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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

União estável entre três pessoas é oficializada em cartório de Tupã, SP

G1
23/08/2012

Um homem e duas mulheres, que já viviam juntos na mesma casa há três anos, oficializaram a união em um cartório de notas de Tupã, SP.  A união dos três foi oficializada por meio de uma escritura pública de União Poliafetiva. A identidade do trio não foi divulgada pelo cartório.

De acordo com a tabelião que fez o registro, Cláudia do Nascimento Domingues, a escritura foi feita há 3 meses, mas, só se tornou pública nesta semana. “A declaração é uma forma de garantir os direitos de família entre eles. Como eles não são casados, mas, vivem juntos, portanto, existe uma união estável, onde são estabelecidas regras para estrutura familiar”, destaca.

O jurista Natanael do Santos Batista Júnior, que orientou o trio na elaboração do documento, explica que a escritura é importante no sentido assegurar os direitos no caso de separação ou morte de uma dos parceiros. "O documento traz regras que correspondem ao direito patrimonial no caso de uma fatalidade, nele eles se reconhecem como uma família, e dentro do previsto no código civil, é estabelecida a forma de divisão do patrimônio no caso de um dos parceiros falecer ou num caso de separação", destaca. O jurista afirma ainda que o documento é o primeiro feito no país.

"O objetivo é assegurar o direito deles como uma família, com esse documento eles podem recorrer a outros direitos, como benefícios no INSS, seria o primeiro passo. A partir dele, o trio pode lutar por outros direitos familiares", afirma.

O presidente da Ordem dos Advogados de Marília, Tayon Berlanga, também ressalta que o documento funciona como uma sociedade patrimonial, pontanto, não compreende todos os direitos familiares. “Ele dá direito ao trio no que diz respeito à divisão de bens em caso de separação e morte. No entanto, não garante os mesmo direitos que uma família tem de, por exemplo, receber pensão por morte ou conseguir um financiamento no banco, para a compra da casa própria por exemplo, ser dependente em planos de saúde e desconto de dependente na declaração do imposto de renda”, completa.

Para o jurista, o mais importante do registro da escritura de União Poliafetiva é a visibilidade de outras estruturas familiares. "É a possibilidade dos parceiros se relacionarem com outras pessoas sem que isso prejudique os envolvidos. A escritura visa dar proteção as relações não monogâmicas, além, de buscar o respeito e aceitação social dessa estrutura familiar", explica. Quanto à questão de filhos, Batista Júnior ressalta que a escritura não compreende direitos de filiação. "Essa uma questão jurídica, se há o interesse do registro de três pessoas na certidão de nascimento, a ação deve ser feita no campo judiciário".

Disponível em <http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2012/08/uniao-estavel-entre-tres-pessoas-e-oficializada-em-cartorio-de-tupa-sp.html>. Acesso em 27 ago 2012.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

União estável entre homossexuais

Roberto Dias
29 de maio de 2012

Há um ano, o STF reconhecia, por unanimidade, a união estável homoafetiva como entidade familiar. Foi uma decisão histórica que rejeitou a discriminação de pessoas em razão da orientação sexual.

Um ponto polêmico dizia respeito à previsão constitucional que reconhece, para efeito da proteção do Estado, “a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar” (artigo 226, parágrafo 3.º). Essa norma impediria a proteção da união de pessoas do mesmo sexo? Como superar a previsão literal? Este era um dos principais desafios do STF.

E a superação se deu com a interpretação sistemática da Constituição, com o entendimento de que ali há um conjunto harmônico de normas, como lembrado pelos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia. Esse conjunto instituiu um Estado que, fundado na dignidade da pessoa, tem como objetivo constituir uma sociedade livre, com a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A união homoafetiva, portanto, tem sua base nos direitos fundamentais. Afinal, nas palavras do ministro Ayres Britto, não existe “subfamília, família de segunda classe ou família mais ou menos”. A heteroafetividade em si não torna os heterossexuais superiores, tampouco os “beneficia com a titularidade exclusiva do direito de constituir uma família”.

O STF concluiu que a Constituição, ao contemplar expressamente a existência da família formada pelo casamento, aquela decorrente da união estável entre homem e mulher e, também, aquela formada por qualquer dos pais e seus descendentes – família monoparental – não excluiu o reconhecimento da entidade familiar estabelecida pela união estável homoafetiva. Pelo fato de existir – nas palavras do ministro Marco Aurélio Mello – uma obrigação constitucional de não discriminação e de respeito à dignidade humana, às diferenças e à orientação sexual, não se pode interpretar literalmente as normas jurídicas que não reconhecem os direitos de grupos minoritários.

Podemos dizer que três importantes argumentos fundamentaram a decisão. Primeiro, o princípio da igualdade impede que as pessoas sejam discriminadas em razão da orientação sexual. A Constituição aceita a diversidade e reconhece o direito do indivíduo de construir, livremente, sua identidade.

Segundo: a Constituição garante o direito à intimidade, ou seja, relacionamentos afetivos mantidos por qualquer pessoa não dizem respeito a mais ninguém. Há direitos e obrigações que decorrem da união estável. Mas não importa se ela é formada pela afetividade heterossexual ou homossexual.

Em terceiro lugar, a Constituição deve ser interpretada como conjunto harmônico de normas: ela não é a somatória daquilo que está literalmente previsto em cada uma das partes isoladas. Assim, o fato de a Constituição não prever, explicitamente, a entidade familiar homoafetiva não significa que ela proibiu a união entre pessoas do mesmo sexo e sua proteção pelo Estado. Ao contrário, os direitos fundamentais previstos na Constituição – como a igualdade e a intimidade – impõem o reconhecimento da união homoafetiva, mesmo sem previsão constitucional explícita.


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Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,uniao-estavel-entre-homossexuais,879206,0.htm>. Acesso em 09 jul 2012.

terça-feira, 3 de julho de 2012

“Nós também somos família”: estudo sobre a parentalidade homossexual, travesti e transexual

Elizabeth Zambrano
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas 
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social

Resumo: A proposta desta tese é apresentar o debate sobre ser ou não o grupo constituído por uma pessoa/casal do mesmo sexo e seus filhos, uma família. As discussões se dão entre diferentes áreas (Antropologia, Medicina, Psicologia, Direito, religiões e militância) em decorrência do aumento da visibilidade da família homoparental. São apresentadas as pesquisas que vêm sendo realizadas e seus resultados. Por meio da análise de reportagens do Jornal Folha de São Paulo são mostradas as concepções de família de cada área considerada e as consequências do debate para os entrevistados. É evidenciado o papel das religiões no incremento do preconceito, influenciando outros atores sociais e dificultando sua aceitação pela sociedade e inclusão na proteção do Estado, por meio da legalização do casamento e adoção.





segunda-feira, 25 de junho de 2012

O apoio da rede social a transexuais femininas

Milene Soares et al
Paidéia
jan.-abr. 2011, Vol. 21, No. 48, 83-92

Resumo: O presente estudo teve como objetivo compreender a relação atual de transexuais femininas com suas redes sociais. Participaram cinco pacientes submetidas à cirurgia de transgenitalização em um hospital público do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Elas responderam à entrevista semi-estruturada e a perguntas para a construção de Genogramas e Mapas de Rede. Os dados foram compreendidos de forma qualitativa a partir da teoria sistêmico-cibernética novo paradigmática. As entrevistadas relataram situações em que sentiram apoio, inclusive diante da decisão de operar, mas também descreveram situações nas quais sentiram humilhação e exclusão pelo fato de expressarem e viverem sua sexualidade de forma diferente da maioria das pessoas. O estudo mostrou que ainda prevalece a posição heteronormativa, sustentando preconceitos e atos de discriminação direcionados às mulheres transexuais.


domingo, 13 de maio de 2012

Ana Karolina sobre ter dois pais: ''Eles têm atitudes normais de pais: educam, repreendem, dão amor, carinho, ajudam quando preciso me arrumar''

Fabiana Loiacone
08/05/2012 - 08:58

Foi com um sorriso aberto e um abraço apertado que Ana Karolina Lannes, 11 anos, recebeu a equipe de CONTIGO! no Lady Fina Café e Bristô, na Vila Mariana, em São Paulo. Atualmente no papel de Ágata, a filha maltratada de Carminha (Adriana Esteves) e Tufão (Murilo Benício), em Avenida Brasil, da Globo, a atriz mirim começou a carreira aos 5 anos. ''A Adriana (Esteves) ficava preocupada no início da novela, dizia que tudo o que ela fazia nas cenas não era pessoal. Mas sei separar a realidade da ficção. Ficaria louca se levasse para minha vida'', comenta Ana. A menina já participou das tramas Duas Caras (2007), Ciranda de Pedra (2008) e Tempos Modernos (2010). Superfalante, ela nunca conheceu o pai e perdeu a mãe, Liane Lannes, quando tinha apenas 4 anos.

Hoje, Ana é criada por dois pais: o comissário de bordo Fábio Lopes, 35, seu tio por parte de mãe, que tem a guarda há sete anos, e seu companheiro, o dermatologista João Paulo Afonso, 30. ''Seis meses antes de a minha irmã falecer, ela pediu que, caso algo acontecesse, era para eu cuidar da Ana. Lutei muito pela guarda. O juiz não queria me dar'', explica Fábio.

Nascida em Sapucaia do Sul, próxima a Porto Alegre, Ana se mudou para São Paulo. Com incentivo do tio, entrou para uma agência de jovens talentos e passou a fazer testes. Hoje, ela se divide entre a capital paulista, onde mora com os pais, e Rio de Janeiro, local de seu trabalho.

No Rio, Ana passa a semana com a meia-irmã Letícia, 22. ''Levanto às 6h e vou para a escola. Este ano a minha menor nota foi 9. Às 13h, o motorista da Globo me pega em casa e só volto às 22h. Deito por volta das 23h. À noite é o melhor momento para decorar os textos da novela. Tento me esforçar ao máximo. Estou lutando para conseguir um contrato'', explica a atriz.

Como sua mãe faleceu?
Eu estava assistindo TV na sala quando bateram no portão, saí para ver e era uma daquelas vendedoras de produtos de beleza. Ela perguntou pela minha mãe, então, fui chamá-la. Bati na porta do quarto várias vezes, mas ela não abriu. Avisei para a vendedora que ela estava dormindo. Nesse momento, ouvi um barulho muito grande. Entrei desesperada e fui direto para o quarto. Minha mãe estava caída no chão, entre a cama e a parede. Eu perguntava o que tinha acontecido, mas ela não respondia, não conseguia falar. Liguei para a emergência, mas pensaram que era trote. Pedi ajuda para uma vizinha, que chamou o resgate. Mas, infelizmente, ela chegou  praticamente morta ao hospital. Disseram que ela teve um AVC (acidente vascular cerebral). Se tivesse sobrevivido, iria ficar vegetando.

Como lidou com essa situação?
Eu me sentia culpada, muito culpada. E chorava muito por causa desse sentimento. Na minha cabeça, podia ter feito algo. Passei por um psicólogo até consegiur superar esse sentimento.

Quais lembranças tem de sua mãe?
Ela usava roupas justas, adorava esmaltes vermelhos. Lembro-me de que lia histórias para mim na casa da árvore feita pelo meu padrasto (Antônio). Como vivi pouco tempo com ela, não sofri tanto como minhas irmãs (Letícia, 22, e Juliane, 30). Penso que, se minha mãe não tivesse ido, talvez eu não teria iniciado minha carreira. Quando morava no Sul, minha vida era bem humilde. Deus sabe o que faz.

Como foi a adaptação com seu tio?
Não o conhecia. Tive medo. A Veridiana, uma afilhada da minha avó (Tereza), que era como se fosse uma mãe para mim, veio morar comigo em São Paulo até eu me acostumar. Depois que começamos a criar uma relação afetiva e vi suas atitudes como pai, a adaptação foi fácil.

Como é ser criada por dois pais?
É tranquilo. Eles têm atitudes normais de pais: educam, repreendem, dão amor, carinho, ajudam quando preciso me arrumar. Tive uma babá que falava: ''Coitada de você quando menstruar e for namorar. Imagine você sozinha com dois homens (risos)!'' Mas tenho certeza de que, quando isso acontecer, eles vão saber o que fazer.

Quem é mais durão em casa?
O tio João. Ele é turrão. Quando fala algo, não cede. Agora, o tio Fábio é maleável. Consigo dobrá-lo facilmente (risos). Meu signo é Touro. Então sou um pouco respondona. Mas, toda vez que brigo com meus pais, peço desculpas.

Disponível em <http://contigo.abril.com.br/noticias/ana-karolina-sobre-ter-dois-pais-eles-tem-atitudes-normais-de-pais-educam-repreendem-dao-amor-carinho-ajudam-quando-preciso-me-arrumar>. Acesso em 12 mai 2012.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Parentalidades 'impensáveis': pais/mães homossexuais, travestis e transexuais

Elizabeth Zambrano
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 12, n. 26, p. 123-147, jul./dez. 2006


Resumo: O aumento do número de famílias formadas por pais/mães homossexuais, travestis e transexuais tem se tornado não apenas um fato social, como também um fato socioantropológico, requerendo uma revisão das nossas convicções tradicionais. O propósito deste artigo é demonstrar como o modelo tradicional da família – considerada uma família “normal” – tem influenciado a construção de parentalidades consideradas, até recentemente, impensáveis, seja socialmente ou perante a lei. O desafio deste momento é enfrentar as novas demandas e desconstruir antigas certezas da antropologia, da psicologia/psicanálise e do direito, favorecendo a legitimação dessas famílias dentro da sociedade.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A realização de um sonho

Saulo Pithan 
quinta | 19/01/2012 07:42:00

Desde o dia 16 de dezembro do ano passado, a autônoma Fabiane da Rosa Luiz, de 32 anos diz estar vivendo uma nova vida. Aquilo que ela prefere chamar de “nascer de novo” começou desde que ela se deitou em uma mesa cirúrgica do Hospital das Clínicas, em Porto Alegre (RS), para se submeter a um procedimento pouco comum, que durou mais de quatro horas.

Do centro cirúrgico, ela saiu diferente: sem os testículos e o pênis. Fabiane, que faz questão de esquecer o nome de batismo – Fábio da Rosa Luiz - conseguiu depois de muito esforço realizar o seu maior sonho. Passou pela cirurgia de extração dos órgãos sexuais masculinos.
Os procedimentos cirúrgicos constituíram o passo mais contundente da transformação de Fábio em Fabiane, primeiro transexual masculino do Vale do Araranguá a realizar uma cirurgia de mudança de sexo custeada pelo Sistema Único de Saúde. Essa prática já existe desde 2008 no Brasil, mas apenas agora ela conseguiu realizar o sonho de se tornar mulher.

Para Fabiane, a realização da cirurgia representa o último ato de uma peça ruim em que ela encarna o personagem errado. "Desde criança, me entendo como menina", diz. Cedo, refutou o nome Fábio: preferia Fabiane. Nascida em Araranguá, na pequena comunidade de Rio dos Anjos, teve que esconder e reprimir todos os seus desejos. “Sentia atração por homens. Nunca gostei de gays. Eu não conseguia gostar do meu órgão sexual e quando tinha sete anos de idade já sabia que algo estava errado comigo. Eu não aceitava ter o corpo de menino, tendo alma e gostos de menina,” conta.

No primeiro dia de aula, foi parar na fila das meninas. "Eu não entendia por que meu lugar era junto aos meninos". A escola, aliás, foi o principal palco do descompasso com o corpo nos primeiros anos. Nas aulas de educação física, o garoto queria compor o time das meninas na prática de modalidades esportivas. O futebol, exclusividade masculina, ela deixava de lado e preferia ficar sentada no canto ao ter que correr atrás da bola. “A professora mesmo assim insistia em fazer eu jogar. Então sempre era alvo de deboche dos colegas e todos riam do meu jeito feminino,” afirma.

O drama do personagem bipartido cresceu à medida que seu corpo se desenvolvia. A partir da adolescência, com as mudanças próprias da fase, tudo se complicou. Com uma amiga que na época trabalhava em uma farmácia, teve acesso a hormônios femininos, que afinaram a voz, e fizeram nascer pequenos mamilos. Sem a devida orientação médica, acabou impondo mais dor ao corpo que queria transformar. "Tomei doses excessivas de hormônios e sofri muito com isso. Eu sabia dos riscos que corria, mas a vontade de me tornar mulher era muito maior", diz.

Fabiane recorda que foi alvo de muito preconceito. Quando resolveu mudar-se com a mãe para Maracajá, após a morte do pai, teve que enfrentar outro terrível drama. Ao passar pelas ruas da pequena localidade de Vila Beatriz para ir ao trabalho, já aos 24 anos e com características femininas bem marcantes por conta das altas doses de hormônios que ingeria, era insultada e chegou a ser apedrejada por crianças na rua.

“Nunca vou me esquecer deste dia. Foi um dos mais tristes da minha vida. Eu voltava do trabalho e as crianças saíram correndo atrás de mim, chamando de maricona e jogando pedra brita. Obviamente que incentivadas pelos pais. Me senti um cão de rua e desde aquele dia, recebi um grande apoio de minha mãe e consegui adquirir confiança para seguir adiante e lutar pelo sonho de me transformar em uma mulher,” desabafa.

Transtorno, não doença

A incompatibilidade entre corpo e mente não é uma peculiaridade de Fabiane. Segundo ela, a incômoda sensação de ocupar a estrutura física errada é comum aos transexuais. Após permanecer por longos dois anos frequentando grupos de tratamento, sendo esta a primeira etapa do processo para a cirurgia, diz ter aprendido muito sobre o assunto. "A gente sente vergonha, constrangimento e, muitas vezes, não consegue nem ao menos saber quem na verdade é. Não é uma questão de comportamento sexual, mas de identidade de gênero. Trata-se de um transtorno de gênero, não uma doença", relata.

Para Fabiane, possuir órgãos masculinos era um transtorno. Cultivar seios, um desejo. É algo completamente distinto da homossexualidade. "Nela um homem, por exemplo, se aceita enquanto homem, mas seu desejo sexual recai sobre outro homem. Já o transexual não aceita o corpo que tem, não se vê refletido nele”, esclarece.

Esse é o perfil das centenas de transexuais que aguardam na fila de espera pela mudança no corpo. Fabiane diz que agradece a Deus por ter conseguido, mas conta que nada foi fácil. Depois de ter resolvido correr atrás do seu maior sonho, teve que enfrentar barreiras como a falta de esclarecimento do sistema de saúde local. Em Maracajá, por exemplo, nem os médicos da rede básica de saúde e nem psicólogos do município sabiam sobre os procedimentos. Foi depois de muito pesquisar na internet que conseguiu contato com o Hospital das Clínicas em Porto Alegre, para onde foi tentar a sorte.

Para conseguir emitir os laudos que autorizam a cirurgia bancada pelo SUS, teve que passar pelo centro de triagem em Porto Alegre, que é o único no Sul do país, fora ele existem apenas mais três. A emissão do laudo encerra um processo que se estende por dois anos, durante os quais as condições físicas, mentais, sentimentais e sociais do candidato à cirurgia são esquadrinhadas até semanalmente por psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas e assistentes sociais.

O objetivo, segundo ela, é rastrear pistas que permitam prever casos em que o paciente não está preparado para o procedimento cirúrgico e tudo o que ele acarreta. Um diagnóstico errado de transexualismo pode, como é fácil prever, desencadear problemas irreversíveis e há até registros de suicídio.

Acompanhamento familiar

Em sua longa jornada rumo ao ato final, Fabiane não contou apenas com a companhia dos profissionais de saúde e assistência social. A seu lado, a mãe, os amigos e o atual companheiro, que prefere não revelar sua identidade. Eles estão juntos há pouco mais de dois anos. Aguardava com ansiedade pela cirurgia e não esconde que o procedimento trouxe alívio para ambos.

"Hoje, não somos vistos como um casal heterossexual, porque, em geral, as pessoas não compreendem o que é a transexualidade", diz. "Ela nasceu num corpo inadequado, e a cirurgia tirou dos ombros dela um peso desnecessário. Quando conheci, dentro do meu táxi, nunca imaginei que fosse um homem. Na verdade sempre a tratei como uma mulher, mas eu queria viver com uma mulher e a cirurgia me deu essa oportunidade. Tanto pra mim quanto pra ela".

Com o laudo do transexualismo em mãos, Fábio já deu entrada no processo para mudança de nome. Depois da aprovação por um juiz, passará oficialmente a se chamar Fabiane da Rosa Luiz. Por enquanto, a sensação de felicidade já é plena. “Tenho minha vida que sempre quis, um companheiro que amo, uma casa, e assim que estiver totalmente recuperada da cirurgia volto a trabalhar normalmente como toda mulher. Posso dizer que nasci de nova e depois de 32 anos vou conseguir a minha felicidade de volta", finaliza.

Disponível em <http://www.atribunanet.com/noticia/a-realizacao-de-um-sonho-74799>. Acesso em 19 jan 2012.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Homem quase sangra até a morte ao tentar mudar de sexo

Vírgula
27/09/2011 13h03

Andy Cass, hoje conhecido como Kirsty Cass era tão infeliz vivendo no corpo de um homem que decidiu dar um jeito nisso sozinho: pegou uma faca e resolveu cortar o próprio pênis para se tornar, enfim, uma mulher. O que Kirsty não esperava é que fosse tão difícil conter o sangramento causado pela peripécia.  

“Eu tinha lutado com as questões de gênero desde que era um garotinho e uma noite eu só tinha algumas cervejas, olhei para baixo e pensei ‘isso não deveria estar aí’. Peguei uma faca e comecei a mexer. A dor era inacreditável. Levou apenas alguns minutos antes de cortar. Peguei um lenço, tentei estancar o sangramento e liguei para a emergência. Depois disso acordei no hospital”, relatou ao Daily Mail.

O caso aconteceu em West Sussex, na Inglaterra, há dois anos e, ao contrário do que se esperava, a vida de Kirsty só foi salva porque o pênis pôde ser recolocado no lugar pelos médicos. “Os médicos explicaram que precisaram recolocar para que eu pudesse fazer uma cirurgia de verdade”, lembra.

Kirsty ainda conta que tentou suicídio quando era jovem, pois desde sempre se sentia desconfortável. “No fundo sempre soube que queria ser uma mulher, mas precisei tentar fazer uma mudança de sexo para perceber isso”, desabafa.  

Antes do incidente, ela, que ainda era ele, ainda se vestia como homem, mas decidiu que a partir dali as coisas mudariam e passou a se vestir da forma que sempre quis. Kirsty, que tem 49 anos e uma filha de 21, recebeu todo o apoio da família. “Eu comecei a viver como uma mulher em tempo integral depois disso. Minha grande preocupação era com os colegas de trabalho, mas todos levaram numa boa”. 

Depois de toda essa maluquice de fazer justiça com as próprias mãos, ela foi encaminhada a um psiquiatra, que diagnosticou dismorfia de gênero (quando a pessoa tem certeza que está no corpo errado), passou a tomar um coquetel diário de comprimidos para suprir os hormônios masculinos e aguarda até poder fazer a cirurgia definitiva de troca de sexos.  

Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/inacreditavel/2011/09/27/285122-homem-quase-sangra-ate-a-morte-ao-tentar-mudar-de-sexo>. Acesso em 18 jan 2012.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Preconceito social faz famílias afegãs criarem meninas como meninos

Tahir Qadiry
Da BBC no Afeganistão
Atualizado em  19 de janeiro, 2012 - 11:15 (Brasília) 13:15 GMT

Três meninas usam roupas brancas e cobrem seus rostos com véus. Mas Mehrnoush, a quarta menina, veste terno e gravata. Na rua, Mehrnoush não é mais uma menina, e sim um rapaz chamado Mehran.

Azita Rafhat não teve filhos homens, e para evitar as provocações que famílias assim sofrem no Afeganistão, ela tomou a decisão radical de mudar a criação de Mehrnoush.

Esse tipo de atitude não é incomum no país. Existe até mesmo um termo – Bacha Posh – para meninas que são vestidas como garotos.

"Mesmo que você tenha uma boa posição no Afeganistão e está bem de vida, as pessoas veem você de forma diferente (se não tiver um filho homem). Elas dizem que a sua vida só é completa se você tem um filho", diz Azita.

Sempre houve preferência por meninos no Afeganistão, por motivos tanto econômicos quanto sociais.

O seu marido, Ezatullah, acredita que ter um filho é um sinal de prestígio e honra.
"As pessoas que nos visitavam sempre diziam: 'Oh, lamentamos que vocês não têm um filho.' Então imaginamos que seria uma boa ideia vestir nossa filha assim, já que ela também queria."

Economia

Muitas meninas vestidas de rapazes andam pelas ruas no Afeganistão. Algumas famílias optam por esse caminho para permitir que elas consigam empregos em lugares públicos, como em mercados, já que mulheres não podem trabalhar na rua.

Em alguns mercados de Cabul, um grupo de meninas, com idade entre cinco e 12 anos, se apresenta como meninos e vende água e chiclete. No entanto, nenhuma quis dar entrevista sobre o assunto.

A tradição não dura por toda a vida. Aos 17 ou 18 anos, as jovens voltam a assumir uma identidade feminina. Mas essa mudança não é nada simples.

Elaha mora em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão. Ela viveu como menino por 20 anos, porque sua família não tinha filhos homens. Apenas há dois anos, quando entrou na universidade, é que ela passou a se vestir como mulher.

No entanto, ela ainda não se sente totalmente feminina. Alguns de seus hábitos não são típicos de garotas, e ela diz que não pretende se casar.
"Quando eu era criança, meus pais me vestiam de menino porque eu não tinha um irmão. Até recentemente, vivendo como menino, eu saia para brincar com outros garotos e tinha mais liberdade."

Contra sua própria vontade, ela voltou a viver como mulher, e diz que só aceitou voltar porque se trata de uma tradição social. No entanto, ela se diz revoltada com a forma como as mulheres são tratadas pelos seus maridos no Afeganistão.

"Às vezes, eu tenho vontade de me casar e bater no meu marido, só para compensar a forma como as outras mulheres são tratadas em casa."

História comum

Atiqullah Ansari, diretor da famosa mesquita de Mazar-e Sharif, diz que a tradição é parte de um apelo que se faz a Deus.

As famílias que não têm filhos homens vestem as meninas assim como forma de pedir a Deus por um bebê homem.

Mães que não têm filhos homens visitam o templo de Hazrat-e Ali para fazer o pedido a Deus.
Ansari conta que de acordo com o Islã, as meninas que vivem como garotos precisam cobrir o rosto quando amadurecem.

No Afeganistão, histórias assim têm se tornado cada vez mais comuns. É comum pessoas conhecerem parentes ou vizinhos que já passaram por isso.

Fariba Majid, que dirige o Departamento de Direitos da Mulher da Província de Balkh, diz que ela própria já passou por isso, e quando era criança era chamada pelo nome masculino de Wahid.

"Eu era a terceira filha na minha família, e quando nasci, meus pais decidiram me vestir de menino", afirma.

"Eu podia trabalhar com meu pai em sua loja ou até mesmo ir para Cabul para comprar coisas para a loja."

Ela disse que a experiência a ajudou a ganhar confiança e permitiu que ela chegasse onde está hoje.

Segredo

A própria ex-parlamentar Azita Rafhat, mãe de Mehrnoush, também já passou por isso.
"Deixe-me contar um segredo", ela afirma. "Quando eu era criança, eu vivi como garoto e trabalhava com meu pai. Eu tive a experiência tanto do mundo masculino quanto feminino, e isso me ajudou a seguir uma carreira com ambição."

A tradição existe a séculos no Afeganistão. De acordo com o sociólogo Daud Rawish, de Cabul, isso pode ter começado durante períodos de guerra no passado, quando mulheres eram vestidas de homens para poderem ajudar a combater os inimigos.

Mas nem todos toleram esse tipo de tradição. O diretor da Comissão de Direitos Humanos da Província de Balkh, Qazi Sayed Mohammad Sami, disse que a prática é uma violação de direitos fundamentais.

"Nós não podemos mudar o gênero de alguém só por um tempo. Isso é contra a humanidade", afirma ele.

A tradição teve efeitos devastadores em algumas meninas, que sentem um conflito de identidades e acreditam ter perdido parte fundamental de suas infâncias.

Para outras, a experiência foi positiva, já que elas tiveram liberdades que nunca exerceriam, caso tivessem sido criadas apenas como garotas.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120119_afeganistao_meninas_dg.shtml>. Acesso em 19 jan 2012.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Masculino e feminino na família contemporânea

Teresa Creusa de Góes Monteiro Negreiros e Terezinha Féres-Carneiro
Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, ano 4 N. 1, 1º semestre 2004


Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir questões referentes aos papéis de gênero nas relações familiares contemporâneas, onde coexistem o “modelo antigo” e o “modelo novo” de família, ressaltando a tensão existente nos registros identificatórios da “nova” mulher e do “novo” homem. Lançando mão de contribuições teóricas da psicologia social e da psicanálise, utilizamos os conceitos de papel, identidade, ideais, identificação e expectativas para compreender as mudanças na família e a transformação do masculino e do feminino na contemporaneidade.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Quero mostrar que a transexual tem valor"

Neto Lucon às 11:29

Aos 23 anos, a modelo mineira Carol Marra ganhou os noticiários quando foi confundida com a top brasileira Lea T durante o Fashion Rio 2011. Curiosamente, Carol também é transexual e se tornou a atração principal do Minas Trend Preview Inverno 2012, em outubro deste ano. Tendo a carreira deslanchada em menos de um ano – ela é jornalista e trabalhava como produtora de moda –, Carol desponta também como uma das pioneiras no mundo da moda: foi a primeira modelo transexual a posar, por exemplo, para a revista L'Officiel, com 14 páginas.

Na segunda-feira (20), ela abre o desfile para Fernando Pires e Karin Feller na Casa dos Criadores, em São Paulo. "Estou adorando tudo isso. Quero ver daqui a alguns anos outras modelos transgêneros e me orgulhar por fazer parte desta história".  

Você trabalhava como produtora de moda e nem pensava em trabalhar como modelo. O que te fez mudar de ideia? 
Eu realmente era um bichinho do mato, aquela coisa bem mineira, bem quietinha. Ajudava na produção de capa de revistas com várias atrizes, e os fotógrafos sempre pediam para eu sair em uma foto, mas eu não queria, relutava, tinha vergonha. Até que um amigo muito próximo pediu para fazer um ensaio. Topei e coloquei no Orkut. Outro fotógrafo viu e pediu para fazer também. E quando fiz três ensaios, já estava fazendo catálogos. Mas até então não se falava em Carol transgênero. Falava-se em Carol modelo. Não se sabia que eu era uma transexual.

As pessoas só souberam que você é transexual quando participou do “Minas Trend Preview” neste ano?
Foi lá que estourou a bomba, mas já foi comentado durante o Fashion Rio. Mesmo assim, eu não tinha a dimensão da repercussão. No dia seguinte do Minas Trend, quando parei em um posto de gasolina, em Belo Horizonte, um frentista perguntou para mim: “Você é a moça do jornal, né?” Eu falei: “não”. Daí ele veio com o jornal na mão e uma foto minha seminua na capa. Fiquei tão sem graça que, quando ele pediu autógrafo, não sabia nem o que escrever. Falei assim: “me dá um tanque cheio que eu te dou um beijo aqui no jornal” (risos).

No Fashion Rio deste ano, saiu uma nota no site da revista RG dizendo que você é prima da top trans Lea T. É verdade? 
Até hoje sou confundida com a Lea, mas não queria falar tanto para não ficar a impressão de que quero pegar carona na fama dela. De qualquer forma, Lea é a precursora, é linda, uma querida, batalhadora, admiro demais o seu trabalho... A história surgiu quando ela disse que várias irmãs dela estavam na plateia do evento, já que havia muitas transgêneros. Então um repórter, que achou que somos parecidas, perguntou: “você é irmã da Lea?”. E eu disse brincando: “sou prima”. A gente tirou uma foto juntas e fiquei como prima.

Com Lea T em evidência, Andrej Pejic recebendo título de mulher sensual, acha que estamos vivendo uma onda de valorização da beleza trans? 
Não acho que seja sucesso apenas por ser uma beleza trans, mas por ser uma beleza, como outra qualquer, feminina, exótica. Além disso, moda é vanguarda, permite tudo, lança algo que às vezes nem é para agora, é para mais adiante. Hoje vemos modelos andróginos, com o rosto muito delicado, usando cor de rosa, saia, coisa que antigamente não era comum. A moda está muito pulverizada, então dentro de toda essa onda entraram as transgêneros também. E o interessante é mostrar que a transexual também tem o seu valor.

Você disse que tem um propósito muito importante com o seu trabalho na moda. Qual é? 
Mostrar que existem outras histórias além daquela visão marginal que a sociedade tem de uma transgênero. Infelizmente sabemos que muitas vivem da prostituição, mas em muitos casos não é uma escolha. É a única forma de sobrevivência, já que são jogadas para fora de casa muito cedo. Então é legal surgir essa oportunidade na moda para mostrar: por que não uma transgênero modelo? Jornalista? Estilista? Médica? Taxista? O preconceito surge pela falta de informação. Então se cada um parasse para saber um pouco mais sobre a vida do outro, o mundo ficaria muito melhor. 

Você já sofreu preconceito?
Hoje não, mas já sofri muito bullying na infância. Na época da escola, não ia ao banheiro dos meninos porque morria de vergonha. É que eu nunca me identifiquei com os meninos, entende? Daí eu fazia nas calças, eles me chamavam de mulherzinha e meus pais eram chamados para conversar. Hoje, consigo entrar e sair de qualquer lugar, até porque acho que passo como mulher em qualquer lugar. Quer dizer, hoje nem tanto por conta dessa exposição, então é um pouco mais complicado.

Com a exposição e a revelação de seu passado, mudou a maneira de as pessoas te olharem?
Sei que o olhar sobre mim é outro, mas profissionalmente foi bom. Deu um boom na minha carreira. Os convites para trabalhos importantes surgiram, uma matéria saiu em um jornal de Nova York, também vou viajar para fora. Profissionalmente, essa exposição foi muito boa, mas pessoalmente me senti um pouco invadida. No meu facebook, vários carinhas perguntaram: “como você não comentou nada?”. Teve outro que me ligou e perguntou “o que você tem para me falar? Você é um pé de alface?”, confundindo transgênero com transgênico. Respondi: “Não, sou um morango, vermelho e vistoso” e desliguei. Não sou obrigada, né? Eu sou mulher, eu nasci mulher e a minha genitália é um mero detalhe.

Você acha que faz sucesso principalmente por ser transgênero? O diferencial está aí? 
Não vou ser ingênua de falar que não. É claro que sim. Modelos existem várias, eu seria mais uma entre tantas. Dizem: “que linda esta”. Mas daí falam: “mas não é mulher, é transgênero”. Então eles ficam curiosos, querem saber da história, quem é, o que faz e dão mais foco. Existem tantas modelos lindas, mas acaba que jornalisticamente falando ser transexual é uma novidade. É uma história de luta, de batalha, é matar um leão por dia... Não me acho mais bonita que ninguém, não me considero melhor que ninguém, mas sou diferente.

No início do sucesso, a Lea T falou muito sobre a cirurgia de redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo) e agora tem evitado comentar. Incomoda essa curiosidade das pessoas? 
Isso é tão íntimo, pessoal, não acho que seja necessário o público saber. Faço trabalhos de biquíni e a genitália não aparece, nem a minha e nem de outra modelo. Claro que existe uma curiosidade em cima disso, mas o que eu posso dizer é que a técnica hoje é muito mais eficaz que há alguns anos. Além de ter uma genitália perfeita, ela é funcional, tem toda a sensibilidade, prazer.

Após passar pela cirurgia, a maioria das transexuais não gosta de falar sobre o passado e quer ser mais uma no meio da multidão. Qual o motivo? 
É justamente para isso: ela quer ser vista apenas como mais uma mulher. Já vivi histórias de amor lindas que não pude dar sequência porque, na cabeça deles, eu não era uma mulher. Então muitas querem apagar o passado para não sofrer esse tipo de coisa. No meu caso, vai ser muito complicado, por me tornar um pouco mais conhecida. Teria que mudar de nome ou de país. Mas daí viveria uma grande mentira. Acho que quem gostar de mim vai ter que gostar do jeito que eu sou e estiver. Eu sei dos meus princípios e do meu caráter, então não tem porque ele ter vergonha de me assumir. Ele tem é que ter orgulho. 

E o que sua família está achando da carreira de modelo?
A minha família está acompanhando, mas ainda é difícil. Na infância, diziam para mim: “Que menina linda”, mas meus pais retrucavam “É meu filho, não é menina”. Mãe é mãe, ela sabe, mas a grande preocupação é que eu sofra. Venho de uma família conservadora, mineira... Até os 20 anos, eu mesma não entendia o que eu era. Sabia que não era gay, que não era homem, mas sabia também que não era mulher. Então o que eu sou? Se já foi difícil para mim, imagina para eles? Mas eles estão vendo que meu caminho foi diferente, que está sendo diferente. Enquanto muita gente achava que meu futuro seria em uma esquina, hoje eu posso até estar em uma esquina, mas em um outdoor. Posso estar na capa de uma revista, de um jornal.

Disponível em <http://nlucon.blogspot.com/2011/12/entrevista-carol-marra.html>. Acesso em 09 dez 2011.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dicas impressas 3: Homens/Mulheres; Ansiedade; Homoafetividade

HUECK, Karin. Homens – mulheres Eles não são mais os mesmos: nascem frágeis, vão mal na escola, pior na faculdade e perderam terreno nas empresas. Elas, por sua vez, ainda não sabem jogar com as regras que o mundo privilegia. Entenda aqui o que está acontecendo com os sexos e quais são nossas diferenças. E por que, na verdade, são os homens que falam mais. Superinteressante, n.º 292, pp. 48-57.

LEAHY, Robert L.. O tormento da ansiedade Muitos de nossos medos estão atrelados a preocupações ultrapassadas; por isso, tantas vezes respondemos a estímulos de maneiras que nos prejudicam; questionar crenças pode ajudar a evitar fobias e inquietações exageradas. Mente e Cérebro, ano XVIII, n.º 219, pp. 24-33.

PASSOS, Maria Consuêlo. Relações homoafetivas: avanços e resistências Com a nova legislação, casais homossexuais passam a ser considerados família e ganham a possibilidade de adotar crianças; o preconceito, porém,não será apagado tão facilmente – é preciso construir o espaço psíquico para tolerar a diferença. Mente e Cérebro, Ano VIII, n.º 222, pp. 42-45.