Neto Lucon
26 de agosto de 2013
A ocupação em algum cargo no mercado de trabalho é chamada
popularmente de "lugar ao sol". Um espaço em que a produção, a
eficiência, a satisfação e a recompensa conversam em prol da cidadania e da
dignidade. Para quem é travesti ou transexual, a concorrência se alia ao
preconceito e o estigma leva grande parte para a prostituição – um trabalho
autônomo que merece todo o respeito e direitos, mas que não pode ser visto como
sinônimo de “trans” ou a única opção do grupo.
Dentre as inúmeras profissionais que buscam se inserir no
mercado formal está Claudia de Freitas, 42, que depois de trabalhar como
atendente de telemarketing na mesma empresa por dois anos, foi dispensada
devido a um corte geral do turno. Ela está desempregada há um ano e contados 14
dias e já passou por cinco dinâmicas de entrevistas, nenhuma bem sucedida
porque, de acordo com Claudia, carrega o fardo de ser transexual. “Em algumas
me cortam na hora do grupo e certamente não é por falta de experiência”, diz.
Quando tudo parecia perdido, as oportunidades não apareciam
e a autoestima já não era das melhores, Claudia conheceu, por meio de algumas
amigas, no dia 2 de julho de 2013 o projeto Damas, no Rio de Janeiro, que visa
diminuir a evasão escolar sofrida por trans e prepará-las para o mercado formal
de trabalho. O projeto é desenvolvido desde 2006 pela Coordenadoria Especial da
Diversidade Sexual juntamente com a Secretaria Municipal de Assistência Social,
da Prefeitura do Rio de Janeiro. Damas foi a luz no fim do túnel do
preconceito.
Por dentro das aulas
Os encontros ocorrem todas as terças e quintas-feiras das
13h às 17, no centro do Rio, e abordam disciplinas e questões como
Comportamento, Etiqueta, Saúde, Direito, Português, Inglês e Mercado de
Trabalho. “A experiência das minhas colegas é de total dedicação, de esforço e
busca de oportunidade. Para mim, o mercado formal resgata a dignidade, a
autoestima, mostra que somos capazes. Afinal, como sempre falo, não somos
extras terrestres e tampouco nascemos de chocadeiras. E o Damas nos trata com
muito respeito e consciência das nossas necessidades”.
No total, são seis meses de aulas e 20 alunas, que nos
intervalos também dividem experiências e se unem para uma sociedade com menos
transfobia. Em uma das aulas, uma aluna relatou que o pai não aceita a sua
condição e que chegou a agredi-la no local onde se prostituía. Ela disse que
várias colegas tentaram defendê-la no momento e informaram que o pai também se
tratava de um cliente. A trans entrou na questão de processá-lo ou não e todas
se emocionaram com a história.
“O projeto ajuda a nos conhecermos melhor, trocar
experiências e, o melhor, fazer amizades”, diz Claudia, que destaca que as
aulas de Comportamento e Postura com Thomas Dourado, aulas de Direito com a Dr.
Claudia Turner e também com a professora de inglês Tatiana, são as suas
preferidas. “A Tatiana, que é lusa, tem uma cabeça incrível”, salienta.
Outro fato muito positivo do Damas é que , além de capacitar
travestis e transexuais, também abre um processo de vivência profissional
durante seis meses. Essa experiência conta com o incentivo de cinco
secretarias: a Secretaria Municipal de Educação, Desenvolvimento Social,
Trabalho e Emprego, Saúde e a Coordenaria da Diversidade Sexual. Muitas, que se
dedicam e almejam continuar, permanecem no cargo. Um exemplo eficaz e
importantíssimo de inclusão.
Novas turmas em 2014
Claudia se prepara se formar em dezembro e conquistar alguma
profissão que contemple áreas tais como recepcionista, auxiliar administrativa
ou em turismo. “Quando era pequena e perguntavam o que eu queria ser, respondia
artista, porque sempre gostei de me exibir [risos] e adorava a Roberta Close.
Hoje, busco algo no meu perfil. Sou maquiadora, mas tenho experiência em outras
áreas, falo e escrevo fluentemente dois idiomas... Quero muito trabalhar”,
defende.
Uma nova turma com novas trans está prevista para janeiro de
2014 e as interessadas podem se inscrever por meio do telefone [21] 2976 9137 -
lembrando que este é um projeto exemplar ocorre no Rio de Janeiro. “Aconselho a
todas que queiram uma oportunidade no mercado, afinal todas nós temos o direito
por um lugar ao sol”, defende a aluna, que vai contar nos próximos meses o
futuro de sua vida profissional ao NLucon. Estamos acompanhando e, claro, na
torcida!
Disponível em http://www.nlucon.com/2013/08/transexual-revela-que-projeto-damas.html?m=1.
Acesso em 10 dez 2013.