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sábado, 9 de agosto de 2014

Algumas contribuições da filosofia e sociologia na compreensão do envelhecimento e velhice de travestis

Pedro Paulo Sammarco Antunes;
Elisabeth Frohlich Mercadante
Revista Portal de Divulgação, n.11, Jun. 2011 - 

Resumo: Este estudo trata do envelhecimento de travestis. Justifica-se, igualmente, pela relevância social do tema, chamando a atenção sobre o processo de envelhecimento para a comunidade científica, a sociedade em geral e o próprio grupo de travestis em particular. A existência da travesti é precária desde a adolescência. Elas já são consideradas anormais e, portanto sem lugar. Muitas saem ou são expulsas de casa, por causa do intenso preconceito familiar e também da vizinhança. Assim, buscam habitar espaços onde serão aceitas. A maioria encontra na prostituição acolhimento afetivo, de moradia e funcionalidade mínima para sobreviver. Passam a vida em contextos violentos. Habitam o mundo de forma improvisada e frágil. Essa pesquisa detectou que é preciso haver políticas públicas que as amparem desde a infância. As travestis idosas são consideradas abjetas mesmo antes do seu processo de transformação. Atravessam a vida como abjetas. As que atingem a velhice são verdadeiras sobreviventes. Conhecer suas trajetórias de vida possibilita identificar quais são os pontos mais críticos onde não há qualquer tipo de amparo existencial.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Sexo para menores: adolescência, sexualidade e gênero na revista Capricho

Vanessa Patrícia Monteiro Campos
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012

Resumo: A revista Capricho possui em suas edições uma seção de uma página chamada “Sexo” onde as leitoras se manifestam sobre todos os assuntos relativos à sexualidade na adolescência, ao mesmo tempo que especialistas, como terapeutas e sexólogos também analisam as questões propostas. A intenção deste trabalho é analisar todas as páginas da seção “Sexo” publicadas no ano de 2011 para tentar debater questões contidas na formulação de minha tese, como adolescência, sexualidade e gênero. Com ênfase na questão do pós-feminismo, fenômeno que se enquadra na imagem da adolescente contemporânea criada pelo atual projeto da revista.




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Garota britânica descobre aos 17 anos que não tem vagina

G1
15/11/2013

A jovem britânica Jacqui Beck ficou em choque ao descobrir, aos 17 anos de idade, que não tinha vagina. Seus médicos identificaram na adolescente uma síndrome rara chamada MRKH (sigla para Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser) depois que ela comentou, em uma consulta rotineira, que ainda não havia menstruado, de acordo com informações do jornal "Daily Mail".

A condição faz com que ela não tenha útero nem vagina, apesar de ter ovários normais. A demora na identificação do problema é comum em casos como o de Jacqui, já que a aparência externa do órgão genital é completamente normal.

A diferença é que, no lugar onde deveria haver a abertura vaginal, existe apenas uma pequena cavidade. Por esse motivo, as pacientes descobrem a síndrome somente quando tentam fazer sexo ou quando procuram um médico para investigarem o fato de ainda não terem menstruado.

'Como uma aberração'

Jacqui, hoje com 19 anos, conta que ela se sentiu "como uma aberração" quando recebeu o diagnóstico. "Eu nunca tinha me considerado diferente de outras mulheres e a notícia foi tão chocante que eu não podia acreditar no que estava ouvindo", diz.

"Tive certeza que a médica havia cometido um erro, mas quando ela explicou que era por isso que eu não estava menstrando, tudo começou a fazer sentido", diz a jovem.

Jacqui conta que a médica também explicou que ela nunca poderia ficar grávida e poderia ter de passar por uma cirurgia antes de poder fazer sexo. "Saí do consultório chorando - eu nunca saberia como seria dar à luz, estar grávida, estar menstruada. Todas as coisas que eu me imaginava fazendo de repente foram apagadas de meu futuro."

Ela chegou a pensar que não era mais uma "mulher de verdade". Como ela nunca havia tentado fazer sexo, não descobriu o problema antes. Mas, se tivesse tentado, descobriria ser impossível concretizar a relação. A síndrome MRKH afeta uma  a cada 5 mil mulheres no Reino Unido.

Lado positivo

Apesar do choque, Jacqui está tentando ver sua condição de maneira positiva. Ela acredita que a síndrome pode até ajudá-la a encontrar o homem certo, já que seu futuro parceiro terá de aceitá-la como ela é, o que para ela funcionará como um "teste de caráter".

Ela conta que descobriu a síndrome por acaso, quando foi a um clínico geral porque estava com dores no pescoço. Durante a consulta, mencionou que ainda não havia menstruado. Ele pediu alguns exames e encaminhou a paciente para uma ginecologista, que imediatamente identificou o problema.

Hoje, Jacqui é atendida no Queen Charlotte and Chelsea Hospital, em Londres, que é especializado na condição. Lá, ela passa por um tratamento que busca extender seu canal vaginal por meio de dilatadores. caso a alternativa não funcione, ela terá de passar por uma cirurgia.

A jovem, agora, quer tornar sua condição conhecida para que outras garotas que passarem pelo problema não sofram tanto quanto ela. Recentemente, publicou um texto sobre o assunto em sua conta do Facebook e conta ter recebido o apoio de amigos e conhecidos.


Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/11/garota-britanica-descobre-aos-17-anos-que-nao-tem-vagina.html. Acesso em 29 dez 2013.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Transexual que mudou de sexo aos 16 anos estrela documentário inglês

G1
04/11/2012

Um filme de uma hora que documenta a tentativa da transexual inglesa Jackie Green, 19 anos, de se tornar Miss Inglaterra, será exibido no Reino Unido. A transmissão do documentário "Transsexual teen, beauty queen" (em português, "adolescente transexual, rainha da beleza"), foi anunciada pelo canal de TV inglês BBC Three para o 19 de novembro. O documentário de observação também mostra as dificuldades que ela passou desde criança até se tornar, aos 16 anos, "a mais jovem transexual do mundo", de acordo com o site oficial do canal.

"A garota de 18 anos [hoje aos 19], nascida um garoto chamado Jack, quer se tornar um modelo de comportamento para a comunidade trans, e espera que competir no concurso de beleza vai inspirar outros jovens a lidar com problemas de identidade de gênero. Mas como ela vai se sair ao lado de algumas das garotas mais bonitas do país?", descreve o site oficial do canal.

"O filme se aprofunda no passado difícil de Jackie: de ouvir em primeira mão como ela se deu conta que estava presa em um corpo de garota e o efeito disso em sua família unida, e como ela fez a transição social de garoto a garota, com apenas oito anos, até como o bullying no colégio a levou perto do suicídio e como sua vida foi mudada por um médico americano que interrompeu sua puberdade masculina", completa o site.

Jackie Green chegou às semi-finais do concurso, mas não o venceu, segundo reportagem neste domingo (4) do tablóide inglês "Daily Mail". Ela disse ao jornal que, aos quatro anos, falou para sua mãe, Susan: "Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma garota". Descontente com seu corpo, Jack forçou uma overdose aos 11 anos e cometeu outras seis tentativas de suicídio aos 15, além de tentar mutilar sua genitália.

Os pais apoiaram a sua mudança de sexo aos 16 anos. "No Reino Unido, a mudança de sexo não pode ser feita até que o paciente faça 18 anos, mas Susan descobriu um cirurgião na Tailândia que aceitou fazer a cirurgia em Jackie aos 16 (desde então, a Tailândia adotou o padrão internacional de 18)", diz o "Daily Mail".

Jackie contou ao jornal que namora há dois anos um garoto da mesma idade que a sua e trabalha de hostess em uma loja de roupas e acessório em Londres.


Disponível em http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2012/11/transexual-que-mudou-de-sexo-aos-16-anos-estrela-documentario-ingles.html. Acesso em 19 dez 2013.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nova orientação para psicólogos prega que adolescência agora vai até os 25 anos

O Globo
24/09/13

Uma nova orientação para psicólogos americanos prega que a adolescência agora vai até os 25 anos, e não apenas até os 18 anos como estava previsto.

- A ideia de que de repente, aos 18 anos, a pessoa já é adulta não é bem verdade - disse à BBC a psicóloga infantil Laverne Antrobus, que trabalha na Clínica Tavistock, em Londres. - Minha experiência com jovens é de que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.

A mudança serve para ajudar a garantir que quando os jovens atingem a idade de 18 anos não caiam nas lacunas no sistema de saúde e educação - nem criança, nem adulto - e acompanha os acontecimentos em nossa compreensão de maturidade emocional, desenvolvimento hormonal e atividade cerebral.

Há três estágios da adolescência: dos 12 aos 14, dos 15 aos 17 e dos 18 em diante. A neurociência tem mostrado que o desenvolvimento cognitivo de uma pessoa jovem continua em um estágio mais tardio e que, sua maturidade emocional, a autoimagem e o julgamento são afetados até que o córtex pré-frontal seja totalmente desenvolvido.

O professor de sociologia Frank Furedi, da Universidade de Kent, defende que já há um grande número de jovens infantilizados e que a medida só vai fazer com que homens e mulheres fiquem ainda mais tempo na casa dos pais.

- Frequentemente se apontam as razões econômicas para este fenômeno, mas não é bem por causa disso - diz . - Houve uma perda da aspiração por independência. Quando eu fui para a universidade, se fosse visto com meus pais decretaria minha morte social. Agora parece que esta é a regra.

Furedi acredita que esta cultura da infantilização intensificou o sentimento de dependência passiva, que pode levar a dificuldades na condução dos relacionamentos maduros. E não acredita que o mundo virou um lugar mais difícil para se viver.

- Acho que o mundo não ficou mais cruel, nós seguramos nossas crianças por muito tempo. Com 11, 12, 13 anos não deixamos que saiam sozinhos. Com 14, 15, os isolamos da experiência da vida real. Tratamos os estudantes universitários da mesma maneira que tratamos alunos da escola, então eu acho que é esse tipo de efeito cumulativo de infantilização que é responsável por isso.

Disponível em http://oglobo.globo.com/saude/nova-orientacao-para-psicologos-prega-que-adolescencia-agora-vai-ate-os-25-anos-10127417. Acesso em 27 set 2013.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bases biológicas da orientação sexual e da identidade de gênero

Daniel Pessoa
10 outubro, 2009

Homens e mulheres revelam padrões de diferenças comportamentais e cognitivas que refletem as diversas influências hormonais no desenvolvimento do cérebro.

Alguns estudos têm apontado para a importância do hipotálamo como área do cérebro responsável pela regulação do comportamento reprodutivo. Tem se mostrado que o hipotálamo de ratos machos é maior que o de ratos fêmeas, estando esta diferença sob controle hormonal. Estas diferenças também têm sido identificadas no hipotálamo humano, e estariam relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero. Aparentemente, transexuais masculino-femininos apresentam hipotálamos menores que os de indivíduos masculinos.

Em ratos, a privação de hormônios masculinos, através da castração ou bloqueio hormonal, imediatamente após o nascimento, leva a uma redução nos comportamentos sexuais masculinos (montar durante a cópula) e a um aumento nos comportamentos sexuais femininos (lordose – arqueamento das costas durante o coito). A administração de hormônios masculinos a ratos fêmea levam a um resultado similar, com aumento de monta e diminuição de lordose.

Isto também parece ocorrer em seres humanos. A análise do comportamento lúdico de meninas com HCA (hiperplasia das adrenais), em comparação com seus irmãos e irmãs, mostrou uma “masculinização” de seus comportamentos. A HCA faz com que grandes quantidades de hormônios masculinos sejam produzidas.

No passado, a ciência já serviu como pretexto para deflagração de preconceitos e conceitos distorcidos. A ciência não é perfeita, afinal é realizada por seres humanos. Vamos torcer para que os cientistas não se esqueçam do passado e que a ética prevaleça em suas pesquisas e interpretações.


Disponível em http://pessoadma.wordpress.com/2009/10/10/bases-biologicas-da-orientacao-sexual-e-da-identidade-de-genero/. Acesso em 11 ago 2013.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Saiba como falar sobre sexo em cada idade na faixa de 0 a 17 anos

Luna D'Alama
09/06/2013

A dificuldade de pais e professores em falar sobre sexo começa muitas vezes na própria vida e acaba se estendendo aos filhos e alunos. As dúvidas, de ambos os lados, surgem logo na primeira infância das crianças, que querem saber de tudo. E os adultos se questionam: "Preciso falar alguma coisa? Devo tomar iniciativa para introduzir um assunto? Como responder a uma pergunta, o que dizer e até onde ir?"

O problema não para por aí, e só aumenta, com a chegada da adolescência e da iniciação sexual, entre os 15 e 17 anos, em média.

Para esclarecer assuntos ainda considerados tabus e ajudar os mais velhos a falar sobre sexo e sexualidade com crianças e adolescentes, a sexóloga Laura Muller, que participa do programa Altas Horas, na Globo, escreveu seu quarto livro, "Educação sexual em 8 lições", que será lançado no dia 18 em São Paulo.

"Me baseei em ações e palestras que fiz para pais e professores. Eles reclamavam de que não havia uma bibliografia clara e simples, e não conseguiam lidar com o tema. A maior dificuldade é falar: as pessoas têm medo de que uma conversa estimule o sexo, ou receio de dizer algo errado. Mas ninguém tem todas as respostas", destaca a especialista, que reconhece que também não sabe tudo.

Segundo Laura, o mais importante é apresentar limites e possibilidades aos mais jovens. Quando uma criança de até 5 anos, por exemplo, pergunta de onde veio, como entrou na barriga da mãe ou se os pais namoram pelados, o casal deve explicar o que se passa, usando a linguagem infantil e deixando claro que essas coisas pertencem ao mundo dos adultos e farão parte da vida dos filhos no futuro.

"O mais importante é não ter medo de lidar com o tema, não é fácil mesmo. Nós, adultos, não tivemos educação sexual na adolescência, por isso é preciso buscar informações de qualidade onde for possível, atualizar-se e não ter vergonha de ultrapassar essa barreira", diz a autora.

Dúvidas ao longo do tempo

A sexóloga explica que, na primeira infância, as perguntas sobre sexo costumam ser "O que é?", "Como é feito?" e outras curiosidades simples, ainda bastante distantes da prática.

Até os 5 anos, os pais se preocupam mais se as crianças estão tocando as partes íntimas, e se fazem isso na frente dos outros, afirma Laura. O importante, nesse caso, é explicar para o menor que isso não pode ser feito o tempo todo, que ele está na fase de brincar e se divertir, acrescenta a especialista.

"A partir do momento em que a criança se aproxima da adolescência, surgem questões mais elaboradas, sobre as mudanças do corpo, sobre como se faz sexo, como usar camisinha, como evitar a gravidez e doenças sexualmente transmissíveis (DST), além de dúvidas sobre masturbação, desejo, excitação, sexo oral ou anal, e orgasmo", enumera Laura.

Com esse "empurrão" hormonal, vem também a primeira menstruação e a primeira ejaculação espontânea. Em média, isso ocorre aos 12 anos, mas entre 9 e 16 ainda é considerado um período normal.

De acordo com a sexóloga, os adolescentes em geral vivem quatro grandes dilemas nessa difícil fase de transição: sexual (fazer ou não, e como), profissional (qual carreira seguir), existencial (quem eu sou, do que gosto e qual é o meu grupo) e tóxico (como lidar com álcool, cigarro e drogas).

“A maior dificuldade é falar: as pessoas têm medo de que uma conversa estimule o sexo, ou receio de dizer algo errado. Mas ninguém tem todas as respostas"
Laura Muller,
sexóloga

"A casa deve ser um complemento da escola, um porto seguro, e os pais precisam estar abertos ao diálogo, apoiar uma educação sexual de qualidade, conversar sobre prática, prazer, afeto e diversidade", aponta Laura.

Os limites, segundo a sexóloga, vão até o ponto em que algo não fere a pessoa e seu parceiro tanto física quanto emocionalmente. Além disso, não se deve fazer nada só para agradar ao outro, nem se sentir pressionado pelo companheiro ou por colegas.

"O jovem vai estar pronto para o sexo quando estiver bem informado e amadurecido. É preciso se perguntar: 'Estou pronto? Quero mesmo?'", ressalta.

E não deve haver nenhuma distinção de ensinamentos para meninos e meninas, segundo Laura.

"Às vezes, as pessoas acham que é preciso criar diferente, mas a educação deve ocorrer da mesma forma. O que difere são as fases de cada um, cada gênero vai ter um grau de amadurecimento conforme a experiência de vida e outros fatores, mas as dúvidas são muito parecidas", diz.

Oito lições

O livro é dividido em oito capítulos, cada um com uma lição diferente. O primeiro aborda os conceitos de sexo, sexualidade e outras definições básicas.

"Sexo é diferente de sexualidade. Sexo é o ato em si, já sexualidade é o jeito de cada um ser no mundo, homem ou mulher, de se relacionar com as emoções, os sentimentos e o mundo ao redor. O sexo é apenas um aspecto da sexualidade – que existe desde a infância", compara a autora.

Laura explica, ainda, que há um terceiro conceito, o de gênero, que é a identidade sexual de cada pessoa, um conjunto de jeitos de ser que pode depender ou não do sexo com o qual se nasce.

"Precisamos de uma flexibilização desses significados, dos papéis, e refletir o que realmente é da mulher e do homem, com tolerância e múltiplas possibilidades", acredita.

“A casa deve ser um complemento da escola, um porto seguro, e os pais precisam estar abertos ao diálogo, apoiar uma educação sexual de qualidade (...)"
Laura Muller,
sexóloga

O segundo capítulo do livro, por sua vez, é destinado à história da sexualidade humana, pois o que vivemos, destaca Laura, é fruto de uma série de questões culturais, de repressão sexual (principalmente feminina), do surgimento da Aids e da emancipação da mulher. Com essa retrospectiva, é possível entender como o ser humano chegou até aqui e por que o sexo ainda é um tabu.

Em seguida, vem um capítulo sobre o papel dos pais e professores na educação sexual de crianças e adolescentes. Nos quatro capítulos seguintes, do quarto ao sétimo, Laura divide as recomendações por faixa etária: de 0 a 5 anos, de 6 a 11, de 12 a 14, e de 15 a 17.

O livro termina com uma seção que tem como objetivo fazer com que os adultos reflitam sobre a própria educação e vida sexuais.

"É preciso olhar para si antes de educar os outros, ver quais são seus valores e crenças. Os adultos de hoje, por exemplo, não usavam redes sociais quando eram adolescentes, então precisam entender um pouco mais sobre o uso da internet nos relacionamentos, com quem os filhos falam, o que publicam", afirma Laura.

Por outro lado, segundo a sexóloga, os jovens têm que compreender que o sexo pertence ao mundo privado, e não ao público, razão pela qual deve haver limites.
"Muitas vezes, não nos damos conta do quanto expomos coisas que precisam ficar na intimidade", enfatiza.

Laura, que já publicou dois livros com respostas para 500 perguntas cada (o primeiro para homens e mulheres e o segundo para jovens, educadores e pais) e um terceiro sobre as dúvidas que recebeu no  Altas Horas (para pessoas de 12 a 80 anos), planeja daqui para frente algo mais reflexivo na área da sexualidade, destinado ao mundo adulto.


Disponível em http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/06/livro-mostra-como-falar-de-sexo-em-cada-idade-na-faixa-de-0-17-anos.html. Acesso em 10 jun 2013.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Transtorno de identidade sexual na infância divide especialistas

Carolina de Andrade 
20/11/2012 

Aos oito, ele mandou um e-mail para as pessoas da escola onde estudava (e sofria bullying) avisando ser "uma menina presa em um corpo de menino". E passou a se vestir como garota. Aos dez, disse à mãe que se mataria se começasse a "virar homem".  

Aos 11, Jack teve uma overdose e fez outras seis tentativas de suicídio antes de completar 16 anos. 

Como a lei inglesa não permite cirurgia de mudança de sexo antes dos 18, Jack foi operado na Tailândia, aos 16. 

A história de Jack, que a rede de TV britânica BBC exibe hoje, mostra os contornos e as dores do transtorno de identidade sexual na infância. Jackie Green tem agora 19 anos, é modelo e foi a primeira finalista transexual do concurso de Miss Inglaterra. 

A OMS define o fenômeno como o desejo, manifesto antes da puberdade, de ser (ou de insistir que é) do outro sexo. O termo "transexualismo" só é usado para adultos. 

Não há estatísticas de incidência do fenômeno. Entre pessoas acima de 15 anos, estima-se que um a cada 625 mil seja transexual, segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh (leia entrevista abaixo). 

De acordo com Carmita Abdo, do programa de estudos em sexualidade da USP, a experiência clínica mostra que só um terço das crianças com o transtorno serão transexuais. 

Na visão da psiquiatria, transexualidade não é escolha, como querem alguns setores. Como psiquiatra, é claro que Alexandre Saadeh defende o diagnóstico de transtorno de identidade sexual na infância --embora critique seu uso estigmatizante. Professor da PUC-SP e coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, ele conta como a medicina caracteriza o problema, à luz das últimas pesquisas. 

Folha - Como saber se a criança sofre de transtorno de identidade de gênero? 

Alexandre Saadeh - Pode ser que a criança esteja só brincando de assumir um papel, o que é comum entre os quatro e os seis anos, faz parte do desenvolvimento. Para constatar o transtorno é preciso que o comportamento ocorra por tempo prolongado. 

Quais são os indícios? 

Não é só o uso de roupas ou a criança se chamar por nome do outro gênero. Ela apresenta outros sinais: fica deprimida, irritada e agressiva se é obrigada a se comportar segundo o sexo anatômico. A necessidade de ser tratada como se fosse do outro gênero é constante. Muitas percebem que o comportamento incomoda os pais, aí o escondem. Os primeiros indícios surgem na infância, mas são raros os casos em que é claro desde o início se tratar de transexualismo. Nem toda criança com o transtorno fará cirurgia de mudança de sexo quando adulta. Mas todo transexual teve o transtorno. A criança deve ser avaliada por profissionais para evitar diagnósticos equivocados. 

Quais são as causas? 

Há evidências de que a diferenciação cerebral intrauterina pode ser influenciada por níveis de andrógenos [hormônios que desenvolvem as características sexuais masculinas] circulantes na gestação, o que pode gerar um cérebro masculino ou feminino, independentemente da anatomia já definida. Apesar da importância do ambiente e da cultura, não há evidências de como esses fatores se acrescentam aos fenômenos biológicos. 

Quais são as alternativas após o diagnóstico da criança? 

Pais e profissionais devem ajudar a criança a vivenciar o transtorno e, se for o caso, superá-lo; se não, a vivenciá-lo de maneira integral, sem censura. Não é fácil para nenhum pai ou mãe se adaptar a essa transformação, mas quando se pensa em respeito e aceitação pela diferença e por quem é de verdade o filho ou filha, fica mais palatável. No Brasil, a cirurgia só pode ser feita após os 21 anos, mas o uso dos hormônios pode começar a partir dos 18. Se tivermos certeza de que o adolescente já é um transexual, é possível tentar autorização junto ao Conselho Federal de Medicina para começar o tratamento hormonal antes. 

Os efeitos do tratamento hormonal para impedir a puberdade são reversíveis? 

Há a possibilidade de se bloquear o desenvolvimento das características masculinas ou femininas do adolescente, ou já fazer o tratamento hormonal específico para o gênero desejado. Alguns efeitos são reversíveis, outros não, por isso a controvérsia e a responsabilidade da indicação desse tipo de intervenção, o que aumenta mais a importância do diagnóstico. Sou a favor do bloqueio e do tratamento hormonal, já que impedem que a pessoa passe pelo sofrimento de desenvolver caracteres sexuais de seu sexo anatômico e não de sua identidade de gênero. 

A visão do transexualismo como transtorno é unânime? 

Para os [profissionais] que se preocupam em se atualizar nas pesquisas, é, sim. O problema é confundir transexualismo e homossexualidade ou tratar como doença mental. É um transtorno do desenvolvimento cerebral. As explicações psicológicas clássicas não conseguem mais caracterizar o fenômeno. As ciências humanas tendem a ser contra o diagnóstico e o consideram estigmatizante, do que discordo. Pode haver esse uso do diagnóstico, mas não é essa a finalidade. 

Qual sua opinião sobre os movimentos pela "despatologização" do transexualismo? 

Acredito no diagnóstico como delineador, não como estigmatizante. Como psiquiatra, não posso achar que o transexualismo seja questão de escolha. É questão de desenvolvimento embrionário, relacionada ao desenvolvimento cerebral na fase de diferenciação entre cérebro masculino e feminino. 

Como vê o "gender-neutral parenting", essas tentativas de criar uma educação sem estereótipos sexuais, a exemplo de uma escola na Suécia que não usa "ele" ou "ela" para se referir às crianças? 

A sociedade funciona com diferenciação de gêneros. A criança terá contato com os gêneros cedo ou tarde e isso pode gerar confusão.

Disponível em http://noticias.bol.uol.com.br/ciencia/2012/11/20/transtorno-de-identidade-sexual-na-infancia-divide-especialistas.jhtm. Acesso em 29 nov 2012.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Aos 16 anos, garoto é o mais novo a fazer cirurgia para mudar de sexo

Portal Terra
04 de Novembro de 2012

Aos 16 anos, Jack Green conseguiu a permissão dos pais para realizar o sonho de se transformar em uma menina – foi a pessoa mais jovem do mundo a ter uma cirurgia de mudança de sexo – e adotou o nome de Jackie. "Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma menina", disse à mãe.  Aspirante à modelo, Jackie foi finalista no concurso de Miss Inglaterra. Atualmente, aos 19 anos, é hostess na loja Burberry em Bond Street. As informações são do Daily Mail.

A história do garoto que tentou suicídio várias vezes até conseguir se transformar em mulher é tema de um documentário que será transmitido pela BBC no final do mês. Jackie foi diagnosticada com transtorno de identidade de gênero (GID), por psiquiatras. O número de crianças encaminhadas para uma avaliação GID no Tavistock aumentou de 97 em 2009 para 208 em 2011, e mais são esperados este ano.

"Tem-se observado que as áreas no cérebro de algumas pessoas transexuais são estruturalmente as mesmas que o sexo que eles sentem que são", disse o diretor do Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero na Tavistock, Polly Carmichael. "Nós não temos uma resposta definitiva, mas é provável que seja uma combinação de fatores ambientais, genéticos e biológicos”, completou.

A vida dos transexuais, porém, é difícil. Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que quase metade das pessoas já tentou o suicídio e eles têm duas vezes mais probabilidade de desemprego do que o resto da população. Mas, para Jackie a situação é diferente. Ela começou a fazer tratamento hormonal aos 14 anos - nunca passou pela puberdade masculina e sua voz não engrossou.

"Um monte de transexuais têm características masculinas, porque eles não foram capazes de tomar os remédios cedo como eu fiz. Isso faz com que eles se destaquem, tornando-se muito mais difícil de se encaixar na sociedade, especialmente quando se trata de um trabalho", explicou Jackie.

Aos oito anos, Jackie enviou um e-mail a todos de sua escola primária dizendo ser uma menina presa dentro do corpo de um menino. Depois disso, começou a ir à escola vestida como uma menina. “Jackie ficou muito melhor depois disso”, disse a mãe Susan. “Com cerca de 10 anos de idade, eu lembro de ter dito a minha mãe que se eu começasse a me transformar em um homem, eu me mataria. Eu estava ciente de que estava me aproximando da puberdade e que, juntamente com o bullying, era demais. Eu tomei uma overdose de Paracetamol e acabei no hospital. Olhando para trás, foi mais um grito de socorro", lembrou a jovem. Foi então que passou a tomar bloqueadores de testosterona.

"Eu sou uma menina, sempre fui"

Jackie fez a mudança de sexo, colocou silicone nos seios e quer participar novamente do concurso de Miss Inglaterra. Está namorando há dois anos e é a favor do tratamento e do procedimento em outras adolescentes. "Eu sei que há muita controvérsia sobre GID e bloqueadores, mas acho que as crianças precisam de mais crédito para saber quem são. Não há muito tempo para mudar de ideia se você quiser”, disse.

Transtorno de gênero

GID é diagnosticado quando a criança apresenta vários comportamentos característicos, inclusive afirmando repetidamente o desejo de ser, ou insistindo que é, do outro sexo. Muitas crianças ficam cada vez mais angustiadas com o problema - a ponto de depressão - à medida que envelhecem, especialmente quando se aproxima a puberdade. Normalmente, elas expressam desgosto com sua genitália.

Evidências sugerem que quatro em cada cinco crianças pré-púberes diagnosticadas com GID não experimentam a condição na idade adulta. Um em cada cinco consegue ser feliz com o gênero de nascimento. “Em alguns casos, o tratamento com drogas é necessário. Mas nós trabalhamos duro para tentar manter as crianças abertas a todas as possibilidades”, disse Polly.  

Disponível em <http://saude.terra.com.br/bem-estar/aos-16-anos-garoto-e-o-mais-novo-a-fazer-cirurgia-para-mudar-de-sexo,d03ec52561cca310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html>. Acesso em 13 nov 2012.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Adolescência é coisa do cérebro e não dos hormônios

Suzana Herculano-Houzel
edição 225 - Outubro 2011


Ah, a adolescência. Como se não bastasse ficar desengonçada e ter de aprender no susto a lidar com o corpo crescendo e mudando de proporções rápido demais, eu ainda tinha de ouvir “são os hormônios, depois passa”. Por alguma razão, a frase me irritava profundamente. Minha “vingança” chegou anos depois, pelas mãos da neurociência: hoje se sabe que os hormônios pouco têm a ver com a adolescência. Ela nem mesmo é iniciada por eles – e sim pelo cérebro. E mais: adolescentes nem são crianças grandes, nem adultos donos de um cérebro já pronto e apenas temporariamente inundado, obnubilado por hormônios. Adolescentes são donos de um cérebro adolescente, em franca remodelagem, e justamente daí vêm todas as características da fase.

As transformações da adolescência começam no hipotálamo, que aguarda do corpo um sinal, na forma do hormônio leptina, de que já há gordura suficiente acumulada para iniciar as transformações. Só então o hipotálamo passa a produzir uma substância chamada kisspeptina, que desencadeia uma série de mudanças. Uma das alterações no hipotálamo comanda a produção de hormônios sexuais e o torna sensível a eles, o que permite ao cérebro descobrir o sexo – esta, sim, a verdadeira função desses hormônios. Incidentalmente, é aqui também que o adolescente descobre sua preferência sexual – descobre, não escolhe: qual dos sexos deixa o hipotálamo excitado (agora que ele se tornou excitável) depende de eventos que já aconteceram no cérebro lá no início da gestação. Escolha sexual é apenas o que se decide fazer com a própria preferência sexual: abraçá-la ou escondê-la.

Logo em seguida vêm as alterações no sistema de recompensa, que sofre uma enorme baixa em sua sensibilidade à dopamina e deixa de encontrar graça no que antes dava prazer. O resultado é um conjunto de marcas diagnósticas da adolescência: tédio, perda de interesse pelas brincadeiras da infância, impaciência, preferência por novidades e um gosto por riscos – que o jovem, claro, julga estarem sob seu controle. O conjunto é ótimo, pois nos faz abandonar os prazeres da infância e querer sair de casa em busca de outros horizontes. Senão, quem abriria mão de casa, comida e roupa lavada?

O único porém é que as mudanças necessárias no córtex cerebral para lidar de modo adulto com os novos impulsos adolescentes levam cerca de dez anos para acontecer. Atenção, linguagem, memória e raciocínio abstrato são processos até que rapidamente aprimorados, em torno dos 14 anos, e postos à prova com o interesse súbito por política, filosofia e religião. Por outro lado, a capacidade de se colocar no lugar dos outros e de antecipar as consequências dos próprios atos, bases para as boas decisões e para a vida em sociedade, só chega bem mais tarde, por volta dos 18 anos, à força de mudanças no cérebro e de muita experiência. Só o tempo não basta: tornar-se independente e responsável requer aprender a tomar boas decisões, e isso só se aprende... tomando decisões. Se tudo der certo, o resultado desse período de ampla remodelagem guiada pelas experiências do aprendizado social, sexual, cultural e intelectual é o que todo pai e mãe anseiam para seus filhos: que se tornem independentes, responsáveis e bem inseridos socialmente. 

Adolescentes, portanto, fazem o que podem com o cérebro que têm – e é bom que seja assim. Nosso dever é ajudá-los oferecendo informações, alternativas, e também o direito de errar de vez em quando. Fico aqui torcendo para continuar pensando assim quando meus filhos virarem adolescentes...


Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/adolescencia_e_coisa_do_cerebro.html>. Acesso em 02 jul 2012.

quarta-feira, 21 de março de 2012

“Sem dar escândalo” – a construção social das travestilidades na adolescência

Tiago Duque
33º Encontro Anual da Anpocs
GT 36: Sexualidade, corpo e gênero



Resumo: Atualmente as mudanças na esfera da sexualidade se associam as novas tecnologias corporais e a uma ampliação do debate para além das heterossexualidades. Entre as travestis, as possibilidades de construção do feminino têm trazido novas implicações identitárias e tornado os corpos mais plásticos à construção e desconstrução do que se deseja para si. Essas novidades não se dão de forma desconectada de padrões e práticas já legitimadas por este grupo, o que contribui para a problematização do que é ser travesti nos dias atuais. Assim, este artigo foca na construção e desconstrução dos corpos, das identidades e suas relações com as experiências subjetivas das travestilidades na adolescência na cidade de Campinas (SP).