G1
06/01/2014
A estudante Ana Luiza Cunha de Silva, de 17 anos, acredita
que não alcançou a pontuação necessária no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) para entrar no curso de Arquitetura, primeira opção dela. Com a
divulgação das notas, a candidata transexual que sofreu constrangimento ao
apresentar o documento de identidade aos fiscais da prova afirma ter tirado
notas boas, mas reconhece que deveria ter estudado mais para o curso desejado.
“Eu me preparei, mas deveria ter me preparado mais para o Enem. Levei o
terceiro ano mais como uma série. Estava mais preocupada em passar de ano. Eu
já tinha noção de que seria mais difícil passar em arquitetura”, disse.
O Ministério da Educação divulgou o resultado da edição de
2013 do Enem na noite desta sexta-feira (3). Nesta segunda-feira (6), começam
as inscrições dos estudantes nos cursos, que vão até as 23h59 do dia 10 de
janeiro. Os candidatos poderão usar a nota do exame para concorrer a uma das
171.756 vagas da edição do primeiro semestre de 2014 do Sisu oferecidas pelas
115 instituições de ensino superior participantes.
Ana Luiza afirma que alcançou 664.14 pontos. Para tentar o
curso de Arquitetura na Universidade Federal do Ceará, o que queria a
transexual, ela conta que seriam necessários mais de 700 pontos. “Com essa
pontuação, vou ver outros cursos que tenho vontade. Tenho em vista moda, design
e, até mesmo, teatro. Ano que vem vou tentar de novo pra arquitetura, mas por
enquanto quero cursar algo e estudar. Não
quero ficar parada”, afirma a estudante.
Segundo Ana Luiza, as notas mais baixas foram em Ciências da
Natureza. “Esperava ter tirado mais na redação. Mas mudou a forma de corrigir
também. Ficou mais rígido”, diz. Para a transexual, o constrangimento na
identificação não atrapalhou o desempenho nas provas. “Acho que não tenha
prejudicado. Talvez o nível da prova desse ano ter sido mais difícil em algumas
matérias tenha sido o motivo”, conclui.
Retirada da sala
No primeiro dia de provas do Enem, Ana Luiza afirmou que já
estava sentada na carteira, com seu cartão de respostas do Enem, quando foi
retirada da sala em que estava, em Fortaleza, e teve que passar por duas salas
até ser liberada para fazer as provas de ciências humanas e ciências da
natureza. Segundo ela, todo o processo durou entre 15 e 30 minutos, mas ela não
chegou a perder tempo de prova porque chegou ao local do exame antes mesmo da
abertura dos portões.
Ana Luiza, que adotou seu nome social aos 14 anos, conta que
primeiramente foi levada à sala de uma subcoordenadora do Enem no seu local de
provas. "Ela foi verificar a identidade, e perguntou por que não mudei
meus documentos", explicou.
A adolescente explicou que já procurou seu advogado para
fazer o trâmite, mas que, segundo ele, no Brasil só é possível iniciar o
processo de troca do nome civil após os 18 anos, que ela só vai completar em
março de 2014.
Ela foi então encaminhada a outra fiscal do Enem, que,
depois de conversar com ela, a fez preencher o formulário usado para
identificar os candidatos que não estão com os documentos oficiais. "Ele
me perguntou informações, o telefone fixo, o nome dos meus pais, e tive que
assinar três vezes. A situação, segundo Ana Luiza, não se repetiu no segundo
dia de provas.
Disponível em
http://g1.globo.com/ceara/noticia/2014/01/deveria-ter-me-preparado-mais-diz-transexual-constrangida-no-enem.html.
Acesso em 06 jan 2014.