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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

“De sapos e princesas”: a construção de uma identidade trans em um clube para crossdressers

Marcos Roberto Vieira Garcia
Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana
ISSN 1984-6487 / n.4 - 2010 - pp.80-104

Resumo: A partir de uma pesquisa qualitativa com membros de um clube para crossdressers residentes no estado de São Paulo, o presente artigo buscou investigar alguns elementos presentes na construção da identidade crossdresser no Brasil. Os resultados mostraram similaridades em relação ao modo de funcionamento e aos discursos existentes nos clubes estrangeiros, como a reprodução do mecanismo de construção de um eu feminino (princesa) entre elas, que passa a coexistir com o eu masculino (sapo) anterior, e a incessante troca de informações relativas ao processo de montagem. O estudo evidenciou o caráter suportivo do grupo, uma vez que este provia a possibilidade de convivência com outras pessoas com desejo de vestir roupas femininas, e também seu caráter normativo, tanto em relação ao que é considerado apropriado na construção da princesa, como naquilo que permitiria maior aceitação familiar e social ao crossdressing.



domingo, 8 de setembro de 2013

Em benefício da diversidade

Fabíola Tarapanoff

A capital paulista foi palco da 12ª Parada do Orgulho Gay. Com o tema "Homofobia mata. Por um Estado laico de fato", a festa movimentou cerca de 189 milhões de reais, segundo a São Paulo Turismo (SPTuris), empresa de promoção turística e eventos da cidade, e deve ter levado cerca de 3,5 milhões de pessoas para a Avenida Paulista, centro financeiro do país. "Deve" porque não se chegou a um acordo sobre esse número; a Polícia Militar não fez a contagem e a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, promotora do evento, julga que mais pessoas estiveram presentes neste ano do que em relação a 2007 - quando estimou em 3 milhões de pessoas. Mas um número é certo: eles são 18 milhões em todo o país, segundo dados da Associação Brasileira de Turismo GLS (Abrat GLS - Gays, Lésbicas e Simpatizantes).

Aos poucos eles vêm conquistando seus direitos não só na sociedade, mas também no mundo corporativo. Prova disso são os resultados da pesquisa Best Places to Work for GLBT Equality (Melhores Lugares para Trabalhar para a Igualdade GLBT- Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais) da instituição Human Rights Campaign Foundation, publicada este ano na revista Human Resource Executive. O relatório é realizado com companhias norte-americanas e tem como objetivo detectar o tratamento que elas oferecem aos funcionários homossexuais. Em 2005, 101 empresas obtiveram a nota máxima quanto a essa questão. Em 2008, o número saltou para 195.

No Brasil, ainda são poucas as organizações que oferecem benefícios para funcionários que tenham parceiros do mesmo sexo. Mas esse panorama tem mudado. Segundo pesquisa de 2008 da Mercer, realizada com 255 grandes e médias empresas, 16% delas permitem a inclusão de um parceiro do mesmo sexo como dependente do plano de assistência médica. No ano anterior, 12% ofereciam esse benefício. Segundo o consultor da Mercer Francisco Bruno, esse resultado representa um avanço. "A pesquisa referente a benefícios existe há mais de 10 anos e, antes, a questão de benefício a funcionários com parceiros do mesmo sexo nem era colocada. Isso mostra que as corporações estão com uma prática mais moderna na área de recursos humanos", analisa.

Outro levantamento que apresenta essa questão foi realizado pela consultoria Towers Perrin. Todo ano a instituição questiona empresas sobre os benefícios oferecidos a seus funcionários como auxílio farmácia, plano médico e odontológico. Segundo o diretor-geral da Towers Perrin, Luiz Roberto Gouvêa, em 2006 cerca de 9% das empresas ofereciam esses benefícios. Em 2007, houve um aumento para 16%. Outros pontos também apresentaram elevação: o benefício farmácia teve um aumento de 6% em 2006 para 15% em 2007 e o plano odontológico apresentou um crescimento de 10% para 15% nos mesmos períodos.

Na opinião de Gouvêa, há uma teoria que explica esse movimento: as empresas desejam reter e atrair bons funcionários e, para isso, precisam oferecer uma boa remuneração. "Elas estão fazendo pequenos ajustes porque reconhecem que há uma evolução nos valores da sociedade e que companhias que promovem essas ações são consideradas mais justas pela população", complementa.

No entanto, o diretor-geral ressalta que diversas organizações ainda não oferecem os benefícios porque alguns funcionários têm medo em expor sua preferência sexual. "Muitas vezes, essas minorias se escondem e não reivindicam seus direitos. Acredito que várias companhias só darão um passo à frente se houver maior exposição dessa questão", analisa.

Apesar de acreditar que essa postura está ligada à necessidade de atender à legislação, ele considera positiva essa evolução das empresas. "No ano passado, fizemos uma pesquisa sobre quais os fatores que fazem os funcionários se engajar dentro de uma organização e um deles era que a liderança da companhia deveria estar interessada no bem-estar dos empregados", explica. "À medida que eu ofereço mais oportunidades para os funcionários e não discrimino, estou fomentando o bem-estar dentro da organização, contribuindo para a melhoria dos resultados", completa.

Dentro das multinacionais

No Brasil, duas multinacionais que apareceram na pesquisa Best Places to Work for GLBT Equality destacam-se nessa questão: a DuPont e a HSBC. A DuPont do Brasil segue a mesma política da matriz, afirmando que não discrimina nenhum empregado. Segundo a gerente de remuneração e benefício, Cláudia Brigante, desde 2005 a companhia oferece plano médico, odontológico, de previdência e seguro de vida para funcionários que possuem parceiros do mesmo sexo. Exatamente o mesmo pacote que é oferecido aos empregados heterossexuais. Hoje a empresa possui 3 mil colaboradores no país.

Cláudia explica que desde 2001 a DuPont começou a mudar sua política de recursos humanos, pois identificava que o perfil da população estava se modificando. "Como a companhia respeita os seus funcionários, dentro desse conceito de não-discriminação, faz todo o sentido a inclusão de parceiros do mesmo sexo no pacote de benefícios", destaca. "A questão do desempenho independe das opções pessoais do funcionário. Na medida em que ele está realizando as suas atividades como qualquer outro empregado, não há motivo para não oferecer um pacote de benefícios igual", diz.

A gerente explica que já foi procurada por diversos funcionários solicitando mais informações, mas que não houve até o momento pedido de inclusão. Em sua opinião, isso ainda não ocorreu porque alguns empregados não atingiram o requisito de dois anos de união homossexual estável comprovada. "Pode até existir o medo da pessoa de se expor, mas o tema é discutido de forma aberta em reuniões na companhia desde 2002. Acredito que diferentes pontos de vista contribuem para gerar melhores negócios", analisa.

O HSBC Bank Brasil, subsidiária da HSBC Holdings, um dos maiores grupos financeiros do mundo, também aposta no tema. Tanto que desde 2007 oferece aos seus funcionários homossexuais a possibilidade de incluir o companheiro em seus planos médicos e odontológicos. Para realizar essa inclusão, o funcionário deve apenas informar os dados e apresentar cópias de documentos pessoais do dependente à área de RH e uma declaração de convivência homoafetiva. Atualmente, a instituição tem mais de 28 mil colaboradores em todo o país.

A companhia, inclusive, possui um Comitê de Diversidade, formado por diretores e executivos de várias áreas do banco com o intuito de gerenciar as políticas dessa natureza. "Queremos ver no HSBC uma diversidade que vá além de aumentar a participação de públicos da sociedade menos representados, mas também que valorize a qualidade das relações com funcionários e todos os públicos com os quais interagimos: nossos clientes, fornecedores, comunidade, entre outros", diz Mauro Raphael, gerente de diversidade da instituição.

Empresas de origem nacional também têm se posicionado sobre o assunto. Desde 2007, a companhia de exploração de Mangili, da Zanzini Móveis: filosofia da empresa parte do respeito a todos petróleo Petrobras reconhece a união de parceiros do mesmo sexo no plano de saúde de seus empregados. O plano, conhecido como AMS (Assistência Multidisciplinar de Saúde), é considerado um dos maiores de autogestão de assistência à saúde do país e foi criado pelas áreas de Recursos Humanos, Comunicação Institucional e Ouvidoria Geral. Atualmente, ele conta com a adesão de 50 funcionários.

A companhia leva tão a sério a diversidade que também organizou uma comissão específica sobre o assunto. Criada em 2005 para cuidar da questão da mulher, a Comissão de Gênero passou a abranger em 2007 o tema diversidade, mudando seu nome para Comissão de Diversidade. De acordo com a assessoria de imprensa da Petrobras, essa ampliação reflete os compromissos da companhia, previstos também no Pacto Global, com a proteção dos direitos individuais e coletivos e com a eliminação da discriminação no ambiente de trabalho.

Além disso, desde setembro do ano passado, a Petros, fundo de pensão dos empregados da Petrobras, permite que funcionários incluam companheiros do mesmo sexo para a concessão de benefícios previdenciários. Se o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) conceder pensão por morte ao companheiro do empregado, a Petros paga o benefício de suplementação correspondente a esse parceiro. Segundo a gerência de operações da diretoria de seguridade da Petros, no passado era raro um empregado ou aposentado apresentar o pedido de inclusão de dependente de companheiro do mesmo sexo. Normalmente, os pedidos de pensão e pecúlio eram feitos pelo companheiro após o óbito do participante. Mas até fevereiro de 2008, já foram registrados 11 casos, sendo quatro de aposentados e sete de empregados, o que mostra que as pessoas não têm mais inibições em exigir os seus direitos.

Panorama brasileiro

A Rede Globo de Televisão é outra empresa que investe na questão. Desde 2007, a política de benefícios foi ampliada aos companheiros de mesmo sexo dos funcionários. "Eles são cadastrados como dependentes, da mesma forma que a esposa, o marido e os filhos, sem custo para o funcionário", explica a diretora de desenvolvimento e benefícios da companhia, Heloísa Machado.

Dessa forma, os funcionários têm acesso não só ao plano de saúde, mas a todos os outros benefícios: auxílio farmácia, auxílio óptico, auxílio órtese e prótese e apoio para medicamentos em tratamentos especiais. Para ter direito a esses planos, o colaborador só precisa apresentar documentação comprovando a estabilidade do relacionamento, igual à que é solicitada a casais heterossexuais.

De acordo com a diretora, o respeito à diversidade está previsto no Programa de Gestão Participativa, que apresenta os valores da companhia. "A primeira premissa é justamente o respeito à pessoa. O respeito à diversidade - sexual, racial e cultural, incluindo pessoas portadoras de deficiência - está inserido nessa premissa e, portanto, é valor inegociável da TV Globo", enfatiza.

Na opinião de Heloísa, houve uma diminuição do preconceito nas organizações em relação à orientação sexual do funcionário. "A situação está mudando. Mais e mais empresas percebem, hoje, que a diversidade é um valor: ela oxigena o ambiente de trabalho, trazendo novas idéias, visões diferenciadas, criatividade. Assim, saber atrair talentos muito diferentes entre si e, ao mesmo tempo, oferecer igualdade de direitos é uma competência que gera vantagem competitiva. E as companhias estão começando a compreender isso", completa.

Mas não só grandes corporações se preocupam com o bem-estar de seus funcionários homossexuais. A Zanzini Móveis, localizada em Dois Córregos (SP), e eleita pelo Great Place to Work Institute como uma das 100 melhores empresas para trabalhar em 2007, oferece aos seus 270 empregados a possibilidade de inclusão do parceiro do mesmo sexo no plano de benefícios. Segundo Denise Zanzini Torrano, diretora da área de qualidade e gestão de pessoas, e Leandro Mangili, gerente da área de gestão de pessoas da empresa, entre esses benefícios estão: plano médico, convênio odontológico, seguro de vida, cesta básica, atendimento psicológico e uso do Clube dos Colaboradores. "Acreditamos no respeito a todos. Se os profissionais forem competentes e demonstrarem isso no dia-a-dia, serão excelentes colaboradores", enfatiza Mangili.

Exemplo de um funcionário beneficiado e que só tem motivos para comemorar é o gerente de equipe da ouvidoria interna do Banco do Brasil, Augusto Andrade, que trabalha há 33 anos na instituição. Ele relata que o processo de inclusão de seu companheiro no plano de saúde começou em 2003 quando houve uma mudança na presidência da empresa. "A diretoria passou a se preocupar mais com a questão da diversidade e fez um treinamento interno sobre o assunto. Como já existia o benefício para incluir o parceiro heterossexual no plano de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi), aproveitei a oportunidade para requisitar a inclusão do meu companheiro nesse plano", explica. Dois anos depois, seu pedido foi aprovado.

"Senti um alívio. A vida toda batalhei para que as pessoas considerassem normais as relações entre pessoas do mesmo sexo. Mas nunca pensei em conseguir algo mais concreto", diz.

Além disso, ele incluiu seu companheiro no Programa de Assistência Social, para ter acesso aos planos odontológico e oftalmológico, e na Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), que é o maior fundo de previdência privada da América Latina. Segundo o último levantamento, feito em 2008 pelo Banco do Brasil, estavam incluídos 175 casais homossexuais na Cassi, e 120 na Previ.

Ativista gay desde 1985, hoje ele atua no grupo Estruturação, que reúne homossexuais em Brasília. "O que espero agora é um olhar menos excludente. Que ninguém se sinta fragilizado por ser mulher, negro, deficiente, gay, gordo ou idoso. É necessário um avanço na sociedade para que o outro possa ser diferente e mesmo assim ser considerado um ser humano digno", conclui.


Disponível em http://www.revistamelhor.com.br/textos/247/artigo223304-1.asp. Acesso em 08 set 2013.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Oito razões para valorizar o mercado LGBT

Jussara Coutinho
Nov 7, 2012 

Não é só o preconceito e a homofobia que merecem atenção no universo gay. O mercado LGBT é muito promissor e aqui enumero 8 razões para dar valor a este público e constituir motivos para trabalhar com esse nicho.

1. A população gay no Brasil ultrapassa 18 milhões
Não há como negar o potencial de um nicho que possui tantos adeptos. São 18 milhões de pessoas que usufrui de serviços, consomem e viajam diariamente. Só em nosso país.

2. A renda média dos homossexuais está acima de R$3.000,00 e 47% está na classe AB
Os homossexuais configuram um cenário onde há melhor escolaridade, maior interesse à cultura como livros, museus e cinemas e também grande parte ocupa boas posições no mercado. Desta forma, o grupo ocupa um espaço de pessoas críticas, exigentes e que possuem dinheiro para investir e consumir.

3. Casais gays jantam fora dez vezes mais que os héteros
O ramo alimentício é um dos mais atraentes para homossexuais. Por ser um grupo mais animado e curioso, grupos de amigos e casais adoram marcar encontros em restaurantes e provar diferentes tipos de comida enquanto conversam.

4. Como menos de um quarto deste público não tem filhos, há mais dinheiro disponível para gastar consigo
Muitos casais homossexuais adotam filhos ou, no caso de lésbicas, realizam a inseminação artificial. No entanto, a maioria dos casais opta por não terem filhos ou simplesmente demoram mais para tê-los. Assim, os gastos são diminutos e há um maior investimento em imóveis, carros e viagens. De acordo com a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS), o perfil movimenta R$ 150 bilhões por ano no Brasil. Além disso, 78% dos gays têm cartão de crédito e gastam 30% mais que os héteros em bens de consumo.

5. 48% dos gays são mais ligados a novas tecnologias do que os héteros (38%)
Homossexuais são mais adeptos a tecnologias, assim como demonstram uma maior necessidade de estar atualizado em relação aos lançamentos.

6. Homossexuais passam mais tempo na internet do que héteros
Alguns sites como o Disponível.com, já apostou no potencial online deste grupo. Como passam muito tempo navegando, um portal de notícias com que se identifiquem e não são atacados, ou mesmo uma loja virtual que condiz com seu estilo e fale sua linguagem tem grandes chances de dar certo.

7. Grandes marcas como Itaú e Tecnisa já se colocaram como friendly
Marcas como o Itaú e a Tecnisa, já entenderam e se adaptaram à nova realidade. O público gay existe, é grande e quer atenção. Estas marcas tem dialogado com os homossexuais em propagandas e redes sociais, principalmente, e já geraram respostas positivas.

No Dia dos Namorados, o Itaú publicou um desenho composto por um casal heterossexual, um casal de gays e um de lésbicas com a frase: “Feliz Dia dos Namorados Do Seu Jeito”. Para a Parada Gay de São Paulo, a instituição também se manifestou:

O banco ainda permite o financiamento imobiliário com duas pessoas solteiras do mesmo sexo, mesmo que não haja parentesco ente si. Pesquisas da inSearch mostram que 58% do grupo possuem parceiro fixo, e a Tecnisa também estava atenta e faz ações do tipo:

8. A Parada do Orgulho Gay LGBT em São Paulo une mais de 3 milhões de pessoas
A Parada Gay de São Paulo é um dos eventos que mais movimento a economia do país. São milhões de pessoas vindas de diversos lugares do Brasil e do mundo. Aqui, elas se hospedam, comem, fazem compras e conhecem as principais atrações da cidade. Ponto positivo para o lucro e para a internacionalização da cidade.

Está mais do que claro como é expressiva a necessidade de atenção a este nicho. É preciso se comunicar com este grupo, conversar bem. Eles não procuram produtos ou empresas específicas e, muito pelo contrario, isto não precisa ocorrer. O que deve ser feito é ver com outros olhos e enxergar o potencial deste grupo. Um negócio adaptado pode tomar outras proporções de desenvolvimento e faturamento. Porém, é necessário mais do que apenas levantar a bandeira gay. É necessário o respeito, o tratamento igualitário e a valorização. É necessário agir de acordo com o que se propõe fazer.

Disponível em http://www.ideiademarketing.com.br/2012/11/07/oito-razoes-para-valorizar-o-mercado-lgbt-lesbicas-gays-bissexuais-e-transgeneros/. Acesso em 05 set 2013.

sábado, 17 de agosto de 2013

Sul e Sudeste lideram ranking de homofobia no Brasil, aponta relatório

Terra Magazine
14.Fev.12 

O Grupo Gay da Bahia (GGB), que anualmente divulga relatório sobre o número de assassinatos de homossexuais no Brasil, acaba de finalizar o primeiro levantamento sobre homofobia não letal em todo o País. Conforme o banco de dados coordenado pela entidade, divulgados pelo Portal Terra, em 2011, foram contabilizadas 282 ocorrências de discriminação com base na orientação sexual.

Os casos vão de insultos e ameaças até agressões físicas, semelhantes à que aconteceu na segunda-feira (13), com um casal de gays, espancado por taxistas em um aeroporto do Rio de Janeiro.

Os registros foram compilados a partir de informações coletadas na imprensa, segundo o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB, que critica a falta de estatísticas, produzidas pelo poder público, sobre violência contra os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). “Considero que o governo comete o crime de prevaricação na medida em que o Plano Nacional de Direitos Humanos, aprovado em 2002, previa a criação de um banco de dados em nível federal, assim como políticas públicas para erradicar a homofobia, e nada foi feito”, opina.

De acordo com o levantamento do GGB, gays foram os mais vitimizados pela homofobia, com 219 casos, o que corresponde a 77,6%. Na sequência, estão as travestis, com 12,7%, e as lésbicas, com 9,5%.  As regiões com mais registros de homofobia não letal são Sudeste e Sul (67%), seguidas do Nordeste (18%) e Centro-Norte (14%). O relatório ressalta, entretanto, que o maior número de meios de comunicação no Sudeste e no Sul faz com que os casos tenham mais visibilidade.

Considerando os números absolutos, São Paulo figura no primeiro lugar em denúncias de violação dos direitos humanos dos homossexuais, com 72 registros, seguido do Rio de Janeiro (35), Minas Gerais (22), Bahia (18) - que há seis anos é o Estado onde mais se mata LGBTs -, Paraná (11) e Goiás (10).  Já em termos relativos, levando em conta o total de habitantes, o Rio de Janeiro assume a ponta, liderando o ranking de casos de homofobia não letal. Distrito Federal, São Paulo, Paraíba e Goiás aparecem na sequência.

“Coincidentemente, a imprensa está noticiando a agressão violenta sofrida por um casal gay em um aeroporto do Rio, o que confirma a gravidade da homofobia em nosso País e a urgência para que o governo proponha uma campanha, cientificamente elaborada por uma equipe multidisciplinar, garantindo a sobrevivência da comunidade LGBT”, destaca Mott.

Casos subnotificados

Das 282 ocorrências compiladas, 87 foram referentes à violência física. Mais uma vez, os gays foram o grupo mais vitimado, abarcando 65% dos registros. “A maioria do segmento LGBT vítima de violência homofóbica não registra Boletim de Ocorrência nem realiza exame de corpo de delito nos IML de suas cidades, temerosos, com razão, de serem vítima da homofobia policial ou de ter revelada por jornalistas policiais sua orientação sexual muitas vezes secreta. Tal omissão, além de subnotificar as estatísticas de crimes de ódio, indiretamente, estimula a repetição das mesmas agressões “, afirma no relatório, o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira.

Entre as formas de discriminação mais recorrentes, destacaram-se, em 2011, conforme o levantamento, a praticada por órgãos e autoridades governamentais (19,5%); seguido da discriminação religiosa, familiar e escolar (10%).

"Agressivas sessões de exorcismo e 'cura' de homossexuais praticados por igrejas evangélicas fundamentalistas constituem grave violência contra a livre orientação sexual dos indivíduos LGBT, sem falar na divulgação na TV e na internet de discursos que demonizam a homoafetividade, tendo sobretudo parlamentares e pastores evangélicos seus principais opositores", frisou o relatório.

Assassinatos

Em janeiro, o Grupo Gay da Bahia informou o número de assassinatos de LGBTs registrados em 2011, dado que será apresentado no relatório anual de assassinatos de homossexuais no Brasil, cuja divulgação está prevista para depois do Carnaval. Foram 251 homicídios, nove a menos do quem em 2010, quando houve recorde histórico com 260 mortes.

O País, de acordo com a entidade, é o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, uma média de um homicídio de LGBT a cada um dia e meio.


Disponível em http://www.istoe.com.br/reportagens/190781_SUL+E+SUDESTE+LIDERAM+RANKING+DE+HOMOFOBIA+NO+BRASIL+APONTA+RELATORIO. Acesso em 15 ago 2013.

domingo, 23 de junho de 2013

Jerusalém: o desafio de ser LGBT na cidade 'sagrada'

Susana Mendoza
1 de maio de 2012

Uma terra de contrastes. Ao mesmo tempo em que Jerusalém é considerada sagrada por três religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo – e reúne símbolos e pessoas tão diferentes entre si, é também terreno sinuoso para a manifestação de direitos civis. A cidade abriga uma comunidade LGBT vibrante, mas que frequentemente é alvo das camadas mais conservadoras.

Em Jerusalém, há apenas um bar para o público LGBT e a realização da Parada do Orgulho foi um direito conquistado após muito esforço. Ela reuniu quatro mil pessoas em 2011, que exigiram a aprovação de uma legislação que proteja LGBTs em Israel. Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém -- alguns chegaram a agredir os participantes do evento. Em junho daquele ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.

“Embora não existam tantos homossexuais quanto em Tel Aviv, todos os anos Jerusalém atrai milhares de ativistas gays para participar da marcha, para mostrar que, mesmo que os religiosos nos considerem ‘sujos’, esta é nossa cidade também”, comenta A.S. um membro da comunidade LGBT da cidade.

Apesar das diversas ameaças de morte que recebem ano após ano durante a parada, a manifestação anual se supera cada vez mais em termos de assistência e organização. “A diferença entre a nossa marcha anual e a de Tel Aviv e outras partes do mundo é que, em Jerusalém, adquire também um significado de luta pelos nossos direitos e contra o ódio que uma ampla maioria da população de Jerusalém sente por nós”, acrescenta Natalie V., uma belga que desembarcou em Jerusalém há cinco anos.

Natalie, que há cinco anos namora uma mulher israelense, é prova da dualidade do estado de Israel em relação à lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Embora Israel seja um país democrático, o judaísmo ortodoxo interfere em muitos assuntos civis, incluindo os casamentos. Em Israel, é impossível realizar um casamento civil, mesmo entre heterossexuais. No entanto, em uma distorção, estão permitidas as uniões homoafetivas, inclusive se uma delas for estrangeira, como é o caso de Natalie.

“É curioso que isto seja possível em um país onde predomina tanto a religião. Eu quero deixar claro que em Jerusalém e Israel, até o momento, não tive nenhum problema por andar de mãos dadas com a minha namorada, nem por darmos um beijo”, diz. “No entanto, trabalho com uma família ortodoxa judia e não comentei nada sobre a minha orientação sexual em quase quatro anos", conta Natalie.

Ultraortodoxos caminhando ao lado de uma mulher muçulmana usando o véu e uma menina de minissaia logo atrás são cenas comuns nas ruas de Jerusalém. E é nessa heterogeneidade que, no final, reside uma espécie de acordo tácito de não agressão. Embora, às vezes, essa bolha possa estourar, como aconteceu durante a Parada do Orgulho LGBT de 2005, quando um judeu ultraortodoxo esfaqueou vários participantes. Atentado pior aconteceu à comunidade LGBT de Tel Aviv, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu uma. O culpado, um colono da Cisjordânia, afirmou que LGBTs são “animais”.

Portanto, apesar da mescla aparentemente suave entre religiosos e seculares em Jerusalém, assim como no resto do país, uma tensão soterrada pulsa abaixo da superfície. “Aqui, em geral, como os gays não carregam um cartaz dizendo ‘sou gay’, não há tantos problemas, mas também você não vai dar um beijo em outro homem em Mea Shearim (o bairro ultraortodoxo), não queremos provocá-los em seu bairro”, diz Adam.

Segundo ele, porém, o resto da cidade é de todos. O bar Mikve, antes conhecido como Shushan, na rua Shushan, foi o primeiro voltado para o público LGBT a ser aberto na cidade. O lugar está vivendo uma nova era dourada depois de permanecer fechado durante muitos anos devido às pressões dos ortodoxos. Durante toda a semana há festas para clientes e as segundas-feiras são exclusivas das drag queens.

“Em Jerusalém, não há muitas festas nem lugares para dançar, por isso sempre aparecem heterossexuais. Na cidade, todos nos conhecemos e amigos de todas as orientações sexuais se juntam a nós. Estamos misturados”, conta com um sorriso Daniel R., empresário.

A empresa encarregada de organizar as festas, Unibra, garante que é um sucesso, que atrai dezenas de pessoas a semana toda, embora as festas drag sejam as preferidas. “As pessoas querem se divertir, já estão cansadas de se esconder, mas infelizmente nesta cidade não há lugares para onde sair à noite”, lamenta a Unibra.

Palestinos

Para os membros da comunidade LGBT palestina os desafios são ainda maiores. “Para eles é mais difícil, pois vem de uma sociedade mais conservadora, em que a homossexualidade é punida ou humilhada em público. Por isso, a última coisa que querem é fazer uma declaração pública de que são gays, sejam homens ou mulheres”, explica Adam.

A organização para palestinos LGBTs em Israel Al Qaws organiza eventos para os palestinos e ajuda a criar uma rede de apoio e conscientização entre a comunidade árabe. Uma vez por mês organiza uma festa para que LGBTs palestinos que vivem em Israel possam se conhecer.

“Mesmo que os palestinos que vivem em Israel contem com os mesmos direitos que os cidadãos judeus, muitas vezes há racismo e incompreensão em relação aos gays palestinos”, comenta um porta-voz da Al Qaws. “Há também muita incompreensão por parte da comunidade internacional, que se foca na ocupação israelense. Além disso, a opinião da comunidade palestina pesa demais. Dessa forma, não podemos esperar que eles saiam do armário como no Ocidente.”

Às vezes, Israel chega a acolher como refugiados palestinos LGBTs que correm risco de morte ou que tenham recebido ameaças, embora não seja algo tão frequente. Enquanto isso, em Jerusalém, continua a luta para que a comunidade religiosa aceite lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, se não como iguais, como cidadãos com os mesmos direitos de todos.

“Este é o nosso objetivo. Não queremos nem mais nem menos do que têm os demais e poder passear tranquilamente de mãos dadas, sem ter medo que nos façam sentir inferiores, nem ter a nossa Parada do Orgulho Gay cercada por centenas de policiais”, diz Adam.

Para mostrar que, embora nem sempre venha à tona, o ódio contra LGBTs corre solto em Jerusalém, em 2006 foi a homofobia que uniu representantes das três religiões monoteístas para protestar contra a Parada do Orgulho LGBT daquele ano. “É uma pena. Poderiam ter se unido para protestar contra outras coisas mais importantes”, lamenta Adam.


Disponível em http://mundo.gay1.com.br/2012/05/jerusalem-o-desafio-de-ser-lgbt-na.html#. Acesso em 22 jun 2013.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Avon, Silas Malafaia e a propagação da homofobia

Beatriz Mendes
07/05/2012

Silas Malafaia é um velho conhecido da comunidade gay no Brasil. O pastor, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, costuma protagonizar polêmicas a envolver intolerância e preconceito. Em 2006, foi ele o responsável por uma manifestação diante do Congresso Nacional contra a lei criminalizadora da homofobia. Na ocasião o pastor afirmou que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são a porta de entrada para a pedofilia. “Deveriam descer o porrete nesses homossexuais”, decretou, certa vez, em seu programa de tevê - em rede nacional, diga-se, valendo-se de seu direito de liberdade de expressão.

Por estes e outros motivos, foi uma surpresa para o professor de inglês Sérgio Viula, de 42 anos, e seu namorado, Emanuel Façanha da Silva, quando em meio a promoções de maquiagens, perfumes e bijuterias, depararam-se com livros de Malafaia no catálogo da Avon. “Não são somente obras devocionais ou de leitura budista, católica ou uma novena. Os livros dele são de militância fundamentalista aberta, assim como seus programas de televisão”, diz Viúla a CartaCapital.

O professor conta que a gota d’água foi a inclusão do livro A Estratégia entre os títulos comercializados pela Editora Central Gospel - cujo dono é Silas Malafaia. A obra, escrita pelo pastor americano Louis Sheldon, levanta a teoria de que os homossexuais estão fazendo um complô contra a humanidade.

Diante da situação, Viula – que não faz parte de nenhuma organização LGBT - resolveu se manifestar. Seu argumento se baseou em um tratado de direitos humanos emitido no ano passado pela Avon, comprometendo-se a não contribuir com qualquer tipo de prática discriminatória. “Escrevi uma carta para a empresa brasileira, falando sobre a minha indignação. Como eles não se manifestaram de imediato, resolvi traduzir a mensagem e encaminhá-la para a Avon dos Estados Unidos”, conta.

Pouco tempo depois, a empresa brasileira escreveu um comunicado em sua página do Facebook, alegando que a “variedade de títulos comercializados contempla a diversidade de estilos de vida, religião e filosofia presentes em nosso País”. Complementou falando não ter a intenção de promover conteúdo desrespeitoso aos direitos humanos.

“A carta contribuiu para eles entrarem em contato comigo, mas o fator determinante foi o fato de o Emanuel ter resolvido parar de trabalhar com a Avon”, acredita o professor. Segundo ele, o parceiro era o que a empresa chama de “Consultor Estrela”, pois vendia produtos em grande quantidade. Quando se deu conta de que os livros de Malafaia estavam no catálogo, abriu mão do cargo. “A gente nunca tinha reparado nos títulos porque ele trabalhava mais com o setor de cosméticos. Mas quando saiu da Avon, representantes da marca o procuraram no escritório, pedindo para ele voltar”.

Nesse meio tempo, as pessoas começaram a se solidarizar com a causa. Representantes de grupos LGBT também entraram em contato com a Avon. Duas mulheres redigiram uma petição em inglês, divulgada no All Out, site que publica abaixo-assinados do mundo todo. “No texto, eles explicaram quem é Silas Malafaia e quais são as ideias propagadas por ele. O negócio está bombando, a Avon vai ter que tomar uma atitude”, enfatiza o militante.

“Muitas pessoas também me perguntaram se valia a pena lutar por essa questão. Eu acho que sim porque se fosse o livro do Hitler, os judeus protestariam, se fosse um livro que negasse a existência da escravidão, os negros ficariam indignados. Por que os gays não podem se manifestar também?”, questiona.

Outro lado

CartaCapital pediu entrevistas à direção da Avon, mas a empresa informou que seu posicionamento oficial é aquele já divulgado por meio do comunicado. “Estamos avaliando as ponderações recebidas e buscando a melhor solução para seguir atendendo nossos consumidores com base em nossos valores”.

Silas Malafaia, por sua vez, tratou a questão com desdém. Em nota divulgada em sua página, o pastor ironizou a movimentação dos ativistas. “Esses gays estão dando um ‘tiro no pé’, estão me promovendo com uma tamanha grandeza que nunca pensei de ser tão citado e até defendido por jornalistas como, por exemplo, Reinaldo Azevedo’, escreveu.

Ele afirmou ainda que essas ações dão a ele elementos para lutar contra o Projeto de Lei 122 – aquele que criminaliza a homofobia. “Se antes de ter leis que dão a eles privilégios, já se acham no direito de perseguir e intimidar os que são contra seus ideais, imaginem se a lei for aprovada”, disse.

Também incentivou os fiéis a mandarem emails para a empresa, pedindo para os livros continuarem no catálogo. “Nós, evangélicos, representamos pelo menos 30% das vendas de produtos Avon. Os gays talvez 2%. Eles são tão abusados que pensam que com ameaças vão nos calar”, concluiu.

Diante do comunicado, Viula afirmou: “Malafaia é um extremista. Inclusive, outros pastores não concordam com as atitudes dele. Dá para ser cristão sem ser homofóbico, agora eu não sei como é possível ser homofóbico e cristão. Essas são contradições que podem matar pessoas”.

O professor fala com autoridade: ele já trabalhou como pastor da Igreja Batista e ajudou, na época, a fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), ONG prestadora de serviços de "assistência" a homossexuais que gostariam de mudar sua orientação sexual. “Depois de um tempo no Moses eu percebi que aquilo era uma falácia, uma hipocrisia. As pessoas sofriam e viviam uma vida dupla, é impossível deixar de ser gay”, contou.


Disponível em http://www.cartacapital.com.br/sociedade/avon-silas-malafaia-e-a-propagacao-da-homofobia/. Acesso em 04 jun 2013.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pai narra luta para fazer o filho aceitar a própria homossexualidade

David Sheff
15 de Novembro de 2012
 
John Schwartz enxerga o sofrimento do filho depois de uma tentativa de suicídio e lança livro sobre o difícil caminho que o garoto percorreu para se aceitar 

Jeanne Mixon, esposa do jornalista do New York Times John Schwartz, entrou em casa uma tarde para encontrar o filho de 13 anos, Joe, incoerente, de “olhos esbugalhados” e nu no banheiro. Frascos de comprimidos estavam espalhados pelo chão e havia uma faca dentro da banheira. Joe tentou se matar.

A cena – um pesadelo para todos os pais - abre o livro de memórias de John Schwartz, “Oddly Normal: One Family’s Struggle to Help Their Teenage Son Come to Terms With His Sexuality”(ainda sem título em português, mas que pode ser traduzido como ‘Estranhamente normal: a luta de uma família para ajudar seu filho adolescente a aceitar sua sexualidade’).

A publicação é um relato emocionante do aprendizado de Joe para conseguir aceitar sua sexualidade, assim como o esforço de seus pais para protegê-lo da homofobia e ajudá-lo a suportar um sistema escolar que continua a marginalizar crianças que precisam de compreensão.

Schwartz está no trabalho quando Jeanne liga para lhe dizer que o filho tentou se matar. Ele corre para o hospital, onde se senta ao lado da cama de Joe, implorando ao filho que beba uma solução que neutralizará o efeito das drogas ingeridas. É possível sentir sua angústia quando ele tenta persuadir o filho: “vamos, Joseph. Mais um gole. Vamos. Um golinho mais apenas."

Anos antes, o casal já tinha reparado na paixão de Joe por seus “lindos” brinquedos, como ele mesmo definia, e suas bonecas. John e Jeanne sabiam que seu filho era gay. Ao contrário de muitos pais, eles estavam ansiosos para ver o menino sair do armário e se assumir. 

Drogas poderosas 

Mas mesmo pais compreensivos como os da família Schwartz não poderiam proteger seu filho da implacável experiência escolar, nem de si mesmo. O livro conta um episódio quando Joe, sentindo-se mais corajoso depois de assumir sua homossexualidade, repreendeu um grupo de meninos sobre a forma que eles classificavam as meninas. Ele passou a classificar os meninos também: "você é nota sete. Você é nota cinco.” À medida que os meninos iam ficando desconfortáveis, Joe zombava de todos e os desafiava: “os garotos estão com medinho do menino gay?", perguntava.

As crianças contaram o que aconteceu para um conselheiro da escola e a história se espalhou deixando Joe deprimido. Horas mais tarde, ele engoliu mais de duas dezenas de cápsulas de Benadryl (anti-histamínico vendido em farmácia). “Se tivéssemos mantido drogas mais poderosas em casa, poderíamos ter perdido nosso filho”, escreve Schwartz.

Adolescentes LGBT

Schwartz relata que as estatísticas sobre adolescentes gays que cometem suicídio, ou pelo menos tentaram, “são obscuras”, mas sua análise o leva a concluir que uma investigação melhor sobre o assunto acabará mostrando uma taxa substancialmente mais elevada de suicídio e uma maior incidência de pensamentos suicidas entre os adolescentes LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) do que na população em geral.

Muitos adolescentes gays tiraram as próprias vidas, incluindo Tyler Clementi, o estudante americano que pulou da ponte George Washington depois de saber que um colega de quarto colocou na internet imagens dele beijando outro homem e enviou mensagens no Twitter incentivando outros estudantes a assistirem a cena.

Schwartz ainda ressalta que a intimidação ostensiva não é o único tipo de bullying que afeta crianças gays. De acordo com uma pesquisa, cerca de 90% dos estudantes gays disseram ter ouvido a palavra “gay” sendo usada de forma pejorativa e 72% relataram ter ouvido palavras homofóbicas como “bicha”. O resultado, Schwartz escreve, “são filhos gays que podem carregar um valentão internamente que os faz se sentir miserável, não importando se tem ou não alguém mexendo com eles pessoalmente.”

Transtornos psiquiátricos

A tentativa de suicídio de Joe parecia uma reação ao ostracismo na escola, mas Schwartz tem o cuidado de não aceitar explicações muito simples diante da profundidade do desespero de seu filho. Joe foi ridicularizado durante boa parte de sua infância porque ele era diferente, e não só por ser desajeitado em esportes e efeminado. Ele também era dado a explosões de raiva dirigidas a outras crianças e professores. Além disso, há indícios de que ele poderia ter tido um ou mais transtornos psiquiátricos.

Schwartz também olha para si mesmo e descreve suas próprias falhas como pai. Ele narra dolorosamente os erros que ele e a mulher cometeram, incluindo as tentativas anteriores de suicídio de Joe que nunca foram percebidas pelos pais. Scwartz conta que uma vez chegou a aceitar as desculpas do filho quando encontrou sinais de que Joe poderia ter tentado estrangular a si mesmo. Schwartz escreve: “a esta altura você pode estar pensando que éramos cegos. Em retrospecto, a única resposta que eu posso dar é ‘sim, é basicamente isso’”.

É claro que a leveza que permeia a história deste pai, que tentou desesperadamente ajudar o filho homossexual, só é possível porque a tentativa de suicídio de Joe não se concretizou - ao contrário de muitos outros, incluindo o caso de Tyler Clementi.

Disponível em http://www.cenariomt.com.br/noticia.asp?cod=249126&codDep=8. Acesso em 27 nov 2012.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Por que a heterossexualidade não é natural?

Leandro Colling
18 de julho, 2012

Conforme prometi no meu texto da semana passada, vou tratar hoje sobre a desnaturalização da heterossexualidade. No dia 17 de maio de 2011, Dia Mundial de Combate à Homofobia, a Folha de S. Paulo publicou um pequeno artigo meu sobre o tema. Até hoje aquele texto gera polêmica (leia o original e algumas das repercussões através do http://www.culturaesociedade.com/cus/index.php?limitstart=20)

Naquele pequeno texto, dentro dos limites estipulados pelo jornal para a publicação na versão impressa, eu apenas defendo que o combate à homofobia deve incluir também a problematização da heterossexualidade. Que, além de afirmar as identidades de LGBTs, devemos também evidenciar o quanto a heterossexualidade é imposta sobre todas as pessoas. Eu apenas tratava de temas recorrentes em dezenas de estudos mais recentes sobre sexualidades existentes no mundo, mas o texto recebeu críticas tanto de setores conservadores quanto de várias pessoas LGBTs.

Lendo algumas dessas críticas, percebo que muitas pessoas não compreenderam o argumento central porque ainda possuem uma forte convicção de que a nossa sexualidade, seja ela qual for, é um dado da natureza, da biologia ou até um designo de Deus ou qualquer outro ser sobrenatural. Vou aproveitar agora para apresentar mais argumentos e evidências concretas que demonstram o quanto a heterossexualidade não pode ser explicada apenas como um fenômeno biológico (no quesito religião não vou entrar).

Ou seja, por que a heterossexualidade não é natural?

Primeira observação: quando dizemos que a sexualidade de alguém não é natural ou normal não queremos dizer, com isso, que as pessoas são doentes. Apenas queremos dizer que a sexualidade de cada pessoa não é o resultado de ações exclusivas de cada um de nós. Ou melhor, que as nossas sexualidades sofrem fortes influências do meio onde vivemos. Por isso, provocamos ao dizer que, na verdade, todas as sexualidades são “anormais”. O objetivo da provocação é o de retirar o carimbo de “anormalidade” apenas de determinadas expressões da sexualidade. Certamente muitos heterossexuais ficam chocados quando digo que ser heterossexual é ser “anormal”. Eles sempre pensam que os “diferentes”, LGBTs, é que são anormais e de que eles, heterossexuais, são normais.

Mas por que, afinal, a heterossexualidade não é “normal”, nesses termos que esbocei acima. Não é “natural e normal” porque a sociedade obriga que todos sejamos heterossexuais e, para isso, desenvolve o que alguns pesquisadores/as, como Guacira Lopes Louro, chama de “pedagogia da sexualidade”. O que é isso? Mesmo antes de nascermos, a nossa heterossexualidade já é imposta sobre nós. Vários instrumentos são usados nesse processo, em especial as normas relativas aos gêneros (percebem que nas minhas reflexões eu nunca desvinculo as orientações sexuais das identidades de gênero). A escolha do nome e das roupas do bebê precisam atender aquilo que a sociedade determinou como nomes e coisas de menino ou de menina.

Assim, começamos a ser criados/educados e violentados para nos comportar ou como meninos ou como meninas. Caso não sigamos as normas, começamos a sofrer violências verbais e/ou físicas. Ou seja, a violência sofrida por aqueles que não seguem as normas comprova que a norma não é natural e normal. Se assim o fosse, a violência não seria necessária, pois todos e todas nasceriam heterossexuais! A violência é o modus operandi com o qual a heterossexualidade sobrevive inabalável. Temos esse modelo hegemônico de heterossexualidade a custa de muito sangue e dor.

Quando falo dessas questões em palestras, os heterossexuais ficam nervosos, às vezes levantam e vão embora. Alguns recorrerem à reprodução da espécie e aos hormônios para explicar a atração entre pessoas de sexos diferentes. Os mais afoitos dizem que se todos fossem homossexuais a vida humana na terra estaria ameaçada. Tudo isso revela o poder do discurso naturalizante sobre as nossas sexualidades. Primeiro: faz muito tempo que os homens perderam a capacidade de identificar quando uma mulher está no cio. Ao ingressar em uma nova etapa do processo histórico da humanidade, que Freud, por exemplo, chama de “civilização” ou de “cultura”, os homens e mulheres domaram os seus instintos e, no mínimo, os transformaram em “pulsões”.

O conceito de pulsão é complexo, é “aquilo que está entre o mental e o somático” e aqui pode ser traduzido entre aquilo que diz o corpo (biologia/instinto “natural”) e a mente. Ou seja, a nossa sexualidade não pode mais ser explicada como um dado exclusivo de nossos instintos, hormônios etc desde, pelo menos, Freud, lá pelos idos de 1900. É evidente que temos cargas hormonais diferentes entre homens e mulheres, mas não são elas que acionam o nosso gozo e não são elas que comandam o nosso processo de identificação em relação às orientações sexuais e identidades de gênero.

O nosso gozo e identificações são acionados por um sem número de outras coisas, a exemplo de imagens, experiências anteriores, associações que fazemos de forma consciente ou não. Isso não quer dizer que a ação de alguma pessoa seja determinante para a sexualidade de alguém. Os processos de identificação, todos eles, desde porque gostamos de determinada cor e não outra, sofrem milhares de influências externas que são decodificadas de formas igualmente diversas pelos sujeitos. Isso também explica porque, mesmo sendo educados para serem heterossexuais, muitas pessoas não decodificam a mensagem como deseja a maioria e orientam o seu desejo para outros “objetos”.

Estas explicações são as mais aceitas entre a comunidade científica do mundo, mas existem vários pesquisadores que já tentaram comprovar se existe algum gene ou causa biológica para a homossexualidade. Nenhuma dessas pesquisas é reconhecida como válida, até onde eu sei. Eu sempre pergunto por que os pesquisadores da área médica não fazem pesquisas para explicar porque as pessoas se tornam heterossexuais.

O que a norma heterossexual (que nós chamamos nos estudos de heteronormatividade) deseja é controlar e dar apenas uma resposta para isso. Para a lógica do pensamento heterossexual, todos devem ser héteros de uma forma só (sobre a diversidade da heterossexualidade tratei no texto anterior).

E sobre a perpetuação da espécie humana? Ora, eis mais um argumento que, no fundo, é homofóbico e profundamente vinculado a uma perspectiva naturalizante. Primeiro que, ao dizer que a heterossexualidade não é natural, não estamos dizendo que todos devam ser homossexuais (aliás, que pânico é esse, não é amigas?). Segundo: hoje existem tecnologias suficientes para a produção de gestações sem o famoso sexo papai-mamãe. Os primeiros a usar esses métodos, aliás, foram os heterossexuais, é bom lembrar.

Enfim, toda essa discussão não é feita, pelo menos no meu caso, para que todas as pessoas sejam LGBTs. Nada disso. O maravilhoso da humanidade é a sua diversidade. Problematizar a heterossexualidade tem a vantagem de: 1) denunciar a violência com a qual ela se mantém no centro; 2) revelar o seu caráter histórico e construído; 3) evidenciar que ela produz homofobia; 4) possibilitar que outras heterossexualidades sejam respeitadas e construídas.

Disponível em <http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/2012/07/18/por-que-a-heterossexualidade-nao-e-natural/>. Acesso em 20 out 2012.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Despesas do turismo homossexual crescerão 34% este ano

 EFE
10/08/2012

As despesas do turismo homossexual no Brasil crescerão este ano 34 %, quase quatro vezes a média mundial, informaram nesta sexta-feira em São Paulo fontes do setor durante a abertura da feira de negócios ''Expo Business LGBT Mercosul 2012''.

Ao informar as projeções, o presidente da Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat GLS), Oswaldo Valinote, indicou que o crescimento médio mundial será de 9% e gerará negócios de cerca de US$ 165 bilhões.

Valinote ressaltou que os operadores turísticos no Brasil e em alguns países do cone sul devem estar ''preparados'' para a demanda com um atendimento diferenciado.

Segundo o relatório da empresa de consultoria InSearch, o comércio de produtos e serviços para o público homossexual no Brasil movimenta anualmente R$ 150 bilhões.

Por sua vez, a Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, evento que a cada ano reúne mais de 2 milhões de pessoas, informou que o país tem 18 milhões de homossexuais em um universo de 192 milhões de habitantes.

No Brasil, durante o ano acontecem cerca de 150 paradas LGBT e existem 230 ONGs ligadas a esse público.

Na feira, o estado de Pernambuco apresentou o selo para identificar os serviços para o público homossexual oferecidos na ''Rota da Diversidade'', criada em 2009 pelo governo estadual e pelos operadores regionais de turismo.

Os programas e planos desenvolvidos com sucesso para os consumidores homossexuais pelos governos e operadores locais em Tel Aviv (Israel), Mendoza (Argentina) e Uruguai também estão expostos na feira que começou hoje e termina amanhã em São Paulo. 

Disponível em <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/despesas-do-turismo-homossexual-crescerao-34-este-ano>. Acesso em 07 set 2012.

sábado, 8 de setembro de 2012

Transexuais chegam à Convenção Democrata para apoiar Obama

AFP
05 setembro 2012  

Amy, Jamie, Janice, Meghan e Melissa atravessaram o país para declarar seu apoio ao presidente Barack Obama. Delegadas do Partido Democrata, elas são mulheres que nasceram homens.

Éramos "seis em 2004, oito em 2008 e hoje somos 13", explicou à AFP, com voz grave, Melissa Sklarz, ao destacar o aumento crescente no número de delegados transexuais nas últimas três convenções democratas.

Primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Obama é visto como um progressista nos direitos dos transexuais, fazendo de Amanda Simpson, em 2009, a primeira política transexual indicada para um cargo no governo.

Mara Keisling, de 52 anos, não é delegado mas como diretor-executivo do Centro Nacional de Igualdade Transexual, foi à convenção para divulgar as realizações de Obama para os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).

"Estou tão feliz por estar aqui", declarou à AFP, enquanto cerca de seis mil delegados se preparavam para confirmar Obama como candidato à reeleição, em novembro.

"O presidente fez tanto progresso para as pessoas LGBT. (Mas) O trabalho ainda não terminou", acrescentou.

Kylar Broadus, delegado transexual de Columbia, Missouri, nasceu mulher, mas agora se vê como homem. Ele explicou que os problemas econômicos com os quais se confrontam os americanos foram sentidos de forma mais intensa pela empobrecida minoria a que pertence.

"Emprego é a questão número um para a comunidade de transgêneros", disse à AFP Kylar, de 49 anos. "Há pobreza extrema na comunidade de transgêneros. A maioria de nós não é empregável, não tem emprego", acrescentou.

Disponível em http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hGBmJnsJZyuNSnVyMYTk1Jd-hRjQ?docId=CNG.8998afa0b89572e97a83dd6fb35295a5.a11. Acesso e 07 set 2012.

sábado, 14 de julho de 2012

Homoparentalidades e heteroparentalidades: desafios à igualdade

Ana Liési Thurler
Âmbito Jurídico

Resumo: No Brasil, as lutas anti-sexistas e anti-racistas que ocorrem em espaços governamentais e na sociedade civil têm contribuído para o fortalecimento das mobilizações por direitos civis e políticos LGBTTT, e das demandas por igualdade nas homos e nas heteroparentalidades. Esses investimentos não eliminam o delineamento de um quadro tensionado, em que coexistem resistências conservadoras e alguns progressos na área dos direitos parentais, especialmente no Judiciário, com algumas atuações inovadoras de segmentos de operadores do Direito.


sábado, 26 de maio de 2012

Maioria dos jovens brasileiros discrimina LGBTs, afirma pesquisadora

Agência Câmara 
15 de maio de 2012 

A pesquisadora Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), disse há pouco que a maioria dos jovens brasileiros ainda têm atitude bastante preconceituosa em relação à orientação e práticas não heterossexuais. Pesquisa coordenada por ela apontou que 45% dos alunos e 15% das alunas não queriam ter colega LGBT. 

Segundo ela, o jovem brasileiro tem menos vergonha de declarar abertamente esse preconceito contra LGBTs do que de declarar a discriminação contra negros. Ela participa do 9º Seminário Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT).

Conforme Miriam, esse preconceito se traduz em insultos, violências simbólicas e violência física contra jovens LGBTs. Ela destaca que se trata de violência homofóbica, por parte de toda a sociedade, inclusive de familiares, e não apenas bullying (que é a violência entre pares). De acordo com a pesquisadora, essa violência gera sentimentos de desvalorização e sentimentos de vulnerabilidade em jovens LGBTs. 

Há casos, inclusive, de jovens que abandonam a escola por conta dessa violência. “Os adultos da escola não se dão conta disso, porque na escola em geral reina a lei do silêncio”, aponta. Ela destacou ainda que não há pesquisas no Brasil sobre homofobia na infância, apenas na juventude.

Para a professora da Universidade de Brasília Maria Lucia Leal, as ações de enfrentamento da violência e preconceito contra LGBTs ainda são muito fracas, especialmente na escola. “A sexualidade ainda é tabu, seja para adultos, seja para crianças e adolescentes, e a hipocrisia ainda é uma realidade estruturante no debate sobre a sexualidade”, disse. Maria Lucia, que é coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Violência, Tráfico e Exploração Sexual de Crianças, Adolescentes e Mulheres, ressaltou que no século XIX e até meados do século XX, a homossexualidade foi considerado uma doença.

Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), é urgente que o governo retome o projeto "Escola sem Homofobia".

Disponível em <http://brasil.gay1.com.br/2012/05/maioria-dos-jovens-brasileiros.html#>. Acesso em 23 mai 2012.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Travesti é transferida para setor LGBT após denúncia de leilão humano e estupro em ala evangélica de unidade prisional no MT

Revista Lado A
04/04/2012

A Organização Não Governamental (ONG) LivreMente, de Cuiabá, Mato Grosso, encaminhou denúncia no final de fevereiro para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH), órgão vinculado à Presidência da República, de que na Penitenciária Central do Estado (PCE), maior presídio de Mato Grosso, travestis estavam sendo leiloadas por outros presos e eram obrigadas a fazer sexo. A denúncia apontou que elas eram exploradas em troca de bebidas, cigarros, comida ou favores e ainda que sofriam ameaças de morte ou agressões.

No Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), a situação era mais constrangedora. Segundo Clóvis Arantes, presidente da LivreMente, os incidentes ocorriam na ala evangélica da unidade, para onde as travestis eram enviadas supostamente para terem mais segurança. A ONG suspeita que esta seja uma realidade por todo o Brasil. Para Arantes, o Estado também violenta esses indivíduos, ao obrigá-los a assumir o papel de gênero masculino, a raspar a cabeça, abandonar o nome social e utilizar roupas masculinas. "É uma violência simbólica exigida pelos detentos que irão conviver com os travestis e ocorre principalmente onde existem as organizações evangélicas", contou ele na época para a rádio CBN de Cuiabá.

O militante reportou ainda que ao entrarem nas unidades prisionais, as travestis que não se adaptam ao universo masculino e deixam transparecer sua disforia de gênero ou travestismo, acabam sendo alvo de violência, intolerância, e se tornam “estupráveis” aos olhos dos outros presos que tratam de tirar vantagem sobre elas. Em um mundo dominado pela testosterona e pela lei do mais forte, as minorias não tem chance, principalmente em um local onde o Estado fecha os olhos.

Foram reportados casos que apontam para a escravidão de travestis que são vendidas e passam a cuidar da limpeza da cela de seus “donos”. “Eles falam que a gente só serve para isso mesmo. Lavar, passar e satisfazer quem gosta”, contou uma travesti que depôs para o relatório encaminhado pela entidade para a SDH .

Por conta da denúncia, após duas semanas, uma das detentas travesti já havia sido transferida para a ala do Centro de Ressocialização de Cuiabá para os LGBTs, chamada de Arco-íris. Artesanato, corte e costura e culinária são algumas das atividades realizadas pelos presos. De unhas pintadas, cabelos compridos, roupas femininas, as travestis podem ser elas mesmas e ainda viver sem medo. A triagem para o local que abriga 15 detentos é demorada, por isso muitas travestis acabam na alas masculinas, sofrem preconceito e são vítimas de violência. O Mato Grosso é o segundo estado a criar o atendimento à comunidade carcerária LGBT, desde o ano passado. Em 2009, um presídio de Belo Horizonte, Minas Gerais, aplicou a iniciativa.

Disponível em <http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp?cod=1592&idi=1&moe=84&id=19233>. Acesso em 09 abr 2012.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Hotel gay de Nova York mira o mercado turístico LGBT

Reuters
19/03/2012 - 07h30

O hotel OUT NYC aposta em duas banheiras aquecidas, um jardim privado, sua boate particular e o título de primeiro hotel-butique de Manhattan, construído especialmente para atrair os milhões de turistas homossexuais que visitam Nova York.

O hotel, que não fica longe de Times Square e dos teatros da Broadway, também quer atrair os amigos e familiares de seus clientes. Para usar um velho conceito, os donos do OUT NYC gostam de descrever o hotel como de "frequência mista".

"O projeto foi planejado por cinco anos e, depois de dezoito meses de obras, temos o orgulho de anunciar a abertura do primeiro resort da cidade, e talvez do mundo inteiro, focado no público gay e com frequência mista", disse Ian Reisner, co-proprietário do hotel.

Projetado pelo arquiteto Paul Dominguez, o OUT NYC começou a funcionar no início do mês com um centro de bem-estar, três pátios independentes, sendo que um ganhou o apelido de "o grande jardim", um espaço para banho de sol e um restaurante que deve abrir nos próximos meses.

O local também abriga uma boate chamada XL e espaços multiuso para conferências, eventos e casamentos.

A inspiração para erguer o hotel veio muito antes que a lei que permite casamentos entre pessoas no Estado de Nova York entrasse em vigor em julho de 2011, e o empreendimento foi construído com o turista gay em mente.

Segundo a organização de turismo de Nova York, a NYC & Company, a cidade é uma dos principais destinos mundiais para turistas gays, lésbicas, transexuais e bissexuais.

Bjorn Hanson, reitor do centro Preston Robert Tisch para gerenciamento de hospitalidade, turismo e esportes na Universidade de Nova York, diz que os donos de hotéis na cidade irão olhar a sorte do OUT NYC com interesse.

"Existem hotéis construídos para atrair o público LGBT, mas hotéis exclusivos e que colocam isso claramente como seu foco são muito raros. Muitos executivos, gerentes e donos de hotéis estão interessados em conhecer a resposta do consumidor a esse empreendimento", disse Hanson.

O que distingue o OUT NYC é a sua localização na 42nd Street, em Hell's Kitchen - uma área localizada a oeste de Times Square e que enriqueceu com a população gay de Nova York nos anos 80 e 90.

"Nós temos mais bares gays aqui do que em Chelsea, que era o epicentro da comunidade gay", disse Reisner, se referindo a outro bairro da cidade. "Dos 50 milhões de turistas que visitaram Nova York no ano passado, é estimado que 8 milhões eram homossexuais. Com 105 quartos, não esperamos hospedar muitas pessoas, mas sim que o OUT NYC seja o centro da vida gay nova-iorquina."

"Com as novas leis de Nova York, nós esperamos não só receber inúmeros casais gays, mas também casá-los", explicou Reisner.

O OUT NYC tem 97 quartos do tipo "standard" com diárias de 200 dólares, e também oferece quartos coletivos de luxo a 99 dólares por pessoa.

Tom Whalen e Russell Kemp, que venceram uma disputa sobre casamento gay na TV, se casaram na semana passada na boate XL, em uma cerimônia conduzida pela atriz Fran Drescher, de "Happily Divorced".

Ela é uma ativista pela igualdade matrimonial, ministra pela Igreja da Vida Universal e e oficiou uma cerimônia para os donos da casa noturna.


Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/turismo/1062878-hotel-gay-de-nova-york-mira-o-mercado-turistico-lgbt.shtml>. Acesso em 25 mar 2012