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domingo, 15 de dezembro de 2013

Primeira travesti professora universitária do Brasil recebe posse em Redenção

Diário do Nordeste
09.12.2013

A Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), deu posse, na manhã desta segunda-feira (9), à primeira travesti professora universitária de uma instituição federal no Brasil. O ato de posse  a Luma Nogueira de Andrade foi realizado no município de Redenção, a 55 km de Fortaleza.

Graduada em Licenciatura em Ciências, pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Luma tem mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UFRN), e doutorado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em 2012, quando Luma apresentou o estudo "Travestis na Escola: Asujeitamento e Resistência à Ordem Normativa", ela se tornou a primeira e única travesti doutora do Brasil, feito. Na Unilab, Luma vai integrar o Instituto de Humanidades e Letras (IHL).

Antes de ingressar na universidade federal como docente, Luma era professora concursada da rede estadual de ensino e trabalhava como superintendente escolar da Secretaria de Educação do Estado do Ceará, em Russas. A doutora classificou sua titulação como "um momento simbólico de libertação e respeito aos direitos humanos".

"Busquei na educação formas de superar as dificuldades financeiras, sociais e, principalmente, o preconceito por ser travesti. Hoje é um dia de vitórias, conquistas e superação. É um marco para o movimento LGBT", completou Luma.


Disponível em http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=371477. Acesso em 10 dez 2013.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Transexual mais poderosa do mundo deixa a chefia da Lancôme

Bárbara Ladeia
20/06/2013

A L’Oreal Paris deve amargar um longo período até encontrar um novo chefe para a Lancôme a altura de Youcef Nabi, transexual mais poderosa do mundo, que abandonou a presidência da marca no começo deste mês.

Conhecida por seu carisma, a argelina esteve na presidência da divisão de luxo da L’Oreal entre 2009 e começo de junho deste ano, quando anunciou sua renúncia do cargo. Entre 2006 e 2009, Nabi foi presidente da L’Oreal Paris, mas sua presença foi solicitada para recuperação da marca Lancôme - que passou a uma participação de 11% no mercado de cosméticos sob a sua gestão.

Formou-se aos 17 anos, quando se mudou para a frança para integrar a Escola Nacional de Agronomia. A especialização em marketing na Essec - tradicional escola de negócios francesa - a levou para este departamento na L'Oreal em 1994, onde suas ideias criativas e inovadoras a levaram rapidamente à diretoria de marketing da empresa.

Conflito

Embora Nabi tenha se retirado à francesa - não houve explicações oficiais do motivo da sua saída do cargo -, a revista francesa especializada Challenges aponta diferenças estratégicas entre Nabi e o novo presidente da divisão de luxo L’Oreal Paris,  Nicolas Hieronimus.

Segundo a publicação, Hieronimus é um sucessor potencial para Jean-Paul Agon, presidente da L'Oreal Paris.


Disponível em http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/transsexual-mais-poderoso-do-mundo-deixa-a-chefia-da-lancome. Acesso em 29 jun 2013.

sábado, 8 de setembro de 2012

Transexuais chegam à Convenção Democrata para apoiar Obama

AFP
05 setembro 2012  

Amy, Jamie, Janice, Meghan e Melissa atravessaram o país para declarar seu apoio ao presidente Barack Obama. Delegadas do Partido Democrata, elas são mulheres que nasceram homens.

Éramos "seis em 2004, oito em 2008 e hoje somos 13", explicou à AFP, com voz grave, Melissa Sklarz, ao destacar o aumento crescente no número de delegados transexuais nas últimas três convenções democratas.

Primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Obama é visto como um progressista nos direitos dos transexuais, fazendo de Amanda Simpson, em 2009, a primeira política transexual indicada para um cargo no governo.

Mara Keisling, de 52 anos, não é delegado mas como diretor-executivo do Centro Nacional de Igualdade Transexual, foi à convenção para divulgar as realizações de Obama para os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).

"Estou tão feliz por estar aqui", declarou à AFP, enquanto cerca de seis mil delegados se preparavam para confirmar Obama como candidato à reeleição, em novembro.

"O presidente fez tanto progresso para as pessoas LGBT. (Mas) O trabalho ainda não terminou", acrescentou.

Kylar Broadus, delegado transexual de Columbia, Missouri, nasceu mulher, mas agora se vê como homem. Ele explicou que os problemas econômicos com os quais se confrontam os americanos foram sentidos de forma mais intensa pela empobrecida minoria a que pertence.

"Emprego é a questão número um para a comunidade de transgêneros", disse à AFP Kylar, de 49 anos. "Há pobreza extrema na comunidade de transgêneros. A maioria de nós não é empregável, não tem emprego", acrescentou.

Disponível em http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hGBmJnsJZyuNSnVyMYTk1Jd-hRjQ?docId=CNG.8998afa0b89572e97a83dd6fb35295a5.a11. Acesso e 07 set 2012.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Trabalhadoras transexuais em destaque

Jaqueline Gomes de Jesus
13/03/2012 

Entre discussões infantis sobre o que é ser mulher e depoimentos naturalizantes, que defendem a formatação dos corpos, disfarçados de elogio, grande parte da mídia aproveitou o Dia Internacional da(s) Mulher(es) para tratar dos desafios das mulheres que vivenciam a transexualidade, mesmo que de forma limitada.

Ao longo dos últimos anos, o tema tem sido mais abordado, mesmo que com base em muita desinformação e com enfoque em aspectos “curiosos”, voltados apenas a procedimentos cirúrgicos ou dificuldades relativas ao registro civil, como se fossem o único elemento importante na vida de pessoas transexuais de ambos os gêneros, desconsiderando a sua diversidade de vivências como seres humanos – em casa, na rua, no trabalho.

As mulheres sempre participaram do mundo do trabalho: subalternizadas, mas estavam lá. A partir das novas ideias e comportamentos trazidos com o movimento feminista e a liberação sexual, a percepção sobre quem são as mulheres se ampliou, deixou de apenas se remeter à mulher branca, abastada, casada, com filhos, e passou a acatar a humanidade e a feminilidade de mulheres outrora invisíveis: negras, indígenas, pobres, com necessidades especiais, idosas, lésbicas, bissexuais, solteiras etc. e, recentemente, transexuais.

Revolução silenciosa

Entretanto, ainda hoje, no século 21, as mulheres transexuais sofrem para terem garantido o direito à identidade, a serem reconhecidas social e legalmente pelo gênero com que se identificam e querem ser identificadas. Jovens desistem de estudar em escolas onde são agredidas diariamente, quando não são expulsas. Desprezadas por suas famílias, são novamente violentadas e igualmente expulsas. Apesar de tanta dor e exclusão, elas perseveram por causa da felicidade íntima que sentem por serem quem são, amam e são amadas por alguns, formam famílias.

A vida corporativa reflete a discriminação a que são submetidas na sociedade. Mesmo que se tornem adultas qualificadas, veem restringidas suas oportunidades de trabalho: permitem-lhes ser cabeleireiras, costureiras, artistas ou prostitutas. Nada mais. A sociedade que despreza essas mulheres é a mesma que as explora, de maneira hipócrita, financiando um mercado movimentado de pornografia e desumanização.

A empregabilidade das pessoas transexuais é um aspecto crucial para sua cidadania, porém esquecido pelo poder público. Entretanto, algumas dessas mulheres, em função de lutas individuais e reivindicações dos movimentos sociais, conseguem se destacar, ocupam outros espaços, sobrevivem para se tornarem símbolos, nesta e naquela organização, de uma mudança profunda neste país: o entendimento de que a identidade de gênero não é determinada por cromossomos, órgãos genitais, documentação ou cirurgias, ela é determinada pela forma como as pessoas se identificam, como se sentem e como preferem ser tratadas neste mundo. É uma revolução silenciosa.

A mídia tem muito a contribuir

Apesar de haver pessoas transexuais nos diferentes espaços sociais, políticos, técnicos ou acadêmicos, a visibilidade dessas pessoas nos meios de comunicação, é concentrada no aspecto marginal ou criminal vivido por uma parcela dessas, em função da discriminação que vivenciam, e pouco no seu cotidiano, como se não interessasse conhecer as demandas profundas de tais homens e mulheres.

Há muito por se fazer. A maioria dos ambientes de trabalho continua a obrigar mulheres transexuais a se vestirem, a se identificarem publicamente e a utilizarem banheiros que não correspondem a quem elas são. Desrespeito que se tenta justificar com normas e costumes autoritários. Felizmente, aumenta o número de locais de trabalho que entendem os direitos das pessoas e se tornam espaços de libertação para as pessoas transexuais.

Não é difícil e não envolve muitos custos porque no fim das contas as mulheres transexuais só pedem para serem vistas como seres humanos e tratadas como elas são: mulheres. E a mídia tem muito a contribuir nesse sentido: basta apresentá-las com respeito, como qualquer pessoa merece.

Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed685_trabalhadoras_transexuais_em_destaque>. Acesso em 13 mar 2012.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Excluídas do mercado de trabalho, travestis encontram sustento e aceitação na prostituição

Vladimir Maluf
01/12/2011


Estariam as travestis condenadas à prostituição? Pode ser exagero dizer que sim. Mas pode não ser. Antes de qualquer julgamento, reflita: quantas travestis você tem como colegas de trabalho? Seja chefe ou funcionária. E fazendo faxina na sua casa? Na loja onde você compra roupas, talvez? Abastecendo o seu carro ou te atendendo no “por quilo” onde você almoça diariamente? A verdade é que o mercado de trabalho é duro com esse grupo de pessoas que, muito frequentemente, encontra na prostituição o sustento e, principalmente, acolhimento. E se você ainda duvida que elas tenham poucas opções, responda para si mesmo, honestamente, se você contrataria uma.

O psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia realizou uma pesquisa sobre a prostituição das travestis. Segundo ele, a maioria delas tem origem humilde e procura fazer programas como meio de vida. “Um jovem gay, efeminado, sem apoio financeiro e familiar, vindo de camadas populares e sem possibilidade de estudos vê no comércio sexual uma das poucas saídas.“

Além do problema da documentação -pois as travestis assumem uma personalidade feminina, mas dependem de sua identidade oficial- o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as travestis são associadas à prostituição, violência e ilegalidade. “São encaradas de modo negativo, o que as impede de serem contratadas. A percepção é sempre preconcebida. O mecanismo cognitivo exige utilizar vivências passadas para compreender o presente e decidir o futuro. Assim, tudo o que foi ouvido desde criança a respeito de travestis influenciará na tomada de decisões agora.”

Tão importante quanto a renda, o mercado sexual traz o bem-estar que travestis não encontram em outros grupos, normalmente. “É onde elas são valorizadas, principalmente, por clientes. Elas se sentem desejadas por seu corpo feminino. A demonstração do desejo é um fator importante. Se a pessoa está em um processo de buscar se sentir mais feminina, o interesse do cliente, que mostra que ela é feminina, é acalentador”, afirma Marcos Garcia.

Para Giovanna Di Pietro, 28, travesti brasileira que faz programas na Europa, não há muita escolha a não ser a prostituição. “É a saída que uma travesti encontra para se transformar. Quando eu comecei a mudar meu corpo, os trabalhos convencionais ficaram praticamente impossíveis”, conta ela, que era assistente de produção de figurino em uma agência de publicidade. “Nessa fase, você passa a ser menos aceita socialmente. Consequentemente, a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho é quase nula.” 

Em sua pesquisa, o psicólogo Marco apurou que o mercado sexual também tem como principal atrativo a alta remuneração. “Na prostituição, a exemplo de outras profissões como modelo e jogador de futebol, há um período que traz muito dinheiro. Mas isso muda com o avanço da idade. Os clientes vão rareando. Com isso, a travesti tem uma perda financeira e passa a ser menos desejada, o que é muito sofrido.”

Jovem e bonita, Giovanna concorda que os ganhos são um grande convite para entrar na prostituição. “Quando você está se prostituindo, começa a ganhar dinheiro como nunca ganhou. E esse dinheiro lhe permite investir em você, mudar o corpo, comprar bens materiais etc.”

OPINIÕES DIFERENTES
O psicólogo Rafael Kalaf Cossi diz que toda manifestação de sexualidade que foge do esperado sofre discriminação, inclusive no mercado de trabalho. Mas ele acredita que o grupo das travestis transforma o corpo para a prostituição –opinião avessa a dos demais especialistas procurados para esta reportagem.

“A transexual, quando incorpora o gênero, costuma ser mais discreta. A travesti usa roupas mais escandalosas. Elas se montam para a cena erótica. É para o mercado do sexo. A transexual, quando se prostitui, não teve alternativa.”

Greta Silveira, travesti que é maquiadora e diretora da Associação da Parada LGBT de São Paulo, diferentemente de Rafael, não acha que esse ou aquele grupo é empurrado para a prostituição.

"Dentro da nossa minoria, a maioria cai na prostituição. Quando são indagadas sobre o que as levou ao mercado sexual, elas dizem que foram expurgadas da sociedade. Mas eu acho que há um pouco de receio de assumir que são prostitutas porque gostam", diz. Para ela, a prostituição é como qualquer profissão e deve ser encarada como tal. "Não acho que ninguém seja empurrado."

Ainda assim, Greta afirma que há preconceito. E disputar um espaço no mercado de trabalho formal exige persistência. "É um caminho mais difícil. Eu tive problemas quando me tornei uma boa maquiadora e comecei a ser chamada para trabalhos maiores. Quando me deparava com gays, sofria preconceito. Coisas que não acontecia ao trabalhar com heterossexuais."

Dificuldade de compreensão e desrespeito

Marco afirma que nenhum grupo social no Brasil sofre mais discriminação do que as travestis. “Esse preconceito é tão intenso que há quem use o termo ‘transfobia’. Os assassinatos de travestis costumam ser muito cruéis. É um nível de violência altíssimo. Há o preconceito pela orientação sexual, mas, principalmente, pela identidade de gênero.“

Para o psicólogo Rafael Kalaf Cossi, autor de “Corpo em Obra” (Ed. nVersos), sobre transexuais, o preconceito contra homossexuais, em especial as travestis e transexuais, tem uma explicação. “Nós não temos a certeza absoluta da nossa identidade sexual. Isso é uma ilusão. O terreno é muito embaralhado. Quando vemos uma travesti, isso traz à tona algo que a gente não quer saber.“

Excluindo a existência de homossexuais ou qualquer variação pelos pais, as crianças  aprendem que só há homens e mulheres, que devem desejar, respectivamente, mulheres e homens. “Passamos de 15 a 20 anos reforçando essas ideias para confirmar o que somos. Mas há variações inúmeras que não são socialmente compreendidas ou assumidas como reais. Desta maneira, não podemos admitir que exista uma pessoa que destoe do que aprendemos”, explica Oswaldo.

Na opinião do especialista, para compreender as pessoas que são diferentes necessitaria de um grande esforço emocional e comportamental, mas a maior parte das pessoas prefere usar essa energia para investir em outros assuntos, principalmente os de maior retorno financeiro.

“Mesmo as famílias que vivem com uma pessoa transexual, e precisariam adaptar-se, mostrarão grande dificuldade em compreender, elaborar e mudar suas perspectivas cotidianas e adaptar-se a esta identidade não prevista pela família", diz o psicólogo. Outras pessoas têm menos necessidades de se adaptar, "pois há um afastamento afetivo que permita gastar menos energia para modificar suas formas de compreender a realidade.”

Para Oswaldo, que concorda que a sociedade em geral não recebe bem as travestis, as coisas seriam diferentes se não houvesse tamanha discriminação. "A prostituição será abandonada se elas forem reconhecidas pela identidade que compreendem pertencer, mesmo que isso traga dificuldades sociais financeiras."

Disponível em <http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2011/12/01/excluidas-do-mercado-de-trabalho-travestis-encontram-sustento-e-aceitacao-na-prostituicao.htm>. Acesso em 13 mar 2012.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Modelo Felipa Tavares diz que moda com transexuais é apenas uma fase

Neto Lucon 
16/02/2012 15h00 

A modelo mineira Felipa Tavares, de 25 anos, é um mulherão. Daquelas que fazem você olhar para cima e ficar na ponta do pé para dar um abraço. Porém, não é apenas o 1,81m de altura que faz dela um destaque da agência 40 Graus. Felipa, assim como a top Lea T, é uma mulher transexual.

É a única do casting da agência, escolhida a dedo pelo empresário carioca Sérgio Mattos – o mesmo responsável por revelar modelos como Isabeli Fontana, Raica Oliveira, Danyella Sarahyba e Fernanda Tavares - durante um workshop no Rio de Janeiro.

Logo que começou a modelar no finzinho de 2011, virou “Personagem da Semana” da revistaÉpoca, e até recebeu uma dica de sua maior inspiração, Lea T: “Felipa terá de ser forte, corajosa e não achar que essa vida é glamour. Tem de se dedicar e estudar, preparar seu futuro, porque nossa vida é difícil”.

Com personalidade forte, Felipa não concorda quando Lea diz que a inclusão de transexuais nas passarelas não é modismo. Para ela, logo logo modelos transexuais deixarão de causar tanto impacto. “É apenas uma fase”, frisa.

Você foi descoberta no workshop de Sérgio Mattos, mas ninguém sabia que era transexual. Acha que, se soubessem da sua história, poderia ser rejeitada?
Acho que não, pois o mercado no mundo da moda abriu para as trans. Se fosse antes da Lea T, com certeza, mas agora não. Antes dela, quem estava? Apenas a Isis King (modelo transexual que participou do ‘America’s Next Top Model), mas ninguém abria espaço. O Serginho viu que a Lea deu certo, essa repercussão toda, então quis dar oportunidade para outras também. Acho que só contribuiu o fato de eu ser trans.

Como é ser a única modelo transexual da agência 40º?
É bem interessante, pois quando querem um trabalho diferente, me chamam. Quando entrei na agência, ninguém sabia da minha história. Assim que souberam, pela mídia, me olhavam de rabo de olho, cochichavam (risos), nada muito anormal. Me receberam e me tratam superbem, tanto as meninas quanto os meninos. 

A moda está mais aberta à diversidade de gênero e sexualidade. Isso pode ser uma fase? O que pretende fazer para prolongar a carreira?
Acredito que seja uma fase, sim, pois a moda vai inevitavelmente mudando. Com o tempo, além de não ser mais uma grande novidade, mais meninas estarão no mercado, o que aumenta a concorrência. Pretendo começar faculdade de moda e também investir em um curso de teatro. Não ficarei só na carreira de modelo, não. Vou abrir um leque de possibilidades para depois que tudo passar.  

Na matéria da revista “Época”, você declarou que se inspira em Lea T. Não tem receio de ficar na sombra dela?
Ela é uma inspiração para mim, adoraria fazer um ensaio ao lado dela, mas não tenho receio de ficar ligada à Lea. Sou bem diferente dela. O estilo de beleza, os nossos traços, são totalmente diferentes. Não acho que existam outras comparações além do fato de sermos trans.

Como está sendo sua trajetória pelo mundo da moda?
Estou fazendo mais fotos neste ano e adorando os ensaios. Aliás, sempre gostei muito do mundo da moda, sessões de fotos e dos temas. Me entrego de corpo e alma. Lembro que, quando era pequena, via os desfiles da Victoria’s Secret e ficava sonhando acordada. Mas não pude dar continuidade porque as mudanças do meu corpo não foram rápidas. Fui mudando com o tempo, demorou um pouco para chegar onde estou, apesar de ainda querer modificar alguma coisa.

O que você pretende mudar mais? 
A primeira mudança é operar... Fazer a redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo). Se eu pudesse escolher, não colocaria silicone, nem mudaria o rosto - já que nem isso eu tenho, é só hormônio - faria a cirurgia de transgenitalização. Não me sinto bem quando me olho no espelho. Quando me arrumo para uma festa, não ligo porque estou de roupa. Mas quando estou saindo do banho... Não me sinto bem, vejo que tem algo errado.

A Lea posou nua com o órgão sexual masculino à mostra na “Vogue”. Teria coragem? 
Apesar de ser uma “Vogue”, não, não teria. Eu tenho algumas fotos em que estou pelada, de lado, mas não de frente. O peito eu já mostro com tranquilidade, porque em todos os ensaios os fotógrafos pedem para eu mostrar. Mas de frente, não. Me olhando já não me sinto bem,  imagina o mundo inteiro olhando inteiro? (risos). Acho que a Lea é muito corajosa.

Sei que o mundo trans é repleto de rusgas. Tem contato com outras modelos transexuais, como Carol Marra, Lea T?
É meio distante mesmo. Com a Lea, depois do conselho que ela me deu na revista “Época”, nunca mais tive contato. Entrei no Facebook da Carol, mas ela ainda não me adicionou. Tenho algumas amigas transexuais que me incentivam, mas já vi muita gente criticando. É muito difícil ter mídia voltada para travestis e transexuais, então quando isso acontece, elas têm que ficar felizes, não apedrejar ainda mais.

Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2012/02/16/294467-modelo-felipa-tavares-diz-que-moda-com-transexuais-e-apenas-uma-fase>. Acesso em 16 fev 2012.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Murilo Armacollo: "Tomei um susto quando me vi caracterizado de mulher"

Gustavo Mause
27/01/2012 13:01

A estreia de Murilo Armacollo na TV não poderia ser mais difícil - e também polêmica. O ator paranaense, de 24 anos, que participou de “Hairspray”, de Miguel Falabella, e de outros musicais como “Aladdin”, “Cabaret” e “New York, New York”, interpreta Julie, o filho transexual do presidente Paulo Ventura (Domingos Montagner) na minissérie “O Brado Retumbante”, da Globo, que termina nesta sexta-feira (27).

A produção da minissérie tratou a personagem de Murilo como um trunfo. O ator não participou da coletiva de imprensa para divulgar o trabalho, e o elenco evitou dar muitos detalhes sobre Julie. A espera valeu a pena: Murilo surpreendeu e apareceu irreconhecível na pele do transexual. O próprio ator ficou surpreso quando se viu caracterizado. “Tomei um susto. Fiquei a cara da minha irmã. Só que moreno, porque ela é loira”, contou Murilo em entrevista ao iG.

Murilo também contou como está sendo a reação das pessoas nas ruas, o que ouviu dos transexuais sobre sua interpretação e como se preparou para viver a personagem: ele abandonou a academia, fez uma dieta rigorosa e conseguiu perder 15kg em 15 dias, além do laboratório com uma transexual, que o ajudou a entender a cabeça dessas pessoas e os problemas pelos quais elas passam.

iG: Como você conseguiu o papel de Julie na minissérie?
Murilo Armacollo: Fiz um teste na Globo há muito tempo. Fiquei esperando, e de repente, me chamaram. Alguém viu o meu cadastro, gostou, e uma semana depois eu já estava fazendo a caracterização para a personagem.

iG: Era um desejo seu trabalhar em televisão?
Murilo Armacollo: Assim como fazer cinema, trabalhar na TV sempre foi um grande objetivo. Faz parte do nosso mundo, dos atores. Fazer algo grande, para a massa, é uma grande realização.

iG: Como você se preparou para o papel? Fez algo para ficar com o corpo menos masculino? 
Murilo Armacollo: Quando começamos a fazer os testes de figurino, me olhei no espelho e me achei grotesco. Então resolvi fazer uma dieta de proteínas rigorosa durante 15 dias. Deixei a musculação de lado e comecei a correr 20km todos os dias. Acabei conseguindo perder 15kg em 15 dias. Logo em seguida, comecei a fazer laboratório. Estudei bastante e pesquisei como era o psicológico dessas pessoas. Também assisti a vários filmes com o tema. Como queria fazer uma personagem bem feminina, sem cair no caricato, vi filmes da Marilyn Monroe, que foi um grande símbolo sexual, que inspirou muitas mulheres. 

iG: Você conversou com algum transexual durante essa preparação? 
Murilo Armacollo: Fiz laboratório com uma transexual que me ajudou muito. Ela me explicou como era viver assim, desde a infância, passando pelo entendimento com a família, até a preparação para a cirurgia de mudança de sexo.

iG: Ouviu alguma história chocante, que tenha te marcado? 
Murilo Armacollo: Todas as têm histórias de preconceito muito fortes. São agredidas verbalmente - e fisicamente também - diariamente, na rua, e às vezes dentro da própria casa. O que mais me chocou foi descobrir que elas não conseguem arranjar emprego. Às vezes até conseguem oportunidades de estágio, mas quando vão ser contratadas, o empregador vê que elas não fizeram ainda a cirurgia, olham os documentos, e não contratam. Dão desculpas para não contratar. Meu objetivo na série, além de fazer um bom trabalho, próximo da realidade, era que as pessoas entendessem que essas meninas precisam de uma vida social, precisam ser compreendidas pela sociedade, como eu, você, como todo mundo. Elas têm esse direito. Queria ter a sensibilidade de passar isso para o público de uma forma legal.

iG: Qual foi a sua reação ao se ver caracterizado como mulher?
Murillo Armacollo: Na hora em que me vi caracterizado, tomei um grande susto. Pensei: "To a cara da minha irmã! Só que moreno, porque ela é loira". Foi uma grande alegria, porque a preparação foi muito difícil. Quis fazer o mais delicado e suave possível. Não queria fazer algo grotesco. À partir do momento que me vi como Julie, falei: "Meu Deus, conseguimos!". Foi um alívio e um orgulho. Consegui alcançar a meta que tínhamos traçado para a personagem. 

iG: Como você foi recebido pelos atores mais experientes? Como é contracenar com Domingos Montagner e Maria Fernanda Cândido? 
Murilo Armacollo: Tive grande sorte em entrar em um elenco como esse, com feras. É maravilhoso trabalhar com o Domingos, com a Maria Fernanda, com José Wilker. São grandes ídolos meus. Todos eles, elenco e direção, me receberam de uma maneira muito maternal, me deixaram bem tranquilo. A linguagem é muito diferente, não estava acostumado, falei “Gente, to nervoso. Qualquer coisa me ajudem”. Mas todos me trataram muito bem. O trabalho começou direto, de igual pra igual, sem desculpas porque eu era novato.

iG: Outros atores que interpretaram personagens transexuais, ou mesmo gays, já sofreram agressões nas ruas. Tem medo de que aconteça algo semelhante com você? Como é a reação das pessoas nas ruas? 
Murilo Armacollo: Eu não tenho medo porque o trabalho foi bem executado por mim e pela equipe toda. Procurei fazer algo com delicadeza, que obviamente iria chocar, mas de uma maneira delicada e positiva. A reação das pessoas nas ruas é muito boa. Todos elogiam, me param para dizer que meu trabalho está incrível, que estou realmente parecendo uma mulher. Pela delicadeza da personagem, não acredito que vá repelir ninguém, pelo contrário. Até agora recebi muitos e-mails e mensagens no twitter com elogios de transexuais. Nunca tinha tido contato com essas pessoas, não sabia nada sobre o transtorno de identidade de gênero. Tinha medo de representá-las mal, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

iG: Tem medo de ficar marcado com um papel tão forte?
Murilo Armacollo: As pessoas podem, sim, lembrar da Julie, mas não acho que vou ficar marcado. É uma temática com a qual as pessoas não estão acostumadas, mas não tenho medo.

iG: Você sabe como será o final da sua personagem? Pode adiantar algo? 
Murilo Armacollo: Eu não sei nada do que vai ao ar. Quando gravei minhas cenas, optei por não ver nada. Quero ter a mesma reação do público, me surpreender.

iG: Quais são os seus planos para a carreira?
Murilo Armacollo: O que eu quero é trabalhar. Vou continuar a fazer teatro, que é a minha raiz, mas gostei demais de TV. Espero que daqui para frente consiga outros ótimos papéis, tão difíceis quanto a Julie, pra que eu possa fazer esse trabalho de pesquisa de construção do personagem, que é muito prazeroso.

Disponível em <http://gente.ig.com.br/tvenovela/murilo-armacollo-tomei-um-susto-quando-me-vi-caracterizado-de-mu/n1597601456964.html>. Acesso em 06 fev 2012.