nossos dias, Giddens (1993, p. 73) percebe que "o cultivo de habilidades sexuais e a capacidade de proporcionar e experimentar satisfação sexual" são hoje indispensáveis. Como lembra o autor, a indústria do bem-estar coloca à disposição uma "multiplicidade de fontes de informações, de aconselhamento e de treinamento sexual" (idem) que prometem conferir "algo a mais" nas relações sexuais atuais.

É fundamental preocupar-se constantemente em promover um upgrade na performance sexual, como se houvesse uma espécie de esgotamento ou tédio nas atividades sexuais mais cotidianas. Os parceiros estão em busca de kits que lhes permitam potencializar o prazer, reduzir a monotonia de relações mais duradouras, ou apenas mostrarem-se felizes e bem-sucedidos por dominarem novas táticas que prometem potencializar o gozo.

Em tempos de neoliberalismo, o sujeito empreendedor se esmera na gestão de si como se fosse, ele próprio, um produto com o objetivo de tornar-se socialmente atraente e desejável. Como parte da engenharia individual, uma aparência jovem, saudável e uma boa disposição física e mental comparecem como atributos mandatórios. Para atingi-los o sujeito sai em busca da miríade de ofertas que se apresentam. O importante é apostar todas as fichas no autoaprimoramento para promover e ampliar seu valor social. Pode-se dizer que há hoje certa anormalidade percebida em relação àqueles que se afastam dessa busca.

Em qualquer idade e para qualquer um, não basta ser atraente, ativo e disponível. Além do corpo turbinado por exercícios e próteses de todo tipo, é preciso constituir-se como um verdadeiro atleta sexual, apropriando-se de saberes e recursos antes restritos a profissionais do ramo. A constituição do sexual como arena de mercado pode ser constatada em todos os momentos, nos mais diversos ambientes. Ela é visível, sobremaneira, no discurso midiático.

Retomando o consumidor, seus desejos, necessidades e desafios constantes, um desempenho sexual impecável, além do esperado, configura o leque de predicados exigidos em uma sociedade que cultua os que por alguma razão se situam muito acima da média. O desejável seria a performance diferenciada, desempenho e desenvoltura extraordinários, troféus a serem exibidos para todos e por cada um. Estimula-se o consumo de produtos, serviços e saberes na luta cotidiana contra a insegurança da mediocridade. Acessórios como sex toys e lingerie provocante, aliados a práticas como o strip tease, a dança do ventre ou a pole dance prometem novos e irresistíveis prazeres e tornaram-se um must para indivíduos de qualquer idade ou posição social.

Para além da proliferação dos sex shops nas cidades brasileiras, o erotismo tem lugar de destaque no discurso midiático. Diversas emissoras de TV diariamente dedicam partes de sua programação a pautas relativas à sexualidade. Frequentemente esses programas e outros conteúdos midiáticos são legitimados por indivíduos das mais diversas áreas. São modelos, artistas, médicos, políticos, líderes de opinião diversos que se apresentam aptos a contar, a uma audiência em constante busca de referências para novas ações empreendedoras e formações identitárias, algo que ainda não seja de domínio público a respeito de práticas sexuais "da moda", mais eficientes, irresistíveis, que proporcionem um melhor desempenho.

O cultivo de habilidades sexuais e a capacidade de proporcionar e experimentar satisfação sexual são hoje indispensáveis. Assistimos a consolidação da esfera sexual como arena onde se enseja a promoção de uma vasta gama de produtos

Segundo Bauman (2008, p. 87), "há muitas áreas em que precisamos ser mais competentes, e cada uma delas requer uma compra. Compramos para parecer, compramos para melhorar a impressão de quem nos consome". Nossa argumentação sugere que atualmente também na esfera das práticas sexuais mais cotidianas tudo se transforma em mercadorias, que devem ser consumidas com o objetivo principal de projetar uma imagem de indivíduo cuja performanceé superior. Esse indivíduo seria percebido como mais atraente e desejável no ultracompetitivo mercado das subjetividades contemporâneas.

Afinal é sabido que os discursos midiáticos não são ingênuos. Parece haver um interesse por parte dos produtores dos conteúdos em não apenas comercializar certos produtos propriamente ditos como, sobretudo, construir sentidos sociais que enfatizam sua importância para uma eficaz gestão de si na qualidade de vida. Devemos refletir sobre a constituição desses sentidos, uma vez que os discursos da mídia permeiam, orientam e modulam o contexto sociocultural e as diversas práticas de consumo.

Em tempos de neoliberalismo, o sujeito empreendedor se esmera na gestão de si como se fosse, ele próprio, um produto com o objetivo de tornar-se socialmente atraente e desejável

Assistimos a consolidação da esfera sexual como arena onde se ensejam a promoção e o consumo de uma vasta gama de produtos relacionados às práticas sexuais. Os interesses existentes por parte dos produtores de conteúdo midiático em apresentar artigos diversos em forma de sentidos sociais encontram eco também na indústria de bens de consumo. Néstor Garcia Canclini (1999, p. 78) destaca que "é inegável que as ofertas de bens e a indução publicitária de sua compra não são atos arbitrários". Como ensina, "comprar objetos, atribuir-lhes funções na comunicação com os outros são os recursos para se pensar o próprio corpo, a instável ordem social e as interações incertas com os demais" (1999, p. 83). Os discursos transformadores funcionam de modo pedagógico. Sabemos do papel central desempenhado pelos discursos midiáticos na construção da subjetividade.

Douglas Kellner » O filósofo ensina que "a cultura da mídia é vista como um terreno de disputa que reproduz, em nível cultural, os conflitos fundamentais da sociedade" (2001, p. 134). O autor reforça esse pensamento quando apresenta a noção de "horizonte social" (2001, p. 137), a qual se refere "às experiências, às práticas e aos aspectos reais do campo social que ajudam a estruturar o universo da cultura da mídia e sua recepção" (idem). Finalmente, o autor conclui afirmando que a "cultura veiculada pela mídia divulga imagens e cenas poderosas em termos de identificação que podem influenciar diretamente o comportamento, criando modelos de ação, moda e estilo" (2001, p. 142).

De acordo com Paula Sibilia, nos dias de hoje "o produto comprado e vendido, em todos os casos, é o consumidor" (2002, p. 35). Para desbancar a competição no mercado das subjetividades, a mesma lógica prevalece: ser o(a) mais atraente para ser o escolhido(a), ter sucesso. O principal perigo é tornar-se falha(o) ou obsoleta(o). Daí estarmos sujeitos às "tiranias do upgrade", expressão utilizada por Sibilia para descrever o cruel imperativo do autoaperfeiçoamento perpétuo.

Ao escrever sobre a importância dos meios de comunicação na formação de identidades, Douglas Kellner (2001) comenta que, diferentemente de séculos atrás, a construção de identidades ocorre hoje como no teatro, por meio da representação de papéis. Diz o autor "a identidade pós-moderna gira em torno do lazer e está centrada na aparência, na imagem e no consumo" (2001, p. 311).

Jogo » Kellner explica que o lazer ao qual se refere poderia ser um jogo onde todos conhecem as regras e jogam de acordo com elas. O autor encerra essa argumentação ao afirmar que "o jogador torna-se alguém quando é bem-sucedido e obtém identidade por meio de admiração e do respeito de outros jogadores" (Kellner, 2001, p. 311).

Para concluir

Ao que tudo indica, a mercadorização do sexual se apresenta como forma de fornecer instrumentos para a autogestão do indivíduo, este também como mercadoria, em um jogo descrito por Kellner. Habilidades sensuais, conhecimentos de práticas eróticas, aquisição de sex toys, novos e antigos saberes e condutas, tudo isso faz parte do kit de predicados indispensáveis aos moldes de certa pedagogia midiática em vigor.

À disposição daqueles que estão prontos a investir no constante aprimoramento da sua autoimagem, incontáveis matérias de jornais e revistas anunciam todo tipo de serviços e produtos voltados para esse fim. Essas ofertas não falam apenas de como o indivíduo que busca destaque deve se posicionar. Elas ressaltam também as dificuldades e medos que devem ser superados para se atingir esse objetivo. As soluções estariam ao alcance de cada um, bastando uma dose certa de investimento pessoal para alcançá-las. O sucesso, a satisfação e o bem-estar não seriam resultados do acaso ou do destino; tornariam-se obrigação e dependeriam fundamentalmente do empenho individual.

O sucesso, a satisfação e o bem-estar não seriam resultados do acaso ou do destino; tornaram-se obrigação e dependeriam fundamentalmente do empenho individual

Num contexto onde juventude, beleza, sensualidade e máxima performance constituem chaves para o sucesso, as mais diversas práticas de consumo se apresentam como investimentos indispensáveis no ideário do amante irresistível.

Referências
BACCEGA, M. A. Campo da comunicação. In: BARROS FILHO, C. e CASTRO, G. G. S. (Orgs.). Comunicação e práticas de consumo. São Paulo: Saraiva, 2007.
_____________________. Interrelações comunicação e consumo na trama cultural: o papel do sujeito ativo. In: CASTRO, G. G. S. e TONDATO, M. P. (Orgs.). Caleidoscópio midiático: o consumo pelo prisma da comunicação. São Paulo: ESPM, 2009. E-book disponível em: http://ppgcom.espm.br/images/docs/caleidoscopio_midiatico.pdf.
BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1999.
CASTRO, G. G. S. Comunicação, consumo e capital humano: cultura digital e a mercantilização das subjetividades. In: FREIRE FILHO, J. e CO ELHO, M. G. P. (Orgs.). A promoção do capital humano: mídia, subjetividade e o novo espírito do capitalismo, p. 173-186. Porto Alegre: Sulina, 2011.
FREIRE FILHO, J. (Org.). Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010.
GUIDDENS, A. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Ed. Unesp, 1993.
KELLNER, D. A cultura da mídia. Bauru, SP: Edusc, 2001.
ROCHA, E. e CASTRO, G. G. S. Posfácio. In: CASA QUI, V. e ROCHA, R. M. (Orgs.). Estéticas midiáticas e narrativas do consumo. Porto Alegre: Sulina, 2012.
SETYON, C. Sexo, mercadoria e hábitos de consumo em HQ: comunicação, empreendedorismo e gestão de si como produto. Dissertação de mestrado. Orientação: Gisela G. S.
Castro. PPGCO M ESPM, São Paulo, 2011.
SIBILIA, P. O show do eu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
____________. O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 2002.


Disponível em http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/45/artigo279543-1.asp. Acesso em 29 jun 2013.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Capacidade de distinguir orientação sexual parece ser inconsciente

Alessandro Greco
16/05/2012 

A habilidade de distinguir a orientação sexual nos humanos parece ser inconsciente. É o que sugere um estudo publicado no periódico científico PLoS One.

O trabalho, feito com 129 estudantes, mostrou imagens de 96 rostos de jovens adultos sem nenhum tipo de cabelo ou adorno. Para cada um deles, a pergunta foi qual era o orientação sexual da pessoa na foto: hetero ou homossexual.

O resultado mostrou que mesmo ao colocar na frente dos estudantes as imagens de cabeça para baixo por apenas 50 milissegundos – um terço do tempo de uma piscadela -- eles eram capazes de identificar se a pessoa era gay. O aspecto mais surpreendente é que a orientação sexual de homens e mulheres pode ser avaliada com resultados acima do estatisticamente considerado como acaso mesmo quando as imagens foram apresentadas de cabeça para baixo.

“A descoberta de que o ‘gaydar’ é estatisticamente acima do acaso mostra que a capacidade de julgamento humana é altamente eficiente”, explicou ao iG Joshua Tabak, principal autor do artigo, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, se referindo à gíria em inglês que une as palavras radar e gay. E completou: “Uma das possibilidades mais intrigantes aberta por este estudo – mas que não testada diretamente nele – é de que as pessoas podem julgar a orientação sexual das outras sem intenção nem consciência. Em colaboração com Vivian Zayas, professora da Universidade de Cornell, estamos testando atualmente a possibilidade de que as pessoas diferenciam rostos de homens homo e heterossexuais mesmo quando não têm a intenção de julgar a orientação sexual deles”.

Mais precisão com mulheres 

O trabalho constatou também uma diferença na habilidade dos estudantes em distinguir a orientação sexual de mulheres e homens. No caso das mulheres, eles foram capazes de prever com 65% de precisão a diferença entre o rosto de uma lésbica e uma heterossexual quando a imagem estava na posição normal (de cabeça para cima). Com a imagem de ponta cabeça, o número diminuiu um pouco, chegando a 61%.

No caso dos rostos masculinos, os resultados foram um pouco menores: 57% e 53% respectivamente. Os pesquisadores acreditam que essa diferença foi devido a falsos positivos no caso dos homens – uma taxa maior de afirmações de que o dono do rosto era gay quando não era o caso.

“Há diversas razões possíveis para isso e o experimento não aponta para uma razão definitiva. É possível que as pessoas sejam mais flexíveis em indicar um rosto de um homem como gay (em relação ao de uma mulher) – mesmo que isso seja um erro – devido à relativa proeminência do conceito de ‘homem gay’ (vs. ‘lésbica’) na cultura popular como em programas de TV, mas isto é apenas especulação”, afirmou Tabak. Já as características faciais que diferenciariam rostos de hetero e homossexuais em homens e mulheres não foram analisadas pelos pesquisadores.

Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2012-05-16/capacidade-de-distinguir-orientacao-sexual-parece-ser-inconscien.html>. Acesso em 27 set 2012.