Mente Cérebro
Os neurocientistas Andreas Bartels e Semir Zeki, da
University College de Londres, pediram a milhares de estudantes ingleses que se
manifestassem caso se sentissem “verdadeira, enlouquecida e profundamente”
apaixonados. Resultado: receberam cerca de 70 respostas, sendo três quartos
delas de mulheres. Pediram então aos colaboradores que apresentassem uma breve
descrição do relacionamento que viviam, fizeram em seguida entrevistas e,
finalmente, selecionaram 11 voluntárias e 6 voluntários de várias culturas e
etnias, de 11 nacionalidades diferentes.
Surpreendentemente, nenhum dos participantes acabara de se
apaixonar, todos estavam em uma relação mais longa, de dois anos em média – e
extremamente satisfatória. Mas a seleção tinha funcionado: ao responderem a um
questionário psicológico do amor já aplicado a centenas de apaixonados, os voluntários
atingiram “valores de amor” bastante altos. Para maior garantia, foi aplicado
um teste psicológico suplementar que, à semelhança de um detector de mentiras,
se fundamentava na medição da resistência da pele. Quase todos os voluntários
suaram diante da foto do parceiro.
Os apaixonados foram submetidos à tomografia de ressonância
magnética funcional, procedimento que torna visível a atividade de várias áreas
cerebrais em determinado momento, com alta resolução espacial. “É verdade que o
desconfortável tubo do escâner não é exatamente propício à produção de
sentimentos amorosos; ainda assim, mostramos ao voluntário uma foto da pessoa
amada, pedindo que relaxasse pensando nela e todos relataram, apesar das
condições desfavoráveis, sentir claramente o próprio afeto”, diz Andreas
Bartels.
Como medida de controle, os voluntários observaram fotos de
três colegas do mesmo sexo e idade de seus parceiros, e os neurocientistas
compararam a atividade cerebral nas duas situações distintas. Quatro áreas
diferentes, bem pequenas, se iluminavam apenas quando os participantes pensavam
carinhosamente nos parceiros. Todas elas se localizavam espelhadas nas duas
metades do cérebro no sistema límbico, que controla as emoções. Não foram
encontradas diferenças significativas de atividade no córtex óptico entre a
reação às fotos do parceiro e às de colegas. Ao que parece, o “cérebro visual”
apenas transmite a informação objetiva ao “cérebro emotivo”.
A imagem da atividade no sistema límbico, porém,
diferenciava-se claramente de modelos antes encontrados em estudos de emoções
positivas. No caso das quatro áreas ativadas, trata-se, então, efetivamente de
algo como “módulos de amor especializados”. Provavelmente, cada um deles tem
uma função específica. Assim, drogas estimulantes como a cocaína, por exemplo,
ativam áreas bem mais extensas do cérebro, incluindo os quatro módulos do amor.
É possível pensar que o amor seja compreendido não apenas do ponto de vista
psicológico, mas também pelo enfoque neurológico.
Além disso, essas zonas neuronais distinguem o amor da pura
excitação sexual. O desejo estimula regiões do hipotálamo que em outras
experiências ficam inativas. Por outro lado, o amor sensual parece ativar o
núcleo caudado e o putâmen, áreas onde estão dois dos módulos do amor. É
possível considerar que eles tragam o elemento erótico para o amor romântico.
O terceiro módulo do amor está localizado no córtex cingular
anterior, estrutura que nos ajuda a reconhecer os próprios sentimentos e os do
parceiro – capacidade certamente essencial para manter um relacionamento
amoroso. O quarto módulo, por fim, é uma parte da ínsula situada no interior do
diencéfalo que tem diversas funções. Talvez a principal seja identificar
“pessoas interessantes”, já que sua atividade aumenta quanto mais atraentes
forem os rostos apresentados. Aparentemente, essa estrutura integra a percepção
visual ao mundo emocional. Além disso, parece receber informações da região
estomacal: talvez o “frio” na barriga faça uma “parada” na ínsula antes de
encontrar o caminho até a consciência.
Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/modulos_de_amor_especializados.html.
Acesso em 09 jul 2013.