Mostrando postagens com marcador Lucon. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lucon. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Transexual revela como projeto 'Damas' ajudou capacitar e enfrentar mercado de trabalho

Neto Lucon 
26 de agosto de 2013

A ocupação em algum cargo no mercado de trabalho é chamada popularmente de "lugar ao sol". Um espaço em que a produção, a eficiência, a satisfação e a recompensa conversam em prol da cidadania e da dignidade. Para quem é travesti ou transexual, a concorrência se alia ao preconceito e o estigma leva grande parte para a prostituição – um trabalho autônomo que merece todo o respeito e direitos, mas que não pode ser visto como sinônimo de “trans” ou a única opção do grupo.

Dentre as inúmeras profissionais que buscam se inserir no mercado formal está Claudia de Freitas, 42, que depois de trabalhar como atendente de telemarketing na mesma empresa por dois anos, foi dispensada devido a um corte geral do turno. Ela está desempregada há um ano e contados 14 dias e já passou por cinco dinâmicas de entrevistas, nenhuma bem sucedida porque, de acordo com Claudia, carrega o fardo de ser transexual. “Em algumas me cortam na hora do grupo e certamente não é por falta de experiência”, diz.

Quando tudo parecia perdido, as oportunidades não apareciam e a autoestima já não era das melhores, Claudia conheceu, por meio de algumas amigas, no dia 2 de julho de 2013 o projeto Damas, no Rio de Janeiro, que visa diminuir a evasão escolar sofrida por trans e prepará-las para o mercado formal de trabalho. O projeto é desenvolvido desde 2006 pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual juntamente com a Secretaria Municipal de Assistência Social, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Damas foi a luz no fim do túnel do preconceito.

Por dentro das aulas

Os encontros ocorrem todas as terças e quintas-feiras das 13h às 17, no centro do Rio, e abordam disciplinas e questões como Comportamento, Etiqueta, Saúde, Direito, Português, Inglês e Mercado de Trabalho. “A experiência das minhas colegas é de total dedicação, de esforço e busca de oportunidade. Para mim, o mercado formal resgata a dignidade, a autoestima, mostra que somos capazes. Afinal, como sempre falo, não somos extras terrestres e tampouco nascemos de chocadeiras. E o Damas nos trata com muito respeito e consciência das nossas necessidades”.

No total, são seis meses de aulas e 20 alunas, que nos intervalos também dividem experiências e se unem para uma sociedade com menos transfobia. Em uma das aulas, uma aluna relatou que o pai não aceita a sua condição e que chegou a agredi-la no local onde se prostituía. Ela disse que várias colegas tentaram defendê-la no momento e informaram que o pai também se tratava de um cliente. A trans entrou na questão de processá-lo ou não e todas se emocionaram com a história.

“O projeto ajuda a nos conhecermos melhor, trocar experiências e, o melhor, fazer amizades”, diz Claudia, que destaca que as aulas de Comportamento e Postura com Thomas Dourado, aulas de Direito com a Dr. Claudia Turner e também com a professora de inglês Tatiana, são as suas preferidas. “A Tatiana, que é lusa, tem uma cabeça incrível”, salienta.

Outro fato muito positivo do Damas é que , além de capacitar travestis e transexuais, também abre um processo de vivência profissional durante seis meses. Essa experiência conta com o incentivo de cinco secretarias: a Secretaria Municipal de Educação, Desenvolvimento Social, Trabalho e Emprego, Saúde e a Coordenaria da Diversidade Sexual. Muitas, que se dedicam e almejam continuar, permanecem no cargo. Um exemplo eficaz e importantíssimo de inclusão.

Novas turmas em 2014

Claudia se prepara se formar em dezembro e conquistar alguma profissão que contemple áreas tais como recepcionista, auxiliar administrativa ou em turismo. “Quando era pequena e perguntavam o que eu queria ser, respondia artista, porque sempre gostei de me exibir [risos] e adorava a Roberta Close. Hoje, busco algo no meu perfil. Sou maquiadora, mas tenho experiência em outras áreas, falo e escrevo fluentemente dois idiomas... Quero muito trabalhar”, defende.

Uma nova turma com novas trans está prevista para janeiro de 2014 e as interessadas podem se inscrever por meio do telefone [21] 2976 9137 - lembrando que este é um projeto exemplar ocorre no Rio de Janeiro. “Aconselho a todas que queiram uma oportunidade no mercado, afinal todas nós temos o direito por um lugar ao sol”, defende a aluna, que vai contar nos próximos meses o futuro de sua vida profissional ao NLucon. Estamos acompanhando e, claro, na torcida!


Disponível em http://www.nlucon.com/2013/08/transexual-revela-que-projeto-damas.html?m=1. Acesso em 10 dez 2013.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Modelo Felipa Tavares diz que moda com transexuais é apenas uma fase

Neto Lucon 
16/02/2012 15h00 

A modelo mineira Felipa Tavares, de 25 anos, é um mulherão. Daquelas que fazem você olhar para cima e ficar na ponta do pé para dar um abraço. Porém, não é apenas o 1,81m de altura que faz dela um destaque da agência 40 Graus. Felipa, assim como a top Lea T, é uma mulher transexual.

É a única do casting da agência, escolhida a dedo pelo empresário carioca Sérgio Mattos – o mesmo responsável por revelar modelos como Isabeli Fontana, Raica Oliveira, Danyella Sarahyba e Fernanda Tavares - durante um workshop no Rio de Janeiro.

Logo que começou a modelar no finzinho de 2011, virou “Personagem da Semana” da revistaÉpoca, e até recebeu uma dica de sua maior inspiração, Lea T: “Felipa terá de ser forte, corajosa e não achar que essa vida é glamour. Tem de se dedicar e estudar, preparar seu futuro, porque nossa vida é difícil”.

Com personalidade forte, Felipa não concorda quando Lea diz que a inclusão de transexuais nas passarelas não é modismo. Para ela, logo logo modelos transexuais deixarão de causar tanto impacto. “É apenas uma fase”, frisa.

Você foi descoberta no workshop de Sérgio Mattos, mas ninguém sabia que era transexual. Acha que, se soubessem da sua história, poderia ser rejeitada?
Acho que não, pois o mercado no mundo da moda abriu para as trans. Se fosse antes da Lea T, com certeza, mas agora não. Antes dela, quem estava? Apenas a Isis King (modelo transexual que participou do ‘America’s Next Top Model), mas ninguém abria espaço. O Serginho viu que a Lea deu certo, essa repercussão toda, então quis dar oportunidade para outras também. Acho que só contribuiu o fato de eu ser trans.

Como é ser a única modelo transexual da agência 40º?
É bem interessante, pois quando querem um trabalho diferente, me chamam. Quando entrei na agência, ninguém sabia da minha história. Assim que souberam, pela mídia, me olhavam de rabo de olho, cochichavam (risos), nada muito anormal. Me receberam e me tratam superbem, tanto as meninas quanto os meninos. 

A moda está mais aberta à diversidade de gênero e sexualidade. Isso pode ser uma fase? O que pretende fazer para prolongar a carreira?
Acredito que seja uma fase, sim, pois a moda vai inevitavelmente mudando. Com o tempo, além de não ser mais uma grande novidade, mais meninas estarão no mercado, o que aumenta a concorrência. Pretendo começar faculdade de moda e também investir em um curso de teatro. Não ficarei só na carreira de modelo, não. Vou abrir um leque de possibilidades para depois que tudo passar.  

Na matéria da revista “Época”, você declarou que se inspira em Lea T. Não tem receio de ficar na sombra dela?
Ela é uma inspiração para mim, adoraria fazer um ensaio ao lado dela, mas não tenho receio de ficar ligada à Lea. Sou bem diferente dela. O estilo de beleza, os nossos traços, são totalmente diferentes. Não acho que existam outras comparações além do fato de sermos trans.

Como está sendo sua trajetória pelo mundo da moda?
Estou fazendo mais fotos neste ano e adorando os ensaios. Aliás, sempre gostei muito do mundo da moda, sessões de fotos e dos temas. Me entrego de corpo e alma. Lembro que, quando era pequena, via os desfiles da Victoria’s Secret e ficava sonhando acordada. Mas não pude dar continuidade porque as mudanças do meu corpo não foram rápidas. Fui mudando com o tempo, demorou um pouco para chegar onde estou, apesar de ainda querer modificar alguma coisa.

O que você pretende mudar mais? 
A primeira mudança é operar... Fazer a redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo). Se eu pudesse escolher, não colocaria silicone, nem mudaria o rosto - já que nem isso eu tenho, é só hormônio - faria a cirurgia de transgenitalização. Não me sinto bem quando me olho no espelho. Quando me arrumo para uma festa, não ligo porque estou de roupa. Mas quando estou saindo do banho... Não me sinto bem, vejo que tem algo errado.

A Lea posou nua com o órgão sexual masculino à mostra na “Vogue”. Teria coragem? 
Apesar de ser uma “Vogue”, não, não teria. Eu tenho algumas fotos em que estou pelada, de lado, mas não de frente. O peito eu já mostro com tranquilidade, porque em todos os ensaios os fotógrafos pedem para eu mostrar. Mas de frente, não. Me olhando já não me sinto bem,  imagina o mundo inteiro olhando inteiro? (risos). Acho que a Lea é muito corajosa.

Sei que o mundo trans é repleto de rusgas. Tem contato com outras modelos transexuais, como Carol Marra, Lea T?
É meio distante mesmo. Com a Lea, depois do conselho que ela me deu na revista “Época”, nunca mais tive contato. Entrei no Facebook da Carol, mas ela ainda não me adicionou. Tenho algumas amigas transexuais que me incentivam, mas já vi muita gente criticando. É muito difícil ter mídia voltada para travestis e transexuais, então quando isso acontece, elas têm que ficar felizes, não apedrejar ainda mais.

Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2012/02/16/294467-modelo-felipa-tavares-diz-que-moda-com-transexuais-e-apenas-uma-fase>. Acesso em 16 fev 2012.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

'Sofro preconceito de stylists gays', diz modelo transexual Carol Marra

Neto Lucon
20/01/2012 14h00 

Nesta semana, a modelo Carol Marra ganhou várias páginas da revista Quem e Istoé Gente, da qual inclusive é capa, para falar sobre moda transgênero - a mesma que carrega nomes como o da brasileira Lea T e do sérvio Andrej Pejic.

Segundo Carol, apontada com a grande aposta de 2012, as passarelas abrem espaço para as transexuais, mas ainda não as livram totalmente do preconceito. Ela diz que a discriminação existe principalmente entre profissionais gays.

“Sabe o que acontece e eu não entendo? Tem muitos stylists que dizem não querer travesti no casting. Por quê? Acho lamentável, ainda mais vindo deles que são, em sua grande maioria, todos gays”, desabafou.

Em declaração exclusiva ao Virgula LifeStyle, Carol lamenta a rejeição. “A luta deles é a mesma que a minha. Eles passam por tudo o que eu passei também. É uma pena me virarem as costas ao invés de juntos lutarmos por um mundo sem preconceitos”. 

A top revelou que não incomoda de ser comparada com Lea T, mas faz questão de dizer que a pioneira foi Roberta Close, nos anos 80. “Adoro a Lea, ela é incrível, uma referência. Só que ela é mais andrógina, eu sou mais feminina. A pioneira, na verdade, foi a Roberta”, defendeu. “Mas cada um tem o seu caminho. E tem lugar para todo mundo trabalhar”, continuou.


Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2012/01/20/292536-sofro-preconceito-de-stylists-gays-diz-modelo-transexual-carol-marra>. Acesso em 21 jan 2012.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Quero mostrar que a transexual tem valor"

Neto Lucon às 11:29

Aos 23 anos, a modelo mineira Carol Marra ganhou os noticiários quando foi confundida com a top brasileira Lea T durante o Fashion Rio 2011. Curiosamente, Carol também é transexual e se tornou a atração principal do Minas Trend Preview Inverno 2012, em outubro deste ano. Tendo a carreira deslanchada em menos de um ano – ela é jornalista e trabalhava como produtora de moda –, Carol desponta também como uma das pioneiras no mundo da moda: foi a primeira modelo transexual a posar, por exemplo, para a revista L'Officiel, com 14 páginas.

Na segunda-feira (20), ela abre o desfile para Fernando Pires e Karin Feller na Casa dos Criadores, em São Paulo. "Estou adorando tudo isso. Quero ver daqui a alguns anos outras modelos transgêneros e me orgulhar por fazer parte desta história".  

Você trabalhava como produtora de moda e nem pensava em trabalhar como modelo. O que te fez mudar de ideia? 
Eu realmente era um bichinho do mato, aquela coisa bem mineira, bem quietinha. Ajudava na produção de capa de revistas com várias atrizes, e os fotógrafos sempre pediam para eu sair em uma foto, mas eu não queria, relutava, tinha vergonha. Até que um amigo muito próximo pediu para fazer um ensaio. Topei e coloquei no Orkut. Outro fotógrafo viu e pediu para fazer também. E quando fiz três ensaios, já estava fazendo catálogos. Mas até então não se falava em Carol transgênero. Falava-se em Carol modelo. Não se sabia que eu era uma transexual.

As pessoas só souberam que você é transexual quando participou do “Minas Trend Preview” neste ano?
Foi lá que estourou a bomba, mas já foi comentado durante o Fashion Rio. Mesmo assim, eu não tinha a dimensão da repercussão. No dia seguinte do Minas Trend, quando parei em um posto de gasolina, em Belo Horizonte, um frentista perguntou para mim: “Você é a moça do jornal, né?” Eu falei: “não”. Daí ele veio com o jornal na mão e uma foto minha seminua na capa. Fiquei tão sem graça que, quando ele pediu autógrafo, não sabia nem o que escrever. Falei assim: “me dá um tanque cheio que eu te dou um beijo aqui no jornal” (risos).

No Fashion Rio deste ano, saiu uma nota no site da revista RG dizendo que você é prima da top trans Lea T. É verdade? 
Até hoje sou confundida com a Lea, mas não queria falar tanto para não ficar a impressão de que quero pegar carona na fama dela. De qualquer forma, Lea é a precursora, é linda, uma querida, batalhadora, admiro demais o seu trabalho... A história surgiu quando ela disse que várias irmãs dela estavam na plateia do evento, já que havia muitas transgêneros. Então um repórter, que achou que somos parecidas, perguntou: “você é irmã da Lea?”. E eu disse brincando: “sou prima”. A gente tirou uma foto juntas e fiquei como prima.

Com Lea T em evidência, Andrej Pejic recebendo título de mulher sensual, acha que estamos vivendo uma onda de valorização da beleza trans? 
Não acho que seja sucesso apenas por ser uma beleza trans, mas por ser uma beleza, como outra qualquer, feminina, exótica. Além disso, moda é vanguarda, permite tudo, lança algo que às vezes nem é para agora, é para mais adiante. Hoje vemos modelos andróginos, com o rosto muito delicado, usando cor de rosa, saia, coisa que antigamente não era comum. A moda está muito pulverizada, então dentro de toda essa onda entraram as transgêneros também. E o interessante é mostrar que a transexual também tem o seu valor.

Você disse que tem um propósito muito importante com o seu trabalho na moda. Qual é? 
Mostrar que existem outras histórias além daquela visão marginal que a sociedade tem de uma transgênero. Infelizmente sabemos que muitas vivem da prostituição, mas em muitos casos não é uma escolha. É a única forma de sobrevivência, já que são jogadas para fora de casa muito cedo. Então é legal surgir essa oportunidade na moda para mostrar: por que não uma transgênero modelo? Jornalista? Estilista? Médica? Taxista? O preconceito surge pela falta de informação. Então se cada um parasse para saber um pouco mais sobre a vida do outro, o mundo ficaria muito melhor. 

Você já sofreu preconceito?
Hoje não, mas já sofri muito bullying na infância. Na época da escola, não ia ao banheiro dos meninos porque morria de vergonha. É que eu nunca me identifiquei com os meninos, entende? Daí eu fazia nas calças, eles me chamavam de mulherzinha e meus pais eram chamados para conversar. Hoje, consigo entrar e sair de qualquer lugar, até porque acho que passo como mulher em qualquer lugar. Quer dizer, hoje nem tanto por conta dessa exposição, então é um pouco mais complicado.

Com a exposição e a revelação de seu passado, mudou a maneira de as pessoas te olharem?
Sei que o olhar sobre mim é outro, mas profissionalmente foi bom. Deu um boom na minha carreira. Os convites para trabalhos importantes surgiram, uma matéria saiu em um jornal de Nova York, também vou viajar para fora. Profissionalmente, essa exposição foi muito boa, mas pessoalmente me senti um pouco invadida. No meu facebook, vários carinhas perguntaram: “como você não comentou nada?”. Teve outro que me ligou e perguntou “o que você tem para me falar? Você é um pé de alface?”, confundindo transgênero com transgênico. Respondi: “Não, sou um morango, vermelho e vistoso” e desliguei. Não sou obrigada, né? Eu sou mulher, eu nasci mulher e a minha genitália é um mero detalhe.

Você acha que faz sucesso principalmente por ser transgênero? O diferencial está aí? 
Não vou ser ingênua de falar que não. É claro que sim. Modelos existem várias, eu seria mais uma entre tantas. Dizem: “que linda esta”. Mas daí falam: “mas não é mulher, é transgênero”. Então eles ficam curiosos, querem saber da história, quem é, o que faz e dão mais foco. Existem tantas modelos lindas, mas acaba que jornalisticamente falando ser transexual é uma novidade. É uma história de luta, de batalha, é matar um leão por dia... Não me acho mais bonita que ninguém, não me considero melhor que ninguém, mas sou diferente.

No início do sucesso, a Lea T falou muito sobre a cirurgia de redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo) e agora tem evitado comentar. Incomoda essa curiosidade das pessoas? 
Isso é tão íntimo, pessoal, não acho que seja necessário o público saber. Faço trabalhos de biquíni e a genitália não aparece, nem a minha e nem de outra modelo. Claro que existe uma curiosidade em cima disso, mas o que eu posso dizer é que a técnica hoje é muito mais eficaz que há alguns anos. Além de ter uma genitália perfeita, ela é funcional, tem toda a sensibilidade, prazer.

Após passar pela cirurgia, a maioria das transexuais não gosta de falar sobre o passado e quer ser mais uma no meio da multidão. Qual o motivo? 
É justamente para isso: ela quer ser vista apenas como mais uma mulher. Já vivi histórias de amor lindas que não pude dar sequência porque, na cabeça deles, eu não era uma mulher. Então muitas querem apagar o passado para não sofrer esse tipo de coisa. No meu caso, vai ser muito complicado, por me tornar um pouco mais conhecida. Teria que mudar de nome ou de país. Mas daí viveria uma grande mentira. Acho que quem gostar de mim vai ter que gostar do jeito que eu sou e estiver. Eu sei dos meus princípios e do meu caráter, então não tem porque ele ter vergonha de me assumir. Ele tem é que ter orgulho. 

E o que sua família está achando da carreira de modelo?
A minha família está acompanhando, mas ainda é difícil. Na infância, diziam para mim: “Que menina linda”, mas meus pais retrucavam “É meu filho, não é menina”. Mãe é mãe, ela sabe, mas a grande preocupação é que eu sofra. Venho de uma família conservadora, mineira... Até os 20 anos, eu mesma não entendia o que eu era. Sabia que não era gay, que não era homem, mas sabia também que não era mulher. Então o que eu sou? Se já foi difícil para mim, imagina para eles? Mas eles estão vendo que meu caminho foi diferente, que está sendo diferente. Enquanto muita gente achava que meu futuro seria em uma esquina, hoje eu posso até estar em uma esquina, mas em um outdoor. Posso estar na capa de uma revista, de um jornal.

Disponível em <http://nlucon.blogspot.com/2011/12/entrevista-carol-marra.html>. Acesso em 09 dez 2011.