Mariana Versolato
20/11/2013
Uma nova droga para repor testosterona em homens com baixos
níveis do hormônio deve chegar ao Brasil no próximo mês. A novidade é o
formato: o medicamento é aplicado nas axilas, como se fosse um desodorante.
Hoje, existem três remédios de reposição hormonal masculina
no país, todos injetáveis. Dois deles são aplicados a cada três semanas e o
outro, a cada três meses.
Já o novo medicamento, de uso tópico, deve ser usado
diariamente pela manhã, depois do desodorante comum.
Dessa forma, a droga tenta imitar a produção natural da
testosterona --que tem níveis mais altos no começo do dia. Com os remédios
injetáveis de longa duração, podem ocorrer picos do hormônio logo após as
aplicações e níveis baixos no fim do período.
O remédio é colocado em um aplicador usado diretamente nas
axilas, o que evita que o produto entre em contato com as mãos e diminui os
riscos de contaminar outras pessoas com o hormônio. A dose pode variar de
acordo com a recomendação médica. Cada "bombeada" do produto tem 30
mg, e a dose máxima diária, segundo a bula, é de 120 mg. Uma unidade com 110 ml
custará R$ 283,93, o que é suficiente para um mês, em média, a depender da dose
indicada.
Indicação
Segundo Miguel Srougi, professor titular de urologia da
Faculdade de Medicina da USP, a diminuição do hormônio masculino é um processo
natural que ocorre a partir dos 40 anos.
Mas não são todos os homens que precisam do medicamento. O
urologista afirma que a reposição hormonal só é indicada para homens com níveis
baixos de testosterona --os valores normais vão de 300 a mil nanogramas por
decilitro-- e queixa de sintomas.
De acordo com estudos, de 3% a 30% dos homens podem ter
níveis baixos de testosterona. Desses, só um terço tem sintomas relacionados a
essa queda e, portanto, seria candidato ao uso da reposição hormonal.
"Há só três problemas que a reposição pode melhorar:
perda de libido, perda de massa muscular e osteoporose. Há médicos que
acreditam que há um ganho na memória, que a pessoa vai ficar mais bem disposta,
mas não há evidências disso. É tudo ficção", afirma Srougi.
Segundo ele, a queda do hormônio masculino pode ter um
efeito desfavorável para a saúde, mas não é responsável por problemas
cognitivos decorrentes da idade. A reposição também não é um "elixir"
para males como irritabilidade e insônia.
"Há um grupo de críticos que afirma ainda que há um
mercado de reposição hormonal que lucra com essa ideia. Surgiu todo um comércio
em torno disso. É preciso ter cuidado na indicação", diz.
A reposição hormonal masculina tem seus riscos. Em doses
exageradas, pode causar o crescimento das mamas, toxicidade para o fígado, aumento
de colesterol "ruim", maior risco de hipertensão e apneia do sono.
O risco de o tratamento causar câncer de próstata foi
levantado e já descartado, segundo Srougi, mas, se o paciente já tiver um
tumor, a droga fará com que ele cresça mais rapidamente. Por isso, é preciso
descartar a hipótese da doença antes de começar o tratamento.
O médico diz ainda que a forma de aplicação do novo
medicamento, não injetável, pode aumentar o número de pessoas que farão uso
indevido da testosterona, incluindo os adeptos da medicina
"antiaging" (que usa hormônios para tentar atrasar o envelhecimento,
sem evidências científicas).
Bernardo Soares, diretor médico da Eli Lilly, diz que o
risco existe, mas que a droga será vendida com receita. Efeitos adversos e uso
fora da indicação da bula serão monitorados pela farmacêutica.
Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/11/1373857-reposicao-de-testosterona-em-forma-de-desodorante-chega-ao-pais.shtml.
Acesso em 16 jan 2014.