Mostrando postagens com marcador vida dupla. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vida dupla. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de setembro de 2014

"Existimos pelo prazer de ser mulher": uma análise do Brazilian Crossdresser Club

Anna Paula Vencato
Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009

Resumo: Este trabalho está embasado em pesquisa de base etnográfica realizada de 2007 a 2009 com homens que praticam “crossdressing”. Buscou-se entender como o “se montar” ou “se vestir de mulher” é negociado em diversas instâncias de suas vidas, como as relações com família, trabalho, amigos, intra-grupo, etc. Também se buscou compreender como noções de gênero se articulam na produção das “mulheres” que constroem. Tentou-se compreender também como estes homens negociam com o estigma relativo à prática do “crossdressing” e com o segredo necessário para que mantenham o status em suas vidas quando desmontados. A pesquisa realizou-se em eventos do Brazilian Crossdresser Club (BCC) ou de membros deste clube, na internet e através de dezessete entrevistas. Questões como manejo do estigma, desvio, negociações do segredo e a construção de pessoa articulada a certas convenções de gênero nortearam a análise empreendida. O que se evidenciou, ao final é que antes de compreender as crossdressers como “marginais” ou “desviantes”, é preciso entender as estratégias que empreendem para manter uma “vida dupla”. Esta “vida dupla” das “crossdressers” informa que a ideia de uma separação entre desvio e norma precisa ser matizada: a gestão que fazem para manter esta duplicidade indica que se há, por um lado, um distanciamento das normas, por outro lado, há também um esforço para manter-se em diálogo com elas.