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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ele tentou provar que o gênero é uma construção social. E fracassou

Dale O’Leary
03 Jun 2013

Em 21 de dezembro de 2013, o Papa Bento XVI falou sobre os perigos de novas teorias de gênero. Enquanto a mídia focava em sua condenação da redefinição do casamento, a crítica de Bento XVI era mais abrangente, com foco na teoria de gênero em geral. Contrastando abordagens filosóficas cristãs com a teoria de gênero, ele assinalou:

"De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente."

Além disso, afirmou que quem promove teorias de gênero "nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria". Em uma época que se orgulha da preocupação com a natureza, a natureza humana está sob ataque.
             
A redefinição de gênero começou na década de 50. No passado, a palavra "sexo", em inglês, se referia à totalidade do que significa ser um homem ou uma mulher, enquanto "gênero" era um termo gramatical. Algumas palavras têm gênero – masculino, feminino ou neutro. O inglês é uma língua extremamente "sem-gênero". Apenas os pronomes da terceira pessoa do singular e alguns substantivos têm gênero específico. Comparando isso com o italiano ou o hebraico, vemos que todos os substantivos, adjetivos, artigos e verbos na segunda e terceira pessoa do singular e plural são masculinos ou femininos.

Hoje, nos Estados Unidos, o governo e as formas comerciais, que costumavam perguntar o nosso sexo, agora perguntam qual é o nosso gênero. Ao ver isso, muitas pessoas assumiram que "gênero" é apenas um sinônimo de "sexo", e que "gênero" era uma maneira mais educada de dizer, já que "sexo" tem um significado secundário, ou seja, é uma forma abreviada de se referir à relação sexual. As pessoas não viram um problema nisso.

Mas aqueles que defendem o uso da palavra "gênero" não o fazem devido a um senso escrupuloso de decoro; para eles, "gênero" e "sexo" não são sinônimos. "Sexo" refere-se apenas à biologia, e "gênero" é o sexo com o qual uma pessoa se identifica, que pode ser o mesmo, ou diferente do seu sexo biológico.

A redefinição do "gênero" foi concebida por John Money, que estava na equipe da prestigiada Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland. Money não era um cientista objetivo, mas um "agente provocador da revolução sexual" que sentia prazer em chocar as pessoas pelo uso da vulgaridade e de fotografias obscenas. Ofereceu apoio ao movimento para normalizar as relações sexuais entre homens adultos e meninos. Ele desprezava a religião. E promoveu a ideia de que a identidade sexual pode ser dividida em suas partes constituintes – DNA, hormônios, órgãos sexuais internos e externos, características sexuais secundárias e identidade de gênero – o sexo com o qual a pessoa se identifica.

Não há nada de errado com perceber as partes que compõem o todo da nossa identidade sexual, mas Money estava interessado nas pessoas para as quais as partes pareciam estar em conflito: os que eram biologicamente de um sexo, mas se identificavam com o outro. Embora seja verdade que algumas pessoas queiram ser de outro sexo, e possam até acreditar que deveriam ter nascido com outro sexo, essas crenças não podem ser concebidas como sendo iguais à realidade de seu sexo biológico, mas reconhecidas como sintomas de um subjacente distúrbio psicológico.

Money centrou sua atenção em bebês nascidos com distúrbios do desenvolvimento sexual, por vezes referido como hermafroditas ou intersexuais. Em casos raros, o bebê nasce com uma condição congênita ou hereditária que faz com que seja difícil identificar seu verdadeiro sexo, ou com órgãos sexuais deformados. Os interessados em uma discussão sobre este problema podem ler um documento do Comitê Nacional de Bioética italiano, intitulado "Minor’s Sexual Differentation Disorders: Bioethical Aspects", que descreve os diversos distúrbios e opções de tratamento.

Money afirma que a identidade de gênero de uma criança foi formada não pela biologia, mas pela socialização, e que os geneticamente meninos com pênis deformados poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com meninas e ser educados como meninas. Ele insistiu em que um menino aceitaria que ele era uma menina e, como adulto, seria capaz de se envolver em relações sexuais como uma mulher (uma grande prioridade para Money). Este protocolo foi amplamente aceito.

Em 1967, surgiu o caso perfeito para provar a teoria de Money de que a identidade de gênero é uma criação social. O pênis de um menino foi acidentalmente destruído durante uma circuncisão mal feita. Seus pais viram Money ser entrevistado na televisão, falando sobre crianças com distúrbios do desenvolvimento sexual, e pediram sua ajuda. Ele propôs que o menino fosse castrado e educado como uma menina. Money garantiu aos pais que o menino aceitaria plenamente esta transição, se os pais fossem consistentes em sua educação como menina. Como o menino tinha um irmão gêmeo idêntico, que serviria como um controle, o caso seria uma prova conclusiva da teoria de Money de que a identidade de gênero é construída socialmente. Money falou sobre isso e publicou relatórios do caso, garantindo a todos que o experimento foi um sucesso total.

Conforme os anos foram passando, aqueles que estavam interessados no caso se perguntaram como as coisas tinham evoluído. Será que este menino criado como menina amadureceu normalmente? Money foi evasivo e disse que, embora a criança tinha sido totalmente ajustada para ser uma menina, ele tinha perdido o contato com a família. O Dr. Milton Diamond, que estudou o efeito dos hormônios pré-natais sobre o cérebro em animais, não estava satisfeito. Depois de alguns anos, ele rastreou a família e descobriu que Money tinha distorcido totalmente os resultados de seu experimento.

O menino nunca aceitou que era uma menina. Ele só não sabia o que estava errado com ele. Ele e seu irmão foram forçados a fazer visitas anuais ao Dr. Money, durante as quais eram submetidos ao que seria considerado como abuso psicológico. Money insistiu em que o menino se submetesse a uma cirurgia para criar uma vagina, mas o menino se recusou e ameaçou suicídio se fosse levado de volta para ver Money. Finalmente, um terapeuta local, trabalhando com o garoto que hoje tem 14 anos de idade, incentivou a família para que contasse a verdade ao rapaz. No minuto em que soube que nasceu menino, ele quis viver de acordo com sua identidade real. Money não tinha perdido o contato com a família: ele sabia que sua experiência tinha falhado, mas não quis reconhecer isso.

Em 2006, um livro escrito por John Colapinto ("As Nature Made Him") expôs Money como uma fraude. Além disso, muitas das crianças que nasceram com distúrbios do desenvolvimento sexual e que foram cirurgicamente alteradas de acordo com protocolos de Money agora são adultos e protestam contra o que foi feito com elas. Muitos fizeram uma cirurgia de reversão para o seu sexo de nascimento. E exigiram que essa cirurgia seja proibida, para que as crianças com esses problemas possam descobrir sua própria identidade sexual.

Money também incentivou Johns Hopkins a oferecer cirurgias chamadas de "mudança de sexo", nas quais os homens que acreditavam que tinham o cérebro de uma mulher poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com as mulheres. Quando o Dr. Paul McHugh assumiu o departamento de psiquiatria na Universidade Johns Hopkins, encomendou um estudo sobre o resultado destas supostas "mudança de sexo". Constatando que este tratamento radical não abordou a psicopatologia subjacente dos clientes, ele interrompeu a prática. E a classificou como "colaborar com a loucura". Infelizmente, outros hospitais continuaram realizando esta cirurgia mutiladora.


Disponível em http://www.aleteia.org/pt/saude/q&a/ele-tentou-provar-que-o-genero-e-uma-construcao-social-e-fracassou-1776002. Acesso em 10 jun 2013.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O corpo educado: pedagogias da sexualidade

Guacira Lopes Louro
Belo Horizonte-MG: Autêntica, 2000


Resumo: Como jovem mulher, eu sabia que a sexualidade era um assunto privado, alguma coisa da qual deveria falar apenas com alguém muito íntimo e, preferentemente, de forma reservada. A sexualidade — o sexo, como se dizia — parecia não ter nenhuma dimensão social; era um assunto pessoal e particular que, eventualmente, se confidenciava a uma amiga próxima. "Viver" plenamente a sexualidade era, em princípio, uma prerrogativa da vida adulta, a ser partilhada com um parceiro do sexo oposto. Mas, até chegar esse momento, o que se fazia? Experimentava-se, de algum modo, a sexualidade? Supunha-se uma "preparação" para vivê-la mais tarde? Em que instâncias se "aprendia" sobre sexo? O que se sabia? Que sentimentos se associavam a tudo isso?