Rebecca Adams
The Huffington Post
Publicado: 28/08/2015
17:04
Estudos acadêmicos podem ser fascinantes... e muito
confusos. Decidimos tirar todos os jargões científicos e
explicá-los para você.
O cenário
Com toda a pressão para as mulheres
parecerem esticadas, magras e eternamente jovens, a autoobjetificação infelizmente é a regra nos dias de
hoje. Os pesquisadores começam a acreditar que o autojulgamento não afeta só
nosso estado mental – a vergonha do corpo pode nos deixar fisicamente doentes.
A ideia é que os padrões estritos de beleza – que
contribuem para a vergonha do corpo – muitas vezes fazem as mulheres se
sentirem mal a respeito de suas funções corporais (como
menstruação e suor). Isso pode fazer as mulheres tentar esconder essas funções,
o que por sua vez pode causar problemas de saúde.
Para investigar, a pesquisadora Jean Lamont, da Universidade Bucknell, realizou dois
pequenos estudos.
A preparação
No
primeiro estudo, Lamont pediu que 177 estudantes universitárias respondessem um
questionário com frases como “Sinto vergonha quando tenho de usar tamanhos maiores de roupa”; “Tenho
confiança de que meu corpo vai comunicar o que é bom para mim”; e “Sempre me
sinto vulnerável a doenças”.
As
participantes tinham de responder o quanto concordavam ou discordavam das
afirmações. Lamont usou as respostas para medir a vergonha que cada
participante tinha do próprio corpo, como elas respondiam ao corpo e como
avaliavam sua própria saúde.
Depois,
as mulheres relataram quantas infecções tiveram nos últimos cinco anos – como
bronquite, pneumonia e candidíase – além de episódios de náusea, dor de cabeça
e diarreia. Cada mulher também avaliou sua saúde numa escala de um a cinco.
Mas
Lamont queria acompanhar os resultados num prazo mais longo, para garantir que
eles não sofressem influência de depressão, cigarro ou índice de massa corporal
(IMC).
Então ela
fez uma versão longitudinal do estudo para controlar essas três variáveis.
Nessa versão, ela pediu que 181 estudantes respondessem o mesmo questionário em
dois pontos diferentes do semestre, uma vez em setembro e outra em dezembro
(época em que há mais ocorrência de doenças infecciosas como gripe, bronquite
etc., segundo o estudo).
Os resultados
Finalizados os dois estudos, Lamont descobriu que mulheres que tinham mais
vergonha do corpo deram notas mais baixas para sua saúde e relataram mais
infecções desde a adolescência. Os resultados se mantiveram no grupo controlado
para depressão, cigarro e IMC.
Além
disso, o segundo estudo mostrou que mulheres com mais vergonha do corpo tiveram
mais infecções entre o primeiro e o segundo questionário. Isso sugere que a
vergonha do corpo relatada pelas mulheres em setembro pode ter contribuído para
infecções reportadas em dezembro.
Por que
isso acontece? Lamont sugere a seguinte correlação: a vergonha do corpo indica
má saúde, porque esse sentimento pode levar as mulheres a prestar menos atenção
aos sinais do corpo e a avaliar incorretamente o estado de saúde.
A conclusão
O estudo levanta a questão: se tantas mulheres se
sentem mal com seus corpos, qual é o real impacto disso na saúde? Isso é algo
que ainda não se sabe – a escala do estudo foi muito pequena, e os resultados
têm limitações, pois Lamont dependia dos sujeitos do estudo para obter os
históricos de saúde (um problema conhecido nesse tipo de pesquisa).
Ainda
assim, os estudos sugerem que estar de mal com o corpo pode potencialmente
prejudicar a saúde física, além de oferecer insights sobre o porquê dessa
relação.
De
qualquer modo, que esse estudo seja mais um motivo para amar o próprio corpo.
Sentir-se culpada por um pedaço de chocolate, ou se penitenciar porque você não
é parecida com celebridades ou modelos
photoshopadas pode ter consequências muito mais graves além do mau humor.
Disponível
em http://www.brasilpost.com.br/2015/08/28/vergonha-do-corpo_n_8051040.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004.
Acesso em 30 ago. 2015.