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domingo, 25 de agosto de 2013

Homens heterossexuais também têm prazer na região anal; veja por que e avalie se você toparia

Cléo Francisco
13/09/2012

O que você, mulher, pensaria se o seu parceiro explicitasse o desejo de ser penetrado no ânus durante a relação sexual? E você, homem, gostaria de ter ou já teve essa experiência ou nem pode ouvir falar no assunto? Antes de dar a resposta, saiba alguns detalhes sobre essa prática. E o primeiro deles é que essa região do corpo é igual em homens e mulheres e ambos podem ter prazer a partir de estímulos nessa parte do corpo.

"O períneo, região que compreende genitália e ânus, é uma região muito inervada. E qualquer área com alta incidência de terminação nervosa pode se tornar uma zona erógena, desde que se esteja com alguém que desperte o desejo sexual”, conta o urologista Marcelo Vieira, membro do Instituto H. Ellis e mestre em cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

O urologista e sexólogo Celso Marzano afirma que não existe diferença da região anal entre homem e mulher. "A anatomia e sensibilidade são iguais. Na parte genital é diferente, mas no ânus, não", diz o médico que é professor de sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC e autor do livro "O Prazer Secreto(Editora Éden), que discorre sobre a prática do sexo anal, obra dirigida a homens e mulheres de todas as orientações sexuais.

Marzano explica que, dependendo da posição em que o homem for penetrado, isso vai massagear a próstata, que fica entre dois e três centímetros de profundidade a partir da entrada do ânus. "Ele se sentirá mais estimulado" conta o médico, acrescentando que o mesmo acontece na mulher. "A diferença é que nelas a massagem é no corpo interno do clitóris, a parte não visível na vagina". 

Quanto ao prazer que o sexo anal pode provocar, o urologista afirma. "Homens e mulheres podem chegar ao orgasmo pelo sexo anal. Isso não é mito, é realidade", diz.

Muitas dúvidas

Homens heterossexuais que queiram experimentar essa prática podem ver sua orientação sexual contestada e serem alvo de preconceito que, aliás, pode ser sentido tanto por membros da ala masculina quanto da feminina. "Há uma espécie de campanha que só mesmo os homossexuais podem se excitar com toques na região ou com penetração anal na relação", diz a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello,  acrescentando que é muito difícil que as mulheres proponham ou aceitem essa prática durante o sexo.

"A maioria das pessoas que me procuram perguntando isso é do sexo feminino. Elas têm mais dúvidas se ele é gay ou não. O homem sabe se é ou não, mas não permite essas carícias por preconceito", conta Carla. "Um homem pode ter relação com parceria, ser penetrado por vibrador e não ser gay”, explica.

O preconceito é alimentado por dúvidas e desconhecimento sobre a sexualidade. Muitas pessoas acham que se um homem gostar de ser estimulado no ânus será homossexual. "Isso não é verdade, assim como também é errado afirmam que todo homossexual tem trejeitos femininos”, afirma o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr, do Instituto Paulista de Sexualidade. "Ser homossexual implica em sentir desejo por uma pessoa de mesmo sexo. E nem todo homossexual masculino curte penetrar ou ser penetrado na região anal", afirma o especialista. 

A proposta

O homem que tem vontade de provar estímulos na região anal deve ser honesto com a mulher. Precisa falar sobre seus desejos e saber se ela toparia. O mesmo vale para a situação oposta: se a mulher tem vontade de propor essa prática ao homem, que o faça, mas deixe-o à vontade para refletir se quer ou não inovar. Quem receber a sugestão só deve aceitar se sentir-se bem com isso --não faça nada só para agradar o outro. E lembre-se de que não há nada de errado com a prática. "Esse não é um comportamento errado e não é sinal de homossexualidade", afirma O psicólogo Rodrigues Jr.

A psicóloga Elisa Del Rosário Ugarte Verduguez afirma que, em um relacionamento com diálogo, há tranquilidade para conversar sobre penetração anal do homem. Porém, é preciso atenção para que o que seria um elemento a mais na vida sexual do casal não se torne a regra. "É um complemento. Quando a pessoa só quer essa prática, aí sim vira motivo de preocupação e o casal  precisa conversar a respeito".

Há a possibilidade de o parceiro procurar alguém fora da relação para concretização do desejo. "O homem que sente satisfação em ser estimulado na região anal em um relacionamento heterossexual poderá buscar outra mulher que encare bem o assunto", diz Oswaldo Rodrigues Jr. Há quem acredite que o desejo leva alguns a homens a procurarem travestis, mas o psicólogo discorda. "Procurar um travesti não se associa ao desejo de ser estimulado na área anal por uma mulher". Se quiser saber mais sobre o assunto e tirar dúvidas que você nunca mais teve coragem de perguntar.


Disponível em http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2012/09/13/homens-heterossexuais-tambem-tem-prazer-na-regiao-anal-veja-por-que-e-avalie-se-voce-toparia.htm. Acesso em 15 ago 2013.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O ânus é um órgão sexual?

Leandro Colling
novembro 7, 2012

O texto de hoje provavelmente vai gerar muita polêmica. As reações ao que postamos aqui só mostram o quanto os temas em questão são cercados por tabus e discursos de verdade que tentam, a todo custo, obrigar todas as pessoas a usar os seus corpos apenas dentro de uma mesma forma.

Vou direto à resposta da pergunta do título: sim, o ânus pode ser considerado um órgão sexual. Na verdade, qualquer outra parte do seu corpo pode ser considerada como um órgão sexual, se assim você desejar e o sentir. Primeiro vou falar do ânus especificamente e depois ampliarei o debate para pensar o corpo como um todo, ok?

Sobre o ânus ou, para usar a palavra mais usada pelas pessoas, o cu: alguns profissionais da saúde e da sexologia até concordam que o ânus pode ser considerado uma área erógena, que pode gerar prazer ao ser tocado. Alguns recorrem inclusive a Freud, que disse que um dos nossos primeiros prazeres na vida se dá através da chamada “fase anal”. Pois eu quero ir além disso, sem me filiar aos freudianos. Quero defender que o cu pode ser considerado um órgão sexual, tal como o pênis e a vagina o são.

Profissionais da saúde considerados bem progressistas dizem não ter nada contra a prática sexual anal, mas enfatizam que o ânus não teria sido criado para esta finalidade e que, por isso, não pode ser qualificado como um órgão sexual, mas como um órgão do aparelho digestivo do corpo humano.

Por mais simpática e progressista que essa leitura pode ser ela esconde uma norma sobre a sexualidade, ou melhor, um conjunto de normas criadas pelo discurso médico em consonância com outras instituições sociais que historicamente desejam controlar e regulamentar a sexualidade das pessoas. Por que? A vagina e a boca também parte do aparelho digestivo e nem por isso são desqualificadas como órgãos sexuais, no sentido de que podem ser utilizados na prática sexual sem problema algum.

Os profissionais da saúde, em sua maioria, dizem que o ânus é um local cheio de impurezas, em suma, é um local sujo e isso pode disseminar a proliferação de muitas doenças. No entanto, as pessoas que praticam sexo anal (gays ou não) já faz muito tempo que descobriram uma forma de deixar o ânus bem limpo, através do que os gays chamam de chuca (ou enema), uma espécie de lavagem que consiste na introdução de água no canal do ânus para ser despejada logo em seguida. A vagina, o pênis e boca, caso não sejam bem limpos, também serão órgãos bem sujos e proliferadores de doenças. Então, por que considerar que apenas um órgão é sujo? O que opera por traz desse discurso?

Certamente, trata-se de uma leitura que é influenciada pela norma hegemônica que estamos sempre problematizando em nossos textos aqui no blog. Michel Foucault estudou muito bem isso e devemos muitas dessas reflexões a ele. Em suma, essa norma tenta determinar tudo sobre a nossa sexualidade. Obriga que todos sejamos heterossexuais e de que façamos sexo apenas de uma determinada maneira e também especifica muito detalhadamente quais partes dos nossos corpos são erógenas e que podem ser considerados como órgãos sexuais.

Outros poderão alegar que o sexo anal deve ser combatido porque essa prática seria anti-natural, uma vez que não gera a reprodução da espécie humana. Mais um argumento que não fica em pé porque, se concordarmos com ele, toda e qualquer prática sexual só poderia ser feita se tivesse como objetivo a reprodução.

Mas, como eu disse no início, não quero tratar apenas do ânus. Uso o cu apenas como um exemplo bem provocativo e polêmico para ilustrar como nossos corpos sofrem as influências de saberes que regulam, historicamente, os nossos corpos, nossas sexualidades e nossos gêneros. Eu poderia falar de outras partes do corpo que são usadas, por algumas pessoas, como legítimos órgãos sexuais. Entre elas, certamente, estão as mãos. Para muitas lésbicas, por exemplo, as mãos são verdadeiros órgãos sexuais, elas podem se transformar em instrumentos fundamentais.

Para os praticantes de fist-fucking ocorre o mesmo. Para quem não sabe, os praticantes de fist-fucking introduzem as mãos e até os punhos no ânus de seus parceiros sexuais. O pênis e até mesmo a ereção, em geral, não possuem importância alguma nessas relações sexuais. Como nos alertam alguns pesquisadores, talvez essa seja única prática sexual que foi inventada no século 20. Vejam como nossa criatividade em relação às práticas sexuais ficou bloqueada a ponto de que em 100 anos apenas uma nova forma de praticar sexo foi criada. Enquanto isso, quase sempre fazemos sexo mais ou menos da mesma forma, muitas vezes seguindo um roteiro que obedece inclusive os padrões de uma indústria do entretenimento, notadamente a indústria pornô hegemônica, tema que desenvolverei em outro texto.

Para finalizar, quero defender, seguindo Deleuze e Guattari, que pelo menos desde o livro O anti-épido, de 1972, nos permitem entender o nosso corpo inteiro como um corpo sexual. Ou seja, nós não transamos apenas com pênis, vaginas ou ânus, mas transamos com nossos corpos e gêneros. E mais: transamos sempre em um contexto, com algum cenário, transamos, em suma, em um ambiente.

Aliás, às vezes pensamos em detalhes sobre qual será o ambiente da nossa transa. Se isso é verdade, por que ainda vamos considerar como sexuais apenas determinados centímetros de nossos corpos? Não estou sugerindo que todas as pessoas devam usar o ânus como órgão sexual, da mesma forma como muitas pessoas não consideram os seus pênis ou vaginas como aparelhos fundamentais para a prática sexual e obtenção de prazer. Apenas estou evidenciando mais uma questão relativa à diversidade sexual que existe por aí, queiram algumas pessoas e/ou instituições ou não.

Devo boa parte das reflexões realizadas acima a Javier Sáez e Sejo Carrascosa, autores do livro Por el culo – políticas anales, da editora Egales, lançado ano passado na Espanha e ainda sem tradução em Língua Portuguesa.

Nessa obra, eles discutem esses e vários outros temas. Termino com apenas um pequeno trecho da introdução do livro, onde eles dizem que a proposta do texto é “ver o que o cu põe em jogo. Ver por que o sexo anal provoca tanto desprezo, tanto medo, tanta fascinação, tanta hipocrisia, tanto desejo, tanto ódio. E, sobretudo, revelar que essa vigilância de nossos traseiros não é uniforme: depende se o cu penetrado é branco ou negro, se é de uma mulher ou de um homem ou de um/a trans, se nesse ato se é ativo ou passivo, se é um cu penetrado por um vibrador, um pênis ou um punho, se o sujeito penetrado se sente orgulhoso ou envergonhado, se é penetrado com camisinha ou não, se é um cu rico ou pobre, se é católico ou muçulmano. É nessas variáveis onde veremos desdobrar-se a polícia do cu, e também é aí onde se articula a política do cu; é nessa rede onde o poder se exerce, e onde se constroem o ódio, o machismo, a homofobia e o racismo”. (Sáez e Carrascosa, 2011, p. 13).

Disponível em <http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/2012/11/07/o-anus-e-um-orgao-sexual/>. Acesso em 13 nov 2012.