Danielle Barg
06 de Dezembro
de 2013
O machismo no Brasil é um tema que volta e meia está no topo
das discussões: quando se pensa que avançamos neste aspecto, logo aparece
alguma novidade para provar o contrário. E enquanto muita gente pensa que
alguns conceitos ficaram lá no século passado, uma pesquisa vem trazendo dados
preocupantes dentro deste cenário.
O instituto Avon apresentou esta semana os resultados do
estudo Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher. O
tema machismo foi abordado em diversas questões, uma vez que o comportamento
representa um tipo de violência.
Ficou comprovado que muitos deles ainda esperam da mulher o
papel de Amélia: servil e pouco ousada. Entre os destaques, estão dados como:
85% dos homens consideram inaceitável que a mulher fique bêbada; 69% não querem
que a mulher saia com amigos (as) sem o marido e 46% não gostam que mulheres
usem roupas justas e decotadas.
Quando o assunto são as tarefas domésticas, 43% acham que
quem deve cuidar da casa é a mulher, enquanto que 89% dos entrevistados
consideram inaceitável que a mulher não mantenha a casa em ordem. No campo da
sexualidade, 47% deles concordam que o homem precisa mais de sexo do que a
mulher.
O Terra conversou com alguns homens para confrontar os dados
do estudo.
Álcool, roupas e liberdade
Sair com as amigas, para muitas mulheres, é sinônimo de
liberdade e de algumas horas de descontração – longe das obrigações envolvendo
trabalho, filhos e casa. Embora alguns homens tenham dificuldade em admitir, o
ciúme e o instinto de ‘propriedade’ está presente em muitos relacionamentos.
O gestor ambiental Marcos Flavio, 28, discorda. “Dentro de
uma razoabilidade moral, não sendo ridículo, nem expondo a intimidade, creio
que uma roupa decotada, combinando, seja sim bonito”, analisa.
Já quando o assunto é o álcool, rejeitado por 85% dos homens
da pesquisa, as opiniões são divergentes. Diego Rodrigues, 28, executivo,
acredita que é aceitável uma mulher ficar bêbada, mas com uma ressalva. “Desde
que não seja uma coisa frequente, ou em situações em que não convém.”
O gestor operacional Robson Leandro da Silva discorda. “E
daí que a mulher ficou bêbada? Se fosse o contrário (mulheres achando
inaceitável homens bêbados) diriam que é frescura”.
Síndrome de Amélia
O estigma da Amélia, 'que era mulher de verdade’, vem sendo
rejeitado ao longo dos anos por muitas mulheres, que hoje em dia têm enorme
representatividade no mercado de trabalho. Os homens mais abertos à esta
mudança de padrão aceitaram a virada, porém, como comprova a pesquisa, existem
muitos que ainda preferem se acomodar no papel de marido provedor – que
simplesmente é servido e não assume papéis na vida doméstica.
Com relação ao número de 43% que acham que quem deve cuidar
da casa é a mulher, Diego acredita o dado pode estar relacionado às habilidades
femininas. "Acho que mulher tem mais bom gosto para cuidar da casa no que
diz respeito a móveis, louças, organização.”
Para Matheus, o segredo é o equilíbrio. “Os casais atuais
dividem as tarefas e compartilham as coisas boas e ruins de cuidar da casa”,
afirma, embora também acredite que “as mulheres são muito mais preocupadas com
isso que os homens.”
Robson é contra o número da pesquisa. “Essa divisão não deve
existir. Se você divide a casa com alguém, deve dividir as tarefas. A menos que
um dos dois tenha por hobby, por exemplo, cozinhar. O que não acredito que
aconteça com a questão da limpeza. Felizmente, as mulheres trabalham hoje e não
devem assumir as funções de doméstica”, observa.
Sexo
Os hormônios masculinos geralmente são os ‘culpados’ pela
aparente maior necessidade de sexo deles. E pelo visto eles concordam, já que
47% pensam desta forma, segundo a pesquisa.
C.R.S., 33, contato comercial, que prefere não se
identificar, a informação procede. “O homem é mais sexual do que a mulher. Os
homens admitem e as mulheres mais convencionais também. Mas não é palavra, é
comportamento, pelo menos sob minha visão.”
Violência doméstica
Os números da violência propriamente dita, revelados pelo
estudo, também não são animadores. Entre os mais alarmantes, estão o de que 16%
já foram violentos com a companheira, atual ou ex; 56% dos homens já cometerem
algum tipo de agressão com a companheira, entre eles, xingamentos (53%),
empurrões (19%), tapas (8%).
Além disso, 35% disseram desconhecer a lei Maria da Penha,
enquanto que 48% deles não apoia a mulher a buscar a Delegacia de Mulher caso o
homem a obrigue a fazer sexo sem vontade.
A pesquisa lembra ainda que a cada 4 minutos uma mulher é
vítima de agressão no Brasil e até 70% delas sofrem violência ao longo da vida.
Disponível em
http://mulher.terra.com.br/comportamento/machismo-pesquisa-mostra-que-brasileiros-ainda-querem-uma-amelia,77bb0eefc99b2410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html.
Acesso em 15 dez 2013.