Genilson Coutinho
23 de setembro de 2013
Todos os anos, cerca de mil brasileiros são submetidos a
amputação do pênis. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde, a mutilação
é causada pela falta de cuidados que faz com o que o Brasil ocupe um dos
primeiros lugares em câncer de pênis no mundo, perdendo para a Índia e alguns
países do continente africano.
Para tentar mudar esse quadro e chamar atenção da população
para medidas simples que podem evitar a amputação e o câncer, como a limpeza
com água e sabão, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria com o
Instituto Lado a Lado pela Vida, realizará, de 26 a 29 de setembro, a Campanha
Nacional chamada Câncer de Pênis Zero.
A quarta edição da iniciativa conta com textos explicativos
no portal da SBU (www.sbu.org.br), posts de orientação no Facebook
(www.facebook.com/SociedadeBrasileiraUrologia) e ações de atendimento ao
público em cidades do Norte e Nordeste, regiões de maior incidência do
problema. A campanha tem como padrinho o ex-jogador de futebol Zico, atual técnico do Al-Gharafa (Qatar).
Campanha
De acordo com o urologista e coordenador da campanha na
Bahia, Marcelo Brandão, o câncer de pênis é uma doença social e está
basicamente ligada às condições de saúde e higiene.
“Com água e sabão e os cuidados de limpeza na glande (também
conhecida como cabeça do pênis) e no prepúcio (que é a pele que recobre o
pênis), o câncer e as amputações poderiam ser evitados”, completa o médico,
ressaltando que, entre os circuncidados, como é o caso dos judeus nascidos em
Israel, as taxas da doença chegam a quase zero.
“Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de
Urologia no Maranhão, por exemplo, mostrou que, de cada 100 pacientes operados
de fimose, 30% tinham câncer de pênis nos estágios iniciais”, completa o
médico, ressaltando que, no estado, a campanha vai se concentrar na
sensibilização dos profissionais que atuam nos postos de saúde e no Programa de
Saúde da Família para alertar a população sobre os cuidados.
“Em cidades do interior como Maragogipe, Cachoeira e São
Felix já existe um trabalho constante de sensibilização da população, realizado
ao longo de 15 anos. Na capital, estamos fechando uma parceria com o Hospital
Aristides Maltez”, completa.
Parceiros
A falta de higiene e limpeza não afeta apenas a saúde de
quem descuida da saúde íntima, as lesões no pênis também facilitam o
desenvolvimento de doença nos parceiros, facilitando, inclusive, a transmissão
do papiloma vírus humano (HPV), principal responsável pelos cânceres de colo de
útero, vagina, ânus, pênis e orofaringe (boca e garganta).
Nos últimos dez anos, inclusive, o câncer de orofaringe
causado pelo HPV superou aqueles causados pelo tabagismo e pelo álcool, entre
os menores de 50 anos.
“Infelizmente, na maioria dos casos, os homens não
apresentam sintomas, por isso mesmo, não sabem que estão servindo como vetores
de disseminação e contágio”, esclarece o diretor médico do Centro de Pesquisa e
Assistência em Reprodução Humana (Ceparh) e ginecologista, Jorge Valente.
O cirurgião de boca e pescoço Ivan Agra lembra que os
cânceres de orofaringe são mais comuns no público masculino. “Para cada mulher
com a doença, existe cerca de quatro homens com o mesmo problema”, salienta o
especialista, lembrando que, apesar da resistência cultural, é fundamental não
abrir mão do preservativo, mesmo durante as preliminares.
No caso do sexo oral, a dica dos especialistas é apostar nos
produtos com sabor, que poderiam ser usados como aliados para assegurar que
prazer e segurança andem sempre muito próximos.
Sexo
Para assegurar a saúde da boca e garantir o tratamento
rápido, Ivan Agra defende que as pessoas realizem periodicamente o autoexame da
boca, verificando qualquer lesão na área.
“Feridinhas que não cicatrizam, dor para engolir que
ultrapassa o período de três semanas merecem atenção especial e, nesses casos,
o indivíduo deve procurar um médico o mais rápido possível”, pontua.
Marcelo Brandão ressalta que o câncer de pênis é tratável em
suas fases iniciais. “Além da higiene diária, feita sempre após as relações
sexuais e a masturbação, é importante que os homens estejam atentos para
qualquer perda de sensibilidade, coceira, lesões esbranquiçadas e aumento de
gânglios (ínguas)”, explica o médico, salientando que o câncer de pênis tem um
impacto muito significativo na vida das famílias.
“Vivemos um modelo patriarcal na sociedade e, geralmente,
quando o câncer gera a amputação parcial ou total, esse homem tende a
desenvolver outras doenças, como o alcoolismo e a depressão”, complementa o
urologista.
Ele lembra que, mesmo quando a amputação é parcial, o
aspecto psicológico das relações sexuais termina sendo comprometido.
“Geralmente esse homem não consegue executar a penetração e nem atingir o
orgasmo”, esclarece o médico, ressaltando que
é retirado cerca de 2 centímetros do pênis.
O médico chama a atenção que, no caso das relações homem e
mulher, é necessário um mínimo de seis a sete centímetros para proporcionar o
prazer da parceira.
Para Marcelo Brandão, a informação e a educação desde a
infância poderiam mudar o quadro atual. “A prevenção será sempre melhor que o
tratamento”, finaliza Brandão.
Disponível em
http://www.doistercos.com.br/cancer-de-penis-mais-de-mil-homens-tem-penis-amputados-por-ano-saiba-como-se-prevenir-de-doencas/.
Acesso em 24 set 2013.